O reino
de Deus
A Redação
Reformador (FEB) 16 de Dezembro de 1929
E dizendo: o tempo é cumprido e o reino de Deus
está perto; arrependei-vos e crede no Evangelho.
Marcos C-IV 15.
Cumprido, agora, é o tempo para todos quantos,
trabalhados pelas reencarnações sucessivas, despertaram dentro de si mesmos
para o arrependimento definitivo, o arrependimento propiciatório da salvação
pelas obras.
A graça, no sentido teológico não corresponde a privilégios
e favores graciosos, ao demais infirmativos da perfeita sabedoria divina; a
graça está no cumprimento da lei, a integrar-se incoercível e uniformemente em
todas as consciências, as quais se não pudera exigir mais do que o
correspondente ao seu grau de evolução.
De barato damos, pois, que as fórmulas religiosas, por
absurdas e incôngruas que se nos prefigurem, não constituem, essencialmente, o
grande mal contemporâneo da humanidade. O mal está, evidentemente, no artifício,
na hipocrisia com que operam os detentores e sustentadores dessas fórmulas em
detrimento da lei natural, marchando de
encontro, antes que ao
encontro da consciência coletiva do seu tempo, desprezando o "sinal dos tempos”.
O mal está nesses imperativos de canonicidade absoluta e temporal que extremam
paixões e geram dúvidas, quando não geram - o que é pior – ódios e revoltas. Os
espíritas evangélicos, a buscarmos agora nos ensinamentos do Divino Mestre, não
a letra que mata mas aquele espírito que vivifica, já devêramos ter
compreendido que o reino de Deus está sempre perto de nós, mas, que o
precisamos ter antes dentro de nós, realizando-o por obras, que não são, precisamente,
as de palavras e argumentos conducentes àquela mesma desoladora finalidade
negativa e ilustrativa de todos os credos religiosos. Não são, tão pouco, as
empreitadas de cara caráter coletivo e beneficente, desde que não sobreponham a
tais desígnios, indubitavelmente nobres e, como tais louváveis, o desígnio maior do
aprimoramento das almas para as grandes realizações da Fé, da Esperança e da
Caridade, independente de todos os cânones e convenções catalogados.
Esse arrependimento prescrito com a aproximação do reino,
deve ser para cada um de nós, a abjuração definitiva e definida daquela maldade
toda que a experiência do passado e a noção do presente nos vão a cada passo
revelando; ele não se traduz na grita tumultuária das
nossas convicções, nem se pode limitar a preceito de atitudes estudadas e
preconcebidas, condicional e oportunista, a resvalar sutil, insensivelmente,
para um egotismo disfarçado. Ele tem de ser simples, naturalmente vivido, a
repercutir como exemplo, pois só assim se nos antolha reparador e salvador.
Amiúde dizemos, porque sabemos, que a nossa doutrina é
aquele Consolador prometido que viria a seu tempo para
explicar todas as coisas e ficar eternamente conosco.
Ora, se as que baixam em nome
d'O Cristo- e ele também disse que muitos viriam em seu nome, mas, que nem
todos poderiam falar em seu nome - não nos consolam, de fato, porque se
contradizem e por contradizerem-se nos dividem, a ilação é que havendo-o,
porventura, mais perto de nós, ainda não assimilamos nem realizamos, dentro de
nós - o reino de Deus.
A esse reino de paz, de luz, de bem aventurança que se
traduzem por serenidade de ânimo, por simplicidade de costumes, por benignidade
de gestos e atitudes, por integridade moral, em suma, opondo, como opomos a
intransigência das ideias pessoais, das atitudes inflexíveis, das tarefas condicionais
e condicionadas aos nossos gostos e interesses, estamos dando prova mais cabal
e mais contristadora de que não só nos não arrependemos no sentido em que
preceituava O Cristo, como também de que não cremos no seu Evangelho.
Mas, porque não dize-lo aqui, com toda a franqueza e hombridade,
que o tempo para nós é cumprido, na
acepção de não nos ser mais possível iludir o mundo, como porventura temos
feito de pristinos evos (desde tempos
passados)? Por que não dizer e redizer
que todos os males desta impenitência
assinalada a dentro das nossas fileiras, está na falta de estudo e compreensão desse mesmo
Evangelho? Certo, não nos decorre aqui autoridade para pontificar, mas dever de
aconselhar, e quando o fazemos, não nos amparamos em nós, porém naqueles que de
mais alto nos corrigem a inópia (miséria) e suprem as deficiências, tal como fizeram aos que
aqui nos precederam cheios de boa fé e portadores de maiores merecimentos.
É' em nome de uns e de outros, pois, que nos julgamos autorizados
a deplorar essa displicência com que se vão trocando as disciplinas morais do
Evangelho, o culto espiritual das virtudes cristãs ao contato tão delicado dos
desencarnados, por um doutrinarismo arbitrário, individualista, pontifical e
retórico, cujos frutos se aferem pela desordem e separatividade que acarretam
nas fileiras espíritas.
Crede no Evangelho,
disse Jesus. Espíritas, com Jesus, não percebemos como se possam trocar os seus
ensinos e exemplos, tão simples e tão claros, no afã de o servirmos, por
teorias e especulações práticas, no mínimo capazes de originar dúvidas e prevenções,
dissídios e controvérsias.
Nem lícito fora argumentar em contrário, com o falho critério
de nomes ou de maiorias, porque uns e outras, seja no plano espiritual, não
fixam, jamais, verdades absolutas, mas verdades relativas e contingentes de
tempo, de meios e de fins.
E o tempo é sempre cumprido para os que o queiram
aproveitar, no espírito da lei de amor e caridade. Os meios também remanescem,
de todos os tempos, com a mediunidade inestanque, a partir das profecias clássicas,
porque nunca, jamais, se interrompeu a obra de emancipação das almas, do ciclo
das encarnações terrenas, justificativa de que essa emancipação independe de
conhecimentos mundos, filosóficos ou científicos.
Os fins, também eles, ou antes, principalmente eles,
depõem a prol do ascendente moral, que abrange todas as almas independente de
circunstâncias ocasionais e efêmeras, contributárias do plano físico, a
permanecerem nele como meros recursos de transição.
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