A Mediunidade nos
Evangelhos – 1/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Julho 1994
Enquanto o Mestre permaneceu na crosta planetária, há
quase vinte séculos, vivendo junto aos apóstolos e discípulos, e pregando às
multidões, ensinou sobre a Verdade, o Caminho e a Vida. Legou aos homens, sob
sua amorável tutela, a Boa Nova; suas lições preciosas se estenderam sobre os
mais variados temas, todos identificados com as necessidades humanas e de
intensa força renovadora, destinada às almas ignorantes da Verdade, distantes
do Caminho e sem Vida superior. Com o advento do Espiritismo Consolador ficou
mais fácil entender o Mestre e aproveitar seus ensinamentos. A mediunidade, de
imensa significação nesse processo milenário da evolução humana, agora no limiar
de sua etapa de redenção, foi por ele tratada com naturalidade, beleza e
precisão. Contou com colaboradores valiosos, encarnados e desencarnados para
lidar com aspectos mediúnicos intimamente relacionados aos problemas humanos
que desejava intencionalmente ressaltar. Ao mesmo tempo, deixou entrever a
importância da mediunidade, elemento de ligação entre o Céu e a Terra, entre o
mundo invisível e o nosso, nas épocas mais relevantes para os destinos humanos
e cercou-se de médiuns de todas as qualidades. O presente estudo de doze casos
escolhidos dos textos sagrados busca anotar alguns de seus ensinos,
reverenciando a pedagogia incomparável do sublime Nazareno.
O Caso de
Pedro
Chegando às cercanias de Cesaréia de Filipe, Jesus
perguntou a seus discípulos: Que é o que os homens dizem do filho do homem?
Eles responderam: Uns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros que
é Jeremias, ou um dos profetas. Jesus lhes
perguntou: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: És o Cristo! filho
de Deus vivo. Jesus lhe respondeu: Bem aventurado és, Simão, filho de Jonas
porque não foram a carne nem o sangue que isso te revelaram mas meu Pai que está
nos céus. E eu te digo que és Pedro e que sobre esta pedra edificarei a
minha igreja... (Mateus. Cap. 16. vv, 13-18.)
Os homens da época não sabiam exatamente quem era o
Cristo. João Batista já havia sido decapitado a mando de Herodes, Elias e Jeremias
eram profetas mais antigos e as respostas dos homens atestavam a sua crença na
reencarnação. Mas Jesus, ao transferir a pergunta aos discípulos, buscava uma
resposta certa, para que ficasse claro aos homens de todas as épocas que Ele
não era reencarnação de quaisquer dos líderes ou profetas daquele povo e sim
uma personalidade única, distinta das demais. E. para tanto, utilizou-se da inspiração
ou, tal a precisão da resposta de Pedro, como exatamente desejava o Mestre, de
um recurso psicofônico. Aquela resposta era tão importante e grave que esclarecia
a origem especialíssima daquele Espírito e gravaria na Humanidade a excelência
e a sublimidade de sua missão.
Como sabemos, muitos Espíritos superiores estiveram em torno
de Jesus e dos apóstolos participando de todas as etapas do seu messianato, em
tarefas de colaboração e atendimento às circunstâncias, naquele cenário de luz
que se estruturou sobre o Orbe. E muitos deles se manifestaram pela mediunidade
dos convivas do Cristo. Pedro, ao que se sabe, era médium desenvolvido e
adiantado que, nas mãos dos Espíritos do Senhor, tomara-se instrumento poderoso
de difusão da luz. Sua organização física era bastante maleável e se prestava a
todas as influências e expressões mediúnicas.
Apesar disso, em outras ocasiões, Pedro esteve às voltas
com suas próprias ideias e nestas Jesus nos ensina sobre o que a falta da
inspiração elevada pode ocasionar. Uma delas ocorreu quando Ele lhes declarou a
necessidade de que “fosse a Jerusalém, sofresse muito nas mãos dos príncipes
dos sacerdotes, fosse morto e ressuscita-se”. Antecipando-lhes os fatos, Jesus
patenteava que os acontecimentos do Calvário estavam previstos e que não foram
puramente humanos. Mas Pedro, chamando-o à parte o repreendeu, dizendo: “Tal não
aconteça, Senhor! Nada disso te sucederá.” E Jesus responde: “Afasta-te de mim, pois que não tens o gosto
das coisas de Deus e sim o das coisas dos homens.” Entenda-se: Pedro falava
por si, com os receios humanos naturais de quem amava profundamente o Mestre e não
sob inspiração superior. Estava ele encarnado e, mesmo sendo um Espírito
elevado, transpareciam as limitações impostas pela carne. E Jesus mostrou-lhe
isso, dentro da preparação para os graves compromissos da missão futura de
Pedro, a partir da ascensão do Nazareno.
A outra ocasião foi quando da negação repetida antes do
sacrifício da cruz. Pedro o negou três vezes, aliás, como lhe previra o Mestre,
faltou-lhe novamente a inspiração superior que somente a prece lhe
proporcionaria.
Mas algum tempo depois, o pescador de Cafarnaum, então
pescador de almas, conforme o Mestre lhe adiantara, erguia em sua casa humilde
a pedra fundamental, a Casa do Caminho do Cristianismo primitivo, onde durante
anos se difundiu a Boa Nova das claridades eternas e se realizaram os mais
belos gestos da fraternidade pura.
A Mediunidade nos
Evangelhos – 2/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Agosto 1994
O caso da
estrela de Belém
Tendo Jesus nascido em Belém de Judá ao tempo do rei
Herodes, eis que do Oriente vieram alguns magos a Jerusalém, dizendo: “Onde
está aquele que nasceu rei dos Judeus? Vimos
a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” (... e logo a estrela que tinham
visto no Oriente lhes tomou a dianteira e só se deteve quando chegaram ao lugar
onde estava o menino. Quando viram a estrela eles se sentiram transportados de imensa
alegria e entrando na casa, ai encontraram o menino com Maria, sua mãe, e
prosternando-se o adoraram. (Mateus, Cap. II vv , 1, 2, 9, 11).
Desde o início a missão de Jesus na Terra foi pontilhada
de fatos marcantes que tinham por objetivo gravar nos espíritos dos que lá
viviam a importância do que estava em curso, para os destinos humanos. Para o
futuro, os Evangelhos levariam em seus registros os fatos memoráveis. Foi assim
com a anunciação do anjo Gabriel a Maria, a gravidez de Isabel “estéril”, a
mudez de Zacarias no templo, a visita do anjo aos pastores e destes à manjedoura,
o cântico de Simeão. O mesmo se deu com os magos e a estrela de Belém.
