Evangelização – parte 1
por Geminiano Barboza
Reformador (FEB) 1º de Junho de 1916
Neste momento
rude e doloroso para o nosso mundo; nesta angustiosa fase da vida do nosso
planeta, em que a alma humana se contorce e geme sob o peso de inumeráveis
tribulações, eis que nos chega aos ouvidos o confortante eco de vozes animadoras.
É a “grande
evangelização” que se propõe generalizar por toda a Terra; é a nova cruzada que
se agita e se expande, a bem da dilatação dos santos Evangelhos. Exultemos.
Parece que o
infernal troar dos canhões mortíferos; o quadro lúgubre das devastações de cidades
e dos campos transformados em “matadouros”, rubros ou impermeáveis por sucessivas
camadas do sangue das vítimas da “cegueira humana”, e a visão das montanhas de
cadáveres mutilados – segundo as notícias que a tantos meses nos transmitem o
telégrafo e a imprensa; parece, dizíamos, conseguiram despertar na alma humana
os sentimentos cristãos então subjugados pelos interesses, aniquilados pelas paixões
e adormecidos pelos embustes.
Por toda
parte onde não domina a guerra, promove-se a propagação do ensino evangélico;
isto é: distribui-se o “Pão do Espírito”.
No momento
em que isso escrevemos, comissões peregrinas visitam países, refundem elos de
confraternização cristã, estabelecem bases para a propaganda ativa, criam íntimos
laços fraternais, consolidam enfim o alicerce da “Grande Obra” do futuro.
Dirão alguns
dos nossos irmãos, mais ou menos radicais, mais ou menos sistemáticos: - “Que
temos nós com isso, se somos espíritas e eles evangelistas?... A nós outros o
que interessa é a propaganda espírita, não a evangélica.”
A estes, porém,
e tão somente a estes, respondemos:
Qual é a
doutrina mater, a alma do Espiritismo, senão aquela mesma que deflui dos
Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo?
Perguntai à
maioria dos espíritas atuais de onde se transladaram para o Espiritismo e
ficareis sabendo que as “fontes” que mais têm contribuído aqui no Brasil para a
grandeza numérica do novo Credo são: Catolicismo e Evangelismo.
E, uma vez
que tratamos de doutrina, consenti que em nome dela lancemos aqui esta triste
verdade, que deve ser conhecida, para ser tomada na devida consideração: -
Reina ainda em nosso meio muita falta de crença e consequentemente muita falta
de luz; por isso que, para o espírita, a crença é a lâmpada que gera a luz.
Como deveis
saber, o que dá firmeza à crença é a fé esclarecida, porque a fé cega é
inconsistente e fanática.
Ora, a fé
esclarecida só se obtém por meio do estudo e da meditação, pelo exercício do
pensamento e perfeita volição (decisão).
Bem sabeis
vós, como há por aí homens que se dizem espíritas e praticam o Espiritismo em
flagrante desacordo com a doutrina.
Por que
assim procedem?... Porque não estudam.
Assim sendo,
é naturalmente lógico que vão ter a um dos estremos do triângulo fatal: - a obsessão,
o fanatismo ou a degeneração. E disto existem, infelizmente, muitos exemplos.
Voltemos,
porém, ao ponto capital deste ligeiro estudo, que tão palpitante se nos
apresenta.
Já havemos
dito e repetimos sempre que nos pareça necessário: o Espiritismo tem suas bases
firmadas nos Evangelhos. Que o subordinemos à Nova Revelação, quer o separemos
dela, o seu fundo religioso é sempre evangélico.
Mas,
se é verdade que o Espiritismo está destinado à delicada missão de Religião do
futuro, certamente a Revelação Evangélica é parte complementar do Espiritismo;
é, logicamente, parte integrante desse TODO como a alma é parte integrante do
homem.
Esta
ordem de ideias faz-nos crer que: todo homem que firme seu estudo espírita no
elemento religioso, não só reconhecerá na Nova Revelação o complemento
essencial da doutrina espírita, mas também a porta essencial da mesma, porque
constitui a parte científica e porque ali está realmente constatada a promessa
do Divino Mestre quanto ao Consolador:
- “Eu rogarei
ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco.”
