Doutrinarismo
(Doutrinação) inconsequente
Redação
Reformador (FEB) 01
Setembro 1929
A generalização e o rendimento das verdades que o Espiritismo
veio consagrar e ampliar no seio da humanidade não podem obedecer a preceitos
de uniformidade e pragmatismo, sejam quais forem as razões objetivadas.
Os profitentes conscienciosos, os que na doutrina dos
Espíritos estimam para cima e para além da opinião dos Espíritos, por mais
altos que se afigurem, urna lei de sabedoria eterna e indefinita, não podem
iludir e muito menos desprezar esse coeficiente de relatividade na equação do
problema o nossos destinos.
Entre o alfa e ômega, no estágio de evolução em que nos
achamos temeridade fora colimar as questões de origem e de fim, pretendendo
resolve-las ex-cathedra (com
conhecimento). Tudo quanto podemos
afirmar e muito representa, é que preexistimos e sobrevivemos a esta conformação
física temporária quão fugace (fugaz) que para muitos se afigura a única realidade digna de
conceito e ponderação.
A estes que tais, mal não fica a irredutibilidade dos princípios
erigidos em sistemas filosóficos mais ou menos engenhosos, porém incapazes de
contentar e tranquilizar a consciência humana em seus anseios incoercíveis de
luz, mais luz e sempre luz.
Luz, mais luz e sempre luz! Eis aí uma divisa que poderia
ser adoptada como programa digno da índole, do caráter, da natureza substancial
da Revelação Espírita, capaz de metodizar um liberalismo sadio e tolerante, em
penhor de melhores frutos do que estes que vamos ao tempo colhendo, em que cada
qual melhor aquinhoado se julga na partilha da verdade divina, a esquecer que
esta se afirma em tudo e para todos, sem justificativas outras que não as de
felicitar e fortalecer a criatura no desempenho da tarefa que assumiu, não
fatal e cega, mas providencialmente; não, tão pouco, segundo as nossas vistas,
mas segundo as vistas da própria consciência, à face de Deus.
Certo, regras e preceitos há, codificado uns e outros
abrolhados da experiência, que nos autorizam a pontifica-los como de maior
conveniência, aconselháveis, portanto.
Em os divulgar fazemos obra de honestidade, porventura
louvável, tanto mais quanto, visando poupar trabalhos e decepções, fracassos e
deslizes: mas, d'aí a nos supormos oráculos e detentores únicos da lei e da
vontade divinas, vai um abismo só franqueável aos orgulhosos imponderados. O
nosso papel não deve ser de mestres da doutrina e simples de intérpretes mais
ou menos escrupulosos e vulgarizadores honestos. Os mestres, neste caso, seriam
com mais autoridade os nossos Guias espirituais e todos os Espíritos benfazejos, a
concorrerem do espaço com o seu contingente de verdades atingidas; mas esses, o
que nos dizem é que só há um Mestre, como a confirmarem o que disse Jesus - a
ninguém chameis mestre, porque só um é o vosso Mestre, a saber - O Cristo. (Mateus XXIII – v.10).
É tempo de reconsiderarmos que essa propaganda
exclusivista, apaixonada e acrimoniosa (que
demonstra ressentimento) por sincera que
a possamos presumir, não se coaduna com a índole da doutrina em seus aspectos
mais elevados, que são os de unificação por amor a Deus, acima de todas as
coisas.
Nem por motivos outros afirmava um notável pensador que era
tempo de substituirmos o amor das religiões pela religião do amor.
Fora destas normas, por mais fulgurante que se inculque só
existe, na realidade, um doutrinarismo inconsequente.
lnconsequente e perigoso, porque diminuto é o número dos
que ao entrechocar das correntes tendenciosas se encontram superiores às próprias
paixões humaníssimas, para imolarem preconceitos e prejuízos pessoais ao problema
de conjunto, sem incidirem nas malhas de um estreito
sectarismo.
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