O conhecimento a respeito dos corpos celestes, à época, era
limitado. Nada se sabia sobre as leis do movimento, a composição e a estrutura
estelar e suas outras características físicas. Qualquer corpo brilhante
suspenso a grande distância ou aparentemente incrustado no firmamento poderia
ser entendido como uma estrela.
Era comum a crença de que os astros do céu regiam a vida
dos homens na Terra. Estes nasciam e morriam sob a influência dos planetas ou
estrelas. Segundo os sábios, conforme essa Influência fosse boa ou má, através
da qualidade dos fluidos emanados, a vida seria mais ou menos promissora, em
termos de saúde, riqueza, realização de desejos, estudos e longevidade.
Essa crença que, aliás, perdurou por séculos, facilitou a
aceitação da ideia de que aquela “estrela” fosse a que regeria os destinos do
Rabi da Galileia. A revelação sobre o nascimento do “rei dos Judeus”, o aviso
de que um enviado do Grande Ser descera
à Terra para ser o rei dos Judeus, a fim de regenerar a Humanidade, o comando
para que viessem do Oriente a Jerusalém e que seguissem aquela “estrela”, lhes
foram dados em sonho, através de seus mentores. Os três magos que eram também
médiuns videntes, perceberam a manifestação espirítica luminosa preparada pelos
Espíritos superiores, entenderam-na como uma estrela e cumpriram as
determinações do mundo invisível.
Muito se especulou sobre a origem da estrela-guia.
Surgiram as hipóteses de que fosse um cometa, uma estrela cadente, o planeta Vênus,
um disco voador... A luz que, sob a forma de estrela cintilava aos olhos dos
magos nada tinha de comum com os astros que povoam a imensidade. A “estrela” dos
magos deslocou-se à frente deles, na marcha lenta e regular de homens que viajam,
praticando, como guia de seus passos, um ato inteligente. Foram Espíritos
elevados que intensificaram a luminescência de suas vestes perispirituais,
agregando e condensando fluidos e dando-lhes forma estelar capazes de impressionar
o perispírito sensível dos magos, em processo de vidência mediúnica. Desnecessário
ressaltar que as estrelas verdadeiras como corpos celestes que formam o cenário
de nossas noites, são a principal estrutura física a compor o Universo visível,
pelos confins da Criação e obedecem a leis físicas que as mantêm em movimentos
previsíveis e por isso, pelas suas dimensões e estrutura, jamais poderiam
servir como lanternas nas mãos dos Espíritos, mesmo superiores.
Este episódio foi um dos mais belos a ressaltar a excelsitude
do espírito que preparava a redenção da sua Humanidade e a deixar claro que Ele
já estava entre os homens... para a alegria dos magos e para a glória do Pai
Celeste.
Encerrando sua participação naquele cenário sublime, a
mediunidade dos magos esteve novamente presente quando seus mentores, no
desdobramento do sono, avisarem-nos de que não retornassem a Herodes e
seguissem outro caminho. O obscuro rei desejava localizar o menino Jesus para não
permitir - o que julgava uma ameaça - que o reinado da luz se estabelecesse
entre os judeus.
A Mediunidade nos
Evangelhos – 3/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Setembro 1994
O caso de
João Batista
A esse tempo veio
João Batista pregando pelo deserto da Judéia. Dizia: “farei penitência, pois
que o reino dos céus está próximo. Porquanto, eis aqui aquele de quem falou o
profeta Isaias, dizendo: “Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do
Senhor; tornai retas suas sendas.” João trazia uma veste de pelos de camelo e
um cinto de couro em volta da cintura; alimentava-se de gafanhoto e mel silvestre.
Os habitantes de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a região circunvizinha
do Jordão vinham ter com ele e, confessando seus pecados eram por ele batizados
(Mateus, Cap. III, vv. 1-6).
Espírito superior, novamente em missão na Terra, João tornou-se
o precursor do Divino Mestre. Era Elias reencarnado, conforme as Escrituras e o
testemunho do próprio Mestre, quando disse: - Se quiserdes compreender o que
digo, ele é o Elias que havia de vir (referindo-se a João Batista). Muitos
séculos antes havia sido Moisés, e, como tal, recebera a primeira grande
Revelação, no Sinal, promulgando o Decálogo como médium poderoso que fui e sob
a intervenção de Espíritos superiores. Assim como mais tarde ocorreria com Maria
de Nazaré, quando o anjo lhe anuncia a vinda do Cristo, merecera uma anunciação
pelo mesmo anjo Gabriel, que, apresentando-se a Zacarias, seu pai, antecipa-lhe
a importante missão, a sua condição de Espírito pleno de virtudes e sua “grandeza
aos olhos do Senhor”.
Ao iniciar a sua tarefa junto aos homens, João, inspirado,
chama-lhes a atenção pera si, reportando-se à profecia de Isaías sobre ele
mesmo e sua missão, outro veemente registro da grandeza desse Espírito. E ele “prepara
o caminho do Senhor” realizando uma condenação aos homens que vinham ter com
ele para que se arrependessem publicamente de seus erros, em gesto de humildade,
para que, mais adiante, pudessem receber em seus corações os ensinos do Mestre.
Reuniu multidões em seu redor, e, de caráter “ríspido”,
pelos seus costumes e hábitos, distintos daqueles de seus contemporâneos,
chamava sobre si a atenção dos homens. Era tal sua ascendência moral sobre eles
que chegaram a crer se tratasse do Messias que estava por vir. Mas, falando ao
povo, esclarecia-lhes o sentido precursor de sua missão e antecipava: “Eu, por
mim, vos batizo com água; porém outro virá, mais poderoso que eu e de cujas
alpercatas não sou digno de desatar as correias prosternando a seu pés, o qual
vos batizará em Espírito Santo e em fogo.”
É, exatamente em seu encontro com João que Jesus, aos olhos
dos homens, inicia a sua missão. Submete-se ao batismo pela água sem ter do que
se penitenciar. João chega a manifestar ao Mestre que ele é que deveria ser por
Ele batizado em respeito a ascendência de Jesus sobre ele, o que era de seu
pleno conhecimento.