(S. João cap. 14 v. 16)
Prosseguindo,
completa Jesus aquele pensamento no versículo 26:
“- Mas, o
Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, ele nos
ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”
A propósito,
lembraremos a advertência daquela insinuante parábola:
“- Nada
há encoberto que se não venha a descobrir e nada há oculto que se não venha a
saber.”
Pois
bem: aquelas ponderações e advertências dão hoje testemunho do Consolador na
Revelação Evangélica recebida pelo nosso irmão Roustaing.
O
Divino Mestre, porém, em sua santa sabedoria, em sua presciência celestial,
pressentindo desde logo a contestação futura, a repelir o fruto da sua
profecia, que é o mesmo fruto do seu Amor, cercou-o de sólidas garantias, expressando-se
por diferentes modos, para tornar bem claro e completo seu pensamento divino
envolto naquelas eloquentes parábolas.
Por isso,
encontramo-lo ainda em outro local do mesmo texto vertido nestes termos:
“- Quando,
porém, vier o Consolador, aquele Espírito de Verdade, que procede do Pai, que Eu
vos enviarei da parte do Pai, ele dará testemunho de mim.”
“- E
também vos dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio.”
Bem sabemos
quanto é difícil e arriscado dar interpretação ao pensamento profundo e sublime
do humilde profeta de Nazaré, confiamos, porém, na magnanimidade do próprio
Jesus, que bem conhece qual a intenção que nos impele a esse tentame de tanta
responsabilidade.
A Revelação
da Revelação, que é a mesma que denominamos Revelação Evangélica, é de fato o
Consolador prometido, que ficará eternamente conosco. Por isso fala de todas as
coisas que o Cristo houve por bem ocultar durante sua passagem pela Terra,
porquanto a humanidade não as poderia ainda compreender, nem havia oportunidade
para tais revelações.
Mas
nem por isso deixou de declarar o Divino Mestre que:
“-Tudo é
dado a seu tempo.”
Assim, pois,
no tempo previsto e predito, o Espírito de Verdade, que simboliza a legião de
Espíritos Bem-aventurados que constituem o Apostolado invisível, veio depositar
nas mãos do homem esse erudito “tratado” da ciência espiritual extraído dos
textos evangélicos, explicados com clarividente sabedoria.
E,
de fato, essa obra sublime, tantas vezes superior à concepção humana, tão refratária
ao apagado registro do nosso pobre entendimento, fala-nos do Cristo como Ele
falara do Pai; e, explicando o que eram os mistérios, faculta proveitosa noção
de “ciência universal” - emanação direta da Sabedoria Divina. Dando testemunho
do Cristo, ensina a conhecer Jesus na sua excelsa grandeza celestial - não como
sendo Deus, mas como fiel intérprete do pensamento e da vontade do Criador.
A Revelação
Evangélica, extraída dos textos sagrados por Espíritos competentíssimos como sejam os
próprios Evangelistas, teve de fato o testemunho dos Apóstolos e de Moisés, um
dos signatários. E assim é que, após a assinatura dos Arautos da Revelação,
lê-se essa significativa anotação: “- Com assistência dos Apóstolos”.
Por que
vinham os Apóstolos assistir aos Evangelistas no desempenho da sua missão
reveladora?... Porque “das palavras
de Jesus nem uma só se perde.” Eles davam testemunho do Divino Mestre, para
que completa fosse a verificação da profecia do Filho de Deus, para que pudesse
o “Senso humano”, em suas investigações, descobrir a Verdade.
A Revelação
é assim a fina emanação dos Evangelhos, de onde tirou a essência; a parte
integrante do Espiritismo, de cujo corpo é a alma.
Por
conseguinte, todo o espírito sincero, que deseja progredir deve beber instrução
naquela opulenta fonte de sabedoria, a fim de fazer-se apto ao bom desempenho
de sua árdua missão: - EVANGELIZAR.
E
eis que chegamos ao ponto culminante do presente estudo: a evangelização.
