Ensaio
sobre a necessidade de não ser do mal metafísico
por Luciano dos Anjos Reformador (FEB) Fevereiro de 1963
“Assim também nenhuma fonte pode produzir água salgada e água doce.” EP. Tiago, 3:12.
O problema se eterniza. Nenhuma concepção parece
satisfazer ao homem e atender-lhe às exigências da razão. O grande paradoxo
permanece de pé, inabalável e intangível à crítica. Antes de nos abalançarmos a
qualquer tentativa de nossa parte, aclaremos melhor o ponto em tela.
Distinguem-se três espécies de males:
o Mal Físico, que se manifesta
através do sofrimento material e pode rematar por dores de ordem espiritual; o Mal Moral, que consiste na violação do
dever; e, finalmente, o Mal Metafísico,
que é a imperfeição admitida em Filosofia como necessariamente inerente a
qualquer criatura, ou, se se prefere, a tudo o que não é Deus.
Vamos por partes e dissertemos preliminarmente
sobre o aspecto menos complexo: o Mal Físico.
Este Mal está muito bem capitulado
por quase todas as escolas filosóficas, cabendo ao Espiritismo, entretanto,
oferecer a sua mais racional e mais lógica explicação, quando o ajusta à lei da
reencarnação.
Superficialmente
concordam quase todos em que O Mal Físico,
isto é, a Dor, o Sofrimento, é, antes um Bem
do que um Mal. Nada de absurdo existe
na assertiva de que Deus criou a Dor. O homem vive um e num mundo inteiramente
relativo e por isso não pode avaliar os propósitos que regem o Absoluto. “O homem - diz Kardec em “A Gênese” -, cujas faculdades são restritas, não pode
penetrar, nem abarcar o conjunto dos desígnios do Criador: aprecia as coisas do
ponto de vista da sua personalidade, dos interesses factícios e convencionais
que criou para si mesmo e que não se compreendem na ordem da Natureza. Por isso
é que, muitas vezes, se lhe afigura mal e injusto aquilo que consideraria justo
e admirável, se lhe conhecesse a causa, o objetivo, o resultado definitivo.
Pesquisando a razão de ser e a utilidade de cada coisa, verificará que tudo
traz o sinete da Sabedoria Infinita e se dobrará a essa sabedoria, mesmo com
relação ao que lhe não seja compreensível” (página 67 – 13ª ed. da FEB). É sempre oportuno aquele velho
exemplo da criança à qual negamos uma série de prazeres porque lhe conhecemos
melhor as necessidades; ou, então, aqueloutro, da amputação dolorosa dum membro
que gangrenaria e levaria o paciente à morte certa. Sabemos todos nós,
especialmente os espíritas, que a Dor
é a grande dádiva que Deus envia para
nos alertar, para nos auxiliar, para nos animar. Vitor Rugo disse bem: “Dor! Chave dos céus!” Por isso mesmo,
para uns o prazer é uma grande dor, enquanto outros (os mártires) são capazes
de fazer da dor um prazer. A Dor como dor e como sensação desagradável existe
apenas em função dos reflexos condicionados pelo homem durante milênios de distorção
e má vontade para com esse Bem extraordinário que ela representa! André Luiz
refere em seu livro “Ação e Reação” três espécies de dores, mostrando o acerto
de Deus ao cria-las, Trata-se da
dor-evolução, da dor-socorro e da dor-expiação (pág. 255 – 1ª edição) A
dor-evolução é a mola do progresso, atuando “de fora para dentro, aprimorando o ser, sem o qual não existiria
progresso”. É a dor dos animais, por exemplo, através do sofrimento
adquirido, ou do inato, de ordem teratogênica. (v. “O Consolador”, pergunta 39)
. A dor-expiação “vem de dentro para
fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados
labirintos de aflição por regenerá-la perante a Justiça". Esta dor é
mais do que compreensível, pois simboliza a justiça na sua plena perfeição. Se
o homem de bem é premiado, o faltoso não pode receber igual tratamento. Finalmente
temos a dor-auxílio destinada a evitar a queda do homem “no abismo da criminalidade” ou, “mais, frequentemente, para o serviço preparatório da desencarnação, a
fim de que não sejamos colhidos por surpresas arrasadoras, na transição da
morte”. Quantos não terão deixado o caminho do erro e do vicio devido a uma
dor qualquer, chegada certamente em momento aprazadíssimo da sua jornada e que terá
representado o único recurso capaz de beneficiá-los!
No campo estritamente espiritual desse Mal temos de convir, ainda, que como
expressão de sofrimento ele pode ganhar variações multo longe de ser entendidas
pelos nossos precários recursos intelectivos. Neste conceito de dor-evolução
haverá necessariamente miríades de formas sensitivas, para cujo entendimento
ainda estamos sobremaneira despreparados. O que o Cristo sofreu - quem sabe? -
talvez não se possa sequer chamar Dor
propriamente, traduzindo-se, antes, por uma condição espiritual para a qual
carecemos até mesmo de terminologia adequada. Arrematando: a Dor Física (ou espiritual) não é
absolutamente incompatível com a grandeza de Deus e, analisada fria e criteriosamente,
há de revelar-se sempre como o maior Bem que o Criador nos legou. Podemos mesmo
afirmar que Deus não seria Deus se não criasse a Dor. No mais, cumpre levar em
conta a profunda tirada de Jean Jacques Rousseau: “O homem que não conhece a dor não conhece nem a ternura da humanidade,
nem a doçura da comiseração”...