E conta a narrativa
de Lucas que enquanto Jesus orava, após sair das águas do Jordão “o céu se
abriu e um Espírito Santo desceu sobre Ele na forma corporal de uma pomba; e
ouviu-se uma voz no céu que dizia: “és meu filho bem-amado; em ti hei posto todas
as minhas complacências”, Estes efeitos físicos preparados pelos Espíritos
superiores tinham por finalidade ressaltar para a multidão presente àqueles
cometimentos, causando-lhes forte Impressão e gravando-lhes na mente, a ideia de
que o Messias já estava entre os homens, ali mesmo em meio ao povo. Materialização
da figura emblemática de uma pomba, representando a pureza do Cristo e voz
direta a anunciá-lo como enviado de Deus.
E, como sabemos, apesar de todas as providências nesse
sentido, desde aquela época até os dias atuais, muitos deixaram de reconhecer
Jesus como aquele cuja vinda, os profetas haviam anunciado para a redenção da
Humanidade.
Algum tempo depois, em meio à sua missão, Jesus recebe a
visita de discípulos de João e lhes afirma: “Em verdade vos digo: Nenhum dentre
quantos hão nascido de mulher foi maior do que João Batista (...) (Mateus, Cap.
XI, v. 1) foi a única referência direta de Jesus sobre a condição espiritual
hierárquica de algum de seus colaboradores.
Segundo a narrativa de João Evangelista (Cap. III, v. 30),
o Precursor fora protagonista de um dos mais belos exemplos de lucidez
espiritual, comunhão com o Alto (inspiração}, reverência ao Mestre e humildade
ao afirmar: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua.” Referia-se ao
crescimento da missão de Jesus, para onde deveriam convergir todas as atenções
humanas e espirituais e. para tanto, era necessário que a sua participação,
preparatória para a do Cristo, se encerrasse. O que de fato ocorreu.
A Mediunidade nos
Evangelhos – 4/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Outubro
1994
A multiplicação dos pães e dos peixes
Mas Jesus lhes disse: Dai-lhes vós mesmos de comer. Ao
que eles replicaram: Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este
povo, pois não temos mais que cinco pães e dois peixes. Eram cerca de cinco mil pessoas. Jesus tomou os cinco
pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu e os abençoou, depois os partiu
e entregou aos discípulos para que os distribuíssem pela multidão. Todos
comeram, ficaram saciados e ainda encheram doze cestos com os pedaços que
sobraram (Lucas, Cap. IX, vv, 13 a 17). (Destacamos.)
A multidão fora ao encontro de Jesus para ouvi-lo e
muitos havia que, enfermos, foram curados pelo Divino Médico. A situação ensejava
uma nova lição e ao mesmo tempo uma demonstração da generosidade e do caráter
marcante das ações do Mestre, com vistas ao reconhecimento dos homens, de então
e do futuro, de sua condição de guia da humanidade terrestre a fim de levá-la à
redenção.
Para que a multidão fosse saciada bastaria a poderosa
vontade do Cristo a manipular certos fluidos que, atuantes nas pessoas
presentes, fariam cessar suas necessidades momentâneas. Mas a multiplicação dos
pães e peixes causaria uma impressão muito maior do que houvera causado a
vontade de Jesus operando aqueles fluidos. Era mister que um efeito físico se
desse diante daqueles observadores materiais.
Desta feita, a manifestação superior não envolvia apenas
uns poucos protagonistas. como no caso dos magos, em que a faculdade de vidência
que possuíam possibilitou o episódio da estrela-guia. Aqui, o milagre se daria diante de cinco mil
pessoas, como afirma a própria narrativa de Lucas.
E a natureza do fenômeno mediúnico seria outra, adequada,
como sempre, às circunstâncias. Os fenômenos de efeitos físicos são incomuns,
mas, como sabemos, muito marcantes. A ectoplasmia, ou a manipulação, pelos
Espíritos, de fluidos densos que certas pessoas, ou outros elementos da
natureza podem despender é a base das materializações e dos fenômenos de
transporte. A partir dos pães e peixes que detinha, Jesus atraia os fluidos
ectoplasmáticos apropriados à produção de tais alimentos e os tornava, juntamente
com os Espíritos prepostos à produção de tal efeito, visíveis e tangíveis,
dando-lhe o aspecto, a forma e o sabor dos alimentos originais, além de
propriedades nutritivas suficientes para satisfazer as necessidades da multidão
faminta. Os pedaços de pão e peixe eram depositados nos cestos e servidos pelos
discípulos e se renovavam indefinidamente, sempre mediante a intervenção dos
Espíritos, até que todos fossem atendidos.
Os discípulos e a multidão ficaram vivamente impressionados
com o ocorrido que, juntamente com outros tantos fatos, serviu para chamar para
si a atenção de todos, como era necessário, diante dos ensinamentos morais que
o Mestre legaria ao homem, e que tanto precisariam ser conhecidos, valorizados
e vividos. A narrativa de João sobre o episódio ressalta este aspecto (Cap. VI,
v. 16): Tendo visto o milagre que Jesus fizera, toda aquela gente dizia: Este é
verdadeiramente o profeta que tinha de vir ao mundo.
O pão espiritual era o principal alimento que Jesus vinha
oferecer à sua Humanidade e seria distribuído fartamente por todos os tempos,
através da Boa Nova. Foi o próprio Mestre quem disse: Trabalhai por ter, não o
alimento que perece, mas o que se conserva para a vida eterna e que o Filho do
Homem vos dará, porque foi nele que Deus, o Pai, imprimiu seu selo e seu
caráter. E afirmou ainda: Eu sou o pão da vida, aquele que vem a mim não mais
terá fome ... (João, Cap. VI, vv. 27 e 35.)
A Mediunidade nos
Evangelhos – 5/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Novembro 1994
O caso de Maria Madalena
Maria, porém, se
conservou do lado de fora, perto do sepulcro, chorando. E como, a chorar, se
abaixasse para olhar dentro do sepulcro, viu
dois anjos vestidos de branco, sentados no lugar onde estivera o corpo de
Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Eles
lhe perguntaram: Mulher, porque choras? Ela respondeu: Porque levaram o
meu Senhor e não sei onde o puseram. Tendo dito isso, voltou-se para trás e viu a Jesus de pé, mas sem saber que
em ele. Perguntou-lhe então Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela,
julgando que fosse o jardineiro, lhe disse: Senhor, se foste tu que o tiraste,
dize-me onde o puseste e eu o levarei. Jesus
lhe disse: Maria! Ela, voltando-se lhe disse: Mestre! Disse-lhe Jesus: Não
me toques, pois que ainda não subi a meu Pai... (João, Cap. XX, vv. 11 a 17.)
Elas partiram apressadamente do sepulcro, amedrontadas,
mas ao mesmo tempo cheias de contentamento e correram a dar a notícia aos discípulos.
