A
responsabilidade do Espírita
por Indalício Mendes
Reformador (FEB)
Janeiro 1964
Quando afirmamos que o estudo constante da Doutrina é
indispensável à verdadeira compreensão do Espiritismo, não o fazemos sem uma
base sólida. A orientação doutrinária somente será possível com a disseminação
dos princípios que concorrem para o aperfeiçoamento moral do indivíduo. Se a
explanação da Doutrina não for adequada à assimilação completa de cada um, seus
efeitos serão insuficientes ou nulos. A só explicação da Doutrina não é bastante,
bem o sabemos. Todavia, o esclarecimento das consequências benéficas, que a
exemplificação de tais princípios pode proporcionar, será capaz de levar muitas
pessoas a se tornarem realmente integradas no programa constante da Doutrina. O
importante, portanto, é estudar cada ponto com paciência, explicá-la bem, enriquecendo
a explicação com exemplos comuns da vida cotidiana. Mas o essencial é
exemplificar cada vez melhor.
O Espiritismo não possui um corpo doutrinário complexo e ininteligível,
pois nele tudo é claro. Mas precisamos compreender que o grau de assimilação
intelectual de cada indivíduo varia muito. É preciso, portanto, que o
explanador da Doutrina use uma linguagem simples e procure observar se as suas
palavras estão sendo realmente bem interpretadas. Caso tenha qualquer dúvida a
respeito, o melhor será repisar o ponto estudado, citando fatos como exemplo do
que ocorre na vida diária, quer para evidenciar os benefícios do respeito à
Doutrina, quer para deixar positivado que a não exemplificação dos preceitos
doutrinários levará o homem a provações ásperas, que podem ser atenuadas ou evitadas
com a mudança para melhor do seu comportamento em casa, no trabalho, onde quer que
esteja.
Se o Espiritismo não for utilizado para reformar aqueles
que necessitam de progresso moral, então é porque não está sendo devidamente pregado
nem se socorre de exemplificações adequadas para ilustrar a sua influência
salvadora na vida terrena.
Ninguém pode negar que estamos passando todos por
provações sérias e que essas provações tendem a multiplicar-se, porque o
panorama cármico do mundo terreno, nestes tempos que antecedem a alvorada do
Terceiro Milênio, está sombrio.
Pensa-se muito no Mal e pouco no Bem. Os
descontentamentos fermentam a alma humana, predispondo-a a pensamentos e ações
incompatíveis com a ordem e a paz. Fala-se muito em paz, pensando-se na guerra.
Se todos aqueles que possuem problemas graves, de ordem moral ou material,
procurarem orientar-se pelas lições prodigiosas de “O Evangelho segundo o
Espiritismo”, poderão, sem dúvida nenhuma, substituir suas inquietações por uma
confiança maior em si mesmos, porque o que está faltando no mundo de hoje, mais
do que no passado, é uma comunhão maior com Deus.
A ambição malsã vem constituindo a base de quase todos os
pensamentos. Por causa dela redobram-se os conflitos, crescem as dores. A tolerância
vai desertando dos corações e não são poucos os que supõem poder alcançar a
justiça que reivindicam, semeando ódios, ferindo sentimentos e socalcando
direitos alheios para valer o que acreditam ser os seus “direitos”, “direitos” nem
sempre justificados.
Se é natural que todos busquem defender direitos
legítimos, é absolutamente certo que todos são obrigados, antes de os reclamarem,
a demonstrar que atenderam integral e corretamente aos seus próprios deveres. É
justamente o bom cumprimento dos deveres que cria os direitos legítimos. Não
será com violência, nem espezinhando o próximo, que cada qual conseguirá gozar
bem o seu direito. Este é sempre uma decorrência direta do dever. Além disto, há
outras obrigações de ordem moral que devem levar os homens a atitudes mais
serenas e tolerantes, conciliadoras mesmo, quando tiverem de fixar as suas
reivindicações. O que for obtido irregularmente, provocará consequências igualmente
irregulares. Todos teremos sempre a colheita a que fizermos jus, tudo de
conformidade com a semeadura que houvermos feito.
Eis porque o espírita que deseja ser feliz em Deus deve,
antes de tudo, condicionar sua conduta aos princípios que constituem a Doutrina
Espírita, com base no Evangelho, certo de que as vitórias alcançadas, por
outros meios, só lhe darão transitória satisfação, pois será fatalmente
substituída por derrotas determinadas pela “lei de Retorno”, isto é, pela Lei
de Causa e Efeito, que é uma Lei de Justiça.
É de grave importância o papel daqueles que assumem a
responsabilidade de pregar a Doutrina Espírita e o Evangelho em Espírito e
Verdade. Devem levar sua tarefa ao máximo de interesse e sacrifício, porque a
Humanidade está jogando a sua sorte. Ela terá de mudar de rumo, pensando mais
no Bem, policiando seu próprio comportamento, se pretende fugir com êxito de
provações mais amargas que o futuro lhe poderá reservar.
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