terça-feira, 30 de junho de 2020

Comunicações de Pedro, apóstolo



Três comunicações de 
Pedro, o Apóstolo
por Albino Teixeira
Reformador (FEB) Junho 1920

            Do que foram na sua simplicidade, como festividades de carácter puramente espiritual, as comemorações da ceia pascoal e do sacrifício do Calvário, levadas a afeito este ano na Federação, já informamos aos nossos leitores pelo Reformador de 16 de Abril, à semelhança do que todos os anos ocorre, acentuamo-lo então, elas se revestiram do cunho de reuniões verdadeiramente cristãs, em que milhares de crentes, procurando apreender em espírito e verdade os ensinamentos contidos naqueles dois atos culminantes da missão terrena do divino Mestre, para deles colherem o alimento espiritual de que se sentem famintos, receberam, num banho de luz vivíssima, como bênçãos do céu, alento e força, a fim de prosseguirem na obra de sua regeneração, testemunhando a grandeza das misericórdias que baixam sobre todos os que com boa vontade se consagram a essa obra.
*
            Restava-nos somente divulgar um fato especial que assinalou aquelas comemorações: o do recebimento de três comunicações do apóstolo Pedro, dadas por diferentes médiuns duas pela forma psicográfica, nas sessões públicas de quinta e sexta-feira santas, e uma por incorporação, em sessão do grupo Ismael, no segundo daqueles dias.
                Do conjunto dos ensinos, das exortações e promessas que todas elas contêm, destacaremos apenas, chamando para ele a atenção os que as leiam, um ponto: aquele em que o grande apóstolo declina a razão determinante de haver negado o Cristo, no Pretório. Não foi o medo, a fraqueza oriunda do temor de se comprometer que o levaram a isso, mas o amor, o amor humano, o amor qual o sentimos na terra, mesclado de egoísmo, que quase sempre lhe toma o lugar quando vemos em risco a vida de um ser amado.
                Quanto ao mais, os que as lerem dominado por sentimentos cristãos saberão de certo encontrar, por entre a singeleza de forma que apresentam, as ricas pérolas que encerram, ofertadas generosamente a todos os que, despidos de preconceitos de qualquer ordem, se disponham a buscar aquele que é único, porque só ele é “o caminho a verdade, a vida.”
           
            A primeira das três comunicações, tomada psicograficamente pelo médium Albino Teixeira, é a seguinte:
           
            “Aos continuadores do apostolado do Cristo as minhas saudações de paz,
            Meus filhinhos, o Divino Mestre, desde que surgiu no estábulo de Belém, começou a dar o exemplo de humildade mais frisante, para que os homens compreendessem que a humildade exalta a criatura e o orgulho a rebaixa. Nasceu entre animais como que para patentear ao mundo de então que esses talvez o compreendessem melhor do que o homem. Podendo nascer num palácio, como Senhor, que era, do mundo, surgiu num alpendre, abrigo de animais, tendo aparentemente por pai terreno um carpinteiro Que sublime exemplo de humildade!
            Na ceia pascoal culminou essa humildade quando ele ofertou a seus apóstolos o pão e o vinho, que simbolizavam o seu corpo e o seu sangre, isto é, a sua doutrina e o seu amor às ovelhinhas que lhe foram confiadas; e ainda quando lavou os pés a seus discípulos.
            Eu fora, quando pescava peixes no mar da Galileia, por ele chamado para ser pescador de homens e sem vacilação o acompanhei. Em boa hora o fiz, pois que recebi as emanações puríssimas de seu espírito, que leniram as agruras de minha alma de pescador. Suas palavras me redimiram, tornando-me pregador de sua doutrina de amor e de perdão.
            Ao vê-lo abaixar-se, cingido com uma toalha, para me lavar os pés, recusei.  
            - Como, Senhor, pois tu, o Mestre, me as de lavar os pés? Jamais o consentirei.
            Ah! Meus filhos, se vísseis o olhar meigo e ao mesmo tempo imperativo e me lançou, dizendo: - Se não me deixas lavar-te os pés, não és digno de mim... - Pois bem, Senhor, lave-me os pés, lava-me também a cabeça, respondi.
            A ceia pascoal, meus filhos, vos mostra a grandeza da humildade de Jesus.
            Quem quiser ser o maior terá que ser o servo de seus irmãos. Depois lavar-vos os pés uns aos outros, isto é, socorrer-vos reciprocamente, auxiliar-vos em todas as circunstâncias da vida, como irmãos, filhos do mesmo Pai.
            Se aqui estiverdes reunidos com verdadeiro sentimento de fraternidade, com pensamento de amor, com o desejo sincero de ser uteis aos vossos semelhantes, estareis recebendo o pão e o vinho que Jesus nos oferecem, estareis comungando a hóstia santa de seu amor. E como é esse o desejo que impera em vossos espíritos, eu vos concito a perseverardes no propósito da propagação da doutrina por ele ensinada, fazendo-a não somente por palavras mas especialmente pelo exemplo.
            Assim, os nossos pensamentos, confundidos com os vossos, repercutirão pelo infinito, em vibrações de luz, integrados no concerto universal que formam os dos puros espíritos, entoando hosanas ao seu amoroso Criador. Comunguemos mais uma vez nesta ceia, exemplo da mais grandiosa humildade, e que Jesus, o nosso Salvador, nos assista, permitindo que mais algumas criaturas, ovelhas do seu redil, se tornem, como nós, pescadoras de almas. Paz e Deus vos abençoe.”