E eis que Jesus lhes surgiu diante e
disse: Salve! Elas se aproximaram dele, abraçaram-se lhe aos pés e o adoraram (Mateus,
Cap. XXVIII. vv. 8 e 9).
Maria Madalena foi ao sepulcro, ao nascer do sol, com os
aromas que havia comprado e preparado para o embalsamamento do corpo de Jesus.
Era médium vidente e audiente, percebeu a figura dos anjos ou Espíritos
superiores e estabeleceu com eles o diálogo a respeito do desaparecimento do
corpo de Jesus.
Jesus, com fisionomia distinta daquela conhecida de
Madalena, apresenta-se lhe e estabelece-se novo diálogo entre a médium e, desta
feita, o Mestre. Maria não o reconhece de pronto.
Jesus se mostra, então, com seu semblante e voz habituais
e ela o reconhece. Tal era sua alegria por sabe-lo vivo, ela que tanto amava
aquele seu Mestre, que desejaria, num impulso, toca-lo. Mas Jesus sabia que
eram seus olhos espirituais que permitiam que ela o visse e que se buscasse
tocá-lo, seria em vão. E recomenda que não o fizesse. Esta recomendação sugere
que a mediunidade de vidência que ela possuía era de alto grau, haja vista que
é uma característica dos médiuns que a possuem poderem confundir a realidade
espiritual com a do plano físico, julgando pessoas comuns, Espíritos desencarnados.
A primeira aparição de Jesus a Maria Madalena foi
simplesmente visível e audível, mas não tangível.
Mas, segundo a narrativa de Mateus, algumas mulheres
estavam, em outro momento, junto a Madalena. Eram Maria, mãe de Tiago e Salomé,
Joana e outras. Desta feita, apesar de todas serem médiuns videntes e audientes,
uma qualidade diferente de manifestação se dava: Jesus se lhes apresentou visível
e tangível, tal qual elas o haviam conhecido. Era um caso de efeito físico de
ectoplasmia, em que Jesus materializado deixou-se ver, ouvir, abraçar... Há
referências de que o ectoplasma de que se servira Jesus em muitas circunstâncias,
provinha de fontes diversas: Maria de Nazareth, e alguns de seus apóstolos e
ainda os vinhedos e trigais abundantes naquelas regiões. Cremos também que, em face
da plêiade de médiuns identificados e anônimos que o cercaram, essas fontes
estiveram sempre próximas do amado Mestre.
E Jesus lhes recomendou que avisassem aos seus irmãos, os discípulos, que fossem
à Galileia porque lá o veriam. Como sabemos, Jesus faz outras aparições, como
na estrada de Emaús aos dois discípulos. E estes também noticiam sobre o Cristo
aos onze apóstolos que neles não acreditam, como não haviam crido em Madalena e
nas demais mulheres. Só acreditam quando Jesus apareceu a eles próprios. E tudo
se deu para que a ressurreição prometida se patenteasse aos olhos de muitos e,
com ela, a Imortalidade da alma.
Maria Madalena, como ressalta Emmanuel, foi a primeira
pessoa a quem Jesus visitara, na sua ressurreição. Por que razões profundas
deixaria o Divino Mestre tantas figuras mais próximas de sua vida para surgir
aos olhos de Madalena, em primeiro lugar? Dentre os vultos da Boa Nova, ninguém
fez tanta violência a si mesmo, para seguir o Salvador, como a inesquecível
obsidiada de Magdala. Com seu gesto inesquecível, Jesus ratificou a lição de
que a sua doutrina será, para todos os aprendizes e seguidores, o código de
ouro das vidas transformadas para a glória do bem. E ninguém, como Maria de
Magdala, houvera transformado a sua à luz do Evangelho redentor.
Depois de ver e abraçar o Cordeiro de Deus, Maria
confirma sua renovação espiritual e vai ao encontro dos leprosos que procediam
da lduméia, cansados e tristes, a fim de dar-lhes notícias da Boa Nova, das
palavras de esperança que o Mestre deixara aos seus tutelados, contagiando-os
com sua alegria e com sua fé. Lenindo lhes as chagas físicas e morais e abdicando
do mundo para sempre, dedica-se inteiramente aos aflitos daquele vale de
lágrimas, até o fim de seus dias.
A Mediunidade nos
Evangelhos – 6/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Dezembro 1994
Certos doentes...
Ora, sucedeu
achar-se na sinagoga um homem possuído de
um espírito imundo, que exclamou:
Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste
para nos perder? Sei quem és: és o santo de Deus. Jesus, em tom de ameaça, disse-lhe:
Cala-te e sai desse homem. Logo, o espírito impuro agitando-o em convulsões
violentas e soltando um grito estridente, saiu do homem. (Marcos, Cap. I, vv.
23-26)
Apresentaram lhe então um homem cego e mudo, possesso do demônio. Ele o curou, de sorte
que o homem começou a ver e a falar. (Mateus, Cap. XII, v. 22.)
Jesus perguntou ao pai do menino: Desde quando isso lhe
sucede? O pai respondeu: Desde a infância; e
o espírito o tem muitas vezes lançado ora à água ora ao fogo, para faze-lo perecer.
Jesus, vendo o povo acorrer, ameaçou o espírito impuro, dizendo: Espírito surdo e mudo, eu te ordeno, eu:
Sai deste menino e não entres mais nele. (Marcos, Cap. IX, w. 21, 22 e 25.)
Um dia, viu ali uma
mulher possuída de um espírito que a punha doente, havia dezoito anos; era
tão curvada que não podia olhar para cima. Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse;
Mulher, estás livre da tua enfermidade. E, Impondo-lhe as mãos, ela se
endireitou no mesmo instante e rendeu graças a Deus. (Lucas, Cap. XIII, vv.
10-13.}
A mediunidade, já o sabemos, é elemento de ligação entre
seres de dois planos de vida diferentes. Jesus, o Mestre, em meio a tantos ensinamentos,
retificou também a influência espiritual, invisível portanto, até que fosse
desvendada, como elemento causal de moléstias humanas, físicas e morais. É imperioso
reconhecer este fato porque ele dá margem a uma verdadeira revolução na compreensão
dos mecanismos causadores ou agravantes de muitas enfermidades. Apesar dos
progressos da ciência médica, especialmente nas últimas décadas do esclarecimento
sobre a etiopatogenia e fisiopatologia das doenças orgânicas, há, ainda, muito a
ser conquistado sobre as origens das mesmas para que a eficácia da terapêutica
médica seja superior à dos nossos dias e para que uma medicina mais curativa e
menos paliativa venha a se tomar realidade.
