Espiritismo
cristão
por M. Quintão
Reformador
(FEB) 16 Outubro 1936
Reiteradamente temos asseverado que, sendo o
Espiritismo a Doutrina dos Espíritos, tal como o definiu Allan Kardec, e
manifestando-se eles, os Espíritos, de todos os tempos e por toda parte, a sua
doutrina não poderia deixar de ser universal.
E como, por outro lado, manifesto e incontroverso
é que os homens de todos os tempos, ao desencarnarem, levam para o plano
espiritual as suas ideias e prejuízos terrenos, é também manifesto, incontroverso
e natural que de lá continuem a transmitir e sustentar ideias e prejuízos, que
tiveram na Terra.
Entretanto, acima desta lei
contingente, há uma lei imanente, providencial, absoluta e incoercível, que
articula, aciona e ritma a evolução e o progresso da humanidade, mercê de reencarnações
alternativas e sucessivas.
Lei iniludível, ela forma, ostensiva
ou latente, o lastro de todas as consciências, para cristalizar-se em sínteses filosóficas,
religiosas, científicas, correspondentes a gradações de nível, ou ciclos de
evolução coletiva.
Variante nas fórmulas, nela se
identificam, fundamentalmente, os princípios essenciais e dominantes de uma
Proto Síntese, a integralizarem-se na existência de um DEUS, PRINCÍPIO CAUSAL,
INTELlGÊNCIA SUPREMA, em função de atualidade na eternidade.
Dizer que essa ideia provém da ignorância
e do terror dos primitivos terrícolas, abrolhados para a vida consciencial do
planeta; em face dos fenômenos cósmicos, não passa de mera hipótese simplista,
incapaz de explicar, só por só, a evolução da consciência e inteligência
humanas.
De fato, ninguém atina como pudesse alguém
sondar agora, para surpreender in natura, o pensamento Incipiente e
brumoso de um troglodita do Cró-Magnon
ou de... Furfooz (os primeiros
humanos anatomicamente modernos do Paleolítico Superior europeu, ao lado do
Cro-Magnon.).
São teorias, pois, e teorias
nebulosas, que nada ilustram, nem justificam, no dirimir a causa.
Nós, os espiritistas, os que acreditamos, ou melhor -
temos a certeza da imortalidade na eternidade, pela Revelação, só a Revelação
podemos e devemos pedir meças (pedir
explicações)
para aclaramento do
nosso raciocínio.
E o que a Revelação nos diz, com Allan Kardec, aliás
ratificado por todos os instrutores do plano espiritual, prepostos à prossecução (prosseguimento) da sua obra, progressiva ao indefinito,
no tempo e no espaço, é que o Cristo, em não ser único no Universo, é único
para nós, em relação a Deus, pela sua hierarquia de DIRETOR ESPIRITUAL do nosso
planeta e da sua humanidade.
Aliás, é o que se deduz, entre
muitas outras passagens, desta que se encontra em João, cap. XVII, v. 5: E agora glorifica-me tu, Pai, em ti mesmo,
com a glória que tive em Ti, antes que o mundo fosse.
Nesse caráter, superintendeu Jesus a formação e
evolução do nosso mundo, provendo-o de missionários oportunos e adequados a
cada fase de sua história. Daí a fonte das ideias e sistemas religiosos,
variantes na forma, mas sempre idênticos no fundo.
E daí porque o Cristianismo, em ser Religião, no
sentido etimológico da palavra, não será nunca uma religião, no sentido comum
da ortodoxia sectária, com disciplinas mentais estritamente dogmáticas.
Precisamos atender à circunstância de
que, quando os desencarnados nos vêm redizer estas e outras coisas, em
unanimidade de planos e de fins, nem por isso violentam a nossa consciência,
senão que o fazem menos autoritariamente do que os nossos humaníssimos pontífices
de batina ou de casaca, indigestados de quimeras para eructações (arrotos) mateológicas (conversas inúteis).
Não, mil vezes não: o Espiritismo é
simplesmente a confirmação do Cristianismo; mas, por isso mesmo que o Cristianismo
não é, nem poderá ser nunca uma religião formalística e temporal, o Espiritismo
só pode ser religioso no sentido que lhe atribuem os arautos de Jesus, fluente
da fórmula única e iniludível, que não é apanágio de nenhum credo: - amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo.
Há, certamente, preceitos outros que
podem inquinar (poluir) de religiosidade o Espiritismo, pelo que de comum
apresenta com os preceitos de todas as confissões sistematizadas.
Nesse número estão a concentração e
a prece; mas, é preciso convir em que estes atos cultuais, para o espírita
esclarecido, não são requisitórios de uma convenção e sim consequentes de uma
lei inelutável - a comunhão universal.
Para resumir, diremos: espírita
cristão, buscando nos Evangelhos a seiva que vivifica, em detrimento da letra
que mata, feliz nos sentimos em praticar a Religião divina.
Por templo - o universo; por altar - o coração; por
Mestre - Jesus; por ídolo - Deus, na acepção de quanto podemos, através da sua
obra, em nós e fora de nós manifestada, ver, sentir, compreender, amar, admirar
e servir.
E, em que pese a pequice (teimosia) do nosso entendimento, esta foi, em linhas
gerais, a doutrina que aprendemos de Kardec, Denis, Delanne, Bellemare,
Roustaing, Bezerra, Bittencourt Sampaio, Sayão, Gerniniano Brasil, Richard e
tantos e quantos outros, que nos legaram, ainda melhor que a sanidade das suas ideias,
o padrão das suas virtudes evangélicas.
Honremo-lhes, assim, a memória, na
esteira das suas pegadas.
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