“Espíritos
e Espiritismo moderno” - Parte 1
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador FEB) Dezembro 1963
Lemos com toda a atenção, como recomenda Allan Kardec,
mais um livro contra o Espiritismo “Spiriti e Spiritismo moderno”, do Padre
Giovanni M. Arrighi O. P., prefaciado pelo Cardeal Giacomo Lercaro, Arcebispo
de Bologna. Já teve três edições, em 1954, 1955 e 1957, publicado com as
necessárias autorizações da Igreja Católica Romana.
Logo de início o Autor nos informa que o Espiritismo é
universal e eterno. Nas páginas 25 e seguintes diz que o Espiritismo era
conhecido no antigo Egito, na China, na Índia, entre os gregos e romanos, Para
o povo hebraico houve as proibições de Moisés, proibições que revelam sua divulgação
popular, e o autor nos cita a sessão realizada na cidade de Endor, na qual Saul
evocou o Espírito de Samuel e com ele conversou.
Da Bíblia é essa a única sessão que ele nos cita, o que é
pena, porque temos coisas multo melhores nas Escrituras Sagradas. No Novo
Testamento, por exemplo, a sessão gloriosa em que Jesus evocou os Espíritos de
Moisés e Elias que se materializaram diante de três discípulos e conversaram
com o Senhor. O livro de “Atos dos Apóstolos” está repleto de manifestações
espíritas que o Padre Arrighi não menciona. O estabelecimento do Cristianismo
no mundo está repleto de grandiosos fatos espíritas, como a ressurreição de
Jesus, suas aparições aos discípulos, depois a Saulo, depois a Ananias,
mandando-lhe que fosse curar o jovem legisla que estava cego. Naquele momento
histórico, ocorriam muitos fenômenos espíritas na Palestina.
Os fenômenos espíritas não só são muito antigos e
universais, como nos informa o Autor, mas são igualmente a revelação da sobrevivência
do homem após a crise da morte e formam a base das mitologias de todas as religiões
antigas e modernas. Das antigas, temos um Espírito manifestando-se a Moisés e
lhe dando instruções; das mais modernas, temos um Espirito aparecendo à Sra.
Nao Deguêi, no Japão, e fundando a religião conhecida pelo nome de Oomoto, que
tem apenas setenta anos de idade. Infelizmente o Padre Arrighi não trata dessa
parte tão expressiva.
Informa-nos ele que em 1588 o Papa Sixto V condenou, pela
primeira vez, as práticas espíritas.
O Espiritismo moderno “nasce
como reação contra o materialismo” (pg. 34). Os fenômenos de Hydesville vêm
relatados na página 36 e o caso do Juiz Edmonds aparece na p. 37. A primeira
obra notável sobre o Espiritismo moderno - informa-nos o Autor - foi “Sights
and Sounds” (Vistas e Sons), de Henrique Spicer, editada em Londres, em 1853 (p.
10). Infelizmente não conhecemos esse livro, surgido quatro anos antes de “O
Livro dos Espíritos”. Dele só sabemos algo através das pp. 188 e 189 da obra “As
Mesas Girantes e o Espiritismo”, de Zêus Wantuil.
No princípio do movimento espírita moderno, alguns ateus
materialistas se converteram ao Catolicismo por intermédio do Espiritismo (p.
42). Um desses convertidos recebeu mensagens de um jesuíta que lhe aconselhou
estudar a história da Companhia de Jesus.
Na opinião do Autor, a fraude mediúnica é exceção à regra,
é imitação de fato real existente (p. 59).
Informa-nos o Autor que os anjos podem manifestar-se sem
milagre, mas as almas dos homens só o podem excepcionalmente, por milagre, com
permissão de Deus (p. 110). Cada ano morrem aproximadamente
10 milhões de crianças sem batismo e sofrem eternamente a privação do Céu (p.
112). Mas o Padre Thurston S. J., citado pelo Autor, acha injusto esse eterno
sofrimento de uma parte tão grande da Humanidade. E nós pensamos apenas que
esse ensino da Teologia é uma blasfêmia contra a Sabedoria e a Justiça
perfeitas de Deus.
Só excepcionalmente pode resultar algum bem de uma sessão
espírita (p. 131). Quanta inverdade nessa restrição, meu Deus!
