O
precioso legado de Roustaing
Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Dezembro 1957
A famosa e importante
obra mediúnica divulgada sob o título “Os Quatro Evangelhos - Espiritismo
Cristão ou Revelação da Revelação” constituí uma das mais fecundas fontes para
o estudo mais profundo do Espiritismo em face do Evangelho. Jean Baptiste
Roustaing, homem de sólida moral e vasta cultura, bastonário ilustre de Bordéus,
possuía a idoneidade indispensável ao patrocínio de trabalho de tão grande
envergadura.
A magnitude dessa grandiosa obra, que constitui uma das
maiores realizações dos Espíritos, depois das revelações codificadas por Allan
Kardec, no nobre afã de dotar a Humanidade de elementos positivos que a
possibilitem à compreensão perfeita dos problemas humanos relacionados com os
problemas do Além, impõe-se ao respeito das criaturas austeras e desejosas de conhecimentos
mais amplos em tão melindroso terreno. “Os Quatro Evangelhos”; não estão em
conflito com o Pentateuco kardequiano. Se as obras do Codificador são a
base do Espiritismo, porque lhe constituem o corpo doutrinário, “Os Quatro
Evangelhos” representam a exegese do conteúdo evangélico de nossa crença, por
penetrar mais intimamente na questão, elucidando-a com simplicidade e segurança
de argumentos, de modo a nos dar deles não uma visão superficial e demasiado
restrita, mas uma compreensão bastante clara de verdades até então aparentemente
irreveladas, que desde tempos imemoriais vêm sendo transmitidas ao homem
através da palavra simbólica dos orientais, onde quase sempre o véu espesso da
letra cobre a fulgurância de prodigiosos ensinamentos.
Guillon Ribeiro
A autoridade moral e intelectual do tradutor desse valiosíssimo
trabalho – Dr. Guillon Ribeiro, cuja educação evangélica irrepreensível pode
ser equiparada à desse outro extraordinário vulto do Espiritismo que foi o Dr.
Bittencourt Sampaio - constitui advertência assaz ponderável da extrema
seriedade dos ensinamentos recebidos e coordenados por J. B. Roustaing.
Entretanto, para melhor assimilação de tais ensinamentos, é recomendável que o
leitor, antes de se entregar à leitura de “Os Quatro Evangelhos”, já esteja
familiarizado com “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec.
Nos serões de estudo do Espiritismo Cristão, não é
possível prescindir de “Os Quatro Evangelhos”. Suas revelações desenvolvem o
conhecimento progressivo do leitor no sentido evangélico, porque demonstram,
através das comunicações dos Evangelistas, verdades maravilhosas, não só quanto
à explicação dos textos evangélicos em espírito e verdade, como quanto à origem
dos Espíritos, à natureza dos fluidos, ao magnetismo, aos processos evolutivos
a que o Espírito se encontra sujeito pelos séculos afora, etc.. A propósito,
esclarece no prefácio o Dr. Guillon Ribeiro, com aquele aticismo (elegância e sobriedade de linguagem), aquela propriedade de linguagem vernácula que lhe
era muito peculiar: “...além de ser obra
de estudo e meditação metódica dos Evangelhos, a “Revelação da Revelação” será
sempre também indispensável obra de consulta, não só para os que já lhe hajam
perlustrado as páginas, como ainda para os que, sem o terem feito, busquem de
momento elucidar qualquer das grandes questões que o Espiritismo veio pôr em
foco.” Esta é a palavra autorizadíssima de um dos mais conspícuos mestres
do Espiritismo brasileiro.
*
J. B. Roustaing, que sempre teve na mais alta conta o
Codificador e sua obra, prefaciando “Os Quatro Evangelhos”, faz considerações
muito judiciosas, das quais apenas vamos reproduzir alguns trechos, a seguir: “Com
a minha vida inteira irresistivelmente presa à pesquisa da verdade, na ordem física,
moral e intelectual, deliberei informar-me cientificamente, primeiro pelo
estudo e pelo exame, depois pela observação e pela experimentação, do que
haveria de possível, de verdadeiro ou de falso nessa comunicação do mundo
espiritual com o mundo corporal, nessa doutrina e ciência espíritas.
