quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

O problema do Mal

 

 O problema do Mal

por Rodolfo Calligaris     Reformador (FEB) Janeiro 1966

             Desde as mais priscas eras o homem tem observado que, a par das boas coisas que tornam a vida deleitável, outras existem ou acontecem que são o reverso da medalha, isto é só causam aflições, dores e prejuízos.

            Foi, por isso, induzido a crer seja o governo do mundo partilhado por duas potestades rivais: - Deus, fonte do Bem, e Satanás, agente do Mal.

            Essa crença nos dois princípios antagônicos em luta pela hegemonia foi e continua sendo a base das doutrinas religiosas de todos os povos.

            Entre estes, a ideia de que uns se salvam e outros se perdem para todo o sempre é geral, havendo até quem afirme que o número dos perdidos é muito maior do que a cifra dos bem-aventurados.

            Quer isso dizer que o Mal seria mais forte que o Bem e que Satanás estaria conseguindo derrotar a Deus, frustrando lhe os desígnios de salvação universal.

            Em que pese à ancianidade de tais conceitos, são falsos e insustentáveis, diríamos mesmo, heréticos.

            Com efeito, admitir o triunfo do Maligno, a dano da Humanidade, é o mesmo que negar ao Pai Celestial os atributos da onisciência e da onipotência, sem os quais não poderia ser Verdadeiramente Deus.

             O Espiritismo, que é o Paracleto anunciado pelo Cristo contrariando os ensinos da Teologia tradicional, esclarece-nos que o Bem é a única realidade eterna e absoluta em todo o Universo, sendo o Mal apenas um estado transitório, tanto no plano físico, como no campo social e na esfera espiritual.

            Para que se compreenda isto, é preciso, entretanto, considerar, não as consequências imediatas de tudo quanto observamos, mas sim os seus efeitos mediatos, futuros, porque só estes, ao longo dos anos, dos séculos ou dos milênios, é que farão ressaltar, nitidamente, a infalibilidade da Providência Divina frente aos destinos da Criação.

            Certos fenômenos geológicos, por exemplo, podem ter sido considerados catastróficos a época em que se deram: foram eles, porém, que compuseram os continentes e formaram os oceanos, emprestando-lhes os aspectos maravilhosos que hoje nos extasiam, provocando-nos arroubos de admiração.

            Muitas guerras internacionais e outras tantas revoluções intestinas, embora se constituam, como de fato se constituem, dolorosos flagelos para as gerações que nelas são envolvidas, dão ensejo, por seu turno, à queda de tiranos e opressores, à extinção de preconceitos e privilégios iníquos, à mudança de costumes arcaicos, ao regresso tecnológico e quejandos, resultando daí, em favor dos pósteros (que seremos nós mesmos, em novas reencarnações), a melhoria das instituições, maior liberdade de pensamento e de expressão, uma justiça mais perfeita, maior conforto nos sistemas de transporte, de comunicações, nos lares, etc.

            Quando não, é por meio delas que os maus se castigam reciprocamente, consoante o ensinamento: “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Um dia, ainda que longínquo, cansadas de sofrer o choque de retorno de suas crueldades, ditadas pelo egoísmo, pelo orgulho e outros sentimentos que tais, as nações aprenderão a valorizar a paz, buscando-a, então, sincera e veementemente, através da fraternidade e do solidarismo cristão.

            Assim também acontece com nossas almas.

            Criadas simples e ignorantes, mas dotadas de aptidões para o desenvolvimento de todas as virtudes e a aquisição de toda a sabedoria, hão mister de, vida pós vida, neste orbe e em outros, passar por um processo de burilamento que muito as fará sofrer.

            É a luta pela subsistência. São as enfermidades. As insatisfações. Os conflitos emocionais. Os desenganos. As imperfeições próprias e daqueles com os quais convivemos. Enfim, as mil e uma vicissitudes da existência.

            Nesse autêntico entrevero, usando e abusando do livre arbítrio, cada qual vai colhendo vitórias ou amargando derrotas, segundo o grau de experiência conquistada. Uns riem hoje, para chorarem amanhã, e outros que agora se exaltam, serão humilhados depois.

            Tudo, porém, concorre para enriquecer a nossa sensibilidade, aprimorar nosso caráter, fazer que se nos desabrochem novas faculdades, o que vale dizer, se dilatem nossos gozos e aumente nossa felicidade.

            Bendito seja, pois, o Espiritismo pela revelação dessa verdade à luz da qual se nos patenteia, esplendorosamente, a Bondade infinita de Deus!


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