Para o espírita,
Jesus é o Divino Modelo, Jesus é o Divino Mestre, Jesus é o Divino Pastor.
Pois bem: -
Como Modelo, deixou o seu exemplo; como Mestre, deixou o seu ensino; como
Pastor, mantém vigilância e observa atento quais as ovelhas que ouvem a sua voz
e procuram encaminhar-se ao Aprisco do Senhor.
Por isso
mesmo, parece-nos de real importância relembrar sempre algumas das suas
preciosas advertências, como estas:
“- Eu sou
o caminho, a Verdade e a Vida.”
Em boa
lógica, diz-nos o nosso Salvador: procurai-me e descobrireis a Verdade e esta
vos conduzirá à Vida.”
“ - As ovelhas
do meu rebanho ouvem a minha voz e o seguem-me.”
Sabemos
quanto foi Jesus humilde e dócil, em atenção ao Pai Celestial, pelo santo amor
que lhe votava, procuremos imitá-lo e Ele reconhecerá que somos seus amigos.
“- O meu
preceito é este: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei.”
A lógica deste
preceito é tão clara, tão pura, tão bela, que apenas temos que deplorar nossa incapacidade
moral para o exercício de preceitos como este. Por isso mesmo maior deve ser
nosso empenho na remodelação dos sentimentos.
Meus amigos,
o momento é de ação, porque as palavras de Jesus convertem-se em fatos.
Apliquemo-nos ao amor espiritual, esse amor que reabilita o Espírito, e teremos
glorificado no amor nosso Divino Mestre.
Evangelização – parte 2
por Geminiano Barboza
Reformador (FEB) 16 de
Junho de 1916
Bem sabeis
que a Seara é grande e os operários poucos. Bem conheceis a parábola de Jacó.
“Nada sucede
no mundo sem causa.”
É isso
mesmo.
São chegados
os tempos da “grande evangelização”. Mas, os espíritas discutem ainda a
autenticidade de Revelação Evangélica, em vez de estudarem os Evangelhos em
Espírito e Verdade, a fim de se habilitarem à prática do ensino espiritualista
na sua forma definitiva.
A disseminação
do ensino dado sobre a letra é, pois, o desbravamento do caminho por onde
seguirá de futuro o Espiritismo, no desempenho de sua grande missão.
Convém que
não esqueçamos o encadeamento da orientação religiosa, cujo “marco inicial” é
Moisés. Sabeis que Jesus teve o seu caminho aparelhado por João Batista e que o
ensino material precedeu o espiritual, como devia ser, segundo as leis naturais
e as condições do elemento humano; de outro modo tornar-se-ía impraticável. O
próprio Jesus cedeu ao império das circunstâncias. Não convinha a menor
violência contra a consciência humana nem forçar a evolução natural do homem.
Doutrinou, pois, Jesus, segundo a letra. Porém, escrito está:
“- A
letra mata, o espírito vivifica.”
Mas estará a
humanidade a modo de receber o ensino evangélico em Espírito e Verdade?
Seria
absurdo afirmar, quando vemos ainda entre nós tanta relutância na aceitação da
Nova Revelação, como se quizéssemos imitar os escribas e fariseus em relação ao
Messias.
Não obstante,
as profecias continuam a verificar-se. O
primeiro “Ai” do Apocalípse está evidenciado, porquanto o seu eco repercute por
toda parte. E isto lembra-nos mais esta parábola profética.
“- Porque
se levantará nação contra nação “reino contra reino”; e haverá terremotos por
diversas partes e fome. Essas coisas não serão mais do que o princípio das dores.” (v. Marcos, cap. 13, v. 8)
E após várias
considerações, pondera o Mestre amigo, no versículo 23:
“- Estais
vós, pois, de sobreaviso, olhai que vos preveni em tudo.”
O Evangelho
de S. Mateus, porém, é neste assunto um tanto mais explícito.
- Vede cap.
23, versículos 3 a 13; e o versículo 14, que assim se exprime:
“- E será
pregado este Evangelho do Reino, em testemunho a todas as gentes, e então
chegará o fim.”
