À face da
critica
A Redação Reformador (FEB) 16 de Janeiro de 1930
Não há, nisto, novidade maior, de
vez que todas as doutrinas de qualquer tempo, encontram acérrimos opositores.
E, quanto maiores e melhores forem os princípios novos
a proclamar, tanto mais acérrimos serão os embates, discrimes (aquilo que separa) e controvérsias a vencer.
O Espiritismo, que não é, essencialmente considerado,
uma doutrina nova, a não ser na generalização do seu conhecimento e na prática
dos seus processos e rendimentos, não poderá subtrair-se à lei de hostilidade
necessária à sua evolução e definitivo triunfo. Teremos assim, que no plano ideal, como no
plano físico, a luta é condição intrínseca da própria vida. A passividade
incondicional propendendo para a inércia, é a necrose da energia, é a própria
morte.
Logicamente, ninguém se preocupa com
inimigos desvaliosos; nem se atiram pedras a árvores que não dão frutos.
Ora, a doutrina espírita, por isso
mesmo que fecunda de frutos opimos (abundantes), do ponto de vista individual
como coletivo; por isso mesmo que afeta uma reforma profunda de hábitos e
costumes, públicos e privados; a ferir, para erradicar, ideias e preconceitos
embasados em tradições seculares, tem, e não poderia deixar de ter, inimigos
pertinazes e pervicazes (obstinados), em todas as classes sociais.
Sob um tal prisma, não há lamentar e
sim exaltar com a crítica e sim exultar com a crítica insidiosas que nos movem os
elementos antes suspeitos por interessados no desprestígio da causa, do que
conscientes convictos de sua maleficência.
Nesse jogo de paixões pouco nobres,
sem dúvida, só podem iludir se os espíritos superficiais, os incultos, os que
vêm, leem e pensam de conta alheia.
Os que, porém, se não ajustam nem medem o raciocínio
pelas bastilhas de tradições consagradas, sejam elas de ordem religiosa ou
científica, esses, os que sabem e sentem que a Verdade não tem bonzos (sacerdotes ou
homens místicos) invulneráveis
nem códices definitivos no tempo e no espaço, não se deixam impressionar e
menos açaimar
(calar) por tais processos de reprimenda,
virtualmente incompatíveis com a cultura filosófica do nosso tempo.
Ao invés de nos alarmarmos ou nos
agastarmos com essa critica mais interesseira que sincera, mais violenta que
racional, devêramos todos nós torná-la como estímulo providencial e necessário
ao revigoramento das próprias energias, para aumentar o patrimônio teórico e
ampliar o campo experimental da prática doutrinaria.
Em vez de polêmicas e retaliações
estéreis e irritantes, doutrinamentos elevados, com vistas a equação de tantos
de nossos problemas sociais e mesmo políticos, que encontram na ética doutrinária
senão imediata e radical solução, ao menos atenuantes e perspectivas capazes de
melhorar fatores e premissas.
Em vez de círculos concêntricos a
pivotarem
(mudarem
radicalmente)
em esferas limitadas,
de interesses pessoais e familiares; a vegetarem na sombra indecisa dos
ambientes convencionais, uma organização menos passível de reflexos pessoais com
programas definidos e moldados nas mais severas normas aconselhadas pelos
Espíritos elevados, que são, de direito e de fato, os vexilários (porta-bandeiras) da causa.
Não podemos nem devemos estagnar só por só na repetição
de argumentos, a revidar libelos estafados e sediços (cediços – os que
não deixam margem a dúvidas), fazendo
o jogo mesmo dos trivialíssimos adversários em sua política de campanário (politicagem).
Eles, esses adversários, não se renderiam com palavras,
nem mesmo com fatos. Diante deles, a nossa atitude outra não pode ser, que a do
sábio Gamaliel diante dos colegas doutos ao tratar dos Apóstolos e da doutrina
d'O Cristo. Ou a doutrina era verdadeira e nada lhe deteria a consagração no
tribunal da consciência, ou era falsa a doutrina e cairia por si mesma.
O Espiritismo é a doutrina d'O Cristo, prometida para
os tempos hodiernos
(tempos
atuais)
e servida por esses
mesmos Apóstolos, do alto daqueles simbólicos doze tronos de que nos falam os
Evangelhos.
São eles, esses Apóstolos, que nos enviam os seus
arautos com aquelas verdades, aquelas muitas outras coisas que o Senhor tinha a
dizer e não disse, por faltar à humanidade a madureza de compreensão.
Essa madureza não se improvisou durante vinte séculos,
porque ela é o fruto da experiência iterativa (repetida, reiterada) e dolorosa de muitas etapas de
exílio para as gerações de uma só e sempre a mesma humanidade.
Ainda hoje, em que pesem os progressos realizados, a
ascensão de nível global para a compreensão das coisas do céu, muita gente
reluta, repele e hostiliza estas verdades.
Mas, que importa? Não temos nós
visto o surto da doutrina em pouco mais de meio século?
Não temos visto fariseus e saduceus
convertidos e penitentes de todos os dias? Saulos, os haverá sempre, porque
aberta está sempre a “Estrada de Damasco”. Somente a cada qual se assigna a
hora que ninguém poderá precipitar de um segundo.
As críticas de um Lombroso, muito
mais que as estultícias
(bobagens)
de um cura de aldeia
deveriam impressionar os bisonhos prosélitos espiritistas.
Mas Lombroso um dia se converteu e
se retratou.
Citando um, poderíamos citar dez, cem, mil casos idênticos.
Certo, os magnatas da Igreja,
detentores de privilégios e regalos que os Apóstolos não possuíam e de que o
grande Paulo se destituiu para melhor servir ao Senhor, dificilmente imitarão
Lombroso; mas a nós que conhecemos a lei das reencarnações, não nos deve
preocupar essa campanha, senão na parte em que ela nos pode aproveitar e que
vem a ser: a correção dos nossos atos no que possam conter de legitimamente
censuráveis para a sua crítica, e a piedade para essa mesma crítica no que ela traduza,
em consciência, de injustiça e má fé.
Proceder de outro modo seria perder um tempo inútil e
precioso. Inútil porque lhes não modificaríamos o ânimo, e precioso porque
necessário à edificação de nós mesmos.
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