Redação
Reformador (FEB) Agosto 1923
Reformador (FEB) Agosto 1923
Havia, em
Jerusalém, nas imediações do templo, a piscina das ovelhas, em hebraico Bethsaida, com cinco galerias ou
alpendres.
Por ocasião do
sucesso em seguida indicado, ali jazia, segundo o testemunho de João, grande multidão de enfermos.
Aguardavam o
momento em que a água se agitasse para fazerem imersão no tanque.
O próprio evangelista parece compartilhar a
crença vulgar sobre a descida de um anjo à fonte para agitar-lhe á agua.
“E o primeiro
que entrava no tanque, depois de se mover a água, ficava curado de qualquer
doença que tivesse.”
A crença
antiga pode ser comparada à moderna referente à piscina de Lourdes.
Postas de lado
as superstições, exploradas pelo clero católico, não negamos, em tese, as curas
de Lourdes, perfeitamente explicáveis, sem intervenção miraculosa, pela
doutrina dos Espíritos, como as do templo de Esculápio e outras da antiguidade.
Entre os
enfermos da fonte de Bethsaida achava-se um homem paralítico havia trinta e
oito anos.
Depois de ouvi-lo,
disse-lhe Jesus:
“Levanta-te,
toma a tua cama e anda.”
“E, no mesmo
instante”, refere o evangelista, “ficou são aquele homem e tomou a sua cama e
começou a andar. E era aquele dia um dia de sábado.” (João, V: 1-9.)
Para a cura imediata
(statim) não houve necessidade da imersão no tanque, considerada então essencial.
Muitos
doentes, que nele mergulhavam, não conseguiam, aliás, a saúde. As águas da
piscina podiam ser medicinais; mas as curas dependiam ainda de outros fatores,
não só naquela época, como na atualidade, tanto em Jerusalém como em outros
lugares.
Adstritos ao
rigoroso formalismo da religião, os Judeus não admitiam que o ex-paralítico carregasse
o grabato às costas, no sábado, e perseguiam a Jesus por “fazer estas coisas”
em dia destinado por lei ao descanso. (João, V 10 e 15).
Que diria um fariseu
de hoje a quem comesse carne em dia de preceito, ou não genuflectisse diante da
hóstia consagrada?
Quantos indivíduos
foram queimados, sob a religião de Roma, por atos, ou omissões semelhantes?
O Senhor,
encontrando no templo o ex-paralítico, disse lhe:
“Olha que já
estás são; não peques mais para que te não suceda alguma coisa pior – ne deterius
tibi aliquid contigat.” (João V. I4)
Para a
medicina materialista, a frase do Cristo não tem sentido, ou é anti-científica.
Que relação há
entre o pecado e a moléstia? Entre o perdão e a cura?
Comentando a
citada frase, observou ALLAN KARDEC:
“Por estas
palavras (JESUS) lhe dá a entender que sua moléstia era uma punição, e que, se
não tratasse de se corrigir, ele poderia de novo ser punido com mais rigor.
Esta doutrina está inteiramente ele conformidade com o
ensino do Espiritismo.” (1)
(1) A
Gênese cáp. XV, nº 22
Em outra ocasião,
na cidade de Cafarnaum, JESUS, antes de mandar o paralítico pôr-se a caminho, lhe
havia dito:
“Filho, tem
confiança, perdoados te são teus pecados.” (Mateus IX, 2)
A dívida estava solvida. Remidos os
pecados ou as faltas, chegou ao termo a provação a que foi submetido o paralítico.
Nós todos,
encarnados no planeta - salvo, até certo ponto, os espíritos missionários, estamos na situação de enfermos, necessitados
de cura. Como os do Evangelho, devemos implora-la, crentes e confiantes, ao Médico
das almas, atento às súplicas.
Estudamos o
Espiritismo e os Evangelhos; procuramos compreende-los. Não o fazemos, nem devemos
faze-lo, por simples curiosidade. Se vamos ad
lucem, como retrogradar?
Após as ideias
vêm os atos.
Cumpre-nos aplicar
os ensinos adquiridos e pôr em execução os preceitos decorrentes.
Tem grande
significação e alcance a palavra divina:
“Conhecei a
verdade e ela vos libertará.”
Veritas liberabit vos.
Assim, cada um
de nós pode, conhecendo a verdade libertadora, obter a remissão dos pecados,
delir culpas, pagar débitos. A encarnação atual não será perdida, nem sacrificada.
Quantas anteriores foram inúteis?
Se a paralisia
da alma (permitida a comparação) nos tolhe os movimentos, se estamos atacados de
cegueira espiritual, a culpa é nossa, exclusivamente nossa.
Não há penas
para inocentes.
A exemplo dos
enfermos do Evangelho, podemos readquirir a motilidade, e receber a luz, obedecendo
e cumprindo a lei. Não perderemos o dia.
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