Pedro, o Apóstolo

            A segunda, também psicografada, foi recebida pelo médium Manoel Quintão, nos seguintes termos:

            “Meus companheiros, como há dois mil anos, em transes angustiosos, rememorando as cenas do Calvário, o meu espírito brada ao mundo – Paz.
            Hoje, mercê do Mestre e Senhor, eu me propus vir a vós, como o Pescador da Galileia, para penitenciar-me de o haver negado três vezes. O seu perdão sublime logo me atingiu, é certo, porque o Justo sacrificado bem sabia que eu só o negara por amor. Naquela hora, o vidente apostólico emudeceu para falar o homem no seu egoísmo, o homem que em tudo via o sacrifício menor do seu Mestre querido. Eu supus que com a minha palavra comprometeria porventura ainda mais a causa do Justo, porque o pescador ignorava o que o apóstolo deveria saber um pouco e vos repete, isto é, que o Cordeiro de Deus, o Filho do Homem, não vinha restabelecer um reino na Terra, nem reinar para a Terra sobre uma geração, porque vinha restabelecer na Terra o reino do céu através de sucessivas gerações.
            Pois bem, meus queridos, essas gerações aí estão. Vós mesmos as representais legitimamente, porque sois daqueles que fizestes então, alvissareiramente odientos, a escalada do Calvário, para perpetua-la dolorosamente, caindo aqui erguendo-vos além, até chegardes à compreensão das coisas santas, despidos do orgulho que gera o ódio e ainda hoje sacrifica mil calvários, simbolicamente, os portadores de todas as verdades. Para que assim não continue a ser, é que se realizam as promessas do Divino Mestre e aqui vos encontrais.
            Mas, vede bem: a minha negação foi também um símbolo para vós outros, como um brado de alerta, a fim de que, não somente três, mas três mil vezes não negueis a Verdade, que é Jesus.   
            Com essas graças crescem para vós as responsabilidades que se aferem na balança da Vida Eterna.
            Tripulantes da minha barca, importa, porque o tempo vai desfeito em borrascas temerosas, que vos mantenhais firmes em vossos postos, a fim de não serdes arremessados ao oceano cavado das próprias paixões. O sinal que vos dou é o da cruz: - O sinal que vos dou é o da cruz: - ao sopé uma mulher lacrimosa que não tem um brado, nem um gesto de maldição. É a estátua da Dor e é também a efígie do amor desse Filho que vos há de salvar.
            A Ela rogo de joelhos para vós, como roguei para mim naquele momento de angústia, a benção que conforta, ilumina e sara todas as feridas do espírito.
            E ela, Mártir Dolorosa, sorrindo, me diz: - Pedro, vai abençoar os meus filhinhos em nome do Filho Amado, para que a compreensão daquele perdão seja o sinal definitivo do recolhimento deles no meu seio.
            Benção de Maria, bênção da paz e de amor, do céu, portanto, vos trago. O remido da fé

                                             Pedro

            A terceira dada por incorporação, é esta:

