A
Mediunidade e as suas relações com a moral
por Carlos Imbassahy (pai)
Reformador
(FEB) Outubro 1925
(A propósito de um
artigo do Dr. Eugène Osty)
Quem lida com médiuns e pode estuda-los
em vida íntima, verifica que a sua mediunidade sofre a influência dos seus atos.
Alguns sentem, mesmo, os rebates da consciência
e emendam a mão; outros, menos vigilantes, fazem ouvidos moucos a essa voz
íntima e não raro vemos perder-se, por isso, o precioso dom com que nascem muitas
criaturas.
Vejamos um exemplo.
Contou-nos o Sr. Araújo Franco, nome
muito conhecido na sociedade carioca o seguinte fato, sendo nós obrigado a
conservar em sigilo os nomes dos protagonistas.
‘F’ tinha uma mediunidade notável.
Não lhe faltava a assistência
constante do seu guia. Ouvia vozes que o dirigiam, que o guiavam, que o
aconselhavam; elas, não raro, lhe davam avisos premonitórios; os casos preanunciados
se realizavam com absoluta certeza.
Entre os fatos da sua mediunidade, conta-se
o seguinte, bem interessante:
Certa vez, sentara-se ao pé de si um
cavalheiro.
‘F’, que não o conhecia, que nunca o
vira, volta-se para o vizinho e entra a dar-lhe conselhos. E, à proporção que
falava, o outro empalidecia.
Os conselhos vinham a propósito, e de
tal força foram, que o vizinho de ‘F’ ficou seriamente impressionado.
Este tinha uma apaixonada e os pais
da moça negaram-lhe a mão da filha.
Para
vingar-se, ele conseguira que um cúmplice envenenasse a caixa d’água da casa em
que residiam os progenitores da jovem que ele desejava por esposa.
Com os conselhos de ‘F’, o envenenador,
arrependido, tornou à casa ameaçada. Já o seu cúmplice tinha colocado o veneno
na caixa; já uma quantidade da água envenenada tinha sido recolhida. Mas ainda
ninguém se tinha servido daquela água.
Ainda havia tempo, portanto. O
tresloucado rapaz, para salvar as pessoas da casa teve que confirmar o delito. Esvaziaram
a caixa, limparam-na, puseram fora a quartinha (moringa) e ficou indene a
família alvejada.
E, como tout est bien qui finit bien, pode-se a dizer que tudo foi bem.
Arrependimento, perdão,
reconciliação e a felicidade estendeu as suas asas sobre todos.
Sobre todos, menos sobre o médium que
não soube medir a extensão de sua responsabilidade.
A nosso ver, quando Foi a graça recebida
- a de poder salvar do crime um infeliz e da morte uma família inteira.
Pelas vicissitudes da vida foi ele,
o médium, obrigado a ir para o interior. Aí, em certa ocasião, meteu-se num conflito,
puxou de uma faca e a enfiou no ventre de um agressor.
Pois foi-lhe a mediunidade. Ela morreu
com o ofendido, com a vítima do seu punhal. Nem mais as vozes, nem mais os avisos, nem
mais os prenúncios, nem mais o guia, nem mais nada!
Nada, absolutamente nada!
Em torno do assassino fez-se o
silêncio do espaço!
Silêncio profundo, muito mais
apavorante que o silêncio da Terra. Terrível silêncio, esse, com efeito, o da
consciência, pelos temores que nos dará ao despertar!
Não se poderá, nesse caso, dizer que
a extinção da mediunidade derivasse de uma causa orgânica; que houvesse uma
relação entre ela e o corpo físico do médium.
Ele conserva a perfeita integridade
dos seus órgãos e o uso das suas funções.
O dom mediúnico é que se extinguiu
com todas as suas consoladoras consequências.
*
Se algum dia o Criador o permitir,
faremos o estudo da mediunidade de uma senhorita que, por espaço de três meses
frequentou as nossas sessões. Podemos, num espaço de cinco anos de estudos,
obter, pela primeira vez, a identidade perfeita de Espíritos (perfeita, veja-se
bem), sem que para ela pudéssemos invocar nenhuma, absolutamente nenhuma, das
teorias apresentadas pelos meios científicos. Essa senhorita, porém, até onde
nos foi possível indagar, tinha ou tem ainda, uma vida de sacrifícios, votada
ao trabalho, ao sofrimento.
De outras médiuns temos também
obtido, embora em menor escala, efeitos surpreendentes, e nada vimos, afora os
pecadilhos comuns à humanidade, nesses, em que tais efeitos se produzem, fatos
que lhes pudessem comprometer seriamente a moral, sendo, muito antes, de notar,
a sua conformação com os preceitos cristãos.
Faz parte da moral cristã e é ponto
capital dentro da doutrina espírita, que se deve dar de graça o que de graça
recebermos.
Pois bem, os médiuns que não cumprem
esse mandamento, sofrem grandes contratempos e, em grande número de vezes, às
perturbações de que são vítimas se junta a perda da mediunidade.
Certo, se há de ver, este ou aquele
médium, de quem se sabe que recebe remuneração mais ou menos disfarçadamente
pelos serviços de sua mediunidade, e que, no entanto, ainda a possui em grau
mais ou menos notável.
Mas, muitas vezes, também, o que
entra por uma das mãos sai pela outra a serviço da caridade.
E daí o segredo. Daí a razão de se
poderem verificar ainda os frutos de uma mediunidade mal exercida.
Certos pesquisadores completamente
estranhos ao Espiritismo, tem notado o fato que aí deixamos exposto – que os
melhores médiuns são os que não exploram a dádiva que lhes concedeu o Criador.
Harry Price, psiquista americano, se
tem preocupado com a doutrina espírita; é um simples observador e nada mais.
Ele nos diz, no número de Maio de 1924, do The
Journal of the American Society for Psychical Research:
“Não tenho inclinação a formular teorias.
A hipótese espírita é igual a qualquer outra.”
Por aí se vê a sua nenhuma
inclinação pela nossa doutrina.
No entanto, o mesmo pesquisador que
tem mantido grandes desconfianças pelos trabalhos dos médiuns, a que tem
assistido, acaba de apresentar-nos resultados admiráveis com os fenômenos
verificados por Sletta C..
Esse médium foi, talvez, o único
médium não remunerado, que ele conheceu.
Em Novembro de 1924, escrevia na
revista “Light”, mis C. Walker: Os
mais interessantes fenômenos que eu tenho visto foram produzidos por dois
médiuns não profissionais: Willy Schneider E Fran Silbert, de Gratz.
Tais os ensinamentos dos fatos. Eles
nos estão a abrir os olhos a todos os momentos. Com a terceira revelação veio a
prova dos grandes ensinamentos que os profetas tem trazido à Terra e que
culminaram nos Evangelhos do Cristo.
Felizes os que tiverem olhos de ver
e ouvidos de ouvir!
Nenhum comentário:
Postar um comentário