terça-feira, 4 de maio de 2021

Bilhetes

 

Bilhetes

por G. Mirim (Antônio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Outubro 1946

             Muito se fala atualmente em democracia, em liberdade de cultos, em respeito à consciência e ao direito do homem. Mas, pelo que vimos observando, a nossa legislação clericalista, inquisitorial, forjada à sombra do longo período “dipiano”, que não permitia a liberdade de a Imprensa e muito menos de as classes sociais se defenderem, continua, qual espada de Dâmocles, sobre a cabeça dos que não rezam pela cartilha da chamada maioria católica.

            Enquanto certos jornais, dirigidos por padres geralmente estrangeiros, têm a liberdade de agredir os não católicos, mentindo, enredando e difamando, sem menor respeito às leis do País, que os não atemorizam, porque se sentem senhores, as suas vítimas, quando muito, só têm o recurso de ouvir e calar, visto que aquelas mesmas leis poderiam ser invocadas, no caso de se defenderem.

            Há mesmo, jornais católicos especializados no plano, encarregados de maquinarem a intriga ou a infâmia, em seguida transcrita pelos demais órgãos clericalistas. Desmentidos e diante mesmo de documentos comprobatórios da sua artimanha, não dão qualquer satisfação, antes, deixam que a intriga corra todo o território brasileiro, através de seus órgãos e, em seguida, lançam mão de novo ardil.

            É de lamentar que tudo isso ocorra. Não por nós, que estamos dispostos a receber todas as afrontas e as julgamos insignificantes quando comparadas às que o sacerdócio organizado atirou contra o Custo, mas, por eles mesmos, por conhecermos a Lei a que estão sujeitos e a qual pagam o seu tributo periodicamente, num ou noutro pais.

            Constantemente esta revista se vê obrigada a desmentir as infâmias propaladas pelos órgãos clericais. De quando em vez, não contentes com seus planos de nos classificarem como inimigos da Religião, da Família e da Pátria, urdem planos maquiavélicos em que nos apresentam como conspiradores contra o governo constituído. E, com isso, algumas vezes têm conseguido fechar os nossos Centros, os quais, porém, reabertos em seguida, após a verificação policial de que não nos preocupamos senão com o Evangelho, se enchem cada vez mais, obrigando-nos a desdobrá-los, visto que se tornam insuficientes para receber o grande número de novos adeptos que surgem após cada perseguição.

            São esses padres, cuja estatística nos demonstra serem quase todos estrangeiros, os senhores absolutos. Fazem o que bem entendem. “O Brasil é um País cristão e nós somos os ministros do Senhor.” - dizem eles. Ninguém se atreva a perturbar lhes os planos de domínio das consciências - ad majorem Dei Gloriam. (“Para maior glória de Deus", lema da Companhia de Jesus, cujos membros são chamados ‘jesuítas’.) Para eles toda a liberdade; seus gestos e suas palavras não estão sujeitos ao Código Penal que eles próprios engendraram. Criaram-no para os espíritas, para meter os estorvadores na cadeia, já que não nos podem levar à cegueira, não porque receiem as leis brasileiras, mas pelo temor às represálias que poderiam surgir noutros países.

            Os passes, porém, continuam a ser dados! Os doentes continuam a recebe-los. Não são mais administrados livremente sob a proteção da Lei, mas nos lares espíritas, transformados hoje em catacumbas semelhantes às dos primeiros tempos.

            E nós, os cristãos novos que viemos para fazer ressurgir o Cristianismo, expurgando-o dos enxertos, das deturpações e das interpretações interesseiras que lhe ofuscaram o brilho e consequentemente afastaram os homens dessa fonte de Sabedoria - O EVANGELHO, aqui, estamos dispostos ao sacrifício e em prece contínua para que Deus abençoe os nossos algozes, iluminando lhes a consciência e o raciocínio, harmonizando-os com os ensinos d'Aquele que é a Verdade, o Caminho e a Vida.

            Que Deus se apiede dos nossos perseguidores.


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