            “E dentro em breve vereis o Filho do homem em toda a sua glória.” Assim, meus amiguinhos, me falou o Amado Mestre, a mim, pobre pescador, homem que nada possuía. Sim, que nada possuía, pois que nem bastante fé levava consigo para compreender e penetrar essas palavras.
            Acompanhei-o no Horto das Oliveiras, fui para Jerusalém e daí à casa de Pilatos. Oh! Pedro, Pedro, que não sabes perdoar a ti mesmo a falta que cometeste, quando Ele te havia dito: - Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes! E Assim foi, Senhor!
            Pedro, que tudo te devia, que tudo te deve, te negou. Negou-te, mas não por fraqueza, oh! Não! Negou-te por amor, pelo amor da terra, pelo amor do homem. Dalí, desfeito em pranto, o acompanhei no Calvário!
            Mas, meus filhos, como me senti só!
            Como eu e os meus companheiros choramos a ausência do Mestre e quão grande foi o nosso espanto, quando aquela alma sublime e excelsa surgia diante de Madalena e disse: Não chores, porque eu aqui estou. Não chores, porque eu aqui estou. Vai dizer-lhes que me viste que sou eu mesmo.  
            Ah! Voltou-nos a calma e sentimos em cheio toda a grandeza da humildade do Senhor! Senti-me grande e forte da minha riqueza, prometi mim mesmo que, se preciso fosse, também iria até o Calvário. Não, meus filhinhos, porque eu entendesse ofertar desse modo alguma coisa ao meu Jesus, não; mas porque achava que, dando-lhe tudo, nada lhe daria em comparação com o tesouro que dele recebem.
            Ele, pois, voltou e nos encheu do gozo, preparando-nos para seguirmos as suas pegadas, em resgate do nosso passado, porque tínhamos um passado a resgatar, e para que pudéssemos, sempre por seu intermédio, sempre por seu amor, tornar-nos dignos do Pai Celeste.  
            Corri terras: era preciso que fosse assim. Faltava-me, meus caros filhinhos: um braço direito. Encontrei-o, encontrando o meu Paulo. Longe um do outro havíamos nascido e tão diferentemente: ele, rico, forte, instruído nas letras e eu, humilde pescador, nada possuindo a não ser boa vontade. Que poderia fazer? O Manso Cordeiro, porém, tudo tinha preparado! Como previra tudo!
            Aquele Paulo, que aceitava a esmola de Jesus, que falava em nome do Cristo, aquele mesmo Paulo vem no meu encontro e, humilde e arrependido, diz: “Pedro, ensina-me tu quem é o Cristo; quero ouvir da tua boca todas as suas ordens, Eu já o sinto em mim, mas é necessário que tu me relates a sua vida. Serei teu escravo”. E assim, unidos, amando-nos e muito, sem nunca, nos termos visto antes, seguimos a nossa rota e, palmilhando espinhos por nós meemos semeados, chegados ao fim da nossa jornada.
            Ah! E como tu, Senhor, foste e és sempre grande e misericordioso; quão grande foi a tua recompensa para os humildes servos; quantas graças e quantas misericórdias!! E fizeste que as tuas palavras atravessassem os séculos e viessem, por tradição, por estudos, até os ouvidos daqueles que há dois mil anos gritavam: Crucifica-o, crucifica-o, colocando Ihes nas mãos o livro da Vida, assentando-os à mesa do teu banquete e dizendo-lhes: - Aqui estais bebendo o meu sangue, comendo da minha carne - porque os queres ver redimidos e que, como eu e os meus companheiros, recuperem pelo seu esforço o tesouro perdido.  
            Do alto do trono da tua misericórdia, com n teu saber imenso, vigias este rebanho pequenino e, como pastor cauteloso, consentiste que o teu servo lhe viesse trazer a palavra de amor, tu que consolas, que enriqueces a todos aqueles que sabem acolher-se ao teu seio. Obrigado, Jesus, obrigado, bom e divino Mestre, por mim e por eles.
            E vós, pequeninos discípulos da era nova, vós a quem tanto foi dado numa época em que só há choro e ranger de dentes, apegai-vos à tábua de salvação que vos é oferecida e, haja o que houver, dai testemunho da sabedoria de Deus em toda a sua glória.
            Paz, amor e caridade fiquem em vossas almas e, nos momentos mais aflitivas, lembrai-vos sempre do humilde Pedro e Pedro acudirá ao vosso chamado.
            Adeus. Paz.”

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