‘O Cristo Agênere – Considerações morais’
Fonte: ‘A queda original segundo o Espiritismo’
por J.-E.
Guillet
Pesquisa e coordenação: Jorge Damas Martins
Copyright:
Casa de Recuperação e benefícios Bezerra de Menezes RJ RJ
“Se o Cristo,
diz-se, só teve um corpo fluídico, ele não provou nem a dor nem o sofrimento.
Se ele não sofreu, a cena do jardim das Oliveiras, sua paixão e sua agonia são
apenas um vão simulacro e uma comédia indigna que lhe tira todo o mérito que
ele pode ter aos nossos olhos.”
Os sofrimentos e
a dores são de duas espécies: físicas e morais. Quanto mais o ser se eleva, á
medida que seu ideal cresce, ele faz pouco caso das privações, menos ainda dos
gozos materiais, e oferece sua vida, de boa vontade, para o triunfo de uma
ideia. É como se tem visto os heróis e os mártires, por meio dos mais cruéis
suplícios, morrerem com sorriso nos lábios. Vede Joanna D’Arc, Savoranola e
todos os grandes perseguidos, e dizei se neles o sofrimento moral não
ultrapassou a dor física?
Mas sem procurar
exemplos tão altos, qual é aquele dentre nós que, vendo sofrer alguém dos seus,
não provaria as mesmas torturas que o ser amado? Crê-se que a mãe que visse massacrar
seu filho sob seus olhos não sofreria mais do que ele?
Está demonstrado que a dor física entorpece pouco a
pouco o ser que a sente; é o que faz que um ferido, por exemplo, quase sempre
perca os sentidos se o sofrimento é muito violento. Por outro lado, o estado
psicológico no qual ele então se encontra neutraliza às vezes completamente a
dor: como atestam as religiosas de Loudun, que nada sentiam dos atrozes
tratamentos que elas se auto infligiam.
Pois bem,
pensar-se-á que, na paixão do Cristo, seja preciso ter-se em conta apenas a dor
física? Será que os golpes da flagelação, do coroamento de espinhos, da
crucificação não se repercutiam moralmente sobre a sua alma? Que diferença
haveria então entre o mártir divino e os dois ladrões que participavam o seu
suplício? e qual era o mais doloroso para ele ou o de estar crucificado, ou o
de estar posto na classe dos criminosos?
E é assim que a
questão se apresenta por seu lado verdadeiramente grandioso. Se se imagina este
Espírito puro, um Messias da mais elevada ordem, deixar os esplendores celestes
para vir fazer o que? Repor sobre o caminho reto uma humanidade decaída; ser
exposto a se ver insultado, vilipendiado como ninguém o foi jamais; ser
condenado, ele, a Luz do mundo, a vir parlamentar com um Caifás, um Herodes, um
Pilatos; ser obrigado a se valer constantemente de seu Pai celeste para aceitar
sua missão, apesar dos benefícios que semeava sob seus passos; ser flagelado,
achincalhado, maculado, por uma multidão vil amotinada contra ele; ser enfim
abandonado, traído, renegado pelos seus, por aqueles mesmos que se aprouvera de
encher do seu amor; e isso depois de uma vida dolorosa, fluidicamente falando;
porque não é necessário se dissimulá-lo; ser atacado materialmente durante
longos anos em um corpo perispirítico deve ser para um Espírito desta elevação
uma prisão horrível e um suplício sem igual.
E quem nos prova,
de fato, que uma encarnação fluídica em um mundo material não seja um grande
sofrimento e um devotamento admirável da parte de um Espírito puro!
P.S.: Este livro pode ser obtido via
internet acessando o site da CRBBM: www.crbmm.org
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