O poder
temporal do Papa
por Fernando Coelho
Reformador (FEB) Outubro
1918
Como não deve doer
na consciência dos que estudam, serenamente, desapaixonadamente, como nós, o
dogmatismo católico, apenas impulsionados pelo amor da verdade e guiados pela
norma do bom senso, o contraste amargo e triste entre a vida humilde do Cristo e
o luxo nababesco com que se rodeia, aparatosamente, aquele que se inculca o príncipe
da sua igreja na Terra!
Não se compreende, com efeito, que uma religião paramente
espiritual, de origem divina, subscreva com o aplauso do silêncio criminoso dos
seus crentes o que se nos afigura, como a qualquer pessoa, tão deprimente
quanto ilógico e injustificável: o poder temporal do Papa.
Será que sua Eminência Reverendíssima não possa, do alto
do seu régio trono pontifício, vestido de ouro e púrpura, cercado de baionetas pagas
pelos óbolos dos incautos, apostolar as sublimes práticas de Jesus senão com a
sólida garantia de um governo e a consequente renda fabulosa do tesouro de um Estado?
O Vaticano é um monumento que a soberba e orgulho católico
ergueram num delírio megalomaníaco de grandeza, à pomposa exterioridade material
dos seus ritos.
A perniciosa influencia desse poder temporal, através das
idades, é fruto que os historiadores registram e os sociólogos comentam.
A intervenção direta do papa em todas as questões meramente
políticas que tem convulsionado o mundo, máxime
na era negra dos tempos medievais, bem demonstra que Sua Eminência mais se preocupa
com as pendengas das chancelarias do que com a salvação das almas do seu
descuidado aprisco.
As
lutas entre Roma e os Imperadores da Alemanha, o modo que o papa se imiscuía nas
sucessões de tronos e negócios outros dos Estados europeus, a maneira por que fazia
valer o seu prestígio na escolha dos governadores e na decisão dos intrincados casos
da incipiente diplomacia de outrora, tudo isso vem provar que, aos falsos apóstolos
do Cristo, jamais sorriem os enredos dos gabinetes e dos paços reais que o exercício,
modesto embora, porém mais glorioso e digno, da missão que se lhe impunha o dever.
Jesus pregou a bondade, a tolerância, o ensino pela palavra
convincente e sincera.
Mas o arquivo da história católica apenas datas rubras
sobressaem.
Contemplem o passado.
Na França, na matança de S. Bartolomeu, a peregrinação
bárbara e impiedosa àqueles que não rezavam pela cartilha de Roma, a luta
contra os Huguenotes, o sague, a opressão, a tirania.
Na Suíça, João Huss queimado vivo sob o apupo da turba,
que o apedrejava, com a inconsciência das multidões desvairadas.
Na Itália, os Gibelinos perseguidos, acossados, expatriados.
Dante, vítima das suas convicções políticas, sofrendo as
agruras e o infortúnio de um exílio forçado.
Na Áustria e na Alemanha, o mesmo horror.
Na Espanha, a atmosfera é mais sombria, o quadro mais tr[agico,
a impressão mais dolorosa e inquietante.
É a Inquisição com seu cortejo de crimes abomináveis.
Vítimas inocentes, mulheres e crianças indefesas morrendo
entre suplícios que a imaginação infernal dos improvisados juízes de batina
porfiava em tornar cada vez mais terríveis, num furor bestial de carnificina e
sangue.
O luto nos lares, o pranto, a orfandade, a viuvez, a
tristeza.
Do blog: Comentou-me um
amigo: Isso é coisa velha... Então, perguntei: O que mudou? Ele calou-se e
mudamos de assunto...
Nenhum comentário:
Postar um comentário