O futuro
está em nossas mãos
Tasso Porciúncula (Indalício Mendes) Reformador (FEB) Abril 1963
Cada ser humano tem de trabalhar pela própria felicidade. Se o seu carma é pesado, poderá amortizá-lo em tantas encarnações quantas sejam necessárias à sua reabilitação. Por sobre a Humanidade paira o Cristo, vigilante, caridoso, terno, que estimula os fracos, encoraja os tíbios, suaviza as dores dos enfermos, acalma os desesperados, iluminando lhes a jornada com a esperança. Nunca, porém, concedendo privilégios a este ou àquele, por ser desta ou daquela religião, por professar este ou aquele credo. Nunca, porém, impedindo que cada qual se levante por si mesmo e por si mesmo busque, à custa de lutas e sacrifícios, se necessário, a redenção final.
Ninguém ficará eternamente
condenado ao sofrimento, ninguém padecerá de penas eternas, porque a todos é dado
o ensejo de melhorar, de compreender a diferença que há entre o bem e o mal. As
provações representam o compromisso cármico de cada um, compromisso que terá de
ser cumprido integralmente, através das encarnações. Portanto, o Espírito terá
diante de si, como uma estrada aberta a seus passos, o Tempo. Quanto mais depressa
resgatar seus débitos, mais depressa conhecerá a ventura. Dependerá de si
próprio o destino que cumprirá em cada estágio reencarnacionista.
Dizer-se que Jesus morreu para salvar a Humanidade é uma
burla, porque nunca a Humanidade sofreu tanto quanto depois do sacrifício brutal
imposto ao meigo Nazareno. Se fosse verdade a assertiva, o mundo não conheceria
guerras, os homens seriam felizes, viveriam em paz, amar-se-iam sinceramente,
abominariam a hipocrisia, a intriga, a falsidade, a felonia, a traição. Jesus
veio ao mundo para deixar o seu Evangelho - roteiro de paz, amor e felicidade -
e firmar o exemplo grandiloquente de coragem e fé nos ideais que pregou e
defendeu. Se todos seguissem esses ideais, com a mesma fé, a mesma coragem, o
mesmo entusiasmo e a mesma determinação, o mundo não estaria hoje sofrendo mil
e uma torturas. O homem não continuaria sendo escravo do homem e reinaria na
Terra a fraternidade aconselhada por Jesus. Ele nos traçou o caminho.
Nós, no Espiritismo, não ensinamos que Jesus morreu para
redimir a Humanidade, porque, decorridos quase dois mil anos da implantação de
um cristianismo que não revela a verdadeira estrutura do pensamento do Cristo,
não há paz na Terra, nos lares, onde quer que haja agrupamentos humanos.
Enche-se a boca de prédicas bonitas, pendura-se Jesus nos lábios, mas os
corações nem sempre o admitem lá dentro.
Os
que se afirmam herdeiros do Cristo muitas vezes espalham o fermento da desarmonia,
acendendo as fogueiras da intolerância, do desamor e do sectarismo.
O que ensinamos, no Espiritismo, é o modo de seguir o
itinerário traçado pelo Mestre no Evangelho, mas sem fantasia nem mistério. A
Doutrina Espírita é um farol que leva ao infinito a luz do conhecimento acerca
do destino do homem na Terra e do Espírito no Além. Esse itinerário nos deixará
um dia no porto da redenção espiritual, através dos esforços que realizarmos
para conquistar, palmo a palmo, o terreno perdido em encarnações mal orientadas,
e para expungir do nosso “eu” os vícios e defeitos que retardam a nossa
evolução.
Jesus deu o exemplo de irmos até ao sacrifício, se
preciso, na defesa dos ideais de aperfeiçoamento moral, fazendo o bem,
exercendo a tolerância e sem nos vingarmos daqueles que nos fazem mal. Só assim
alcançaremos a melhoria e o fortalecimento da nossa condição cármica. Temos,
pois, de persistir na luta para lhe seguir as pegadas gloriosas, sem lamúrias
nem desesperos. É mister, contudo, distinguir o Espiritismo do “espiritismo”.
Ninguém pode ser espírita à sua moda. Somente pode ser espírita quem conforma
sua conduta pelas normas doutrinárias, procurando delas não se afastar, haja o
que houver, reerguendo-se sempre que cair.
Ser espírita é obedecer
à Doutrina codificada por Allan Kardec, fugindo ao sectarismo, à intolerância e
a tudo quanto desvirtue o conceito ético do Espiritismo. Ser espírita é
manter-se fiel a essa Doutrina, mostrando-se absolutamente isento de
influências de outras religiões incompatíveis com os princípios que adotamos.
Ou somos peixe ou somos carne. Não podemos ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Devemos evitar a “miscigenação” que se vai insinuando em nosso meio, sem,
entretanto, cairmos na ortodoxia, que é fonte geradora da intolerância. Assim,
não teremos mais tarde que lamentar as consequências do descaso e só assim
imporemos limites ao mistifório “doutrinário” que está aflorando em Centros mal
dirigidos.
No Espiritismo, o fundamental é sua Doutrina, porque somente através dela, e só com ela, será possível o progresso moral e espiritual do homem. Não interessa aparentar erudição, mas conhecimentos seguros da Doutrina e subordinação a seus princípios. O que interessa é doutrinar, educar, orientando, fazendo que retifiquem seus passos aqueles que se desencaminharam na vida terrena, para que experimentem o reconforto do coração esclarecido. O Espiritismo ensina ao homem o porquê da vida terrena, dos sofrimentos, das desigualdades sociais. Mostra a vida espiritual, feliz, não como um Paraíso destinado aos favorecidos pelo “pistolão” de credos supostamente privilegiados, mas como um direito que cada qual pode conquistar por seu próprio mérito. É um direito que se terá de adquirir pelo trabalho, nunca por dinheiro.
Até hoje o Espiritismo tem sido coerente com os seus
princípios fundamentais, não obstante o esgalhamento que se observa, alheio a
essas normas indispensáveis e insubstituíveis. É preciso que continue coerente,
embora os obstáculos sejam cada vez maiores, pois, à medida que se aproxima o
advento do Terceiro Milênio, mais fundas e demoradas serão as dores do mundo. E
os que não estiverem preparados para suportar o que ainda está por vir,
demonstrando coragem e resignação valorosa, soçobrarão fatalmente no mar
revolto dos entrechoques ideológicos e sociais.
“O Livro dos Espíritos” contém os "Princípios da
Doutrina Espírita.” Estudá-lo sempre e sempre, na ânsia louvável de assimilar-lhe
os ensinamentos, é dever de cada um de nós. Só se define como espírita quem
saiba exemplificar as normas doutrinárias, pautando suas ações terrenas, na
vida íntima do lar e na vida fora do lar, pelas lições prodigiosas da Doutrina
codificada por Allan Kardec.
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