Nada há,
pois, a estranhar que, chegados os tempos, viesse o Consolador “ensinar
todas as coisas”; isto é: dizer as coisas que Jesus dissera porque o “Senso
humano” não as poderia ainda compreender nem suportar.
Dado
o Consolador, começam as manifestações dos fatos característicos do período
inicial da fase adventícia. E logo ao começo do século vigente torna-se
tumultuária, agitada e ameaçadora a situação do planeta, revelando em fatos
consecutivos um regime anormal que cada vez mais se agrava. Mas o momento atual
define-se categoricamente; as profecias convertem-se em fatos. O primeiro “Ai”
do Apocalípse ecoa sobre a Terra.
Há,
entretanto, a considerar que, muitas das ovelhas do Senhor distanciaram-se por
demais do caminho do Aprisco; e no campo das idéias equívocas em que se
internaram não se apercebem do perigo iminente em que se internaram não se
apercebem do perigo iminente que as ameaça, porque, preocupadas com as coisas
de sua predileção, não veem que o seu “dia” extinguiu-se e que estão em
plena noite.
Essa é a
noite da consciência desviada da Luz da Verdade e assim transviada da senda do
bem.
É urgente,
pois, fazer chegar a luz aos que estão em trevas.
Se o Divino
Mestre manda dar de graça o que de graça nos foi dado, agitemos o facho divino,
para que se derrame a luz por toda a parte e possa aproveitar a todos. Façamos
ouvir a voz do Bom Pastor, transmitindo-a como recebemos.
Tudo parece
indicar a oportunidade do testemunho evangélico pela disseminação da doutrina do
Divino Mestre.
Se muitos de
nossos irmãos se preparam para a grande pregação, “dentro da letra”,
preparemo-nos também nós para a grande evangelização em Espírito e Verdade.
Não
negligenciaremos, meus amigos, porque, quando todo o mundo estiver de posse de
uma boa noção do ensino evangélico, facilmente colherá o Espiritismo adeptos em
profusão por toda a parte.
A propaganda
espírita será tanto mais eficaz quanto mais evidenciar a supremacia dos
Evangelhos.
Já
sabemos que o fim máximo, o objetvo principal da missão espírita é a
regeneração da espécie humana, pelo doutrinamento e pelo exemplo.
Ora, devemos
convir que o doutrinamento evangélico, segundo a Nova Revelação, isto é - em Espírito
e Verdade, constitui uma nova ciência, que determinaremos “espiritualista”,
porquanto define o Espírito e instrui sobre sua origem, seu destino e seu fim.
Porém,
embrionária como se acha ainda a nova ciência, visto como não foi compreendida
ainda a Nova Revelação, pelo natural receio que em muitos há despertado,
urgente se faz atrair a atenção da família espírita em geral para as páginas
daquele “compêndio” da Ciência Universal,
cujo estudo se impôs, porque todos devemos conhecê-lo.
Por mais inverossímil
que pareça, esta é, entretanto, uma das fulgurantes lições que a Revelação
oferece - a persuação da ciência universal - suprema conquista do Espírito.
Ora, de duas
uma: ou o Espírito evolui para a perfeição, e neste caso terá de elevar-se tanto
em “sabedoria” quanto em “pureza” – como ensina a doutrina e a
Revelação confirma: - ou o Espiritismo pode exonerar-se do labor da
aprendizagem, e neste caso, a própria doutrina espírita nos vem ilidindo quando
nos fala de perfeição e pureza.
Mas vós, espíritas,
estais, com justa razão, convencidos de que, a doutrina dada a Allan Kardec,
venerando Mestre, é realmente verdadeira em seus princípios fundamentais.
O
que é preciso definir é isto: - a Kardec foi dado o ensino preliminar, a
Roustaing foi dado o ensino superior do Espiritismo; a um foi dado a filosofia
espírita, ao outro a ciência espiritual, o primeiro foi o fundador, o segundo o
confirmador do Espiritismo. Dias virão em que essas verdades penetrarão em
cheio na consciência de todos os espíritas.