Passemos agora ao Mal
Moral, isto é, a violação do dever. Esse tipo de Mal diz muito de perto com o livre arbítrio do homem. Da
necessidade e da sabedoria de criar o homem inteiramente livre, Deus outorgou-lhe o critério de agir por
si, certo ou errado. A violação é definida como uma ciência normativa,
estudando os princípios gerais que hão de orientar a ação livre e pessoal do
homem. A violação desses princípios gera o Mal
Moral. Mas a Ética é muito
relativa e até a sua simples definição varia consideravelmente de escola para
escola.
Seria preciso conhecer o Bem Supremo para cumpri-lo com rigor. Como
não o conhecemos, os filósofos teorizaram o “bem moral formal” que consiste na subordinação da nossa vontade ao
bem em si, na medida em que as circunstâncias nos permitem conhecê-lo. O valor
moral das nossas ações dependeria, portanto, da intenção com que elas são
praticadas. Desde que a intenção seja boa e vise ao cumprimento do dever, os
atos por ela inspirados também serão bons. Assim - concluem os filósofos -,
Deus pôs a perfeição moral ao alcance de todos, fazendo-a depender apenas da
pureza de intenção e não do conhecimento ou do desenvolvimento intelectual de
cada um. O Mal Moral decorre pura e
exclusivamente da falta de cumprimento do dever, que representa, por sua vez, a
obrigação do praticar o bem que se impõe à nossa vontade, exigindo o fiel cumprimento.
A consciência nos atesta que estamos obrigados a seguir a moral, embora
conservemos, em virtude do nosso livre arbítrio, o poder de não segui-la. Pelo Mal Moral
somente o homem é também culpado, e não chega a constituir-se num problema filosófico-
É questão que começa e termina entre os próprios homens, nada podendo ser
imputado a Deus pela sua existência
ou consequências. A Ética de hoje não
é a mesma que a de ontem. O que hoje é moral amanhã pode ser imoral. Tudo
depende muito mais de simples convenções humanas que propriamente de leis
inerentes à Natureza. O Mal Moral,
portanto, só existe enquanto, como e porque os homens queiram. A nosso ver a
teoria do "bem moral formal"
resolve muito satisfatoriamente qualquer pequena dúvida que se levante e Deus
de forma alguma participa do Mal Moral
senão no seu eventual aproveitamento para o ensinamento e a evolução das Suas
criaturas, cultivando nelas o sentimento do dever, do amor, do respeito, da
obrigação, etc.
Eis que chegamos ao Mal
Metafísico, este, sem dúvida, completamente transcendente ao homem e ao
mundo, tudo fazendo crer que é imanente a Deus.
No Mal Metafísico reside a grande
questão: sendo Deus absolutamente
Perfeito, porque existe a imperfeição no Universo? Em outras palavras: porque Deus
criou a possibilidade do Mal Metafísico? Ele, afinal, já não pode
mais ser considerado como o Mal Físico,
isto é, como um bem mal compreendido devido à nossa relatividade; nem pode ser
tido mais como uma real necessidade para ensejar ao homem à prática do livre
arbítrio a fim de conquistar a perfeição por seus próprios méritos, pois
representaria um extremado mau gosto do Criador. Aqui a questão se emaranha. O Mal Metafísico não pode, como o Bem, existir antes, fora e acima dos
homens sem que se aceite, como corolário, o incongruente princípio dualístico
do Universo. Mas, em contrapartida, não pode ter sido criado pelo homem que
sempre o viu diante de si, como uma possibilidade “a priori”, tentando-o ou abrindo-se
lhe à frente como um caminho terrível diante do qual tom de decidir-se.
Frisemos bem: o Mal Metafísico, em
última análise, já representa imperfeição a partir da sua possibilidade. Como conciliar tamanhas aberrações? Onde a chave para
tão dramático problema filosófico?
Não pretendemos apresentar como
verdade inabalável e absoluta o que se vai expor a seguir. Entretanto, resume o
pensamento de quem não quer nem pode admitir o Mal Metafísico como gerado de
Deus, da mesma forma que temos a certeza de que se se originou do homem, é
porque Deus permitiu essa possibilidade. É possível que a Verdade seja bem outra da que se segue; todavia, esta nos apraz
(porque não macula o Criador) e por ora nos satisfaz plenamente (porque desfaz
o rigor da dúvida). Até segunda ordem ou até prova em contrário, referimos a
solução dialética que apresentamos daqui por diante.
