Universalismo
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Janeiro 1943
A presente
guerra (2ª Guerra Mundial 1938-1945) nos está dando
preciosa lição de universalismo, ou, em outras palavras, demonstrando que o
progresso moderno tornou todas as nações solidárias entre si. Uma ideia má e
perniciosa, divulgada, por exemplo, no Japão, nos prejudica e ameaça; interessa-nos, portanto,
muitíssimo.
Nos tempos
passados não nos importava muito saber o que outros países diziam e faziam a
dentro de suas fronteiras; isso era lá com eles e, se a ideia nos desagradava,
simplesmente. não fixaríamos residência naquele país e estaríamos salvos.
Limitavam-se os povos a chamar de bárbaros aos que tinham idéias diferentes das
suas.
Agora tudo é
diferente. A revolução comunista na Russia fez correr sangue no Brasil, o fascismo da ltália igualmente pôs em perigo a nossa
estabilidade e custou o sangue de muita gente.
O transporte
da palavra e do homem tornou-se tão rápido, que praticamente foram abolidas
todas as fronteiras. O isolacionismo egoístico já se tornou impossivel. Todos
vivemos a vida de todos, todos sofremos dores e sobressaltos idênticos. Findas
a guerra e as eventuais revoluções, que talvez a acompanhem, a humanidade terá
ficado com essa preciosa lição prática: tudo no mundo é solidário. Não bastará
cogitemos de educar o nosso povo, de lhe incutir boas idéias, conduta moral
pura: será necessário fazer todas essas coisas planetariamente, porque o que
fere um povo no Extremo Oriente repercute e põe em perigo os homens que moram
no Extremo Ocidente e vice-versa. Será um grande passo para sentirmos a
solidariedade humana, como diriam os materialistas, ou o amor à humanidade,
como diriam os cristãos.
Resumindo
estas idéias, diremos que as propagandas locais ficam prejudicadas e podem ser
interrompidas por forças externas. O belo movimento espírita da Holanda
desapareceu, porque aquele país foi ocupado por um povo materialista, que não
tolera tais idéias. Tudo tem que ser feito em escala mundial, porque o mundo já
é um todo.
A propaganda
espírita no Brasil é feita com ardor, com verdadeiro entusiasmo e vai produzindo - mercê de Deus - belos frutos. Nenhum brasileiro,
porém, cogita de estender essa mesma propaganda a todos os outros países; parece-lhes que só lhes compete trabalhar para
o nosso, pois que para isso aqui nascemos e aqui vivemos. É demasiado limitada
e egoística essa concepção para o futuro. Vivemos dentro das limitações linguísticas
e supo-mo-nos ilusoriamente apartados de todos os outros povos.
Não é e não
poderá ser assim, se bem assim já tenha sido.
O futuro não
será uma cópia do passado. O programa de ensino de um pais interessa a todos os
outros e a soberania das nações - da qual tanto hão abusado alguns povos - terá
que sofrer sérias limitações, para não se tornar coisa ridícula, como os
antigos cavaleiros andantes, que corriam mundo à procura de injustiças a
corrigir.
Em que pode
esse assunto interessar nestas colunas consagradas sempre à doutrina, já de si
mesma universal, dos Espíritos? Não estará fora de lugar tudo isso que vimos
dizendo? Supomos que não. Se
temos recebido muito, temos que dar muito, temos pesados compromissos. E o que
tem recebido o movimento espírita brasileiro não é apenas muito, é muitíssimo.
Temos recebido ditados mediúnicos de valor incalculável, os quais já formam uma
biblioteca admirável que cresce sempre, até mais do que os editores podem
acompanhar. Nessa literatura mediúnica há tesouros demasiado grandes para serem
julgados hoje, os quais só o futuro julgará com justiça, pelas consequências diretas
e indiretas que hão de produzir nos costumes. Nossa pregação pelo livro, pela
imprensa, pela tribuna e pelo rádio é muito maior do que a de qualquer outro
país.
No entanto,
todo esse glorioso trabalho dos nossos Maiores, em nosso beneficio, vem sendo
feito em vernáculo, isto é, numa língua que não tem universalidade alguma.
Simultaneamente com a divulgação do Espiritismo, processa-se no Brasil a
divulgação do Esperanto, cujo nascimento já é universal, pois que a propaganda
do esperanto se faz igualmente em todos os países. Nestes últimos anos, foi
inspirada e poderosamente amparada a divulgação do esperanto entre os espíritas
do Brasil pela Federação Espírita Brasileira, seguindo-lhe o exemplo algumas
outras das nossas instituições espíritas - jornais, revistas, programas radiofônicos,
etc. - precisamente sob o influxo das mesmas Entidades que do Alto
superintendem o progresso do Espiritismo, como bem se nota da mensagem de
Emmanuel com o título “A Missão do Esperanto”, que já se acha amplamente
divulgada. Todo esse conjunto de acontecimentos demonstra o caminho do
futuro. Temos que estender o nosso serviço de propaganda além fronteiras, a
todas as nações. O instrumento para isso está à nossa disposição, é o esperanto. Teremos que começar pelas obras fundamentais, depois
pela fundação de revistas, organização de programas de rádio em ondas curtas,
etc.
O programa
geral é infinito no tempo e extensivo a todo o planeta. Difícil será unicamente
o começo, porque no começo só teremos que dar e nada que receber; mas, depois
de vencidos os primeiros tempos, de todos os pontos da terra surgirão
colaboradores. Em todas as línguas há excelentes livros doutrinárias a ser
traduzidos para o esperanto e
incorporar-se a uma biblioteca espírita universal. Entretanto, as obras de mais
universalidade, as que podem interessar realmente a todos os povos, devem partir
do Brasil, por ser a nação onde a publicidade espírita está mais adiantada,
justamente como há meio sáculo passado deveriam partir da França e assim
sucedeu.
Não dizemos
que este trabalho vai ser iniciado, porque na verdade já se acha iniciado. Já
fizemos a experiencia de lançar alguns livros em esperanto pela Livraria Editora da Federação Espirita Brasileira e
os resultados são animadores. Nossas edições foram recebidas com real simpatia
pelos esperantistas de diversos lugares. Esperemos que, logo termine a guerra,
possamos realizar em grande escala o serviço que até agora só fizemos como experiencia.
O paciente leitor de certo sentirá no coração o desejo de colaborar nessa seara imensa que o Senhor nos está abrindo.
O primeiro
passo é aprender esperanto ou, se já
o souber, exercitar-se em traduzir nossos livros de doutrina na língua
auxiliar.
O
Blog pergunta a seus leitores: Passados uns 70 anos da publicação deste artigo,
como ficou a difusão do Esperanto no Brasil e no mundo?
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