Mas o P. Thurston S. J. diz que “a intervenção de inteligências
boas e generosas aparece em algumas “mensagens” muito sérias, pias,
tonificantes, tanto que diversos são os convertidos pelo Espiritismo. Por Isso
concorda em pensar na intervenção de Espíritos bons e inteligentes que se
interessam por nós. Eis a resposta clara que o Padre Omez O. P. deu
recentemente sobre esse tema em “Métapsychique
et Merveilleux Réligieux”: “A graça de Deus pode servir-se de tudo...” (p.
131). Ainda bem!..
Como se vê destas poucas citações, um livro contra o
Espiritismo sempre informa alguma coisa interessante ao leitor que não abriria
um dos nossos livros. É sempre um bem para todos, e a nós nos serve para
demonstrar que todos os ataques contra o Espiritismo são de uma estultícia
chocante.
Em outro artiguete concluiremos nossas notas sobre o
livro do Padre Arrighi.
“Espíritos
e Espiritismo moderno” - Parte 2
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador FEB) Janeiro 1964
Já é muito rica a
biblioteca teológica sobre o Espiritismo. No livro do Padre Giovanni M. Arrighi
O. P. – “Spiriti e spiritismo moderno” - vemos citadas as obras de dezenas de
teólogos que se ocuparam com o Espiritismo.
Todos esses livros são úteis para o Espiritismo, porque o
Autor tem de expor a Doutrina para refutá-la, ainda que o façam em pequenos
trechos, soltos e incompletos. Não raro a exposição é prejudicada pelo
sectarismo, diz inverdades, até calúnias involuntárias, por exemplo, o Padre Arrighi
afirma que todas as mensagens espíritas são banalidades, tiradas sem pé nem cabeça,
quando sabemos que muitas dessas mensagens, a maioria talvez, são majestosas
lições em prosa ou verso, reunidas em grossos volumes de imenso valor moral e
intelectual, como “Parnaso de Além-Túmulo”, “Antologia dos Imortais”, “Paulo e
Estêvão”, “Cânticos do Além”, “Memórias de um Suicida” etc. Assim, por deturpada
que seja a exposição que os adversários fazem, alguma coisa sempre se aproveita.
Eis uma tirada do Padre Arrighi, na p. 134:
“É verdade que se
têm podido registar, como mais bem fundadas na realidade, algumas breves aparições
de almas de mortos no momento exato da morte ou pouco depois. Mas, precisamente
essas aparições são totalmente espontâneas, não provocadas e ainda menos
coagidas.
“Com maior razão é inadmissível que
Espíritos bons, também eles dependentes de Deus, imersos na sua luz, firmes na
atitude moral, se deem aos homens pelo modo ridículo e mesquinho das manifestações
espíritas.”
Quanto engano junto! Nem os Espíritos são coagidos nunca
nem são ridículas e mesquinhas as manifestações realmente nobres e elevadas dos
Espíritos superiores que caridosamente descem às nossas trevas para nos ajudar
com suas luzes.
Diz o Padre que a lei de causa e efeito é superior a Deus
na opinião dos espíritas (p. 140); depois repete: “A Lei de Carma é absurda,
porque ela se impõe a Deus mesmo” (p. 160).
Sabemos os espíritas que todas as leis naturais são criadas
e aplicadas por Deus com toda a sabedoria e infinita misericórdia. O homem
sofre os efeitos de seus atos errados, mas Deus lhe faculta os meios de aliviar
seus sofrimentos, equilibrando-os com as alegrias e esperanças decorrentes do bem
que faça. Deus sempre lhe acolhe o arrependimento e lhe proporciona os meios de
salvar-se, segundo a Lei do Carma, contrariamente à doutrina das penas eternas.
Demais, Carma não é castigo apenas, é igualmente prêmio, recompensa por todas as
virtudes praticadas, por todo o bem que se faça.
Condenando a Lei do Carma, o Autor admite as penas
eternas o que repugna à justiça, porque a pobre criatura humana, em sua curta
vida de ignorante, mal sabendo distinguir entre o bem e o mal, não poderia merecer
uma punição eterna. Reencarnação e Carma resolvem todos os nossos problemas, e
aquelas negações não prevalecem contra a Justiça perfeita.
