Inspirações - 14

Inspirações – 14

por Angel Aquarod

Reformador (FEB) Janeiro 1924

              O ESPIRITISMO NAS LUTAS SOCIAIS E POLÍTICAS

Se o Espiritismo não pode particularizar-se em uma forma religiosa especial, e a exemplo das religiões históricas, tão pouco os outros aspectos da sua manifestação pode reduzir-se a um ramo especial, nem amesquinhar-se ao ponto de representar um partidarismo mais.

Por isso, assim como se diz que o Espiritismo não é uma Religião, assim também se afirma que não é uma ciência, nem uma moral, mas a Ciência e a Moral.

Do mesmo modo, nas outras ordens de sua influência, também não se pode singularizar. Também não pode ser, portanto, patrimônio de uma escola social qualquer, nem de uma política determinada, se bem que exerce e há de exercer muito mais influência ainda no futuro, na expressão política e social dos povos.

Ninguém, nenhuma escola, nenhum partido poderá dizer jamais que ela ou ele é o Espiritismo, pois que nenhuma tendência poderá monopoliza-lo. O Espiritismo é algo mais que unir tendência política ou social: está acima de todas as fórmulas sociais e políticas, por cima de todos os programas, de todas as tendências. Ele poderá animá-los, inspirá-los e dar vida a todos, saturando-os com sua seiva vivificante, porém em nenhuma forma pode tomar a expressão definida que a ela é peculiar.

Por isso, o Espiritismo, como tal, não poderá patrocinar um sistema particular político ou social, nem jamais tampouco ocupar as alturas do poder público, enquanto haja partidos que o disputem. Só poderia fazê-lo quando houvesse conseguido reunir todas as tendências em uma síntese única e todos os homens em uma estreita confraternização, na qual não houvesse disputa para que prevalecesse a opinião de cada qual.

O Espiritismo, que representa a vontade do Divino Mestre, coincidindo o seu triunfo com a realização do ideal cristão e o estabelecimento do reino social de Jesus Cristo, só poderá, como disse, tomar as rédeas do governo social quando se tiver chegado à unidade política, social, religiosa, econômica, etc.

Por conseguinte, podem retificar sua opinião aqueles bons irmãos que esperam ver o Espiritismo e para isso trabalham, como formando um partido mais a frente dos outros partidos, intervindo nas lutas políticas e sociais.

Não, isso não o pode fazer o Espiritismo. Seus adeptos podem ter as opiniões que mais lhes agradem, tanto políticas como sociais; porém o Espiritismo não pode confundir-se com nenhuma outra escola que não seja a sua própria.  

Como, se assim não fosse, poderia influir de maneira decisiva para levar todos os espíritos da variedade à unidade, para suavizar a violência das lutas entre as diversas tendências e laborar a fraternidade universal, da qual é ele, hoje, o mais firme sustentáculo e amanhã coroará a vitória desse ideal redentor, que fará da família humana uma só unidade fundida ao calor de um amor puro e fraternal?

A maneira por que o Espiritismo influirá nas lutas políticas e sociais e na fundação da sociedade do porvir, não será a de singularizar-se, tornando-se escravo de determinada escola ou tendência; não. Seus adeptos é conveniente que os haja em todos os campos, ainda os mais opostos, nos quais têm o dever de laborar para despertar neles o sentimento de fraternidade, de respeito, de benevolência e de tolerância; devem, por conseguinte, militar em todas as ideias, opiniões e sistemas de qualquer ordem que seja.

E é assim que ele vai influindo em todas as ordens e em todas as tendências.

Credes, porventura, que nos partidos, escolas religiosas, filosóficas e sociais não há espíritas? Há, sim!

Nos partidos monárquicos reacionários, tendes espíritas; tende-os nos partidos monárquicos liberais; nos republicanos de todos os matizes e socialistas, desde os mais moderados até os anarquistas ultra radicais; na ordem religiosa encontrareis adeptos do Espiritismo, bem como a ele simpáticos, em todos os ramos do Cristianismo desde o católico até qualquer um dos ramos dissidentes. E nas diversas escolas filosóficas encontrareis também quem simpatize com o Espiritismo, e se não se declaram tais, adotam-no entanto o espiritismo nos seus ensinamentos, e sem nomeá-lo nele se inspiram no seu labor. E além desta aproximação pessoal, poderiam os dizer clandestina, há também os espíritos que em todas as escolas influem em seus adeptos, por meio da intuição e da inspiração, sem que estes o saibam, e isso para conseguir suavizar as lutas e inspirar no ideal espírita as orientações para o labor.

Atualmente, ainda que não o pareça, é enorme a influência que exerce ocultamente o Espiritismo em todas as escolas e tendências e até entre os indiferentes. Credos que se assim não fosse, não seriam ainda mais cruentas as lutas de vossos dias? Sim, seriam muito mais cruentas; não haveria dique que detivesse os contendores: mas, ainda que não se deem a conhecer como espíritas, os indivíduos de todas as posições, que sentem o ideal espírita, influem para que se moderem as lutas e os sentimentos de justiça e de humanidade se imponham.

Violenta é ainda hoje a luta, muito violenta; porém, tende por certo que se não fosse a influência do Espiritismo, que aproxima os corações, seria muito mais violenta ainda.       

E não suponhais que se há influência nas facções contendoras pelos partidários ou simpáticos ao ideal espírita; a influência também se faz sentir pelas ideias que verteis, quando falais e quando escreveis; para uma e outra causa se realizam criações fluídicas, com a emissão dos pensamentos; estas formas, entrando na circulação ideológica, que sulca os ambientes, vão ferir o cérebro dos militantes de todos os partidos e escolas e os influenciam no sentido da mesma ideia que dá vida à forma posta em circulação. Daí a necessidade de que se emitam por todos os adeptos, quando possam, sem cessar, pensamentos que representem os pontos mais transcendentes de suas ideias; pensamentos de fraternidade, de unidade social e religiosa; pensamentos de paz, de benevolência e de união das diversas tendências, tendo de derruir tudo que nelas haja que possa conduzir a fraccionar ou desagregar.

Por isso é conveniente que amiudeis vossas sessões e, sobretudo, as de doutrinação, de emissão de pensamentos fraternais, de irradiações amorosas, tendentes à unidade de todos os seres.

Não importa que em vossas sessões a assistência seja escassa; as ideias que se emitem, os pensamentos que se põem em circulação, igualmente seguem seu curso e vão influir onde convém que influam.

Sei vos convenceis de todas estas verdades; se compreendeis bem os benefícios que podeis fazer com estas práticas, não deixaríeis passar uma só oportunidade sem lançar em circulação ideológicas irradiações de amor, pensamentos para o bem.       

Já vedes que o Espiritismo, para influir nas lutas sociais e políticas, não tem necessidade de confundir-se com partido algum.

Não olvideis, do mesmo modo, a oração para estes fins, se bem que a oração é tudo o que com fim louvável se realiza.

Não patrocineis a particularização do Espiritismo numa forma determinada de expressão política ou social, porque ele está acima de tudo isso, como já vos disse; porém fazei-o intervir nas lutas, nas diferentes formas por que pode exercer sua influência; ajudando deste modo a ação incessante dos espíritos, em todos os partidos. conseguireis apressar o advento de uma era mais feliz para a humanidade, no amparo de elevados ideais e de formas sociais e religiosas de maior justiça e igualdade que as atuais, inspiradas na verdade suprema.