domingo, 5 de dezembro de 2021

Antologia Ubaldiana - 10

 

ANTOLOGIA UBALDIANA -  10

A GRANDE SÍNTESE

CAPÍTULO 8 - A  LEI

             A Lei. Eis a ideia central do Universo, o sopro divino que o anima, governa e movimenta, tal como vossa alma, pequena centelha dessa grande luz, governa vosso corpo. O universo de matéria estelar que vedes, é como a casca, a manifestação externa, o corpo daquele princípio que reside no âmago, no centro.

             Vossa ciência, que observa e experimenta, permanece na superfície e procura encontrar esse princípio através de suas manifestações. As poucas verdades particulares que aprendeu, são apenas farrapos mal remendados da grande Lei. A ciência observa, supõe um princípio secundário, deduz uma hipótese, trabalha sobre ela, esperando uma confirmação da experiência, e daí conclui uma teoria. Mas vislumbrou somente pequena ramificação derradeira do conceito central, porque este defenderá com o mistério até que o homem seja menos malvado, menos propenso a fazer mau uso do saber e mais digno de olhar na face as coisas santas. Falo-vos de coisas eternas e não vos choque esta linguagem, para vós anticientífica; ela se mantém fora da psicologia que vosso atual momento histórico vos proporciona. Minha ciência não é como a vossa, ciência agnóstica, impotente para concluir; nem é ciência de um dia. Lembrai-vos de que a verdadeira ciência toca e mergulha nos braços do mistério: sagrado, santo e divino. A verdadeira ciência é religião e prece, só pode ser verdadeira se também for fé de apóstolo e heroísmo de mártir.

             A Lei é Deus. Ele é a grande alma que está no centro do universo. Não centro espacial, mas centro de irradiação e de atração. Desse centro, Ele irradia e atrai, pois Ele é tudo: o princípio e suas manifestações. Eis como Ele pode — coisa inconcebível para vós — ser realmente onipresente.

            É necessário esclarecer este conceito. Chegou o momento de retomar a ideia de que partimos, dos três aspectos do universo, para aprofundá-la.

            A esses três aspectos correspondem três modos de ser do universo.

            A estrutura ou forma, o movimento ou vir-a-ser, o princípio ou lei, podem também denominar-se:       

Matéria                         Energia                      Espírito

 ou também, movendo-se no sentido inverso:    

Pensamento                Vontade                      Ação.

 Do primeiro modo de ser, que é:           

Espírito                       Pensamento               Princípio ou Lei

deriva o segundo, que é:      

Energia                       Vontade          Movimento ou vir-a-ser

 e do segundo, o terceiro que é:            

Matéria                      Ação                Estrutura ou forma.

             Esses três modos de ser estão coligados por relações de derivação recíproca. Para tornar mais simples a exposição, reduziremos esses conceitos a símbolos. A ideia pura, o primeiro modo de ser do universo, a que chamaremos espírito, pensamento, Lei, que representaremos com a letra α (alfa); condensa-se e se materializa, revestindo-se com a forma de vontade, concentrando-se em energia, exteriorizando-se no movimento, segundo modo de ser que representaremos com a letra β (beta); num terceiro tempo, passamos (em virtude de mais profunda materialização ou condensação, ou exteriorização), ao modo de ser que denominamos matéria, ação, forma, isto é, o mundo de vossa realidade exterior, representaremos com a letra γ (gama).

             O universo resulta constituído por uma grande onda que, de α, o espírito, (puro pensamento, a Lei que é Deus) caminha para um devenir contínuo, movimento feito de energia e vontade (β) para atingir seu último termo, γ, a matéria, a forma. Dando ao sinal o sentido de “vai para”, poderemos dizer: α→β→γ.

             O espírito, α, é o princípio, o ponto de partida dessa onda; γ, a matéria, é o ponto de chegada. Mas compreendereis, qualquer movimento, se ampliado constantemente numa só direção, deslocaria todo o universo (em sentido lato, não apenas espacial), com acúmulos de um lado e vazios de outro, proporcionais e definitivos. Então é necessário, para manter o equilíbrio, que a grande onda de ida seja compensada por outra onda equivalente de volta. Isso é também lógico e se realiza em virtude de uma lei de complementaridade, pela qual cada unidade é metade de outra unidade mais completa. O movimento que existe no universo não é jamais um deslocamento unilateral, efetivo e definitivo, mas é a metade de um ciclo que retorna ao ponto de partida, após haver cumprido determinado devenir uma vibração de ida e volta, completa em sua contraparte inversa e complementar. 

             A esse movimento descêntrico que vimos, a expansão e a exteriorização, α→β→γ, segue-se então um movimento concêntrico inverso: γ→β→α. Há, pois, o movimento inverso, pelo qual a matéria se desmaterializa, desagrega-se e expande-se em forma de energia, vontade, movimento; é um tornar-se, que por meio das experiências de infinitas vidas, reconstrói a consciência ou espírito. Aqui, o ponto de partida é γ, a matéria, e o ponto de chegada é α, o espírito. Assim, a espiral, que antes era aberta, agora se fecha; a pulsação de regresso completa o ciclo iniciado pelo de ida.

             Este é o conceito central do funcionamento orgânico do universo. A primeira onda refere-se à criação, à origem da matéria, à condensação das nebulosas, à formação dos sistemas planetários, do vosso sol, do vosso planeta, até à condensação máxima. A segunda onda, de regresso, é a que vos interessa e viveis agora, refere-se à evolução da matéria até às formas orgânicas, à origem da vida; com a vida, tem-se a conquista de uma consciência cada vez mais ampla, até a visão do Absoluto. É a fase de regresso da matéria que, por meio da ação, da luta, da dor, reencontra o espírito e volta à ideia pura, despojando-se, pouco a pouco, de todas as cascas da forma.

            Estas simples indicações já esboçam a solução de muitos problemas científicos, como o da constituição da matéria, ou como o da possibilidade de, por desagregação, extrair dela, como de imenso reservatório, a energia, que não seria senão a passagem de γ→β. A energia atômica que procurais, existe, e a encontrareis.

            Estes apontamentos projetam a solução de muitos complexos problemas morais. Diante da grande caminhada que seguis está escrita a palavra evolução e a ciência não pôde deixar de vê-la, mas apenas a vislumbrou nas formas orgânicas e não em toda sua imensa vastidão. Vosso ciclo poderia definir-se como um físio-dínamo-psiquismo. A fórmula é γ→β→α.

 Nota: A seleção dos textos de Pietro Ubaldi são uma colaboração do espírita amigo Júlio Damasceno.

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