Quinze Minutos
Hilário Silva por Chico Xavier
Reformador (FEB) Julho 1960
I
Aristeu
Leite era antigo lidador da Doutrína Espírita.
Assíduo
cliente das sessões.
Dono de belas
palestras. Edificava maravilhosamente os ouvintes.
Bom leitor.
Correspondente
de instituiç:ões distintas.
Mantinha com
veemência o culto do Evangelho no lar.
Extremamente
caridoso. Visitava, cada fim de semana, vários núcleos beneficentes.
II
NaqueIa
sexta-feira. foi para easa exultante.
Vivera um
dia pleno de trabalho, coroado à noite pela oração ao pé dos amigos.
Entrou.
Serviu-se de pequeno porção de leite e, logo após, dirigiu-se ao quarto de dormir,
onde a esposa e as filhinhas repousavam.
Preparou-se
para o sono.
Sentia,
porém, necessidade de meditação e voltou à sala adjacente.
Abriu
pequeno volume e releu trecho breve:
“O cristão é testado, a cada instante, em sua
fé, pelos aconhecimentos naturais do caminho.
Por isso mesmo, a oração e a vigilância,
recomendadas pelo Divino Mestre, constitui elementos indispensáveis para que estejamos
serenos e valorosos nas menores ações da lida.
Em razão disso, confie na
Providência Maior, busque a benignidade busque a benignidade e seja otimista.
A caridade, acima de tudo, é infatigável
amor para todos os infelizes.
Por ela encontraremos a porta de nossa
renovação espiritual,
Acalma-se, pois, sejam quais forem
as circunstâncias e ajude a todos os seres da Criação, na certeza de que estará
ajudando a si mesmo.”
Sem dúvida,
sentia-se mais senhor de si.
Realizava-se.
E em voo mais alto de superação do próprio valor acreditou-se em
elevado grau de ascensão íntima .
Nesse estado
d'alma, proferiu breve oração e consultou o despertador. Uma e quinze da madrugada.
Apagou a luz e recolheu-se.
III
Penetrava de
leve os domicílios do sono, quando acordou sobreexcitado.
Alguém
pressionava de manso a porta.
A esposa
despertou trêmula.
Aterrada,
não conseguia sequer falar.
Aristeu,
descontrolado, pode apenas balbuciar:
- Psiu, psiu...
Ladrão em casa.
Lembrou-se,
num átimo, de antigo revólver carregado, em gaveta de seu exclusivo conhecimento.
Deslizou à feição
de gato.
E porque o
rumor aumentasse, disparou dois tiros contra o suposto intruso.
Dispunha-se
a continuar. quando voz carinhosa exclamou assustadiça:
- Meu filho
l Meu filho! Sou eu, seu pai! Sou eu! Sou eu!..
Desfez-se o
tremendo engano.
O genitor do
chefe da casa viera de residência contígua. Possuindo as chaves domésticas, não
vacilara, aflito, em vir rogar ao filho socorro médico para a esposa acamada,
com febre alta.
Algazarra.
Vizinhos em
cena.
Meninas em
choro de grande grito.
Aristeu,
envergonhado, abraçava o pai, saído incólume, e explicava aos circunstantes o acontecido
.
Enquanto
revirava pequena farmácia familiar, procurando um calmante, deu uma olhadela no
relógio.
Uma e meia
da manhã.
Entre os
votos solenes e a ação intempestiva que praticara, havia somente o espaço de quinze
minutos...
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