Leon
Denis, o mais notável filósofo da escola kardequiana, aproveitou do Mestre
a definição de que “o Mal é a ausência do
Bem” (“A Gênese”, pág. 69, 13ª ed. da FEB), incluindo-a, no seu trabalho “O
Grande Enigma”, pg, 65,4ª ed. da FEB. O discípulo fiel, entretanto, apresenta
de sua parte definição ainda muito melhor, quando afirma mais adiante, na pág.
87, que “o mal é o Menos evoluindo para o
Mais, o Inferior para o Superior, a Alma para Deus.” (aqui não haveria uma
transformação, mas uma complementação). A nós, soa como o que de melhor se
poderia dizer para esclarecer o terrível problema. Quase descobrimos um
paralelo entre a sua afirmativa e a que fazemos da inexistência do Mal.
Preferimos porém, apenas como meio de linguagem para designar as coisas e
podermos entender-nos, aditar à nossa primeira asserção (o Mal Metafísico não existe, não “é”), a afirmativa complementar de
que os fenômenos vulgarmente considerados como tais são apenas o ANTES.
Posteriormente explicaremos porque essa preferência. Por ora, para não
tumultuar o raciocínio, demonstraremos tão só a necessidade de não-ser do Mal Metafísico.
Como considerar, pois, o Menos de Leon Denis em face da Criação e da Perfeição de Deus, de forma a
não tisnar aquele nem apoucar esta? Esse Menos
(para nós, o Antes, isto é, o Mal Metafísico) é uma APARÊNCIA. Toda a
sua fenomenologia concreta ou abstrata é aparentemente
real. Sublinhemos, entretanto: não deve ser confundida aqui a ideia de
abstração aparente com os demais fenômenos menos subjetivos da alma, como, por
exemplo, a saudade, o tédio, a esperança, etc., que têm, afinal, uma realidade
embora abstrata. No caso do Mal Metafísico
- desarmem-se. por favor, contra o suposto absurdo de nossas ideias - temos uma
abstração irreal, impossível de existir. Registre-se bem a diferença para que possamos
prosseguir. Antes de fazê-lo, porém, compulsemos uma vez mais a enciclopédia de
forma a apreender melhor a acepção do vocábulo “aparência”, Vejamos: "APARÊNCIA.
s. f. Aquilo que se mostra à primeira vista; aspecto; exterioridade: aquilo que
parece não é realidade, mostra enganosa, fingimento; disfarce.” Argumentarão os leitores no sentido de que
atrás das aparências existe uma realidade qualquer. Uma roda dentada em grande
movimento rotativo aparenta ser continua na sua periferia; todavia, atrás dessa
aparência há uma realidade, apesar de diferente. A Terra esteve, durante muitos
séculos, aparentemente imóvel no espaço, enquanto o Sol lhe girava em torno;
porém, havia uma realidade que, embora contrária, nunca deixou de ser real. A continuidade
da matéria - dirão ainda - foi sempre creditada e hoje sabemo-la descontínua,
embora ainda a vejamos como antes, isto é, aparentemente contínua. Assim -
concluirão contra nós - havia, há e haverá sempre uma realidade, embora
diferente, existindo atrás de todas as aparências. Concordamos sem embargo com
tais arguições, elas, porém, não se aplicam absolutamente a todos os exemplos e,
por isso mesmo, as enciclopédias registram a acepção que, na transcrição acima,
grifamos particularmente. É o caso duma imagem no fundo dum espelho. Neste caso,
atrás da aparência não existe absolutamente realidade alguma. Ou, se quisermos
um outro exemplo muito melhor ainda: o arco-íris, que pode ser visto, medido,
fotografado, provocar inclusive consequências morais (falamos de criaturas
supersticiosas, sempre prontas a influenciar-se por qualquer coisa}, sem que,
no entanto, possua a mais mínima realidade concreta ou abstrata, permanecerão sempre,
por mais rápidas que caiam as gotas que lhe dão origem. Temos ainda o exemplo -
talvez o menor - da sombra (própria ou projetada). A luz é um corpúsculo-onda e
a sombra, fisicamente falando, é definida como a ausência dessa luz. Ela não
existe nem concreta nem abstratamente, senão na aparência. Não pode ser medida
(mede-se a intensidade da luz, não a da sombra), não pode ser tocada, não pode ser
condicionada a coisa alguma. É absolutamente aparente a sua existência, embora
possa ser útil, sofrer aplicações e causar inúmeros efeitos práticos. Para
esses exemplos há somente uma explicação, nunca uma realidade, o que é bem
diferente. Da mesma forma, o Mal Metafisico aparente não comporta uma realidade,
embora seja explicável. E essa explicação quem melhor no-la dá é Allan Kardec,
em “A Gênese”, pág. 78, 13ª ed. da
FEB, quando o Codificador procura justificar o espetáculo da destruição dos
seres vivos uns pelos outros, ato que representa, sem dúvida, o paroxismo do Mal Moral e a prática extrema do Mal Físico, ambos ao ensejo do Mal Metafísico. "Por meio do
incessante espetáculo da destruição - comenta Allan Kardec -, ensina Deus aos
homens o pouco caso que devem fazer do envoltório material e lhes suscita a
ideia da vida espiritual, fazendo que a desejemos como uma compensação.
