por Luciano dos Anjos Reformador (FEB) Março 1968
Sou autor de alguns escorços feitos para a Escola Superior de Guerra sobre “O Poder Nacional”, “Desenvolvimento e Segurança Nacional”, “Planejamento da Segurança Nacional (Informação e Contra-Informação)”, “Conceito de Mobilização Nacional” , “Análise de Assistência Social no Espírito Santo”, “Nossa Política de Exportação e a Balança de Pagamento”, “Manganês do Amapá: Um Acontecimento Sócio-Econômico” e “Os Objetivos Nacionais Permanentes”.
Em “Desenvolvimento e Segurança Nacional”
a temática conduz ao exame das aspirações de natureza vital ou de sobrevivência
na vida das Nações sintetizadas nos chamados Objetivos Nacionais Permanentes,
por sua vez conquistáveis através da elaboração inteligente duma Política
Nacional. Esta se desdobra em Política de Desenvolvimento e Política de
Desenvolvimento Nacional. Alguns estudiosos consideram superada a ideia de que as
Nações possam isoladamente preservar a sua segurança.
Argumentam,
talvez com muita razão, que o problema da segurança deve ser no mando de hoje
encarado coletivamente. Citam como fruto dessa realidade a multiplicidade de
órgãos como a ONU, a OEA, a OTAN, etc.
Antes de prosseguir, devo registar alguns importantes
aspectos preliminares e muito pessoais, Não sou militar, nenhum problema da
nossa segurança nacional depende da minha humilde e insignificante pessoa, não
tenho atuação direta em política, nada tenho a dizer aqui sobre questões que,
afinal, devem ser analisadas por quem tem a autoridade que eu não tenho e que
absolutamente não dizem respeito ao Espiritismo. Sou um simples e apagado
jornalista que tem, naturalmente, a sua opinião própria sobre os problemas
nacionais e internacionais, opinião porém que nada pesa no conceito das nossas
autoridades Não tenho influência nenhuma. A rigor, acho que tais assuntos estão
em mãos de quem os deve conhecer, por dever de ofício. Confio em nossos
dirigentes. Confio nos governos. Um presidente só chega a ser presidente se
assim é do programa do Alto . Ninguém é Chefe de Estado por acaso. Se falha na
sua missão, é afastado, variando a forma do afastamento conforme seus
compromissos cármicos. Assim, no meu entender, todo Governo deve ser
respeitado, acatado, compreendido. No mais, Espiritismo e Política são
incompatíveis. Apenas aproveitei essas
apreciações iniciais para tentar um paralelo com outro assunto - este sim, de
nossa ingerência - e que diz respeito ao Conselho Federativo Nacional da FEB, e
ao Pacto Áureo.
Teria andado mal a FEB no seu esforço de inspirar-se
nos ideais do inesquecível Bezerra de Menezes e de buscar com isso a união dos espíritas através da unificação? Seria incongruente o Pacto Áureo, porque não
se pactuam entre si partes heterogêneas. Na minha opinião - não. Penso que a
FEB andou certíssima e que a união independe completamente de quaisquer reformulações
do Pacto Áureo. Aliás, raciocino precisamente nestes termos: primeiro é preciso
unificar; depois buscaremos a união. A pretensão inversa seria absolutamente inexequível,
se não fosse, antes de tudo, um erro técnico. Inexequível porque jamais, em
qualquer lugar do mundo, em qualquer núcleo humano se conseguirá a união de
todas as criaturas em torno dum mesmo comportamento. Nisso o Espiritismo é mais
do que sábio: liberou o homem, “a priori”, de pensar livremente; até mesmo em
relação à aplicação dos seus próprios postulados. “Constranger os homens a
procederem em desacordo com o seu modo de pensar - ensina “0 Livro dos Espíritos”
- é fazê-los hipócritas. A liberdade de consciência é um dos caracteres da
verdadeira civilização e do progresso” (questão n" 837).
Por isso a FEB, ao elaborar o Pacto Áureo, cuidou da
forma apenas, sem entrar, em nenhum dos seus artigos, nos aspectos
doutrinários. O Pacto Áureo é, pois, uma unificação indispensável, visando à
união Esse é o caminho mais atualizado, mais evoluído empregado pelas Nações e
que resulta inclusive das mais duras experiências, durante as quais não
faltaram sequer as guerras fratricidas. É certo que a unificação em torno da
Liga das Nações mostrou-se ineficaz em 1939; mas nunca se poderá afirmar, de
consciência tranquila, até onde precisamente foi inoperante ou inoportuna.