E sobre a doença mental, muito maior é a distância a ser
percorrida tendo em vista o apenas o acanhado progresso feito pela Psiquiatria,
até o presente. Muito possivelmente, por tratar-se de processo que envolve a
mente humana e por ser esta muito facilmente alcançada pelas influências do
plano invisível, qualquer evolução mais substancial sobre psicopatologia e,
consequentemente, da terapia das doenças mentais, terá que passar pelo caminho
da realidade espiritual e das Interações entre seres em desarmonia e fisicamente
vinculados por induções e ressonâncias espirituais.
Só o conhecimento da tecitura perispiritual, elemento de
ligação entre o Espírito encarnado e seu organismo físico, matriz sutil deste
último e sede de desarmonias adquiridas no passado e das leis que regem as influências
dos Espíritos sobre os homens e vice-versa, permitirão a elucidação definitiva
de muitas enfermidades que assolam a humanidade deste orbe. A partir disso,
abrir-se-ão novos rumos terapêuticos.
Enquanto isso não se dá, graças ao entendimento que o
Evangelho e a Doutrina dos Espíritos nos facultam as atividades de desobsessão
vão-se multiplicando nos núcleos espíritas, em assistência crescente às
multidões de Espíritos que vivem em meio a sombra densa da ignorância e da
revolta, do ódio e da oposição sistemática e histórica aos princípios elementares
da proposta evangélica de amor e de progresso. Como atuam vivamente sobre o ser
humano encarnado, seja em nível mental, seja vencendo as barreiras naturais e
penetrando na estrutura perispiritual e orgânica destes, transferem-lhes,
voluntária ou involuntariamente seu contexto íntimo desarmônico, suas dores e
suas vibrações em desatino.
É preciso lembrar, como afirma Kardec em “A Gênese” que,
naquela época, os hebreus acreditavam na influência dos maus Espíritos, na
maior parte das enfermidades humanas. Durante muitos séculos, o homem manteve
esta crença mas, como não encontrou método ou mecanismo para a detecção e
análise sistemáticas dessa participação do Invisível nem soube livrar-se da influência
dos Espíritos inferiores, porque não reconheceu o valor da necessidade de sua
evolução moral e evangelização, do cultivo do perdão e da fraternidade, para
que gradativamente os liames dolorosos e vínculos de sombra se dissipassem, foi
buscar no próprio cérebro a causa destes males. Aí só encontrou os efeitos nas intrincadas
redes neuronais e na bioquímica complexa e variada.
E é no próprio Evangelho que ele pode encontrar tanto as
evidências da influenciação de criaturas perniciosas sobre os encarnados,
chegando ao extremo da possessão e subjugação, como a noção muito claramente
estudada pelo Espiritismo de que os algozes e as vítimas se revezam e se influenciam
mutuamente na esteira do tempo e das reencarnações. E como não poderia deixar
de ser, de que só a renovação dos sentimentos, a substituição voluntária das viciações
em torno do egoísmo pelas virtudes da alma, a partir do esclarecimento das
criaturas sobre seus sofrimentos e suas causas, poderá reverter tão doloroso
quadro espiritual de nossa Terra. Quebrar-se-ão, enfim, as cadeias fluídicas
que nos atrelam uns aos outros, auferindo o Espírito imortal e redimido o galardão
da liberdade e da vitória sobre si mesmo.
A Mediunidade nos
Evangelhos – 7/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Janeiro 1995
A
transfiguração do Tabor
Seis dias depois,
Jesus chamou a Pedro, a Tiago e a João, irmão de Tiago e, afastando-se com eles,
os conduziu a um monte elevado. E ele se
transfigurou diante deles; seu rosto resplandeceu como o sol, suas vestes se
tornaram como a neve. E eis que lhes aparecerecem Elias e Moisés, que com ele falavam.
Disse então Pedro a Jesus: Senhor, estamos bem aqui; se quiseres faremos três
tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias. Pedro ainda falava quando uma nuvem luminosa os cobriu e uma voz
que da nuvem saia, disse: Este é meu filho diletoem quem hei posto todas as mlnhas
complacências; escutai-o. Ouvindo Isso os discípulos caíram de rosto em
terra, presos de grande temor. Jesus se aproximou, tocou-os e lhes disse:
Levantai-vos e não temais. Erguendo então os olhos, eles a ninguém mais viram
senão somente a Jesus (Mateus, Cap. XVII, vv. 1-8).
Quando um Espírito encarnado
opera, com o concurse de seus mentores ou auxiliares, certas transformações na
sua textura perispiritual, notadamente no seu envoltório, e estas se Irradiam
em torno do corpo, qual atmosfera fluídica, pode ocorrer na superfície mesma do
corpo uma mudança do seu aspecto habitual. É como se aquele não mais tivesse o
perispírito todo contido em si, como se uma parte se extravasasse além das suas
fronteiras. E essa parte, no caso de um Espírito superior, apresenta-se radiosa
e bela, cobrindo ou substituindo a imagem corpórea.
Este fenômeno, do rol dos chamados efeitos físicos, é incomum
e conhecido como transfiguração. Ele também pode ocorrer com Espíritos desencarnados,
analogamente. Quando os chamados agêneres, tomando um corpo de ectoplasma denso
e visível, a revestir seu perispírito com vistas ao desempenho de tarefa mais
ou menos longa, modificam sua aparência para obter novo efeito sobre os que
lhes partilham a situação, transfiguram-se.
No episódio do
Tabor, por meio da transfiguração, Jesus retoma por alguns momentos, à vista
dos discípulos, atributos de sua natureza sublime, desconhecidos deles, até
então. Ainda assim, adequando à condição dos três escolhidos, de o suportarem.
A pujante manifestação se dá após ter Jesus antecipado aos discípulos a necessidade
de que fosse ele a Jerusalém, fosse morto e ressuscitasse.
Foi mais uma oportunidade de o Mestre reafirmar sua
elevadíssima condição de Cristo Divino e estabelecer uma relação de imenso significado
entre a revelação moisaica e a sua missão. Moisés e Elias haviam prometido a
vinda do Messias. Vê-los juntos e dialogando com a resplandecente figura do
Cristo revelava-lhes a superioridade deste em relação àqueles a quem Deus havia
entregado os destinos do povo hebreu, ao mesmo tempo em que mostrava a
continuidade da Revelação, agora sob os vívidos auspícios do filho do Homem. A
presença dos dois santificava e sancionava, aos olhos dos apóstolos, a missão
que Jesus desempenhava. Com isso, cumpria-se mais um item da preparação
daqueles apóstolos para os cometimentos previstos, reforçando lhes a fé, tanto
para que suportassem os dolorosos e decisivos momentos que o Mestre viveria no
Calvário, como para o futuro de suas graves responsabilidades Junto à divulgação
da Boa Nova, após sua ascensão.