Objetar-se-á: não podia Deus chegar ao mesmo resultado por outros meios, sem
constranger os seres vivos a se entre destruírem? Desde que na sua obra, tudo é
sabedoria, devemos supor que esta não existirá mais num ponto de que noutros:
se não o compreendemos assim, devemos atribui-lo à nossa falta de adiantamento.
Contudo, podemos tentar a pesquisa da razão do que nos pareça defeituoso, tomando
por bússola este princípio: Deus há de ser
infinitamente justo e sábio. Procuremos, portanto, em tudo, a sua justiça e
a sua sabedoria e curvemo-nos diante do que ultrapasse o nosso entendimento.”
Assim, pois, embora do Mal Metafísico exista apenas uma aparência incriada, Deus, que tudo
pode, não impede ao homem (como poderia, se o quisesse) que ele se deixe "e
levar por essa aparência e em nome dela viole as Suas leis. Primeiro, porque
quer respeitar-lhe a liberdade que lhe deu; segundo, porque faz dessa violação
uma utilidade. Einstein, Poincaré, Nordmann, Riemann, Barnett, Jeans e muitos
outros já demonstraram sobejamente que Tempo e Espaço não existem. Entretanto,
ambos têm servido para ajudar no progresso do homem. Deus não é o criador nem
do Tempo nem do Espaço que os homens concebem com sua mentalidade acanhadíssima.
No entanto, aí estão como realidades aparentes e relativas, servindo aos
homens, afetando extraordinária utilidade prática e evolutiva.
A ideia segundo a qual desde que podemos conceber o Mal Metafísico ele tem de necessariamente
existir é falsa e arbitrária. Podemos conceber um monstro de dez cabeças, corpo
de gente, o pé de cabra e tal ser jamais existiu ou existirá. Da mesma forma, o
homem concebe o Mal Metafísico sem
que ele exista. Dirão: contudo, embora o monstro não exista, existem os seus
componentes isoladamente (a cabeça de gente, o pé de cabra, o corpo humano) e
todos eles são perfeitos e criados por Deus. A imaginação do homem cuidou
apenas de imitá-los num ente de ficção. O Mal
Metafísico poderia ser então o grupamento de determinadas frações reais.
Concordamos e até diríamos que a construção aparente do Mal Metafísico nasceu da falsa ideia da dor, do desgosto, enfim, de
várias frações do Mal Físico e do Mal Moral, estes, como já vimos, de fato
existentes na Criação. Existentes, mas - não nos esqueçamos - aparentemente
maus, pois já vimos também que a Dor é um bem, um mal relativo. Podemos então
concluir tranquilamente que o erro foi do homem, ao fazer de muitos bens (males
aparentes) um princípio inteiramente irreal e oposto ao que realmente existiu
sempre sozinho: o princípio do Bem. Deus não pode ser culpado da capacidade se
iludir e enganar os seus filhos, a quem dotou do livre arbítrio. Também não se
confunda nunca nosso conceito do Mal
Metafísico aparente com a Imaginação Criativa (Psicologia), que é um
produto real, embora abstrato, da mente humana. O não-ser do Mal Metafísico não é fruto da mente
senão na medida em que o homem, invertendo os valores do Bem real, julga estar
diante duma outra realidade que, a rigor, vem a ser apenas uma aparência. O Mal Metafísico é irreal e aparente “fora
do homem” se bem que a sua aparência “seja” (?!) sempre em função dos homens. Resumindo esta parte, poderíamos
sentenciar com A. Lobo Vilela que “o zero
das aparências corresponde ao infinito da realidade - quando a aparência é nula
a realidade é plena” (“O Problema da Sobrevivência”, pág. 100, ed. da FEB,
1941). Isto quer dizer: se há uma aparência, corresponde sempre a uma
irrealidade qualquer...
Reafirmemos, pois: a possibilidade do egoísmo, do ódio, da
ambição, do erro, do vício, etc., na sua essência, não existe. E as guerras? As
guerras são de fato uma realidade, mas não se enquadram na ideia do Mal Metafisico. Elas são males puramente
físicos, pois representam apenas grandes dores coletivas e tais dores, já frisamos,
não impugnam a Perfeição de Deus. A
dor é um bem, dissemo-lo seguidamente e conosco a Doutrina Espírita.
Entretanto, é bem de ver, as razões do ato de se provocarem as guerras, estas
sim, são um Mal Metafísico e não
existem senão na aparência. O mesmo se dá com o homicídio. As razões, a possibilidade
dada ao assassino não tem nenhuma realidade. Já o crime em si, este é de fato
real, tanto no que respeita ao ato de matar por parte do agente, quanto ao de morrer
pelo paciente. O primeiro representa a causa duma dor futura; o segundo é o
efeito doloroso duma causa passada, funcionando no sentido do resgate este, e
do livre arbítrio aquele. Não se infira daí que se deva ou se possa matar, pois
esta simples inclinação já é a cessão à tentação do aparente Mal. E, embora este inexista, é contra a
Lei de Deus ceder a todos os seus
efeitos aparentes. Isto poderia levar alguns a raciocinar pelo ângulo de que,
desde que inexiste o motivo da tentação, estamos então diante dum efeito sem causa.