Quanto a
nós, já sentimos cheia nossa alma dessas imponentes verdades; razão por que
abraçamos com igual respeito, com igual carinho, com igual amor, a doutrina de
Kardec e os Evangelhos de Roustaing.
E é essa
convicção que nos impede a convidar nossos irmãos a esse batismo de luz que por
aquele meio nos envia o Divino Mestre como enviara outrora aos Apóstolos o Espírito
Santo.
Já são
tantas as vezes, meus amigos, que nos havemos feito ingratos para com o nosso Criador
e o nosso Redentor; sejamos desta vez um pouco mais prudentes, quando vemos já
em ativa aplicação as leis reinvidicadoras do Direito Divino.
Nós somos os
servos, Eles são os Senhores... Ora, os espíritas exaltam a bondade infinita do
Criador (e nisto fazem muito bem, porque constatam a verdade que se vem
revelando desde Abraão), mas, se um espírita duvida da mesma bondade infinita
do Senhor, dando por apócrifa a obra do Espírito Santo, faz nuito mal, pois
além de outras falhas revela falta de fé.
Refleti bem.
“- É pelo
fruto que se conhece a árvore.”
Isto, que os
Evangelhos ensinam, igualmente nos ensinam os espíritos.
“ - A letra
mata, e o espírito vivifica.”
Assim dizem
os Evangelhos e igualmente os espíritos.
“-Tudo
é dado a seu tempo.” – Jesus o disse os Espíritos confirmam.
Aí temos,
meus amigos, três importantes dados, excelentes padrões de aferição perante o “senso
espírita.”
Por
conseguinte, sabendo o espírita que a bondade de Deus é infinita; que é
ilimitado o Amor do Divino Mestre; sabendo que “os tempos são chegados”
e que – “das palavras de Jesus nem uma só se perde”; por que duvidar da
assinatura dos Evangelistas, da probidade de Roustaing e, consequentemente, da
autenticidade da Revelação?
Em que
consiste a incompatibilidade da Revelação perante o critério, a lógica, a razão
e bem assim perante a doutrina espírita? - Vagas pretenções; idéias
preconcebidas.
Entretanto,
a advertência do Cristo é clara:
“- Não é o
discípulo mais que o Mestre, nem o servo maior que seu senhor.”
Ora, os
arautos da Revelação alegam que as Verdades evngélicas foram mandadas
restabelecer “à ordem do Divino Mestre e vontade do Pai.” Logo, temos aí
o “Mestre e o “Senhor”.
E basta:
O que,
porém, não basta é o ensino espírita truncado, incompleto, desviado do seu
curso. A responsabilidade espírita é tremenda; por isso mesmo, a sua orientação
deve ser a mais perfeita e segura.
O momento é
de ação e a ação deve ser espiritualista, com a mais viva expressão evangélica,
como convém nesses dias de marcha acelerada da evolução do planeta, em que as
profecias se convertem em fatos.
É tempo de lançar as sementes evangélicas por toda a seara de Jesus.
Evangelização – parte 3
por Geminiano Barboza
Reformador (FEB) 16 de Julho de 1916
O
excesso de prudência tem arrastado muita gente a erros deploráveis.
O excesso de
zelo tem motivado lamentáveis crimes.
Em tudo, enfim,
é sempre mal o excesso, porque no excesso está o perigo; mas esse perigo pode
ser evitado pela prudência sensata e criteriosa
que pôe peias no excesso.
“Vigiai e
orai (recomendou o Divino Mestre) para não cairdes em tentação, porque o
espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca.”
E disse!...
Quanto mais
dilatamos o pensamento pelo vasto campo
de orientação que se nos depara naquela advertência, tanto mais forte sentimos
a necessidade de estudar os Evangelhos em espírito e verdade.
De fato,
meus amigos, os espíritas têm necessidade de permanecer vigilantes e
conservarem o pensamento em prece... Os inimigos são muitos e as tentações
inúmeras. Um momento de distração basta para sermos colhidos por uma cilada...
Há, pois, necessidade de vigiar sempre, sempre e manter a prece no coração.
