domingo, 19 de abril de 2020

Doutrinarismo inconsequente



Doutrinarismo (Doutrinação) inconsequente
Redação 
Reformador (FEB) 01 Setembro 1929
                 
            A generalização e o rendimento das verdades que o Espiritismo veio consagrar e ampliar no seio da humanidade não podem obedecer a preceitos de uniformidade e pragmatismo, sejam quais forem as razões objetivadas.

            Os profitentes conscienciosos, os que na doutrina dos Espíritos estimam para cima e para além da opinião dos Espíritos, por mais altos que se afigurem, urna lei de sabedoria eterna e indefinita, não podem iludir e muito menos desprezar esse coeficiente de relatividade na equação do problema o nossos destinos.

            Entre o alfa e ômega, no estágio de evolução em que nos achamos temeridade fora colimar as questões de origem e de fim, pretendendo resolve-las ex-cathedra (com conhecimento). Tudo quanto podemos afirmar e muito representa, é que preexistimos e sobrevivemos a esta conformação física temporária quão fugace (fugaz) que para muitos se afigura a única realidade digna de conceito e ponderação.

            A estes que tais, mal não fica a irredutibilidade dos princípios erigidos em sistemas filosóficos mais ou menos engenhosos, porém incapazes de contentar e tranquilizar a consciência humana em seus anseios incoercíveis de luz, mais luz e sempre luz.

            Luz, mais luz e sempre luz! Eis aí uma divisa que poderia ser adoptada como programa digno da índole, do caráter, da natureza substancial da Revelação Espírita, capaz de metodizar um liberalismo sadio e tolerante, em penhor de melhores frutos do que estes que vamos ao tempo colhendo, em que cada qual melhor aquinhoado se julga na partilha da verdade divina, a esquecer que esta se afirma em tudo e para todos, sem justificativas outras que não as de felicitar e fortalecer a criatura no desempenho da tarefa que assumiu, não fatal e cega, mas providencialmente; não, tão pouco, segundo as nossas vistas, mas segundo as vistas da própria consciência, à face de Deus.

            Certo, regras e preceitos há, codificado uns e outros abrolhados da experiência, que nos autorizam a pontifica-los como de maior conveniência, aconselháveis, portanto.

            Em os divulgar fazemos obra de honestidade, porventura louvável, tanto mais quanto, visando poupar trabalhos e decepções, fracassos e deslizes: mas, d'aí a nos supormos oráculos e detentores únicos da lei e da vontade divinas, vai um abismo só franqueável aos orgulhosos imponderados. O nosso papel não deve ser de mestres da doutrina e simples de intérpretes mais ou menos escrupulosos e vulgarizadores honestos. Os mestres, neste caso, seriam com mais autoridade os nossos Guias espirituais e todos os Espíritos benfazejos, a concorrerem do espaço com o seu contingente de verdades atingidas; mas esses, o que nos dizem é que só há um Mestre, como a confirmarem o que disse Jesus - a ninguém chameis mestre, porque só um é o vosso Mestre, a saber - O Cristo. (Mateus XXIII – v.10).

            É tempo de reconsiderarmos que essa propaganda exclusivista, apaixonada e acrimoniosa (que demonstra ressentimento) por sincera que a possamos presumir, não se coaduna com a índole da doutrina em seus aspectos mais elevados, que são os de unificação por amor a Deus, acima de todas as coisas.

            Nem por motivos outros afirmava um notável pensador que era tempo de substituirmos o amor das religiões pela religião do amor.

            Fora destas normas, por mais fulgurante que se inculque só existe, na realidade, um doutrinarismo inconsequente.

            lnconsequente e perigoso, porque diminuto é o número dos que ao entrechocar das correntes tendenciosas se encontram superiores às próprias paixões humaníssimas, para imolarem preconceitos e prejuízos pessoais ao problema de conjunto, sem incidirem nas malhas de um estreito sectarismo.

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