quinta-feira, 15 de março de 2018

O Avarento



O Avarento
por Abel Gomes
 Reformador (FEB) Setembro 1946

Passeando pela região do Crepúsculo, aqui no mundo astral, encontrei alguns Espíritos humanos chegados da minha Pátria.
Entre eles havia um comerciante, desencarnado já há anos, mas que ainda só pensava em dinheiro, lucros e mercadorias.
Quando o avistei, estava ele assentado a uma secretária, contando dinheiro; peças de ouro, papel—moeda, lá se achavam em sua frente, e sorridente ele as contava. Cumprimentei-o. Ele logo estremeceu e cobriu com um pano o seu tesouro e exclamou: "Retira-te! ou eu chamo o meu cão!" Estava pálido. "Não tenhas medo de mim", disse-lhe eu; "meu amigo, não me reconheces? eu sou o Abel".
Respondeu-me: "Queres comprar alguma coisa? à vista? Emprestar eu não empresto."
Não vi mercadorias nem armazém: só na imaginação ele as tinha.
Perguntou-me ele: "Mas porque vieste aqui? Hoje não é dia de visitas."
Soprou um vento, levantou-se o pano; e nem dinheiro nem ouro reapareceram, só havia areia e folhas secas.
O Espírito avarento se enraiveceu: "Restitui-me o meu dinheiro, já!" - exclamou ele ameaçando-me com uma arma.
Eu sorri: "Teu dinheiro, meu amigo, era simples aparência inútil. Não vives na Terra; por isso o ouro e o cobre não te podem aqui valer pois que aqui só valem boas ações, boa mente e bom coração".
Mas o avarento não me entendeu, porque de repente pôs-se a correr para um lugar onde uma coisa parecia brilhar; e eu o ouvi murmurando: "Lá está o meu ouro!" Mas chegando ao lugar brilhante só viu um pirilampo e ficou triste, porque não era o brilho vão do ouro.
Desejei esclarecer-lhe seu estado, porém ele fugiu de mim e não quis ouvir-me. Voltei ao meu caminho, fazendo por ele uma prece a Deus.

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