Os Tempos
por Guilherme Stwillimans
Reformador
(FEB) 1925
A moral vem atravessando uma das crises
mais temerosas da história humana.
No passado do mundo não houve
transição mais violenta, nem mais prolongada.
Os homens, amarfanhados pela dor,
batem às portas do desespero e deixam que se apaguem os últimos bruxuleios da
fé.
A razão comedida e clara de antes
tornou-se desvairada pelo ódio e egoísmo de agora.
É tanta a desventura e tão grave,
que nenhuma classe social ficou isenta desse doloroso esboroar de virtudes.
Éolo (deus dos ventos na mitologia
grega), irado, sopra sobre as terríveis tubas (instrumento musical) do mal e este vai
subvertendo, avassalando, aluindo (sacudindo) e extinguindo nos corações,
obnubilando (tornar
obscuro) nos
Espíritos o cultivo diligente da divina semente do bem. É a crise pavorosa das
almas, depois da jornada de sangue de 1914, guiada pelo orgulho e assente na
ambição.
Almas sem rumo, nautas sem roteiro,
embarcações sem leme, capitães e homens sem Deus, presas de fúria, levados pelo
desespero, entredevoram-se quais feras e a terra e os elementos, possuídos de
horror, oscilam nos seus fundamentos, escapam às leis que os regem e completam
assim essa imensa e dolorosa tragédia.
Desventurados obreiros da orgulhosa
Babel da terra, o edifício que pretendíeis elevar ao infinito dos céus, a desafiar
o omnipotente, treme, parte-se e cai fragorosamente, esbarroando em torno o luto,
a dor e a miséria.
A dourada areja (refrescar) da ciência não é
alicerce bastante para a felicidade e finalidade do homem na terra; ei porque os
monumentos de seu orgulho são condenados a ruir sempre e só permanecerão eretos
através dos tempos, quando firmados na rocha eterna da moral. E, porque a ciência
recalcitra, empedernida, mumificada à lei física, vai a desolação ampliando
livremente seus domínios.
Enquanto a ciência pretender pontificar
leis do alto do trono que a si mesma construiu, para gáudio do seu orgulho e
ostentação de sua heresia, não poderá impor-se aos homens, como força respeitável,
capaz de ser admitida e seguida, confiantemente em seus ditames, pois é sabido que
os homens são espíritos servidos por órgãos e a ciência pretende que eles são pura
e simplesmente uma série de órgãos conjugados, que marcham invariavelmente para
a morte que é, segundo eles, o nada eterno.
Tal monstruosidade repugna a razão
mais obtusa porque um universo sem Deus importaria em admitir-se também uma ciência
sem regras e sem leis, princípios básicos inerentes e componentes da ciência organizada.
Se a ciência, para o ser, precisa
tornar-se demonstrável, daí concluímos a necessidade da existência real de uma coisa
concreta que constitua origem ou alicerce em que pousem as análises, teorias,
induções, regras ou leis que sobre ela se formem, se ordenem e se admitam como
verdades demonstradas.
A existência dos fatos, com suas leis
próprias, independentes da intervenção científica, deveriam conduzir os sábios ao
critério universal da certeza na existência da força ordenadora do fato e da
inteligência, presidindo a fixação das leis que o regem, e a curvarem-se perante
esse poder, essa força e essa ciência.
Não o fazem, entretanto, antes se
curvam à matéria que lhes permite a ilusão de se julgarem, eles próprios,
outros criadores “mignons”, quando conseguem operar a decomposição, a
transformação dela.
O resultado dessa vesânia (loucura) é esse que vemos e
sentimos, isto é, a falência que aí vai. O imenso rebanho humano estertora (agoniza), brame, ulula (solta a voz), geme e chora
debatendo-se em dores, em ânsias que raiam pelo desespero, vítima de angustias
imensas e inenarráveis à ciência, que pretende arrancar-lhe do coração e do
entendimento - Deus, para o qual se voltam os aflitos, não acode, não previne,
não evita, não extingue, não desfaz essa catástrofe, esse horror.
A ciência nada faz, nada pode fazer,
porque ignora a maneira de enxugar a lágrima, de erguer as energias e a fé, de confortar
o desesperado e de conduzir o cego, o que não a impede, aliás, de proibir e
condenar aqueles que procuram faze-lo, independente da sua autorização.
Os discípulos verdadeiros do Nazareno,
não se arreceiam das ciladas e maldades dos homens, certos de que só cairão, nas
armadilhas feitas para lobos, os próprios lobos.
Ruge desembestado o vendaval do mal,
da dissolução, do egoísmo e do orgulho; fraquejam os pusilâmines (covardes), os tíbios (desanimados) de fé, os
inconsistentes de moral e de atitude e deixam-se cair nas garras do príncipe do
mundo.
Cuidado! Cuidado irmãos, a hora é terrível,
pois é aquela anunciada da separação dos cabritos das ovelhas e daquele aviso: “e
quando ouvires falar de guerras e de tumultos, não vos assusteis: estas coisas
devem suceder primeiro, mas não será logo o fim.
“Então, lhes dizia: levantar-se-á nação
contra nação, e reino contra reino.
“E haverá grandes terremotos por várias
partes, e epidemias, e fomes, e aparecerão coisas espantosas, e grandes sinais
no céu. (Lucas, XXI, 9, 10,11)
Será oportuna a leitura do capítulo,
até o fim, cuja transcrição aqui não pode ser feita.
Esta é a época do testemunho: aqueles
que permaneceram firmes até ao fim serão salvos.
O mestre Jesus, filho de Maria, do
alto da espiritualidade e da glória eterna, repete aos discípulos o que outrora
lhes aconselhou no monte das Oliveiras; “Vigiai
e orai, para que não entreis em tentação. O Espírito na verdade está pronto, mas
a carne é fraca.”
Do
Blog: Um texto quase centenário... Como lê-lo agora?
Nenhum comentário:
Postar um comentário