sábado, 27 de junho de 2020

O dogma do Deus trino


O Dogma 
do Deus Trino
Fernando Coelho
Reformador (FEB) Junho 1920

            “O alto valor ético do puro cristianismo original, a influência nobre que essa religião de amor exerceu na civilização, são coisas independentes desses dogmas mitológicos” disse Haeckel.  
            A instituição esdrúxula e original do Deus Trino, por exemplo.
            “Deus, só e único Principio Universal, só e única potência criadora, na imensidade, no infinito, é imutável e eterno.” (1)

(1) Os Quatro Evangelhos, de Roustaing.

            Não o quer assim, porém, o católico, plagiando o bramanismo na sua interessante concepção do Deus tríplice (Brahma, Vishna e Shiva) e o dos antigos Hebreus (Ann, Bel e Ao).
            Deus, já o definimos.
            A segunda pessoa da trindade santa dos católicos “esse profeta nobre e iluminado, cheio de amor dos homens”, como o chamou Haeckel, o materialista, o Cristo, não é mais do que “um espírito criado que, saído como todos os espíritos, do mesmo ponto de partida, da mesma origem, se tornou espírito puro, alcançou a perfeição, sem jamais ter falido, espírito de pureza imaculada, cuja perfeição se perde na noite da eternidade. É o protetor e governador do planeta terreno, a cuja formação presidiu, encarregado por Deus de o levar ao seu grau fluídico e à perfeição a sua humanidade. (2)
            A terceira pessoa, o Espírito Santo, não era e não é um espírito especial, é um nome figurado que representa a solidariedade dos espíritos puros, dos espíritos superiores, do espíritos bons.”
            A igreja católica, resvalando de absurdo em absurdo, chegou, por intermédio de um falso método interpretativo do Evangelho, - cujo simbolismo não quis e não quer compreender, à criação desse dogma fantástico, que é o da triplicidade da pessoa do Supremo Árbitro dos mundos, acarretando outro, não menos errôneo, que é o da divindade de Jesus.
            Soou, felizmente, a hora bendita da verdade.

                (2) Roustaing, idem.

            A palavra dos Evangelistas já se fez ouvir, elucidando o texto dos seus escritos, completamente deturpados, no seu exato sentido, pelas conveniências materiais dos falsos discípulos do Cristo.
            “Em verdade, em verdade vos digo que esta geração não passará sem que todas essas coisas se cumpram”, (Mateus, 24, vs. 33 e 34), disse o Cristo aos apóstolos que lhe perguntaram ansiosos de verdade: “Senhor, dize-nos quando sucederá isso e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo.”  
            Ao Espiritismo, pois, pouco importam as investidas impiedosas do clericalismo romano. Há de triunfar, porque o Mestre o exclamou: “Quando vier o espírito da verdade, ensinar-vos a toda a verdade; porque, não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras.”
            Cristo pregou a reencarnação, quando disse a Nicodemos: “Ninguém pode entrar no reino de Dons, se não nascer de novo. Se o homem, não renascer pela água e pelo espírito, não poderá entrar no reino do Deus.”
            Roma, todavia, não quer compreender essas verdades.
            Já os Hebreus diziam, ao referirem-se ao Cristo: É Elias, é João que ressuscitou dentre os mortos, é Elias que voltou, é um dos antigos profetas que ressuscitou.”
            Essa crença na volta do espírito ao ergástulo da miséria terrena não prova alguma coisa à cegueira voluntária e impertinente do jesuitismo?
            Roma, que divinizou o Cristo, inventou o Diabo. Apesar de Jesus ter dito claramente: “Ide ter com os meus irmãos e dizei-lhes da minha parte: subo a meu Pai e vosso Pai, o meu Deus e vosso Deus”, ao invés de dizer somente - vosso Pai e vosso Deus, a Igreja teima em faze-lo divino. E como que para contrabalançar esse dogma, nascido da fantasia dos seus padres, criou o inferno e Satanás, que é um nome figurado, representando a totalidade dos espíritos maus que se encarniçam na perda do homem.
            Como conceber justiça e bondade num Deus que castiga os seus filhos com o fogo eterno da sua cólera e do seu rancor?

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