Alguém mata a alguém movido por uma ilusão que deveria ser a causa, mas não o é
porque ela não existe e é aparente apenas. Replicaremos que a causa do crime
existe e é exatamente o procedimento ilegal e violento do homem; as razões da causa é que são apenas
aparentes. Certa pessoa incendeia uma casa. O incêndio é o efeito da
causalidade de haver essa pessoa provocado o fogo. A pessoa, porém, provocou o
incêndio levada por uma aparência.
Mas, haverá ainda os que perguntem: porque Deus criou a
possibilidade da aparência do Mal Metafísico? Ora, já dissemos que Deus
não criou coisa alguma nesse sentido. Se é aparente, por isso mesmo não existe
nem mesmo dentro do campo restrito da possibilidade; se não existe, não foi
criado! Porventura levada em conta essa objeção teríamos então de admitir
também, por analogia, que Deus criou - porque ocorre, por equívoco de algumas
aparências, a muita gente - a possibilidade de não existir o próprio Criador,
ou, simplesmente, o Espirito. Logo, entretanto, havemos todos de convir unanimemente
que essa possibilidade não existe e se não existe não foi criada. Dirão ainda
nossos opositores: isso não passa dum jogo sofístico de palavras, ao que
redarguiremos que, num mundo de cegos, qualquer especulação sobre as cores
seria considerada identicamente. Dirão mais: mas é acima de tudo um absurdo
incrível! Respondemos: que seja; mas é verdade e crível para quem queira crer
na infinita Perfeição de Deus. Podemos repetir com Galileu ante o Tribunal da
Inquisição: “Eppur si muove...” Ou,
com Camilo Castelo Branco: “A verdade é às vezes mais inverossímel que a ficção...”
Tornarão à carga: é mais do que absurdo querer afirmar que o que parece racionalmente
existir não existe! Tornaremos a obtemperar: não é maior nem menor absurdo do
que a afirmativa inversa dos “sábios” negando o fluido universal e afirmando
que... o Nada existe!
Continuemos assim o raciocínio anterior. Deus não criou a possibilidade da aparência do Mal Metafísico. Entretanto, ela gera, sem existir embora, fatos reais provocados, estes, pelo Homem apenas. “Não é a realidade que separa os homens, mas a aparência, que é a imagem dela, no espelho da consciência e depende portanto do seu ponto de vista”, diz A. Lobo Vilela na página 102 de “O Problema da Sobrevivência", edição citada. A inexistente aparência do Mal Metafísico tem, pois, uma função útil na Criação. Os sábios acreditaram e alguns ainda acreditam cegamente na existência do Nada. Esta crença cega Deus a permitiu sempre porque, sem dúvida, talvez somente assim pudessem surgir os pensadores antagônicos capazes de negar o Nada. Sem falarmos na mentalidade do espírito de Liberdade que se agiganta na medida em que Deus permite, como de fato o faz, que o homem creia até mesmo em que Ele, Deus, não exista, da mesma forma tolera magnânima e sabiamente que o homem creia que existam coisas inexistentes, como, por exemplo, a possibilidade de “acabar” com Deus, pretensão ridícula e louca de muitos filósofos ultrapassados. Mas tudo é útil, o que vem a significar coisa muito diferente de que tudo é real. Assim, a aparência do Mal Metafísico só se tolerou dentro do espírito do homem por tais razões conjugadas: noção de liberdade e sentido de utilidade. Mais uma vez indaguemos: para que serve a aparência do Mal Metafisico? Nossa resposta a essa pergunta, complementando os conceitos de Kardec contidos em “A Gênese” e já transcritos neste trabalho, linhas acima, é a clássica resposta da Filosofia em geral e particularmente do Kardecismo: para destacar o Bem e o Belo, estes reais, existentes e representativos do único princípio monístico do Universo. Não seria possível ao homem conhecer o alto se não lhe surgissem montanhas para, apreender, de cima delas, a noção do baixo. Sem o escuro, o homem não conceberia o claro. Apenas que, nestes exemplos, ele tem diante ele si criações reais representativas dessas antíteses. No caso do Bem e do Mal, entretanto, apenas o primeiro é real: o segundo foi-lhe permitido conceber a sua aparência a fim de alcançar-se aquela mesma diferenciação conceitual interior. Com tal recurso Deus mostra o caminho do Bem ao homem, através duma aparência que Ele não criou e que é produto irreal apenas da própria liberdade do homem. Da mesma forma que sempre permitiu ao homem crer em todas as demais irrealidades concebidas para destacar as realidades da Criação. Aos que nos objetam o raciocínio com tais juízos poderíamos também alegar que, sendo tudo possível para Deus, também o é a possibilidade de criar o Nada. Contudo, isso não tem sentido. Deus jamais criaria a possibilidade do Nada pois o Nada é nada e não poderá ser possível nunca, senão na aparência e na mente fraca e livre do homem! Um último recurso dialético empregarão nossos leitores discordantes: se o homem se deixa levar pelo Mal, ainda que aparente, então o Mal deve existir. Ora, se o homem - e quantos! - se deixar levar pela ideia do Nada, isto não prova absolutamente que o Nada exista. Dir-se-á, finalmente, ser paradoxal que coisas irreais funcionem como coisas reais, embora aparentes. Ora, os paradoxos às vezes só o são em determinada época e relativamente à mente estreita do homem que, não raro, considera paradoxais verdades absolutas. Isto decorre, já se vê, da sua ingenuidade de emprestar à Criação conceitos abstratos que lhe são próprios. Não é o que ocorre, por exemplo, com o famoso paradoxo de Zenão de Eleia, segundo o qual o movimento não pode existir, dada a noção do infinito? Entretanto, quem pode negar o movimento real de tudo? Se o que afirmamos é paradoxal isto implica muito pouco na infirmação do que vimos expondo como verdade. Não ê igualmente paradoxal que, crescendo continuamente a entropia no Universo (2º Princípio da Termodinâmica) não se pode compreender a existência da vida organizada? No entanto, esta existe!
