quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Croniqueta - 3


Croniqueta – 3
Manuel Quintão
Reformador (FEB) Junho 1923

O Espiritismo, como doutrina e como fato, não depende nem vive do juízo humano.

Por outras palavras: não precisa do homem; este é que, por impulso natural de consciência, por necessidade psicológica, o aceita e nele se integra, em lhe chegando o tempo e a graça de o fazer.

Já algures o dissemos: não é a crença um fruto de convenção, mas de razão e, tomada neste sentido, uma crença religiosa corresponde a um estado de alma coletivo - fruto sazonado, para nós, através de encarnações interativas - que não espontâneo e arbitrário - ou seja, entrosado na evolução espiritual da humanidade.

Assim pensando, aos que se esbofam em deturpar os fatos e deprimir os adeptos do Espiritismo, supondo deter-lhe a marcha vitoriosa no consenso das massas, assentariam ao justo as sábias palavras da “Imitação de Cristo”, a saber:

“...não te abalem a elegância e sutileza dos humanos dizeres, que não consiste em discursos o reino de Deus, senão em virtudes.” Cap. XLIII.

Estas palavras vêm igualmente a propósito da mágoa que causa a muitos confrades o ataque caviloso e desabrido de público dirigido à nossa doutrina,
suscitando-lhe o desejo de revide.

Ora, a verdade é que essas arremetidas assim perpetradas com evidente má fé, quando não eivadas de supina ignorância, a ponto de causar piedade, são, no fundo, mais benéficas que nocivas à propaganda, dado que a opinião de homens, inconscientes ou casuísticos, pudesse afetar a Verdade e fosse a propaganda doutrinaria exclusivamente nossa, que não conjugada à influenciação dos Espíritos, providencial, indefectível, portanto.

Benéfica, por exemplo, se joeirada pelo bom senso, não pode deixar de ser aquela notícia da Gazeta de Ditas, a propósito da desencarnação da médium Dª Ana Prado.

De fato: depois de se referir à realidade das materializações ali presenciadas por homens de valor e probidade inconcussa (incontroversa), não podendo atreitar-se (habituar-se) à já cediça (antiga) e estafada hipótese da fraude, afirma o seráfico (místico) noticiarista, com sem-cerimônia não menos seráfica, que tais fenômenos poderiam enquadrar-se na teoria das alucinações coletivas.

Esqueceu-se ou, antes, ignora o teórico jornalista que, das entidades materializadas no Pará, possuímos aqui na Federação, trazidas pelo cronista -
fotografias, luvas e flores em parafina, lenços atados e outras que tais provas ALUCINATÓRIAS!!!

Assim se compreende que, contraditas inçadas de tanto hebetismo (imbecilidade) devam ser inócuas, ao menos para os que sabem o que leem e pesam o que dizem.

*

A propósito, ainda, da passagem de Dª. Anna Prado, agora que temos informes circunstanciados do acidente, algumas considerações aqui se impõem: Tinha ela a intuição, que não escondia às pessoas intimas, de haver sido inquisidor em anterior etapa terrena, e agora, horrivelmente queimada, mostrando as mãos descarnadas ao Dr. Matta Bacelar, acrescentava:

-Ah! Não lhes dizia eu que tinha sido inquisidor? Por isso, morro assim queimada, eu que mandei queimar a tanta gente.

Aí têm os leitores a confirmação havida na doutrina e nos fatos comezinhos, como nas tragédias quase diárias da vida humana, e que mais não é do que a realização daquelas palavras do Cristo e Senhor:

“Quem com ferro fere, com ferro será ferido.”

Isto dizia-o Ele a Pedro, o Apostolo da Fé, quando este, em arroubos de
dedicação à pessoa do Mestre, tirava da espada por defende-Lo.

Hoje, em seu nome, benzem-se espadas e batizam-se couraçados de guerra, a toques de clarim e rufos de tambor!

E os une o fazem são, em regra, os que nos perseguem, insultam e caluniam, por amos – dizem eles – do mesmo Cristo!

*

Mas, voltando à prova dolorosamente justa de Da. Anna Prado, ocioso não é recordar o que dissemos no passado número, isto é: “que os médiuns são, em regra, grandes devedores, com pesados resgates a fazer.”

Assim o consideremos: que devem, por suas faculdades quaisquer, dar o
testemunho da Verdade, num tempo em que dize-la, chega, para muitos, a ser
um crime.


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