Oração e vigilância
Ypoméa de Oliveira
Reformador (FEB) Janeiro 1943
Através das
inspiradas obras de Allan Kardec e outros ilustrados pensadores, sabemos que a
vida não extingue com a desorganização do corpo terreno, quando este, baixando
ao tumulo, vai obedecer à lei inelutável das transformações. Provada, por
conseguinte, nossa existência imaterial, na multiplicidade indefinível das
vidas sucessivas, cumpre não descurarmos do futuro - além-tumulo. Para que a
vida nos transcorra feliz e calma nas estâncias espirituais, necessário se
torna atendermos aos imperativos cristãos, que nos dizem: "Nem só de pão vive o homem: porém, muito
mais, de cumprir a vontade do Pai que está nos céus". E a vontade de
Deus é a vontade do Bem. O homem bom - eis o verdadeiro cristão! - É um Evangelho vivo a irradiar
luz em todos os espíritos. Vários são os caracteres com que o podemos
distinguir em qualquer parte onde esteja. Dentre esses caracteres, destacamos o
seguinte: o homem bom não é ambicioso, por ser a ambição, no sentido em que
vulgarmente se aplica o vocábulo, o maior obstáculo às conquistas de ordem moral
e, pois, ao progresso do Espírito. Mal tão pernicioso que, por ele subjugado,
criamos uma atmosfera de antipatias e atribulações, de invejas e despeitos, ódios
absorventes, paixões corrosivas!
Procedemos
erroneamente quando procuramos, apenas, satisfazer, em prejuízo da coletividade
irmã, aos nossos caprichos pessoais. O apego absoluto às coisas perecíveis da Terra
aniquila as qualidades eletivas da alma. Por isso, a vida do Divino Mestre,
para demonstrar que mais vale o trato do espírito, foi de martírios, de renúncias
aos bens efêmeros e combate à ambição. Pelos seus exemplos, pois, devemos
regular nossa vida, moderando nossas aspirações, desprendendo-nos de todos os
sentimentos de egoísmo e orgulho, certos de que a verdadeira felicidade está
menos nos palácios dos reis do que nas choupanas dos pobres... Se cuidarmos exclusivamente de
nossos interesses materiais, fugimos à norma cristã: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece
para a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará".
Meditando
este ensinamento, verifica-se que o desapego dos bens terrenos constitui a
pedra angular da verdadeira felicidade, que é a felicidade espiritual. Assim,
estejamos sempre vigilantes para não sermos vitimas de uma sociedade onde
fermentem paixões brutais, incoerências, má vontade em servir ao próximo, e em
que a pedra de toque seja a - ambição!
A filosofia
espirita nos veio proporcionar os melhores meios para a completa reabilitação
das energias psíquicas, fazendo-nos entrever que a alma - essência imortal - só
poderá criar para si uma vida ditosa e perfeita, vencendo a matéria, pela educação,
exercício da vontade e renúncia a todos os atos contrários à boa disciplina
mental. Eis ai a higiene espírita.
Se a
ambição, com os seus tentáculos de polvo, quer enredar-nos o espirito, lutemos,
declarando-lhe guerra aberta e franca. Quem se abroquela naquele ensino de
Jesus - amar ao próximo como a si mesmo
- pondo-o em prática em espírito e verdade, certo que possui a couraça dos
gladiadores jamais vencidos nos entrechoques das arenas...
Oh!
humildade, como exaltas! Oh! Orgulho, como deprimes! Cegos, porque vos
precipitais nos torvelinhos dos erros, em que a alma, colhida nas negras malhas
das iniquidades, se torna filha indigna da luz espiritual?
A humanidade
muito tem padecido. E continuará ainda a sofrer males de toda a espécie -
morais e materiais - porque, infelizmente, a maioria dos elementos que a
compõem mais se prende à vida transitória, em prejuízo da verdadeira vida
eterna e feliz!
A ambição há
sido causa de grandes dores, a produtora nefasta de todos os flagelos. Os homicídios,
furtos, atentados monstruosos; as guerras que se intensificam e em que sucumbem
jovens cheios de esperança e ficam em abandono, à mercê das mais cruéis
vicissitudes, infelizes crianças órfãs; os lamentos que pelo infinito sobem,
partidos dos corações maternos; enfim, toda miséria e miopia moral que se
verificam neste mundo nada mais são que consequências desastrosas provocadas
por esse monstro insaciável - a ambição!
Evitemo-Ia,
portanto; pois, o apego aos bens terrenos é um forte entrave ao progresso do
espírito. O amontoar riquezas materiais abafa o amor ao próximo, endurecendo o
coração com o concreto da avareza! Não esqueçamos, um dia que seja, as palavras do Mestre Amado, com as quais encerramos a presente
página: "Não amontoeis tesouros na Terra,
onde a ferrugem e os vermes roem e onde os ladrões os desenterram e -roubam;
mas, acumulai-os no céu, onde nem a ferrugem, nem os vermes os roem; porque
onde estiver o vosso tesouro também está o vosso coração".
Nenhum comentário:
Postar um comentário