“Li O Livro dos
Espíritos. Nas páginas desse volume encontrei uma moral pura, uma doutrina
racional, de harmonia com o espírito e progresso dos tempos modernos, consoladora
para a razão ‘humana; a explicação lógica e transcendente da lei divina ou
natural, das leis de adoração, de trabalho, de reprodução, de destruição, de
sociedade, de progresso, de igualdade, de liberdade, de justiça, de amor e de
caridade, do aperfeiçoamento moral, dos sofrimentos e gozos futuros.” E
prossegue em maiores considerações sobre essa obra:
“Em seguida li ‘O
Livro dos Médiuns’ e nele se me deparou uma explicação racional: da possibilidade
das comunicações do mundo corpóreo com o mundo espiritual; das vias e meios
próprios para essas comunicações, das aptidões e faculdades mediúnicas no
homem: da mediunidade e das condições de moralidade e de experiência para seu
exercício útil e proveitoso nas relações do mundo visível com o mundo
invisível, sempre e exclusivamente com o objetivo da prece, da caridade de além
túmulo, do ensinamento moral, da instrução que os bons Espíritos, na era nova
que começa, têm a missão de dar e que é invariavelmente proporcionada e
adequada ao desenvolvimento intelectual e moral do homem. Achei, enfim, a explicação
racional das vantagens e inconvenientes da mediunidade, dos escolhos e perigos
a evitar e dos caminhos a seguir para praticá-la."
De estudo em estudo, de pesquisa em pesquisa, através da
história e da filosofia, Roustaing se certificou da existência de uma congérie (série) de erros
e impropriedades. “Vi ensinados, desde a antiguidade até hoje, num amálgama de erros e de verdades, dispersas e ocultas aos olhos das massas, os princípios
que a doutrina e a ciência espíritas vieram por em foco: 1º - a pluralidade dos
mundos e sua hierarquia; 2º - a pluralidade das existências e sua hierarquia; 3º
- a lei de renascimento; 4º - as noções da alma no estado de encarnação e no de
liberdade e as de seus destinos. Perlustrei os livros das duas revelações, o
Antigo e o Novo Testamento. Entregando-me a essa leitura, que empreendera
outrora e abandonara por obscura e incompreensível, verifiquei que, graças à
doutrina e à ciência espíritas, sobre aquelas páginas se projetavam vivos raios
de luz, a cuja claridade minha inteligência e minha razão alguma coisa
divisavam através do véu da letra. Reconheci, nesses livros sagrados, ser um
fato a comunicação do mundo espiritual com o mundo corporal, comunicação que na
ordem divina, providencial, é o instrumento de que se serve Deus para enviar
aos homens a luz e a verdade adequadas ao tempo e às necessidades de cada
época, na medida do que a Humanidade, conforme o meio em que se coloca, pode
suportar e compreender, como condição e elemento do seu progresso. Vi que a revelação de Deus é permanente e progressiva.
“Encontrei nos Evangelhos, veladas pela letra: 1º - a
afirmação da pluralidade dos mundos e da sua habitabilidade; 2º - a lei dos
renascimentos como meio único, para o homem, de ver o reino de Deus, isto é: de
chegar à Perfeição pela purificação e pelo progresso; 3º - a afirmação da
imortalidade da alma, da sua individualidade após a morte, dos seus destinos
futuros, da sua vida eterna."
Mais tarde, por intermédio de Mme. Collignon, médium
respeitável, foi recolhido copioso material fornecido pelos Evangelistas
Mateus, Marcos, Lucas e João, assistidos pelos Apóstolos, para a formação dessa
obra transcendente que é “Os quatro Evangelhos” - Espiritismo Cristão ou
Revelação da Revelação.
*
Homem sábio, de sabida austeridade, Jean B. Roustaing foi
também um escolhido para esse trabalho gigantesco. Devemos-lhe, portanto, toda
gratidão e respeito. É baseado em "Os Quatro Evangelhos" que a
Federação Espírita Brasileira realiza (-va)
proveitosamente estudos semanais em suas sessões públicas, disseminando conhecimentos
preciosos que demonstram a importância intrínseca que eles têm para a Religião
Espírita porque neles estão o fundamento do Espiritismo Cristão, do
Cristianismo verdadeiro, explicado espiriticamente. Para bem nos enfronharmos
nas sutilezas do Evangelho, teremos de ir buscar nas páginas da obra de
Roustaing a luz profusa de esclarecimentos feitos em espírito e verdade.
"Para bem nos enfronharmos nas sutilezas do Evangelho, teremos de ir buscar nas páginas da obra de Roustaing a luz profusa de esclarecimentos feitos em espírito e verdade." Hoje e sempre periodicamente! Valioso artigo!
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