Repetindo a ocorrido quando do encontro de Jesus com João,
o precursor, nas margens do Jordão, dá-se a fenômeno de voz direta, anunciando:
“Este é meu filho dileto em quem hei
posto todas as minhas complacências; escutai-o.” Deus não se comunica
diretamente com os homens, mas sim pelo concurso dos Espíritos prepostos. Era
como se o Pai o apresentasse, desta feita aos apóstolos e, por conseguinte, a
toda a Humanidade. Tal o impacto do que fora visto e ouvido que os três se
prostram, amedrontados, diante de
Jesus.
Pedro, em decorrência da tradição hebraica, acreditava
que Moisés e Elias haviam ressuscitado e tinham novamente corpos de carne,
justificando a construção de três tendas. Tudo indica que ambos foram
percebidos pelos apóstolos por aparição ou ectoplasmia e não por simples vidência.
João, Tiago e Pedro, escolhidos que foram para tão
espetacular vivência, testemunharam as providências do Alto para que, no futuro,
a nossa Humanidade, uma vez conhecendo aqueles fatos pelas narrativas dos
evangelistas, soubesse da unicidade das revelações sobre a Verdade, que culminaria
com o advento do Consolador e que teria que ser conhecida e vivida,
integralmente.
A Mediunidade nos
Evangelhos – 8/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Fevereiro 1995
Os Evangelistas
Disse então Jesus a
seus discípulos: Se alguém quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e siga-me, porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá
e aquele que perder a vida por minha causa a encontrará. (Mateus, Cap. XV vv.
24 e 25).
E, chamando para junto de si o povo e os discípulos,
disse: Se alguém me quiser acompanhar, renuncie a si mesmo, carregue a sua cruz
e siga-me, porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá, mas aquele que
perder a vida por minha causa e do Evangelho a salvará (Marcos, Cap. VIII, vv.
34 e 35).
E dizia a todos: Se alguém quiser vir nas minhas pegadas,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; porquanto, aquele que quiser
salvar a vida a perderá e aquele que perder a vida por minha causa a salvará (Lucas,
Cap. IX. vv. 23 e 24).
Dos quatro livros que narram a Boa Nova, legado de amor
sublime e luz eterna do Divino Mestre, os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas
apresentam entre si tais semelhanças que, muitas vezes, como nestes versículos,
podem ser colocados juntos e abarcados com “um só olhar”, daí serem chamados
sinóticos.
Ao que se sabe, os três livros foram escritos pelos
evangelistas, em lugares, ocasiões e idiomas distintos, daí a notabilidade de
suas concordâncias, tão marcantes e tão numerosas, que excedem as
possibilidades da memória, mesmo a dos antigos e dos orientais.
Mateus, o publicano, pertencente ao colégio dos doze apóstolos,
escreveu o primeiro; tê-lo-ia redigido na Palestina, em língua hebraica, o
aramaico, depois foi traduzido para o grego. Marcos, nativo de Jerusalém, (Atos,
12:12) e discípulo de Pedro, escreveu o segundo na língua helênica não tendo
sido como Mateus testemunha ocular dos fatos que narrou. Há quem afirme que a
convivência com o pescador de Cafarnaum é que permitiu a Marcos redigir este
Evangelho, baseado, portanto, na memória de Pedro. Lucas, natural de Antioquia,
na Síria, médico (Colossenses 4: 14) e amigo de Paulo, ter-se-ia convertido ao
Cristianismo após a morte de Estêvão e editou o terceiro livro, também em grego,
sem qualquer experiência pessoal junto ao Mestre. Na qualidade de amigo e colaborador
dos apóstolos, acompanhou Paulo na segunda e terceira excursões missionárias,
fazendo-lhe, também, companhia nos cárceres de Cesaréia e de Roma. Esta
convivência teria sido fundamental para que Lucas conhecesse os fatos sobre os
quais se dedicaria a registrar. Além disso, esteve muito tempo junto a Maria de
Nazaré.
A chamada questão sinótica ensejou diversas tentativas de
solução, exaustivamente analisadas pelos estudiosos do Cristianismo durante todos
estes séculos. Mas, nenhuma delas, de per si, fora capaz de, satisfatoriamente,
esclarecer a questão.
Os evangelistas haviam sido escolhidos pelo Mestre para a
especial tarefa de registrar os fatos mais marcantes que deveriam tornar-se
conhecidos pela Humanidade e permanecer ao alcance de todos aqueles que
desejassem encontrar um roteiro seguro para guia-los pela estrada do progresso
espiritual, nos séculos porvindouros. Para tanto, serviu-se Jesus de homens de
especial sensibilidade mediúnica, profundamente afinizados com os objetivos da Boa
Nova e da sua divulgação. Inspirados pelos Espíritos superiores, independentemente
de suas origens, de onde se encontrassem ou de seus idiomas nativos, receberam
os conteúdos fundamentais da mesma fonte espiritual, muitos anos após a ascensão
do Nazareno, em tarefa sob sua própria égide. A psicografia foi o recurso que
possibilitou a garantia da permanência da Verdade. E as coincidências que tanto
intrigaram os estudiosos atestam a gravidade dos ensinos que ficaram e a origem
espiritual comum, ao mesmo tempo que sugerem um caráter ao menos semimecânico da
mediunidade psicográfica utilizada e comum aos evangelistas. Por seu turno, as
diferenças também se justificam. A medida que, por mais intensa a atuação da
espiritualidade, os matizes ou alguma influência anímica de cada um dos
evangelistas, também se fizeram notar.
O quarto Evangelho, não sinótico, porque não estritamente
concordante com os três primeiros. Foi escrito por João, filho de Zebedeu e
natural de Betsaida. Como Mateus, pertenceu ao grupo dos doze apóstolos, que
privaram com o Mestre e o teria redigido já em idade avançada, possivelmente em
Éfeso. Apesar disso o Evangelho de João difere notavelmente dos três primeiros
quer quanto ao conteúdo, quer quanto à forma e, supondo-os conhecidos,
completam-nos. João, corno os demais, era médium inspirado e o que escreveu está
em luminosa harmonia com os anteriores, desde que entendido segundo o “espírito
que vivifica”.