O Autor compreende a reencarnação sempre como expiação,
nunca como escola de preciosas experiências para nossa formação, nem como
missões, por vezes tão gloriosas na História. A Igreja condenou a reencarnação
nos Concílios de Constantinopla (543) e de Lyon (1274), mas ... a condenação não
teve efeito, a lei continua funcionando e a imensa maioria da Humanidade reencarnacionista
- todos os budistas - não toma conhecimento das decisões da Igreja.
“A ciência do
demônio é muito maior do que a dos maiores gênios da Humanidade” (p. 185). Quem
se salvará, então contra tal inimigo?
Os teólogos católicos até hoje se apoiam sempre em S.
Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, que viveu de 1227 a 1274. Nos setecentos
anos decorridos depois dele, quantas descobertas foram feitas que alteram
profundamente os pensamentos da Humanidade...
Diz o Padre Arrighi que é na Doutrina Espírita, não nos fenômenos
espíritas, onde mais se nota a influência diabólica. (p. 193). Mas a Doutrina Espírita
é puramente evangélica! Cuidado, meu irmão, com suas palavras, porque elas inconscientemente
revelam que a sua Igreja já se tornou inimiga do Cristo de Deus! .
Duas “dificuldades” de explicação (só duas!) encontra o
Padre Arrighi nos fenômenos espíritas: a caligrafia de um defunto que o médium
reproduz sem tê-lo conhecido e a predição de acontecimentos futuros que depois
se verificam (pp. 231 e 232).
Isso é nada diante do estilo de dezenas de poetas
desconhecidos do médium, como aparecem os poetas de “Parnaso de Além-Túmulo”, “Antologia
dos Imortais”, “Cânticos do Além". E os livros em prosa, como, por exemplo:
“Falando à Terra”, como explicá-los, Padre Arrighi?
O Padre Arrighi insiste sempre que o dogma da
reencarnação é do Espiritismo e da Teosofia, e silencia quanto ao Budismo, que
o ensina a um número de crentes três vezes maior do que a soma de todas as igrejas
cristãs do mundo e há mais de quinhentos anos do que o Cristianismo.
Não há pronunciamento oficial da Igreja sobre os
fenômenos espíritas (p. 240), todas as opiniões de teólogos são particulares:
mas há documentos oficiais da Igreja contra a Doutrina espírita (páginas 240 e
241).
O Autor declara que “a
questão espírita não se pode dizer totalmente e definitivamente resolvida” (p.
236) e formula três questões, a saber:
1ª - “Pode admitir-se, pelo menos como provável, que no
Espiritismo (salvo uma especial permissão ou um particular mandato divino) intervenham
os defuntos?”
Responde negativamente, alegando a natureza da alma, na
sua opinião incapaz de agir sobre a matéria.
2ª - "Deve afirmar-se que no Espiritismo haja uma
intervenção diabólica?”
Afirma que não se pode cientificamente demonstrar a
influência direta do demônio, mas pode afirmar-se sua influência indireta.
3ª – “Pode-se pensar que todos os fenômenos medianímicos
possam explicar-se naturalmente?"
Responde que até hoje não se pôde explicar tudo por
hipóteses naturalísticas:
Na sua última página do livro, o Autor nos diz:
“Uma
das afirmações mais inteligentes de Sócrates é sem dúvida esta: “Só sei de uma
coisa: que nada sei.”
“E, honestamente, deve-se reconhecer que é um pouco assim
no nosso caso. Eis porque falei antes de minha “opinião” e insisto sobre este
termo. Sinto-me de fato ainda muito longe da certeza absoluta.”
Esta modéstia final salva o Padre Arrighi. Como teólogo
sectarista ele escreve muita barbaridade no livro. Vê-se que tem muito de
fanático e, se não houvesse reencarnação, seria difícil imaginar-se quando
poderia ele mudar de rumo; mas, com a reencarnação tudo se torna fácil: Deus
lhe permitirá a graça de renascer num lar espírita e conhecer desde a infância
a sublime Doutrina do Consolador.
Não chegará, como nenhum de nós chega, à “certeza
absoluta” mas chegará a convicções bastantes para orientar seus pensamentos e
sentimentos rumo a conceituações bem mais elevadas da Vida.
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