Pontos de Vista
por M. Quintão Reformador (FEB) 16 Dezembro 1934
Pretende-la assim seria desvirtuar lhe a índole essencialmente evangélica, para flutuar na mesma esteira de erros e falsícias (falsidades) do romanismo prepotente e dogmático, antes nocivo, seja dito, do nosso ponto de vista, aos seus corifeus e caudatários de todos os tempos, do que a humanidade irremissa (?), que há tido nele, como em todos os sistemas político-sociais e religiosos, o termômetro da sua providencial evolução.
Certo, é belo e nobre, é mais que
justo e indeclinável, imaginar e propugnar, a qualquer tempo, um estágio melhor
para a humanidade que vivemos, de vez que o progresso é indefectível e incoercível,
e aqui havemos de voltar por colher o fruto semeado.
Mas, preciso é convir e concluir, também, em última análise,
que, nessa obra de realizações e realidades complexas e indefinitas, a nossa
visão e livre arbítrio de toupeiras confinadas e obstringidas (muito apertadas) em lodosas luras (esconderijos) não devem, porque podem colidir no
determinismo universal, ser irrestritos e arbitrários.
Nem por menos nos seria dada, agora, em maiores
aclaramentos, a confirmação da lei e dos profetas.
Ora, a verdade, neste caso, é que a
lei nada sofre na isocronia (Técnica
narrativa que consiste na sincronização entre o tempo narrativo e o tempo da
história)
do seu ritmo, no
evolutir dos seus planos, com as nossas infracções.
O operário trêfego ou imprudente,
não travaria de um segundo a roda mestra, em detrimento da manufatura perfeita,
para só pagar com a repetição da tarefa o distúrbio cometido.
Assim, tudo se reduz, por conseguinte, na perfeita, ou
por melhor dizer - menos imperfeita euritimia (regularidade) de um limitadíssimo e condicional
arbítrio, em função e amálgama de atividades e deveres complexos, constitutivos
de provações individuais e coletivas.
Pois, se a ninguém é licito, racionalmente, negar uma
fatalidade cósmica, uma fatalidade biológica, com todos os seus corolários, lícito
não fora negar também uma fatalidade sociológica.
Somente, o que o mudo averba de fatalidade,
na inconsciência ou na incerteza de uma sobrevivência e destinação eterna e consciencial,
chamamos nós determinismo divino.
Deus é a Lei total, integral e absoluta. Entretanto,
para o homem, o conhecimento da Lei é sempre relativo. Esta a lição dos
Espíritos, criaturas de Deus também, hierarquizadas no conhecimento e execução
da Lei.
Esse
conhecimento é imanente e baixa em séries parcelares, proporcionais ao grau de
receptividade de cada humanidade para cada mundo, e de cada indivíduo para cada
grupo de indivíduos, nação ou sociedade.
As objetivações terrenas, de caráter
temporal e sempre transitório, só se justificam, portanto, a título precário,
como meio e não fim, de vez que o destino do ser não se concentra na Terra, nem
em mundo outro, qualquer, mas na eternidade extreme de vicissitudes e contingências
de tempo e espaço.
Será, assim, que, só por uma estreitíssima
visão angular, o homem sobrelevará em confusões e inversões lamentáveis os seus
deveres e atitudes de peregrino acidental de uma estrada finita, pelos que lhe
decorrem da consciência integral dos seus destinos superiores, perante os quais
as pátrias são expressão de humanidades planetárias, para que estas o sejam de
uma só Pátria Universal, ou melhor - aquela Casa
do Pai, de diversas moradas, a que aludia Aquele que disse existir antes
que o mundo fosse...
Diante do êxito, a nosso ver, efêmero,
que, no terreno sáfaro (árido) da política nacional, tiveram os
nossos irmãos católicos, com as chamadas emendas religiosas, logo uma onda de
alarma invadiu nossas, fileiras para, dizem, organizar o revide no xadrez
tumultuário das aventuras partidárias.
Ora, todos nós sabemos que o romanismo, assim
procedendo, não fez mais do que aproveitar habilmente um estado de coisas não
fictício, nem artificial, mas natural e lógico, porque estratificado na ignorância
das massas passivas e displicentes, quanto na cegueira inteligente dos céticos
epicuristas
(os que
se entregam aos prazeres mundanos) e
falsos crentes de todos os tomos (fundamentos) e matizes.