Ao se reconhecer a importância da mediunidade dos evangelistas
na elaboração da Boa Nova confirma-se a noção, que o Espiritismo enseja de que
o planejamento superior para o progresso da criatura humana encarnada passa,
obrigatoriamente, pela presença do Mundo Maior, fonte inesgotável da Verdade, a
derramar-se sobre o Espírito em mergulho transitório na carne e a envolvê-lo em
um campo divinal, agente facilitador e dinamizador de seu progresso.
A Mediunidade nos
Evangelhos – 9/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Maio 1995
As predições
Jesus respondeu! Vede que ninguém vos engane, pois que muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o
Cristo, e a muitos enganarão. Haveis de ouvir falar de guerras e de rumores de
guerra. (...) pois nação se levantará contra nação, reino contra reino, e
haverá pestes, fomes e terremotos em diversos lugares. Todas estas coisas,
porém, são apenas o princípio das dores, Muitos falsos profetas se levantarão e
seduzirão a muitos. E, porque abundará a iniquidade a caridade de muitos
esfriará. (Mateus, Cap. XXIV, vv, 4 a 8, 11 e 12.)
Subindo para Jerusalém, Jesus chamou de parte os doze discípulos
e lhes disse: Vamos para Jerusalém e o filho
do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas que o
condenarão a morte. Entregá-Io-ão aos gentios para que seja escarnecido, flagelado
e crucificado. E ele ao terceiro dia ressuscitará. (Mateus, Cap. XX, vv. 17a
19.)
Tenho-vos dito
estas coisas, estando ainda convosco. Mas
o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará
das coisas e vos fará. lembrar tudo o que vos tenho dito. (João. Cap. XIV,
vv. 25 e 26.)
Há muito, desde a Antiguidade, o Ser humano percebeu que
a sucessão dos fatos transcorridos diante de seus olhos estava vinculada a
passagem do tempo, um referencial que estabelece que é passado o conjunto das
vivências que ele não está mais a experimentar em seu presente. Mas o futuro, a
continuação ou projeção da sua realidade atual, o homem sempre buscaria
adentrar, através de indagações à sua própria consciência ou consultando
médiuns de todas as épocas e que, na esteira do tempo, vislumbraram os
acontecimentos futuros, antecipando-os.
Objeto de perquirições
de toda sorte e motivo de intensa busca, interessou a muitos, nobres e doutos, indivíduos
e reinos, por motivos dignos, como instrumento de auxílio visando ao progresso,
mas, muitas vezes por razões menores, por vezes torpes, envolvendo dominações
entre povos, lutas sectárias, particularismos e ambições desmedidas pelos
poderes transitórios.
A faculdade de pressentir as coisas porvindouras é um
atributo da alma e se explica pela teoria da presciência. Trata-se de processo
anímico-mediúnico, quando a alma se desprende e adquire, em maior ou menor
grau, condições de Espírito livre. Muitas vezes se dá por inspiração, vidência,
audiência ou psicofonia. Em se tratando de Espíritos adiantados e especialmente
se em missão para este efeito, poderão abarcar um período bastante longo,
percebendo-o como se fora o presente. Para estes Espíritos, já sem vínculos com
a matéria, o espaço e o tempo, os referenciais de nosso mundo deixam de
existir.
Jesus-Cristo, Protetor e Governador de nosso Planeta, “médium
de Deus”, é superior a todas as almas que, através dos milênios, estiveram
vinculadas aos objetivos evolucionários de nosso orbe, nos dois planos
existenciais, como Espíritos livres ou retidos transitoriamente na carne. Farol
de luz sublime, intermediava os desígnios divinais, diretamente à Terra,
através do concurso de seus auxiliares. Pela sua condição e pelas características
de sua missão terrena, esteve acompanhado de uma plêiade de Espíritos
Superiores, seus prepostos, muitos deles encarnados, e os poderes espirituais
que Ele possuía, incluindo o da presciência, eram em grau superlativo.
Desde a lei antiga
e os profetas do Velho Testamento, a Humanidade possui em seus registros
narrativas que anteciparam por muitos séculos os fatos mercantes relacionados
aos destinos humanos. Jesus, como atestam os Evangelhos, legou-nos os mais
belos e marcantes exemplos de sua presciência, de sua condição de antecipar os
cometimentos que se dariam desde o futuro mais próximo, marcadamente os acontecimentos
que os apóstolos e discípulos viveriam, até aqueles que se dariam milênios
adiante, além de fazer os mais graves prognósticos sobre as situações e
dificuldades por que passaria o orbe terreno, durante o longo período de suas
lutas redentoras.
Com essas e muitas outras predições Jesus selou para
sempre a aliança entre os homens e seus destinos espirituais, mostrando-lhes
que uma percepção extraordinária da Vida era possível, como decorrência da
repercussão vibratória que o existir humano projeta em torno de si.
Em graus diversos e sob variadas formas, as grandes
religiões da Antiguidade tiveram pessoas inspiradas que pretendiam falar em
nome de seu deus. Em especial, entre os povos vizinhos de Israel, um caso de
êxtase profético é relatado em Biblos no século XI a.C.; é atestada a
existência de videntes e de profetas em Hama, no Orontes no século VIII a.C.
Quanto à forma e ao conteúdo, suas mensagens, dirigidas ao rei, parecem-se com
as dos mais antigos profetas de Israel, mencionados no Antigo Testamento.
Foram muitos os profetas de Israel e suas narrativas
estão conservadas nas Escrituras. O profetismo foi uma de suas mais marcantes
características. Em muitas passagens depreende-se que os profetas tinham consciência
da origem “divina” de suas palavras, e acreditavam-se seus mensageiros e
intérpretes. A mensagem recebida era transmitida pelo profeta em formas
variadas: em trechos líricos ou em relatos em prosa, em parábolas ou às claras,
no estilo breve dos oráculos, mas também utilizando as formas literárias do
sermão, do processo, dos escritos de sabedoria, ou dos salmos culturais, das
canções amorosas, da sátira, das lamentações fúnebres.
Em meio ao fulgor da religiosidade hebraica, manifesta-se
o planejamento da vinda de Jesus. A presença do Messias, do Salvador, do Ungido
de Deus foi antecipada especialmente por Isaías, Miquéias e Jeremias. “Ele será
da casa de David e sairá como ela, de Belém de Efrata. Recebera os mais
magníficos títulos e o Espírito de Deus repousará sobre Ele com todo o cortejo
de seus dons" - vaticinaram esses mesmos profetas. Zacarias anunciara “a
vinda de um rei, mas que será humilde e pacífico". Ezequiel descreve-o antes
como um mediador e um pastor do que como um soberano poderoso, Também Isaías
prediz: “O Servo de Deus não terá projeção humana, será rejeitado pelos seus,
mas alcançará a salvação deles ao preço de sua própria vida.” E Daniel vê
chegar sobre as nuvens “um como que filho do homem, que recebe de Deus um domínio
sobre todos os povos, um reino que não passará".
