quinta-feira, 3 de maio de 2018

"Espiritismo Cristão" e "Espírita Cristão"



“Espiritismo Cristão” e “Espírita Cristão”
 A Redação
Reformador (FEB) Maio 1955

“É de fato indubitável que o Espiritismo é mais estorvado pelos que o compreendem mal, do que por aqueles que dele nada entendem e até mesmo pelos seus inimigos declarados; e os primeiros tem geralmente a pretensão de compreenderem melhor que os outros. Esta pretensão, que denuncia orgulho por si mesma uma prova evidente da ignorância dos verdadeiros princípios da Doutrina." – ALLAN KARDEC.

No Brasil, graças à Federação Espírita Brasileira, à direção que sempre lhe deu a ela o Espírito de Ismael, o Espiritismo predominante é aquele que se orienta pelos ensinamentos do Cristo, interpretados segundo o espírito que vivifica, qual o recomendou o próprio Cristo e qual o fez o grande e iluminado Codificador: Allan
Kardec.

Há por aqui, não há dúvida, mas em pequeníssimo número, confrades que do Espiritismo só querem os prodígios, os "milagres", os fenômenos psíquicos, e que enfaticamente se dizem adeptos do a que chamam Espiritismo científico. Para esses o fenômeno é tudo, e nele quase sempre ficam sem se preocuparem com a finalidade
dessa mesma fenomenologia. Estacionam e não querem ir além, à procura de alguma coisa mais. Pouco lhes importam as deduções filosóficas e as conclusões religiosas a que ela conduz, julgando-se todos esses confrades uns superespíritas, hiper-científicos, os únicos de bom senso e equilíbrio mental.

A maioria, porém, a grande maioria, a quase totalidade dos espíritas brasileiros felizmente já não pensam de igual modo. Esses oram e têm o estudo do Evangelho como uma necessidade e um dever mesmo...

Estranha, no entanto, é a atitude daqueles "fenomenistas", pois constantemente se nos apresentam como defensores de Kardec e neste procuram, através de interpretações vagas, incoerentes e por vezes capciosas, provar que o Codíficador disse isso e aquilo, citando-lhe trechos isolados, com a finalidade tão só de justificarem o ponto de vista dessa meia dúzia de confrades.

Dizendo-se baseados naquele iluminado filho de Lyon, de quando em vez voltam, por exemplo, a repetir que o Espiritismo nada tem de comum com o Cristianismo e que errados andam desde muito os homens da Federação Espírita Brasileira e errados andam também Emmanuel e outros elevados mensageiros da Espiritualidade, quando empregam, com espírito de deturpação - frisam aqueles confrades - as expressões que servem de título a esta croniqueta.

Vejamos, porém, o que de próprio punho nos legou Allan Kardec.

Três anos antes de sua desencarnação, escrevia ele em sua Revue Spirite, 1866, pág. 114:

"Inscrevendo no frontispício do Espiritismo a lei suprema do Cristo, abrimos o caminho do Espiritismo cristão; sob este ponto de vista tratamos, então, de desenvolver os princípios bem como os caracteres do verdadeiro espírita."

Já em 1861, nessa mesma revista, à página 377, Kardec considerava:

...ora, nem um nem outro estaria no caminho do verdadeiro Espiritismo, isto é, do Espiritismo cristão. Aquele que acredita possuir uma opinião mais justa que a dos outros, mais facilmente a tornará aceita pela doçura e pela persuasão; o desabrimento seria de sua parte uma péssima cartada."

Nesse mesmo ano, afirmava o mestre a páginas 341, 343 e 384 da citada publicação:

Pág. 341: ''Porque, pois, o Espiritismo, que outra coisa não é que o desenvolvimento e a aplicação da ideia cristã, não triunfaria de alguns escarnecedores, ou de antagonistas, que até o presente, apesar de seus esforços, apenas lhe têm oposto uma negação estéril?"

Pág. 343: "O lado mais belo do Espiritismo é o lado moral; é por suas consequências morais que ele triunfará, porque aí está a sua força e por ai é invulnerável. Ele inscreveu em sua bandeira: Amor e Caridade, e ante este paládio, mais poderoso que o de Minerva, porque vem do Cristo, a própria incredulidade se inclina."

Pág. 384: "Que seja, então, uma escola, já que eles assim o querem; nós nos ufanamos de inscrever no frontispício: -École du Spiritisme moral, philosophique et chrétien e para aí convidamos todos os que tomam por divisa: amor e caridade. Àqueles que seguem essa bandeira, dedicamos todas as simpatias, e a nossa cooperação jamais lhes faltará."

E anteriormente, em 1860, escreveu na página 300 da quase centenária Revue Spirite o trecho com que terminaremos essas transcrições:

"Há, senhores, três categorias de adeptos: uns se limitam a crer na realidade das manifestações, e buscam antes de tudo os fenômenos; para esses o Espiritismo é simplesmente uma série de fatos mais ou menos interessantes.

"Os segundos veem algo mais que os fatos: reconhecem neles o lado filosófico; admiram a moral que deles resulta, mas não na praticam: para esses a caridade
cristã é uma bela máxima, e nada mais.

"Os terceiros, afinal, não se contentam em admirar a moral: eles a praticam, aceitando-lhe todas as consequências. Certíssimos de que a existência terrestre é
uma prova passageira, eles tratam de aproveitar esses curtos instantes para avançar na via do progresso que os Espíritos lhes traçam, esforçando-se por fazer o bem e
por reprimir seus maus pendores; a caridade é em tudo a regra de conduta deles; esses são os verdadeiros Espíritas, ou melhor, os Espiritas cristãos."

Todo esse trecho, com alguns acréscimos todavia, se acha reproduzido n"O livro dos Médiuns", item 28. E cerca de dez meses após a publicação desta obra, num longo trabalho sobre a "Organização do Espiritismo", dado à luz na Revue Spirite de Dezembro de 1861, Kardec relembrava, com novas adições, a mencionada distinção dos espíritas, declarando-lhe a importância para o tema de que se ocupava. Aí, na Revue Spirite de 1861, o mestre acrescenta, depois dessas últimas palavras - "ce sont les vrais Spirites, ou mieux, Ies Spirites chrétiens":

"Se se compreendeu bem o que precede, compreender-se-á também que um grupo exclusivamente formado de elementos dessa última classe estaria em melhores condições, porque é somente entre pessoas que praticam a lei de amor e de caridade que um laço fraternal verdadeiro pode estabelecer-se. "

Como vemos, o Codificador, talvez na supervisão das coisas, esclareceu de maneira inconfundível de como se deveria, para o futuro, qualificar aqueles que se dissessem adeptos da nova Revelação...

Não cabe, portanto, à Casa Máter do Espiritismo no Brasil, e nem a respeitáveis médiuns, a criação "anti-doutrinária", conforme dizem, das expressões que servem de epígrafe a esse despretensioso artigo. Foi, como vimos, o próprio mestre da 3ª Revelação quem as cunhou pelas julgar necessárias e procedentes.

Se a palavra do Codificador Iionês merece algum respeito, esperamos que esses nossos amigos e confrades não continuem a repetir suas próprias ideias, torcendo, desvirtuando o pensamento do excelso missionário do Espiritismo cristão.

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