O espírita
não deve esquecer jamais que: a facilidade da obsessão corresponde à facilidade
do desmando; e isto evidencia o valor da prece e da vigilância.
Mas não
pairam aí nossas necessidades morais; o espírita precisa submeter-se à
disciplina doutrinária, isto é: elevação moral, sentimento de humanidade,
docilidade de coração etc., a fim de ser amparado, guiado e auxiliado
eficazmente.
Se assim
houvessem os escribas procedido, talvez tivessem reconhecido o Messias, com o
auxílio de João Btista, cujas palavras foram bastante expressivas em relação ao
Cristo, quando interrogado pelos sacerdotes enviados pelos judeus, supondo ser
ele o Messias prometido.
“- Eu sou
voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta
Isaías”:
Isto disse o
Batista, depois de haver dito que não era Cristo; nem Elias nem profeta. Mas,
também lhes havia dito João outras coisas que lhes podia esclarecer. Eles, porém,
não ligaram importância, porque esperavam alvíçaras mais positivas, porquanto interpretavam
a Escritura “ao pé da letra”.
O próprio Jesus
em muitas de suas parábolas, deixara transparecer a originalidade do seu ser; e
os atos maravilhosos que pratica ra davam fiel testemunho da essência s
Mas, os sábios
de então, o Sumo Pontifice, os doutores da igreja, os escribas e fariseus, não viam
no Rabino mais que um ousado impostor, um mago aventureiro, um embusteiro audaz,
um aliciador de homens, subversor da ordem e contraventor das leis.
Procederiam
de boa fé?...
Alguns talvez;
a maioria não. Verdade é que se achavam todos sob o domínio da confusão
proveniente do conflito entre os fatos e a Escritura; e por mais que consultassem
a “letra”, não conseguiram tirar a conclusão lógica das Escrituras conjugadas
com as lições dos fatos... Por que?... Porque não eram sinceros, mas hipócritas
sofismadores, cínicos exploradores da boa fé alheia.
De
costas voltadas para a Luz, como se haviam colocado, tornara-se para eles
inacessível à Verdade. E, assim, reduziram a “servo indigno” o que era o seu
Senhor; converteram em asqueroso réu o seu Juiz Supremo.
Não obstante,
a Missão terrena do Filho de Deus fora
consumada, coroada pela Resurreição, que
é a glorificação do Filho no Amor do Pai
e a glorificação do Pai no triunfo do Filho.
Elevado
Jesus ao seio do Pai; baixou o Espirito Santo sobre os Apóstolos, a fim de consolidar
o Apostolado; foi fundada a igreja cristã, que tantos beneficios trouxe ao
mundo enquanto durou aquela virtuosa plêiade de homens simples e bona, que eram
o sustentáculo da Verdade Messiânica.
Na Terra,
porém, tudo é relativo e efêmero. Os Apóstolos tiveram de volver ao amoroso seio
do Divino Mestre e um novo Apostolado se foi constituindo a seu modo. E dentro
em breve, os novos levitas crismaram a igreja de Jesus e surgiu em seu
lugar a Igreja Católica Apostólica Romana.
Começou
aí a nova orientação, a nova erudição religiosa: surgiu a hierarquia
eclesiástica, vieram os concílios e com eles as novas criações – os dogmas, os
sacramentos, as relíquias, os mistérios da igreja e, enfim, todas as criações
hoje vulgarizadas e escudadas na eterna ameaça do imperioso preceito: “Fora
da Igeja não há salvação.”
Entretanto,
os Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo jaziam sequestrados; as advertências
do Divino Mestre eram esquecidas; os ensinos religiosos eram dados
calculadamente, trasfigurados, sofismados e até controvertidos.
Mas, paremos
aqui, não devemos ir mais longe; o sentimento de piedade impõe-se e aliás não
somos delatores. Esse estado de coisas, porém, perdura ainda, pode ser
averiguado.