Ao vir à Terra Jesus cumpre as previsões, refere-se ao
Antigo Testamento dizendo-se Aquele ali anunciado e, por sua vez, estabelece na
Boa Nova o recurso precioso da antecipação.
E, para assinalar indelevelmente a importância de sua
capacidade premonitória, selando com fatos objetivos e imediatos a condição de
realidade das profecias, Jesus, ao mesmo tempo que previa a derrocada de civilizações
endurecidas pelas violações e anestesia dos sentidos, e prometia o reino de
Deus aos mansos e pacíficos, bem como o advento do Consolador, envolvia-se na
previsão de fatos mais próximos, facilmente comprováveis, como a negação de
Pedro, a traição do discípulo imaturo e o seu próprio ressurgimento após o
drama do Calvário.
A profecia, seja ela de que natureza for, constitui um
apelo dos planos espirituais da Vida, com o objetivo de suprir a cegueira
humana e oferecer testemunhos da Realidade Superior que cerca a Humanidade
encarnada. Os profetas foram e são ainda aqueles que vão na frente da grande
caravana do progresso espiritual das coletividades, como sentinelas avançadas, incumbidas
de aplainar os caminhos para seus irmãos. Embora nem sempre os seres humanos
respondam a tempo, por falta de sensibilidade ou de coragem para encarar a
realidade existencial, a Espiritualidade Superior demonstra, desse modo, que os
seres em fases mais acanhadas de evolução não se encontram nunca ao desamparo.
A Mediunidade nos
Evangelhos – 10/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Junho 1995
A cobertura
espiritual
Tendo reunido os
doze apóstolos, Jesus lhes deu poder sobre os Espíritos impuros, a fim de que
os expulsassem e o de curar todas as doenças e enfermidades ... Ide e pregai!...
Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos... Sereis levados por minha
causa à presença dos governadores e dos reis... não vos cause inquietação o
como haveis de falar, nem o que direis... Porquanto não sois vós quem fala, é o
Espírito de vosso Pai quem fala por vós. (Mateus, Cap. X. vv. 1, 7, 16 e 18 a
20.)
Os setenta e dois
discípulos voltaram cheios de alegria... E Jesus lhes disse: ...Vedes que vos
dei o poder de esmagar todas as serpentes, os escorpiões e todo o poder do
inimigo... (Lucas, Cap. X, vv. 17 a 19.)
Vou mandar-vos o dom de meu Pai que vos foi prometido;
permanecei, entretanto, na cidade até que sejais revestidos do poder do alto.
(Lucas, Cap. XXlV, v. 49.)
Os apóstolos e os discípulos eram médiuns, intermediários
entre os Espíritos superiores que os assistiam e os homens. Com o auxílio das
faculdades mediúnicas é que eles laboraram e falaram, no desempenho de suas
missões, no desdobramento e na extensão da luz e da Verdade.
Eram Espíritos elevados, encarnados em missão, que
aceitaram as condições rigorosas da primeira fase de suas existências humanas,
a que antecedeu à vocação, a fim de concorrerem para a obra de redenção. Em
seus trabalhos tiveram o auxílio dos Espíritos superiores que os acompanharam
sempre, neutralizando neles a influência da carne sobre o Espírito. Desse
concurso resultaram as grandes coisas que os apóstolos realizaram.
Eles aceitaram aquela existência humana, cuja primeira
parte devia transcorrer em condições tão humildes quanto vulgares, a fim de
melhor fazerem sentir aos homens a transformação do portageiro, do pescador
ignorante em homens inspirados, manejadores de todos os idiomas e capazes de operar
prodígios à vista das nações espantadas.
Deu-lhes Jesus poder e autoridade sobre os Espíritos maus
e ignorantes, a condição de curar os males e enfermidades de “ressuscitar” os mortos,
de purificar os leprosos, através da assistência dos Espíritos superiores,
sustentados estes se necessário, pelos Espíritos puros.
Ao referir aos apóstolos que quem falaria diante dos
governadores e reis seria o Espírito de vosso Pai. O Mestre fez questão de
ratificar a cobertura espiritual que daria aos seus seguidores, para que eles,
homens saídos do povo sem educação e sem maneiras, depositassem confiança na
inspiração e seguissem na árdua tarefa da divulgação da Boa Nova. Certos de que
a Inspiração do Espírito Santo (Lucas, Cap. XII, v. 12.) os ampararia, avançaram
com passos firmes para os desafios do gigantesco empreendimento.
Pelas locuções
Espírito Santo e Espirito de vosso Pai designam-se os Espíritos puros. os Espíritos
superiores e os bons Espíritos que o Senhor envia para guiar ou Inspirar os que
têm por missão fazer triunfar a Verdade.
Interessante notar que essas promessas aos apóstolos e
discípulos, bem como suas realizações preliminares foram feitas antes do Calvário
e se deram quando Jesus estava ainda na fase de prepará-los para os cometimentos
futuros, acompanhando-os amorosamente. Mas aquela última, quando lhes sugere
que permanecessem na cidade de Jerusalém até que fossem revestidos de um poder
do Alto, ocorrera numa de suas aparições, após o sacrifício na cruz e, dessa
maneira, sob o véu da letra, o Mestre os prevenia do episódio que marcaria em
definitivo essa cobertura espiritual como aconteceria no dia de Pentecostes,
narrado em Atos dos Apóstolos. Tudo para que confiassem em si próprios e não
deixassem que a ausência física do Mestre, dali em diante, os tornasse
inseguros. A própria “ressurreição” deixava claro que Ele não só não morrera
como, também, estaria zelando por todos eles e pela continuidade da tarefa.
E a promessa de proteção espiritual era para todos os
tempos, assegurando o auxílio do Alto para os seguidores fiéis do Sublime Nazareno,
que seriam enviados a todas as partes do Planeta, nos séculos do porvir, para
darem continuidade A Causa do Evangelho. No contexto de uma Humanidade
paupérrima de virtudes da alma, sua evolução espiritual é dependente dessa
presença invisível de falanges superiores a sustentar os obreiros sinceros, dinamizando
o processo milenário no sentido de tomar este mundo um Reino de Deus.
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