Se considerarmos que, em países de mais extensa e
intensa cultura, o catolicismo tem mantido forais (foros) de
predomínio e regalias, haveremos de concordar que só por um paradoxo se mantivesse
neutro e apolítico, num país que ele se orgulha de haver catequisado e que, sob
o seu jugo “civilizador” de quatro séculos, ainda conserva 80% de analfabetos
e, como florão melhor de “cristandade”,
o fato de ser o último reduto, na América, da escravidão e da monarquia.
Colhido de surpresa nas malhas de uma revolução também
artificial, à falta de preparação cívica e graças ao idealismo superior de
alguns iluminados da primeira hora, é claro que o nosso Brasil não haveria de
maturar no gozo das prerrogativas de liberdade que lhe outorgavam e o clero,
tradicionalmente parasitário e regalista (que defende regalias), não renunciaria à partida, para só
aguardar o momento de remarcar os pontos perdidos.
O momento veio, todos sabemos como
ele veio e porque veio, e os pontos aí estão, marcados no quadro negro do nosso
futuro político-social.
Tínhamos uma constituição libérrima
e ela morreu de inanição. Nunca foi executada, nem compreendida.
Para que o fosse, precisavam os
nossos estadistas formar uma consciência política acima de todo e qualquer
partidarismo.
Assim, nós, que presumidamente temos
um regime cristão a defender, para implantar, deveríamos, antes de tudo, para
ser coerentes e eficientes, formar o bloco impermeável de uma consciência doutrinaria,
do qual derivasse a unidade espontânea de métodos, diretivas e realizações.
O romanismo, convenhamos, não assume atitudes novas,
nem imprevistas, porque apenas desfralda a sua bandeira histórica. Tem por si
uma disciplina férrea, uma organização poderosa, tradicional, que só recua para
melhor poder avançar. E leva entre as hostes, compactas e aguerridas, porque fanatizadas, a sua “Arca-Santa”,
que guarda e comporta, qual sabemos, todos os tesouros que a traça rói.
Acompanha-lo nessa marcha, com tal
estratégia, para terçar
(dividir
em três partes)
armas no mesmo campo,
seria mais que temeridade, porque seria loucura inútil e mais que inútil -
prejudicial a nós mesmos. Ele tem, seja como for, uma consciência comum na
inconsciência das massas, que não escrupulizam (que não tem escrúpulos) os meios para atingir os fins. Está
no seu clima.
Nós não temos, sequer, o amparo
teórico dessa unidade consciencial, que atualiza a força e uniformiza a ação.
Não temos o lastro, o elo, a pedra
de toque de todas as conquistas coletivas, que é a consciência coletiva, a
afirmação psíquica, que se conquista mas não se improvisa, sob a égide dos
nossos guias e, quantas vezes, a rubro, na incude (bigorna?) das provações e testemunhos os mais dolorosos.
Preciso é, pois, primacialmente,
busca-la, essa consonância coletiva, no amor e na renúncia, no espírito de
abnegação e sacrifício, que lindou (enfrentou) a via doloris (via dolorosa) dos pescadores de almas.
E porque essa conquista, hoje como outrora, e como sempre,
não é de tesouros que a traça rói, mas de almas identificadas na Fé e pela Fé,
conscientes e autônomas, não será com a força, mas com a razão, que havemos de
prosseguir para triunfar.
O elemento de convicção por
excelência é o fato; e para que ele se intensifique em qualidade, mais que em
quantidade, desejável, é forçoso sejamos menos da Terra que do céu; que
busquemos, antes da comunhão de vistas meramente humana, a dos Espíritos nossos
maiores, no conhecimento e na verdade, porque, se é certo que “o cavalo se prepara para a batalha, só de
Jeová vem a vitória.”
(1)
(1)
Salomão, Provérbios
O bom é que, no afã da hora que
passa, assomados de roldão no ardor da refrega, não deslembremos o maquiavélico
divide ut imperes, (divides para que
possas reinar) para
lembrar que o Divino Mestre também sentenciou: - todo reino que se divide é condenado.
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