Não
é pretensão nossa condenar a igreja, que sabemos de antemão condenada por quem
de direito; queremos apenas demonstrar a razão do equívoco, da confusão, da
insensibilidade, da cegueira, endim, que lhe faz ver no Espiritismo tão
perigoso elemento para o bem estar da humanidade, como via a igreja judaica, na
doutrina do Cristo, elemento perigoso ao bem estar do povo israelita.
A razão é simples, meus amigos: as idéias e
sentimentos são análogos, não pode deixar de haver analogia na prática.
Nós, porém,
não somos juízes, deixemo-los. Mas, aproveitemos os exemplos que de lá veem,
não para incentivo nosso, mas para escarmento; portanto, averiguado está: em
corações corruptos não se aninham sentimentos nobres; em inteligências votadas
à pervenção não se abrigam pensamentos puros; pelo mesma razão porque – “não põe
Deus e a Verdade nos lábios do mentiroso.”
Por
conseguinte, os espíritas, cuja responsabilidade é bem maior, porque – “muito
se pedirá a quem muito se houver dado” -
os espíritas devem tributar sinceramente a mais elevada consideração às
advertências do Divino Mestre.
Os primeiros
Apóstolos preservavam-se do mau fermento, preservaram na fé, conservaram-se
fiéis aos preceitos e advertências; - triunfaram das perrfídias do mundo. Os
escribas, porém, insuflados de sabedoria, tradições e idéias, tombaram vencidos
pelas paixões. Os sucessores dos
Apóstolos, graças à sua ciência reformadora, arrastaram a igreja à falência
moral; e os seus continuadores atuais, em nome das tradições e da
infalibilidade da Igreja, declaram guerra ao Espiritismo.
Em face de
tais exemplos, qual deve ser a orientação dos espíritas?... A mesma dos
eribas?... A dos católicos ortodoxos?
Não, meus
amigos, a dos Apóstolos, que sustentaram a orientação do Nazareno, iluminados
pelo Espírito Santo.
E não
possuem os espíritas a palavra do Espírito Santo dada por escrito na Terceira
Revelação?... Sejam, pois, os espíritas criteriosos, para que idéias equívocas
não venhm perturbar a placidez do “espírito de doutrina” que deve manter a
pureza do nosso ambiente. Nada de paridarismo, porque, segundo afirmou S.
Paulo, o fundamento é só um: Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ora,
sabeis que o Divino Mestre enviou aos Apóstolos o Espírito Santo, conforma
prometera. Por que duvidar do Consolador trazido pelo Espírito de Verdade, que
importa também promessa sua?...
Pois não manda
Ele aos novos escolhidos os seus mensageiros a lhes aclarar o entendimento,
robustecer a fé e confortar a alma?
Que mais
resta a exigir para erguer nossa crença?... A presença do próprio Jesus?...
Novo prodígios e milagres?... Mas, então não somos espíritas, semos friseus
boçais... Não merecemos a oferta magistral do Consolador.
Erguei-vos,
ó almas cristãs que estais de boa fé; erguei-vos à altura do conceito que a
magnanimidade do Altíssimo houve por bem dispensar-nos em cumprimento da
promessa de seu amado Filho.
O Evangelho
recomendado aos espíritos é o Evangelho comentado e explicado em Espíritoe
Vedade pelos Espíritos do Senhor; desprezá-lo equivale renunciar o próprio
Jesus, cuja palavra relembramos:
“- Quem
me despreza, despreza Aquele que me enviou.”
Em suma: a
ordem atual, segundo orientação dos mensageiros do Além, é o estudo dos
Evangelhos, é a disseminação da doutrina evangélica.
Porém,
esses mesmos mensageiros dizem mui claramente:
“Estudai
os Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo em Espírito e Verdade.”
Ora, não
havendo por enquanto outra obra que possa ser assim classificada senão a
Revelação Evangélica recebida pelo nosso prestigioso irmão Roustaing, para ela,
creio, devem convergir nossas vistas.
Vós outros,
porém, não sois crianças abandonadas; possuis mediunidade e viveis sob a auspiciosa
direção de vossos guias e protetores; se a voz da consciência não é bastante,
consultai-os.
"Estudai os Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo em Espírito e Verdade."
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