Croniqueta – 3
Manuel Quintão
Reformador (FEB) Junho 1923
O Espiritismo, como doutrina e como
fato, não depende nem vive do juízo humano.
Por outras palavras: não precisa do
homem; este é que, por impulso natural de consciência, por necessidade psicológica,
o aceita e nele se integra, em lhe chegando o tempo e a graça de o fazer.
Já algures o dissemos: não é a crença
um fruto de convenção, mas de razão e, tomada neste sentido, uma crença
religiosa corresponde a um estado de alma coletivo - fruto sazonado, para nós,
através de encarnações interativas - que não espontâneo e arbitrário - ou seja,
entrosado na evolução espiritual da humanidade.
Assim pensando, aos que se esbofam em
deturpar os fatos e deprimir os adeptos do Espiritismo, supondo deter-lhe a
marcha vitoriosa no consenso das massas, assentariam ao justo as sábias palavras da “Imitação
de Cristo”, a saber:
“...não te abalem a elegância e sutileza
dos humanos dizeres, que não consiste em discursos o reino de Deus, senão em
virtudes.” Cap. XLIII.
Estas palavras vêm igualmente a propósito
da mágoa que causa a muitos confrades o ataque caviloso e desabrido de público
dirigido à nossa doutrina,
suscitando-lhe o desejo de revide.
Ora, a verdade é que essas arremetidas
assim perpetradas com evidente má fé, quando não eivadas de supina ignorância,
a ponto de causar piedade, são, no fundo, mais benéficas que nocivas à
propaganda, dado que a opinião de homens, inconscientes ou casuísticos, pudesse
afetar a Verdade e fosse a propaganda doutrinaria exclusivamente nossa, que não
conjugada à influenciação dos Espíritos, providencial, indefectível, portanto.
Benéfica, por exemplo, se joeirada pelo
bom senso, não pode deixar de ser aquela notícia da Gazeta de Ditas, a
propósito da desencarnação da médium Dª Ana Prado.
De fato: depois de se referir à
realidade das materializações ali presenciadas por homens de valor e probidade
inconcussa (incontroversa), não podendo atreitar-se (habituar-se) à já cediça (antiga) e estafada hipótese da fraude, afirma o seráfico (místico) noticiarista,
com sem-cerimônia não menos seráfica, que tais fenômenos poderiam enquadrar-se na teoria das alucinações
coletivas.
Esqueceu-se ou, antes, ignora o teórico
jornalista que, das entidades materializadas no Pará, possuímos aqui na
Federação, trazidas pelo cronista -
fotografias, luvas e flores em parafina, lenços atados e
outras que tais provas ALUCINATÓRIAS!!!
Assim se compreende que, contraditas
inçadas de tanto hebetismo (imbecilidade) devam ser inócuas, ao menos para os que sabem o que leem
e pesam o que dizem.
*
A propósito, ainda, da passagem de Dª. Anna Prado, agora que temos informes circunstanciados do acidente, algumas
considerações aqui se impõem: Tinha ela a intuição, que não escondia às pessoas
intimas, de haver sido inquisidor em anterior etapa terrena, e agora,
horrivelmente queimada, mostrando as mãos descarnadas ao Dr. Matta Bacelar,
acrescentava:
-Ah! Não lhes dizia eu que tinha sido
inquisidor? Por isso, morro assim queimada, eu que mandei queimar a tanta gente.
Aí têm os leitores a confirmação havida
na doutrina e nos fatos comezinhos, como nas tragédias quase diárias da vida
humana, e que mais não é do que a realização daquelas palavras do Cristo e Senhor:
“Quem com ferro fere, com ferro será
ferido.”
Isto dizia-o Ele a Pedro, o Apostolo da
Fé, quando este, em arroubos de
dedicação à pessoa do Mestre, tirava da espada por
defende-Lo.
Hoje, em seu nome, benzem-se espadas e
batizam-se couraçados de guerra, a toques de clarim e rufos de tambor!
E os une o fazem são, em regra, os que
nos perseguem, insultam e caluniam, por amos – dizem eles – do mesmo Cristo!
*
Mas, voltando à prova dolorosamente
justa de Da. Anna Prado, ocioso não é recordar o que dissemos no passado número,
isto é: “que os médiuns são, em regra, grandes devedores, com pesados resgates
a fazer.”
Assim o consideremos: que devem, por
suas faculdades quaisquer, dar o
testemunho da Verdade, num tempo em que dize-la, chega,
para muitos, a ser
um crime.
Nenhum comentário:
Postar um comentário