Mistificações conscientes
por Carlos Imbassahy
livro: “Libertação” (Editora Ismael - Araras-SP, 1955)
No começo das
experiências psíquicas, alguns experimentadores se espantavam de que, ao lado
dos fenômenos iniludivelmente autênticos, houvesse outros que se diriam fraudulentos.
Depois de vários estudos descobriram que, ora a suposta fraude era intrínseca ao
fenômeno, como os fios que surgiam das
mãos de Eusápia, ora que se tratava de mistificação inconsciente, como os casos
de automatismo e sugestão.
Os
ignorantes, não obstante, continuavam a falar nos embustes de Eusápia, até que
a Sociedade de Pesquisas, de Londres, enviou, para examiná-la, três dos seus
mais célebres investigadores, peritos em prestidigitação. Esses técnicos
concluíram pela autenticidade dos fenômenos.
Se
depois de tantos anos de observação, de experiências múltiplas; se depois do
veredito dos sábios da época; se depois da afirmação de Richet, a de que a mediunidade
de Eusápia era suficiente para ter-se a fenomenologia objetiva como demonstrada;
se depois da última palavra da Sociedade de Londres alguém afirma que os fenômenos
produzidos por Eusápia Paladino eram fraudulentos, esse está mistificando
conscientemente.
Temos,
ainda, mistificação consciente quando se declara, como o faz abalizado teólogo,
que:
Esse o
último veredicto da Sociedade.
Aquelas
manifestções de Cambridge, segundo o contestante, ter-se-íam realizado em 1896,
logo 13 (treze) anos antes do relatório dos três.
Apadrinha-se
o teólogo com Grasset. Mistificava, portanto: o Grasset se disse o que lhe
imputam e não desconhecia o relatório.
Quando se
afirma, diante das provas e dos documentos apresentados por Crookes e por
quantos o acompanharam em suas memoráveis experiências,
Quando se declara
que o Times desmascarou a médium, está-se ainda a mistificar com toda a
consciência, porque o Times não desmascarou coisa nenhuma, apenas publicou uma
informação que lhe trouxeram, sem qualquer elemento de prova, a de que o Sr. Fulano
havia apanhado em fraude uma Senhora Corner e que esta fora a Miss Cook. Provou-se
a fragilidade da denúncia.
Ora, William
Crookes fez experiências com aparelhos de vária espécie, cercou-se de todas as
precauções, auxiliado pelas suas máquinas, suas lâmpadas, e até por sua
senhora, visitou, contou com a colaboração do Engenheir Varley, que inventou um
“controle” elétrico e nele envolveu a médium; as manifestações se realizaram no
gabinete do sábio e ele viu a materialização em plena luz, enquanto a médium
jazia inanimada no canapé e no assoalho, e ele examinava, ao mesmo tempo, uma e
outra.
Ele viu, ao
mesmo tempo, Katie e miss Crook; comparou-as, mediu-as, auscultou-as,
tomou-lhes as pulsações, fotografou-as, enquanto as lâmpadas iluminavam o
aposento. O fantasma dissolveu-se diante dos seus olhos como “uma boneca de
cera”. Isto consta dos trabalhos de Crookes e de tantos quantos presenciaram o
caso e escreveram sobre o assunto.
Eram
de granito essas experiências, assegurava Richet (C’est du granit).
Afirmar
que tudo não passava de mistificação, quando os maiores sábios ainda admiram as
experiências de Crookes, é deixar entre as pessoas sensatas a convicção de que
o verdadeiro mistificador é o negativista.
Para
acreditar que três anos ininterruptos de tis experimentos, à luz de vários
focos, diante da impecável fiscalização mecânica e humana, puderam vir à terra
pelo que disse a um jornal um informante qualquer, é mistificar conscientemente.
Colhamos
outros fatos de igual coturno. Temos exemplo num rol de psiquistas lançado no
prelo, entre os quais se inclui Lombroso, Geley, Crawford, Flammarion...
Já havíamos
apresentado as opiniões de Lombroso. Oautor deixa passar o tempo. O tempo é a
esponja mais eficaz para que os infelizes esqueçam as suas mágoas e os
matreiros renovem as suas expertezas.
Mas, o venábulo
(lança curta, usada em combate ou em caça de animais
selvagens) é velho e a zargunchada (pancada ou ferimento com
zarguncho – instrumento de uso na cultura do trigo); ineficaz.
Lembremos que já dizia René Sudre, autor insuspeito aos antagonistas:
Jean Meyer diz:
Finalmente,
declarar que os autores que costumo invocar não passm de literatos
desconhecidos, qundo me reporto aos que estão no “rol”, e fora do “rol” a
vultos da estatura de Conan Doyle, John Edmonds, Hyslop, Richard Hodgson, Paul
Gibier, Aksakof, Wallace, Willian Barret, Willian Crookes, Varley, Zoellner,
Oliver Lodge, Eugene Huss, Bozzano, Frederico Myers, Chiaia e por aí além, é
levar muito longe o direito de mistificar.
E aqui fico,
por então, deixando que os admiradores das boas peças quedem-se no deslumbramento
dos magníficos recursos que acodem a polemistas de certo estofo.
Cá entre
nós, estou com Horácio – “nihil admirari”. (locução latina que
significa "não se perturbar com coisa alguma")
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