Afinal, quem se abalança a provar que a guerra não foi sucessivamente protraída (protrair = tirar
prá fora) graças àquela
entidade internacional? Quanto não terão sido mais rápidos do que ela as largas
passadas de Cbamberlain, indo e vindo, de guarda-chuva na mão, até que sofresse
a traição final. E, apesar desta, se podemos historiar e lamentar o fracasso
derradeiro da Liga, nem por isso a tese que a ensejou foi abandonada. Em 1945,
dentro das mesmas coordenadas de ação, surgiria a ONU. É o atestado de que não
existe, pelo menos por enquanto, melhor conceito de entendimento do que a unificação
das nações, embora isto nem sempre signifique a união das Nações, muito pelo
contrário: união (embora infelizmente) é a única coisa que não existe. Mas a
unificação é a única coisa capaz de permitir a coexistência. E, em outros
escalões, o problema é sempre posto da mesma forma. A OEA chama ao concerto as
Nações americanas; a OTAN equilibra as ações de governos na sobrevivência dos
países do Atlântico Norte; a SEATO reuniu interesses no Tratado do Sudeste Asiático;
a ODECA organiza os Estados Centro-Americanos; etc. Não esqueçamos também o
histórico “Congresso dos Povos pela Paz” realizado em Dezembro de 1952, cujas
resoluções conduziram a “um pacto de paz entre as cinco grandes potências:
Estados Unidos, União Soviética, Inglaterra, China e França”. Ali, como em
todos os demais órgãos similares, prevaleceu a ideia de que as desconcórdias
devem ser sempre resolvidas através das negociações nunca pela violência. Já
antes funcionara o “Conselho Mundial da Paz” com os mesmos objetivos. Tanto a
este quanto àquele é devido o armistício da Coreia, cujo impasse foi debatido
sem qualquer entonação partidária, possibilitando por cobro a uma sangrenta e
odiosa luta de extermínio.
Penso que o Pacto Áureo é a
resultante sadia dum processo histórico em que Bezerra de Menezes acabou - mal
comparando - fazendo de Hegel na conceituação dialética dos problemas surgidos
desde a sua época, como presidente da FEB. A verdade é que havia dois grupos em
oposição, figurando nos seus antagonismos ora a tese ora a antítese do
movimento espírita no Brasil. O Pacto Áureo abrotou tempos depois como síntese
fatal, inevitável e irrecorrível. É bom que se diga que nesse processo
histórico mais que nunca a direção do Alto - ou, mais precisamente, de Ismael -
se fez sentir. Afinal, estava em jogo o futuro da Doutrina Espírita, ameaçada
de esfrangalhar-se pelos embates de grupos que, talvez por natural estado encarnatório,
não conseguiam compreender a realidade do ponto de vista da Espiritualidade.
Mas a Terceira Revelação não podia, em si, ficar comprometida. Por isso, sob as
vistas de Ismael, desenrolou-se a contento o inexorável processo, cujo corolário
haveria de ser o Pacto Áureo.
Poder-se-ia arguir que esse processo está em meio, e
que pode ainda evolver para uma fase ulterior. Quanto a esta hipótese, é bom
que se recorde que nem Hegel - de quem me estou socorrendo - foi muito
convincente na abstração quase sempre obscura do seu pensamento, aliás
profundamente infiltrado do subjetivismo kantista. Ele mesmo se lamentara: “Não há mais que um homem que me tenha
compreendido e este mesmo não me compreendeu”...
Aprofundemos o problema, considerando-o em termos mais
amplos e mais gerais, para melhor equacioná-lo. Deixemos momentaneamente a
periferia para entrar no núcleo. Assim, raciocinando em termos paralelos, aqueles
que situei até aqui, porém adentrando-se mais na Fílosofia, creio firmemente
que a tese do cientificismo extremado, em oposição à antítese do espiritismo
místico, fundiram-se, conciliaram-se e evoluíram (ou estão evoluindo) para o
Espiritismo (Cristianismo Puro). Se pensarmos num desdobramento ulterior e
infindável do processo (e admito que até Hegel pensasse nele, não obstante ter
acreditado que depois da revolução alemã de 1830 ele houvesse finalmente
encontrado a ventura da paz, portanto, a derradeira etapa do processo social...
estaríamos então fatalmente admitindo também uma revisão do Espiritismo ou do
Cristianismo.
Onde iríamos parar?
Por outro lado, não me aproveitem as
palavras para argumentar com Marx, buscando conciliá-las com os caminhos
políticos extremistas e violentos aventados pelo grande pensador alemão. É
óbvio - deixe-me adverti-lo logo - que a Doutrina Espírita não admite as lutas
de classes, as quais Marx e Engels colocaram como ponto de partida da sua
síntese comunista. Fizeram-no - é sabido - abandonando de certa forma os
princípios de Hegel, tanto que, enquanto este admitia a unidade absoluta com
Deus, aqueles fizeram gerar o materialismo histórico. A chamada “Esquerda Hegeliana”
acabou desenvolvendo sistemas secundários de tolo anti-cristianismo, de frágil
panteísmo e ridículo ateísmo. Afinal, houve também um Goschel, um Rosenkranz,
um Fichte (que encontrou até o caminho da doutrina da Providência, nas ideias
de Hegel), um Erdmann, e até católicos como Gunther e Frohschammer, que viram
no hegelianismo uma base de princípios muito boa para os ensinamentos
cristãos... Como se pode deduzir, a dialética de Hegel tem muitas facetas.
Arremato, acentuando que, dentro da conceituação espírita - e consequentemente
cristã. - a salvação é processo inalienável. Os arroubos dum coletivismo tantas
vezes sonhado ao lado duma distribuição absolutamente uniforme de todas as
riquezas, esbarraria na Doutrina Espírita que, muito judiciosamente, revela a
quimera dessas soluções principalmente quando buscadas pela violência (vide “O Livro
dos Espíritos”, questão nº 811). Além do que, se Marx e Engels adaptaram Hegel
a seu modo, Engels e Marx foram ainda muito mais adaptados por Lenine.
Afinal, são 18 anos de verdadeira
confraternização, do que se conclui que FINIS CORONAT OPUS... (o fim coroa a
obra)
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