As rosas do Infinito
Irmão X
por Chico Xavier
Reformador
(FEB) Junho 1952
Em deslumbrante paisagem da Esfera
Superior, diversos mensageiros se congregavam em curioso certame. Procediam de
lugares diversos e traziam flores para importante aferição de mérito.
Na praça enorme, pavimentada de
substância semelhante ao jade, colunas multicores exibiam guirlandas de
soberana beleza.
Rosas de todos os feitios e cravos
soberbos, gerânios e glicínias, lírios e açucenas, miosótis e crisântemos
exaltavam a Sabedoria do Criador, em festa espetacular de cores e perfumes.
Envergando túnicas resplendentes,
servidores espirituais iam e vinham, à espera dos juízes angélicos.
A exposição singular destinava-se à verificação
da existência de luz divina. 0s múltiplos exemplares que aí se alinhavam,
salientando-se que os espécimes com maior teor de claridade celeste seriam
conduzidos ao Trono do Eterno, como preito de amor e reconhecimento dos trabalhadores
do bem.
Os julgadores não se fizeram
esperados.
Quando a expectação geral se
mostrava adiantada, três emissários da Majestade Sublime atravessaram as partas
de dourada filigrana e depois das saudações afetuosas, iniciaram o trabalho que
lhes competia. Aquele que detinha mais elevada posição hierárquica trazia nas
mãos uma toalha de linho translúcido, o único apetrecho que certamente utilizaria
na tarefa de análise das preciosidades expostas.
Cada ramo era seguido de pequena
comissão representativa do serviço espiritual em que fora selecionado.
Aproximou-se o primeiro grupo,
trazendo uma braçada de rosas, tecidas com as emoções do carinho materno que,
lançadas à toalha surpreendente, expediram suaves irradiações em azul indefinível,
e os anjos abençoaram o devotamento das mães, que preservam os tesouros de
Deus, na posição de heroínas desconhecidas.
Logo após, brilhante conjunto de
Espíritos jubilosos deitou ao pano singular uma coroa de lírios, formados pelas
vibrações de fervor das almas piedosas que se devotam nos templos ao culto da
fé. Safirinas emanações cruzaram o espaço e os celestes embaixadores louvaram os
santos misteres de todos os religiosos do mundo.
Em seguida, alegre comissão juvenil
trouxe a exame delicado ramalhete de açucenas, estruturadas nos sonhos e nas
esperanças dos noivos que sabem aguardar a Bênção Divina, e raios verdes de
brilho intraduzível se projetaram em todas as direções, enquanto os emissários
do Todo Misericordioso entoaram encômios aos afetos santificantes das almas.
Lindas crianças foram portadoras de
formosa auréola de jasmins, nascidos da ternura infantil, e que, depostos sobre
a toalha miraculosa, emitiram alvíssima luz, semelhante a fios de aurora, incidindo
sobre a neve.
Depois, pequeno agrupamento de criaturas
iluminadas colocou, sob os olhos dos anjos, bela grinalda de cravos rubros,
colhidos na renunciação dos sábios e dos heróis, a serviço da Humanidade, que
exteriorizaram vermelhas emanações, quais se fossem constituídas de eterizados rubis.
E, assim, cada comissão submeteu ao
trabalho seletivo as joias que trazia.
O devotamento dos pais, os laços
esponsalícios, a dedicação dos filhos, o carinho dos verdadeiros amigos, a
devoção de vários matizes ali se achavam magnificamente representados pelas
flores cuja essência lhes correspondia.
Em derradeiro lugar, compareceu a mais
humilde comissão da festa.
Quatro almas, revelando
características de extrema simplicidade, surgiram com um ramo feio e triste.
Eram rosas mirradas, de cor arroxeada, mostrando pontos esbranquiçados à guisa
de manchas, a desabrocharem ao longo de hastes espinhosas e repelentes.
Depostas, no entanto, sobre a mágica toalha, inflamaram-se de luz solar, a
irradiar-se do recinto à imensidão dos Céus.
Os três anjos puseram-se de joelhos.
Inesperada comoção encheu de lágrimas os olhos espantados da enorme assembleia.
E porque alguns dos presentes chorassem, com interrogação imanifestas, o grande
juiz do certame esclareceu, emocionado:
- Estas flores são as rosas de amor
que raros trabalhadores do bem cultivam nas sombras do inferno. São glórias do
sentimento puro, na fraternidade real, da suprema consagração à virtude, porque
somente as almas libertas de todo o egoísmo conseguem servir a Deus, na escória
das trevas. Os acúleos que se destacam das hastes agressivas simbolizam as
dificuldades superadas, as pétalas roxas significam o arrependimento e a
consolação dos que já se transferiram da desolação para a esperança, e os
pontos alvos expressam o pranto mudo e aflitivo dos heróis anônimos que sabem
servir sem reclamar.
E, entre cânticos de transbordante
alegria, as rosas estranhas subiram rutilantes ao Paraíso.
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Ó vós, que lutam no caminho
empedrado de cada dia, enxugai as lágrimas e esperai! As flores mais sublimes
para o Céu nascem na Terra, onde os companheiros da boa vontade sabem viver
para a vitória do bem, com o suor do trabalho incessante e com as lágrimas silenciosas
do próprio sacrifício.
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