segunda-feira, 26 de abril de 2021

Recusa significativa

 

Recusa significativa

por Vianna de Carvalho           Reformador (FEB) Fevereiro 1920

             Causou péssima impressão, entre estudiosos de questões religiosas, o ofício que o Cardeal Arco Verde fez dirigir ao esforçado campeão de Teosofia - Coronel Raymundo Seidl - explicando o não comparecimento de representante do Catolicismo na festa da fraternidade.

            Os termos daquele documento, a despeito da insinuação de polidez fingida que aparece aqui e ali como disfarce à prepotência do pensamento geral da tese jesuítica, acusam o espírito estreitíssimo da seita e sua absoluta divergência dos modelos expostos no Evangelho.

            A teologia continua adotando - ao menos na parte teórica - os mesmos processos em voga nos ominosos (sinistros) séculos da idade medieval.  

            Anquilosou-se (cristalizou-se) na irredutibilidade do dogma.  

            E, enquanto tudo progride dentro da civilização ambiente, ela teima no propósito esdrúxulo de permanecer intangível apesar dos erros que a ciência positiva lhe vem descobrindo a cada passo.

            É óbvio que, com semelhantes disposições, a igreja estará sempre em campo oposto às iniciativas liberais.  

            Conscientemente reage contra a lei de evolução e prega o imobilismo como preceito imposto essencialmente à grei (rebanho) de seus fiéis.  

            Daí o rol de proibições regulamentadas, de vez em quando, nos conciliábulos do Vaticano.

            Ao católico não assiste o direito de se pertencer intelectualmente, nem de dispor da própria individualidade no intercâmbio da vida social.

            Não pode examinar livros escapos (isentos) à rubrica da autoridade eclesiástica; não se lhe consente frequência nos templos de outros credos, às sessões de Espiritismo nem às assembleias, fundamentalmente amorosas, organizadas pelos teosofistas.

            E porque esta disciplina rígida, absorvente e ridícula ao mesmo tempo?

            Para evitar confrontos prejudiciais às doutrinas do papado.

            Ah! Se os católicos raciocinassem sobre qualquer assunto da crença que receberam, desde o berço, mecanicamente!

            O prestígio do clero dissolver-se-ia como por encanto e cessaria a avalanche de dinheiro que corre para os palácios dos bispados e demais ramos da grande empresa cujo giro de capitalismo egoísta assume proporções assustadoras.

            Ora, um cardeal que se preza deve ser, antes de tudo, um homem de negócio.

            A presença dos devotos da Santa Sé na reunião promovida por nossos irmãos teosofistas, daria talvez ensejo a que alguns, menos carolas, viessem a inutilizar grilhetas (argolas presas as pernas de condenados) de credulidade rendosa que os trazem manietados aos interesses da cúria romana.  

            Logo, anátema seja lançado sobre os intuitos sãos dos discípulos de Blavatsky e se imprima ordem categórica para conseguir o máximo de redução no coeficiente da assistência ao prélio ferido harmoniosamente em prol da fraternidade universal.

            É assim que o catolicismo procede com relação às ideais nobres: repele-as sem análise e sonega lhes conhecimento aos escravos de suas arbitrariedades inquisitoriais.


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