Entremos agora, num ponto capital
deste nosso humílimo ensaio. Não se haveria de concluir disso tudo que o Bem
também pode então ser uma aparência apenas? Aqui vamos socorrer-nos de Kant e
da sua extraordinária doutrina. Enquanto o Mal Metafísico (aparente, para nós)
é relativo e fruto da “razão pura”, o Bem é inato e intuitivo porque é Absoluto
e existe “a priorí” do conhecimento. Diz Kant na sua "Crítica da Razão
Pura". pág. 31: “Precisamos encontrar
uma ética universal e necessária; os princípios “a priorí” da moral são
absolutos e certos como os de matemática. Devemos mostrar que a razão pura pode
ser prática, isto é, pode por si mesma determinar a vontade, independentemente
de qualquer coisa empírica e que o senso moral é nato e não derivado da
experiência. O imperativo moral requerido para base da religião deve ser um
Imperativo absoluto e categórico.” Will Durant, comentando o kantismo na
sua “The Story of Philosophy” escreve: “Ora, a mais surpreendente
realidade de toda a nossa experiência é precisamente nosso senso moral, nosso
sentimento iniludível, em face da tentação, de que isto ou aquilo é um mal.
Podemos ceder à tentação; entretanto, aquele sentimento persiste. “Le matin je fais des projets et le soir je
fais des sottises (tolices)”; mas sabemos que são “sottises” e
renovamos depois os projetos. Que coisa é que nos traz a pungir do remorso e a
nova resolução? O imperativo categórico existente em nós; “o incondicional mandamento de nossa consciência para que procedamos
como se a norma de ação fosse tornar-se, por nossa vontade, uma lei universal
da Natureza". “Sabemos, não pelo
raciocínio, mas por um sentimento vivo e imediato, que devemos evitar um
procedimento que, adotado por todos os homens, tornaria impossível a vida em
sociedade.” “A Prudência é condicional; seu lema é: proceder honestamente,
quando for a melhor tática; mas a lei moral é em nossos corações incondicional
e absoluta. E uma ação é boa não pelo seu bom resultado ou por sua sensatez e
sim por ser feita em obediência a este íntimo sentimento do dever, a esta lei
moral que não procede de nossa experiência pessoal, mas legisla imperiosamente
e “a priori” sobre o nesse procedimento passado, presente
e futuro”. “Se a justificação de virtude fossem
meramente a utilidade e a conveniência terrenas, mal avisados andaríamos sendo
bons. Conhecendo, todavia, tudo Isto, sofrendo com frequência o choque brutal
dessa verdade, sentimos, ainda, a ordem mental de procedermos bem, sabemos que
devemos fazer o bem desinteressadamente.
Reafirmemos, pois, de nossa parte: o
Bem é real e absoluto não porque assim o tenhamos considerado pela “razão pura”,
mas porque representa um sentimento tamanhamente superior que nos grita dentro
do ser como Verdade e que por isso mesmo pode ser alinhado dentro dos conceitos
da “razão prática”, conduzindo-nos, pelos atos, à Perfeição e a Deus. Mas é
exatamente em vista disso que o Bem e
o Belo, tanto quanto o próprio Deus,
são indefiníveis na sua essência absoluta. Aclaremos melhor um aspecto
importante, tendo em vista o que acabamos de expor. A intuição, o instinto do
Bem apriorístico e a aparência do Mal
Metafísico experimental não destroem a ideia do livre arbítrio. O homem é
livre para seguir a intuição do Bem, que é real e positivo, ou para ceder à
tentação do Mal, que é aparente e negativo. Ele pode seguir o Belo (intuição
pura) ou a imagem falsa dum espelho, a projeção ilusória duma sombra (aparência
pura).
Com isso, também a ética
espírita em nada é melindrada.
