Nosso dever
ante a Doutrina
Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Abril
1958
Ninguém pode julgar-se espírita somente porque frequenta
sessões práticas, toma passes e ouve palestras doutrinárias. Há muito engano
nessa atitude. Ser espírita é conhecer seguramente a Doutrina codificada por
Allan Kardec e o itinerário cristão que de toda ela resuma e, sobretudo, porque
nisto é que se encontra o essencial, viver o Espiritismo, aprimorando as
próprias qualidades morais e ajudando a Humanidade a ser melhor.
Sem estudar e sem exemplificar os ensinamentos
doutrinários, ninguém poderá em são consciência dizer-se espírita. Sentimos a
incompreensão daqueles que ainda influenciados pelo Catolicismo, de onde
vieram, dão nomes de “santos” a centros espíritas. O alto clero católico tem
protestado contra isso, assustado, dizendo que os espíritas, que já lhe tomam
os crentes, querem também tomar-lhe os santos!.. Deixemos os santos nas igrejas
católicas, porque temos outra noção religiosa, despreocupando-nos, portanto, de
imagens, que apenas fazem relembrar remota época em que o Paganismo inculcava
no espírito do povo a idolatria. No Espiritismo não há imagens nem santos, nem
sacerdócio organizado. Desejamos libertar os homens de todos os preconceitos e
não iríamos, portanto, prende-los a prejuízos disfarçados com outros nomes e
formas diferentes. Nada disso. Tudo é espírito, para nós. Não necessitamos de
imagens para fortalecer nossa fé, porque ela não se fez com absurdos, mas com o
raciocínio claro de que todos os homens podem dispor.
Tem faltado a muitos confrades o conhecimento real da
Doutrina. Em vez de se preocuparem com exterioridades, devem estudar as obras
de Kardec e Roustaing, porque são um extraordinário monumento de sabedoria. Por
mais que sejam lidas e estudadas, sempre oferecem alguma coisa de novo para a
nossa compreensão, espicaçando a nossa capacidade analítica e estimulando-nos a
novas reflexões. Ler rapidamente os livros de Kardec e Roustaing, não é cultura
espirítica. A Doutrina é profunda, exige estudo e meditação. Em Roustaing
tiremos encontrar todo um manancial de belezas acerca do Espiritismo Cristão.
“Os quatro Evangelhos” constituem, portanto, um complemento valioso da obra do
insigne Mestre Allan Kardec.
Quanto maior for o número de conhecedores reais da
Doutrina, mais forte será o Espiritismo. Precisamos ver que temos
responsabilidade com o presente e o futuro. Não nos encontramos na senda
espírita por mera casualidade. Nem o Espiritismo se presta a manifestações
pueris de vaidade. É uma doutrina de ordem, trabalho, disciplina e compreensão.
Temos de provar pelo exemplo que somos espíritas, que nos achamos integrados da
verdade espíritas, que podemos realizar e realizamos o que o Espiritismo tem o
direito de esperar de nós. Do mesmo modo, devemos alertar os confrades que a
esse respeito não estejam ainda bem esclarecidos: o Espiritismo não é doutrina
de vencidos, de melancólicos, de desesperados. Evidentemente, não se trata de
uma religião festiva, mas, pela sua essência, tem de ser otimista, porque nos
ensina a encarar a vida de maneira franca e sincera, pois nos ensina o que é a
vida, o que ela representa para nós em face do presente e do futuro, qual a
posição em que nos devemos situar para que alcancemos o prêmio de nossa
evolução moral. É uma doutrina de vencedores, porque aprendemos a triunfar
sobre o medo da morte: é uma doutrina de alegria sã, porque mostra o motivo das
desigualdades sociais, a razão do mal, as virtudes do bem, o aperfeiçoamento
que se vai operando no Espírito, de encarnação em encarnação. Não é também uma
doutrina de desesperados, porque não promete ao homem senão a evolução de seu
ser espiritual, se seus postulados forem seguidos respeitosamente.
Há muito que fazer, irmãos, no Espiritismo. Mais do que
todos possamos avaliar. Trabalhando pelo bem da Humanidade, estaremos
trabalhando por nós mesmos, porque somos partícula desse todo que sofre e luta,
mas que, graças ao Espiritismo, já sofre e luta mas que graças ao Espiritismo
já sabe porque sofre e conhece o motivo de sua luta. O Espiritismo não promete
o Nirvana nem o Paraíso: mostra aos homens que a sua felicidade é obra de si
mesmo. Não tem que esperar por milagres, mas realizar, ele mesmo, o milagre de
sua recuperação através dos tempos. A felicidade que procura pode não estar
hoje ao alcance do seu Espírito, mas será um dia alcançada porque o Espiritismo
mostra o que leva o homem até ela!
Estudar a Doutrina, analisa-la, disseminá-la, propaga-la,
defendê-la e sobretudo exemplifica-la, - eis o dever dos espíritas que possuem legítima
noção de suas responsabilidades dentro do Espiritismo.
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