A Oração
J.
Severiano de Souza
Reformador (FEB) Julho
1919
“Orai para que não
entreis em tentação” (Lucas, XXII, 40)
foram palavras de advertência lançadas
por Jesus, no jardim de Getsêmani, aos seu discípulos.
Se bem meditarmos, se bem auscultarmos a profundeza do
nosso eu; se bem refletirmos, no íntimo da nossa consciência ouviremos ainda o
eco profundo e mavioso da palavra de Jesus repetindo-nos a todo momento: “orai, para que não entreis em tentação”.
De fato, a oração indubitavelmente, quando ditas com ardor
sincero, com devoção perfeita, o lampejo sutil e reconfortante do espírito.
Espanca d'alma qualquer resquício, de ódio, qualquer indício
de tibieza. Quem ora, trabalha pela luz, trabalha pelo espírito, pela paz, pelo
amor, pela remissão, pela caridade!
Quando afastarmo-nos do labor quotidiano; quando as
afanosas tribulações da vida divina quietarem-se com o distender do manto
noturno, que formos ao leito em busca do sono para nos libertarmos por alguns
instantes, abramos o espírito em confissão íntima ao Deus Eterno, descortinemos
nossa consciência, façamos uma recapitulação dos atos praticados desde o albor
até o declinar do dia, e, depois desta análise perfeita, desse julgamento dos
atos praticados, abramos o espírito e em pensamento descortinemos a vastidão
infinita do espaço, libreme-nos (equilibremo-nos) em espírito a esses páramos longínquos, além do ruído
tristonho e lúgubre do mundo e oremos, oremos contritos, oremos ardentemente;
invoquemos o Pai Celestial, peçamos seu auxílio bondoso, solicitemos a sua
misericórdia que, a voz da nossa consciência no silêncio do nosso espírito, no
recolhimento de nossa alma voará e ecoará além como gritos piedosos de quem
pede socorro, de quem requer auxílio, de quem se debate em lutas desabridas e
carece de amparo e proteção.
Devemos orar como o Mestre nos ensinou no sermão da morte!
Não usemos genuflexões hipócritas, não façamos dos lábios autômatos, do coração
um cego.
“Orai para não cairdes em tentação”,
disse-o Jesus. Devemos, pois, orar!
A tentação do vício e do mal penetra na alma ociosa e
despreocupada e todos nós, desde o mais elevado ao mais pequeno da esfera
espiritual, temos responsabilidades enormes e não devemos, em nenhum momento,
devotarmo-nos ao vício.
Devemos orar, pois a oração é esse canto solene na sua
simplicidade e magno nos seus efeitos, que nasce das profundezas d’alma
assomando aos lábios num sussurro de respeito e súplicas edificantes.
É esse canto
profundo da alma, que no seu silêncio conduz as angústias da criatura ao
Criador, e encerra nas suas emoções as alegrias dos salmos e as harmonias da
música.
É esse foco profundamente perene que irradia do nosso
pensamento como a luz de um sol fecundo e imenso!
É esse dedilho que a agonia entoa no suplício da dor, e em litânico (súplice) sussurro
evola-se acima de nossas cabeças em busca de um asilo seguro de onde dimanarão
os benefícios de sua primorosa essência.
Orar é cantar em silêncio hinos de arrependimento,
submissão da Natureza fecunda na sua seleta e magna manifestação!
Orar é perfumar o
espírito com os aromas da paz; é iluminar a alma com a luz do amor; é banhar o
coração com os beijos da caridade; é distinguir-se, elevar-se, progredir!
Orar é beber a verdade cristã contida no Evangelho de
Jesus; é perfumar-se nos odores de seus ensinamentos; é refletir nos acordes
sonoros do sermão da montanha, aquele sermão memorável que há vinte séculos foi
pronunciado pelo Cristo sobre o monte e, ecoando nos âmbitos do mundo, vem
trazendo a ideia de paz e liberdade, de amor e tolerância, de esperança, de
redenção à humanidade inteira.
Quem poderá repudiar a oração?
Quem menoscabará (desprezará)
esse assomo (sinal) intuitivo
e profícuo do espírito quando busca o Criador por intermédio da prece?
Só o coração empedernido, afogado nas gulas da
concupiscência (sensualidade); só
o coração dilacerado pelas explosões da descrença; só o coração perdido no
abismo da indecisão que, como ser anulado se perde no caminho da vida, é que
pode num assomo louco repudiar as blandiciosas (ternas) sobras da
oração!
Mas ao coração
grito ao seu Criador, ao coração respeitador e venerador de Deus, a oração é
sempre harpejante (em som de harpa),
profícua, necessária, mesmo essencial.
Não devemos esquecer que o Espiritismo, na sua
evangelização cristã, como guia seguro do homem, nos ensina a orar como Jesus
ensinou no sermão do monte.
Assim pois, não devemos olvidar jamais as palavras do
Cristo quando disse no jardim de Getsêmani aos seus discípulos: “orai para que
não entreis em tentação.”
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