Retomemos agora, como prometêramos no início, à
aplicação do conceito do ANTES para designar à aparência do Mal Metafisico. Essa equivalência se
justifica - diga-se de passagem - apenas para que possamos assimilar melhor
dentro da “razão pura” de Kant (que nos apraz sobremaneira) toda a complexidade
desse terrível problema filosófico. O Menos
de Léon Denis sugere, em última análise, uma imperfeição qualquer, uma
deficiência, uma insuficiência. Assim, não teríamos, como desejamos, a inexistência
ou irrealidade do Mal Metafísico, senão a existência de qualquer coisa que,
embora não seja drástica para a bondade de Deus, denotaria, todavia, uma imperfeição
de ordem quantitativa, digamos assim. Contudo, na Perfeição de Deus não pode
haver a mais mínima imperfeição. O termo. ANTES, que sugerimos, parece solucionar
o impasse conciliando Deus e Sua Perfeição com essa aparência do Mal
Metafisico. Vejamos como. Antes e depois são variantes do tempo. Ocorre,
porém, que o Tempo, tanto quanto o Espaço, não existem como realidades
absolutas, senão na teoria objetivista de Newton ou na teoria escolástica (nesta,
apenas em parte), ambas inteiramente superadas. Kant, na sua teoria
subjetivista, considera-os como formas “a priori” da nossa sensibilidade,
negando-lhe objetividade. A teoria relativista de Leibnitz admite que espaço e
tempo são apenas ordens de relações entre diversos fenômenos. Finalmente, a
Teoria da Relatividade proposta em muito boa hora pelo gênio de Albert
Einstein, nega a existência do espaço e do tempo absolutos, considerando-os
fundidos no espaço-tempo, espécie de meio contínuo a quatro dimensões.
Inclina-se a Ciência pela aceitação desta última, principalmente depois que Einstein
conseguiu comprovar experimentalmente algumas de suas assertivas. O Espiritismo
tende igualmente para essas conclusões, se levarmos em conta as revelações sobre
as questões premonitória, proféticas, prescientes (a presciência implica na
anulação do tempo e explica, por exemplo, o conhecimento de Jesus quanto à
traição de Judas, que se efetivaria sem qualquer dúvida, em que pese o livre arbítrio
de Iscariotes), etc. No Absoluto existe um Eterno Presente. A eternidade, na
qual cremos firmemente, seguindo a escola espírita, é um tempo imóvel, que não
anda e jamais passa. Segundo Pietro Ubaldi, “ela não é o prolongamento de um
tempo que, embora avançando, sempre está limitado pela duração”. "É a
ausência do tempo" ("Deus e Universo", pág. 87). Assim, pois, quando
chamamos Antes à aparência do Mal Metafísico queremos deixar entrever com
precisão que nos referimos a uma irrealidade assim denominada apenas para
efeito de entendimento. Como dizemos, por exemplo, “o ontem”, que absolutamente
não funciona na eternidade e no absoluto, senão em relação a nós mesmos. Por
outro lado, a ideia do ANTES implica
- e é o que objetivamos - na idem do DEPOIS,
transmitindo-nos assim uma noção abstrata de evolução, de alguma coisa que está
para vir, adiante de nós e melhor em tudo. Recorde-se a ideia de alto e baixo e
que já nos reportamos e que se fez indispensável à Criação para entendimento
das criaturas. Na medida, pois, em que o Espírito evolui, caminha de Antes para
o Depois, onde então todas as aparências desaparecem para dar lugar apenas no
Absoluto, ao Bem uno e supremo, centro monístico do Universo. Criação perfeitíssima
de Deus.
Tiremos as últimas conclusões deste
despretensioso ensaio filosófico. Salientemos que não visamos a galvanizar o
Otimismo Cósmico de Leibnitz. Não podem ser postas em paralelo nossas ideias e
as do grande filósofo. Não apenas porque entre nós e o notável criador da “mônada suprema” há uma distância
infinitesimal como também o conteúdo das duas dialéticas não se ajustam, embora
isso possa parecer à primeira vista. Leibnitz não negou o Mal Metafisico. Apenas considerou-o, apesar dos pesares, como “um mal necessário para avivar, pelo
contraste, a beleza do conjunto". Na sua Teodiceia encontram-se aliás
páginas admiráveis sobre a existência do mal e a sua conciliação com a
Providência. De nossa parte, aceitando plenamente a asserção de que o Mal Metafísico é incompatível com Deus,
buscamos negá-lo peremptória e radicalmente. Não nos parece isso tão
extravagante, se levarmos em conta, por exemplo, que Berkeley, o grande
filósofo de Dublin, postula no seu “Tratado
sobre os Princípios do Conhecimento Humano", a inexistência... da
matéria! Na desesperada tentativa de destruir o Materialismo desenvolveu os
princípios idealistas contidos na filosofia de Locke e proclamou tranquila e
seguramente que a matéria não existe e as propriedades dos corpos nada mais são
do que ideias do nosso espírito. Reduziu pois o mundo a uma simples
representação. Convenhamos que o que postulamos é bem mais simples e mais
razoável...
A Codificação Espírita, embora não
se tenha demorado muito nessa questão, faz, contudo uma afirmativa que, em
parte, empresta alento aos corações, apesar de não alcançar o cerne da dificuldade.
Deus é a bondade infinita e não pode ter criado o Mal Metafisico. Allan Kardec, no seu “0 Que é o Espiritismo",
pág. 1ó2, pergunta 129, sentencia categórico: "Deus não criou e Mal. Ele estabeleceu leis e estas são sempre boas,
porque Ele é soberanamente bom.” Ao tratar do assunto em “A Gênese”, pág.
66, Kardec comenta: "Sendo Deus o princípio
de todas as coisas e sendo todo sabedoria, todo bondade, todo justiça, tudo o
que d'Ele procede há de participar dos seus atributos, porquanto o que é infinitamente
sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e
injusto." Um pouco mais adiante, porém, Kardec admite; “Entretanto, o mal
existe e tem uma causa.” Essa espécie de contradição de Kardec é muito natural,
principalmente quando se considera que a especulação é absolutamente pessoal.
Em “O Livro dos Espíritos” o problema recebe tratamento muito breve. Apenas
dezoito questões são respondidas pelos Espíritos e, mesmo assim, tangenciando o
âmago do problema, no que respeita propriamente à origem e natureza do Mal (nºs,
629 a 616). Uma pergunta mais objetiva e mais direta Kardec chegou
a
apresentar aos Espíritos e consta da primeira edição de “O Livro dos Espíritos”:
“Urna vez que tudo vem de Deus, os instintos maldosos não são acaso, também Sua
Obra, e por eles o ser deve ficar responsável ?" Responderam os mentores: “O
ser humano não é uma alimária. Deus lhe deixa a opção dos caminhos; tanto pior
para ele se tomar o mau; A peregrinação será mais longa” (página 116. “Le Livre
des Esprits”, Paris, 1857, apud “O Primeiro Livro dos Espíritos de Allan Kardec
1857", de Canuto de Abreu, edição de 1957). Note-se que a resposta dos Espíritos
é tergiversante e incompleta. Não chega pois a esclarecer adequadamente e
Kardec, possivelmente por essa mesma razão, retirou a questão a partir da
segunda edição.
Evidentemente o
Codificador compreendera que o fato de o ser humano não ser uma alimária e de
Deus lhe deixar a opção dos caminhos não explica absolutamente a criação ou a
possibilidade desses caminhos. Diz, a seguir, ainda sem equacionar o problema,
que se faz necessário ao homem conhecer o bem e o mal para distinguir um de
outro. Em parte esse complemento é válido, mas o fundamental continuou de pé.
Daí, sem dúvida, a cautela de Kardec, retirando a questão, talvez por determinação
dos próprios Espíritos que lhe ditaram a Revelação, já que ainda era cedo para
maiores explicações. Tal qual a questão da evolução do princípio espiritual
através dos reinos mineral, vegetal, animal e humano, cujas ensinos, pelas
mesmas circunstâncias, são dadas apenas de forma muito velada. (V.
especialmente as perguntas 604 e 607 de “O Livro dos Espíritos”). Só mais
tarde, através da “Revelação da Revelação”, obra complementar de J. B. Roustaing, os Espíritos explicaram
mais clara e objetivamente o problema. Da mesma forma, somente agora, através
de Emmanuel (“O Consolador”, pergunta nº 135, já citada), o Alto procura ser
mais explícito e mais radical; “O mal... não pode existir para Deus.”
Finalmente, para arrematar este trabalho, busquemos
saber onde encontrar ou donde tirar a grande certeza da. Verdade que
proclamamos. Dizemos que o Mal Metafísico
é irreal e que apenas o Bem existe: que aquele “não-é” e somente este “é”. Qual
o critério para esta Verdade? Desta feita é à sombra de Descartes que nos
protegeremos. Seu Critério da verdade, adotado aliás pela maioria dos filósofos,
serve para atestar nossa afirmativa: a Evidência.
Pois não é evidente que Deus, infinitamente Perfeito e Bom, não pode gerar a
imperfeição e o Mal Metafisico?
Aqui termina este ensaio. Com mais
vagar havemos de dar divulgação às suas bases científicas, sociológicas,
matemáticas e econômicas. Por ora, meditemos apenas no que aí está e
concordemos, pelo menos em princípio, que o Mal
Metafisico, sendo tudo o que não é Deus não pode existir senão
aparentemente ou como noção dum Antes evolutivo, inteiramente relativo e
destinado a caminhar necessariamente para o Depois
pleno e absoluto da Criação. O Mal Metafísico,
até prova em contrário, há de ser um simples ponto matemático e nada mais. Há
nele e para ele uma necessidade imperiosa de “não-ser”, a fim de que o Bem
possa “ser” sozinho no Princípio das Coisas, dentro do perfeitíssimo sistema
monístico (Doutrina
filosófica segundo a qual o conjunto das coisas pode ser reduzido à unidade) do Universo, para glória de Deus,
nosso Criador.
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