Os fenômenos psíquicos e a
moralidade do médium
por Carlos Imbassahy
Reformador (FEB) Agosto 1925
(A propósito de um artigo do Dr. Eugenio Osty.)
O Dr. Eugenio Osty, ilustrado metapsiquista francês, está
fazendo um estudo, em que indaga das
causas psicológicas que predispõem à mediunidade, que a desenvolvem ou restringem.
Vêm-se, do seu trabalho, as dúvidas, as incertezas, as
vacilações que assaltam o fisiologista,
para dizer com segurança o que indispõe
ou predispõe o médium,no desdobramento de sua faculdade.
Há fatores que, em uns, tornam difíceis as manifestações
mediúnicas ou, de alguma sorte, as suprimem; esses mesmos fatores, em outros indivíduos, são de efeitos surpreendentes.
Há um, porém, onde já não têm cabimento as divergências. Os
seus efeitos se apresentam uniformes - e a esse nós chamaríamos de fator moral - aquele que é condicionado pela vida moral do médium, pela sua retidão no cumprimento
dos deveres, pelas suas virtudes, pela
obediência aos preceitos cristãos.
Enquanto o Dr. Osty encara o assunto pelo seu lado psicológico, vamos nós tirando as conclusões filosóficas que os fatos nos impõem.
Não são os efeitos físicos de uma existência ascética, não é a influência orgânica que exercem ação sobre a mediunidade, as consequências
de uma vida virtuosa imperam sobre o ambiente do médium, favorecem o auxílio
das potências superiores – e ai temos o surto dos “milagres”.
Não se
poderá negar que a debilidade do corpo facilita o desprendimento do espírito.
E, daí, muitas vezes, a produção
de uma série de fenômenos, que muita gente não sabe explicar.
Mas, o que também
temos por certo, é que eles não se darão, ou, pelo menos, não terão a forma impressionante do milagre, se o médium não for possuidor de elevação de caráter
e de procedimento
nobre, ou não terão durabilidade, se o mesmo médium for arrastado
para o mal caminho.
É o
que nos induziram a crer as nossas observações pessoais.
Num indivíduo de maus costumes, os fenômenos físicos por
ele produzidos nunca serão de ordem a beneficiar a humanidade, incluindo entre
eles a mediunidade curadora, tão desenvolvida e espalhada entre nós, antes,
tomam os fenômenos a forma daquilo que os médicos denominam genericamente de moléstias nervosas e a que chamamos de obsessão.
Quem priva de perto com os médiuns e, sobretudo, com
aqueles que tiveram a alta missão de aliviar as penas do gênero humano, sabe
quanto lhes custa a eles o mal uso de suas faculdades
ou se desviarem de uma
digna linha de conduta.
Em pouco se esgotam os dons e o infeliz, arrastado por
uma sorte inexplicável, vai,
de queda em queda, esbarrar num abismo donde não
há levantar.
O Dr. Osty pode indagar como terminaram seus dias grande
número de médiuns europeus que tiveram fama, que produziram fenômenos rigorosamente
observados; procure acompanhar-lhes o curso da vida e novo rumo terá que dar, talvez, ao encaminhamento do seu espírito científico
na nova forma de atividade
para que o dirige.
Entre nós, dois médiuns houve de fama
e que produziram trabalhos portentosos.
Como é de ver, levantou-se
grande campanha contra eles. Era a prova, a grande prova a que todos nós temos
que sujeitar. Eram ambos médiuns curadores, a mais bela e a mais perigosa das
mediunidades.
Eram reais, positivamente reais, os fenômenos. A imprensa
tratou da momentosa questão.
Livros se escreveram sobre esses médiuns. Formou-se lhes em torno a auréola de assombro.
Os doentes apareciam curados as dezenas, as centenas. Muitos
de seus nomes ainda estão na memória de todos.
Eis que, porém, a cupidez, o egoísmo, a vaidade foram
fazendo brecha na alma deles, os médiuns, e minando-as e solapando-as
sorrateiramente.
Começaram eles a acreditar no que lhes diziam os homens
da ciência, que aquela faculdade era um pode humano; falaram-lhe ao interesse e
ao orgulho.
Tinha sido escalada a fortaleza pelo ponto vulnerável: em
pouco lhes desaparecia o dom miraculoso e eles caíam na miséria!
O que foi o doloroso fim de ambos muita gente ainda se
recorda.
Cantaram vitória aqueles que o detraíram, supondo que a
falência do homem seria a falência da doutrina.
Parece, porém, que a época ainda é de provas amargas. Todos os médiuns, os bons médiuns,
não sabem resistir aos ataques com que são
postos em experiência.
Para
que escapem, para que se furtem às investidas misteriosas que o fazem cair, é
preciso que passem obscuramente, que não se lhes conheçam os nomes, que não se
lhes apontem os feitos.
Estes devem surgir unicamente nos
frutos produzidos.
O médium, pelo
menos em nossos dias, precisa viver desconhecido e humilde.
Lá, na sua
obscuridade, como que só o vêm os que tem
muita luz, luz espiritual, luz celeste, e são estes que o assistem e o
protegem.
Ai dele, se a tuba da fama o vai buscar, e ai dele,
sobretudo, se não procura manter os ouvidos fechados a todas as louvaminhas e a
todos os encômios, que são como a arapuca armada à sua experiência.
Falamos
de dois médiuns curadores e do seu triste fim.
E
falaríamos ainda de um terceiro, cujos fatos são de agora, se não nos fosse
faltando espaço. Infelizmente, não podemos dar o cunho de autenticidade
aos fatos, por não nos ser permitido citar nomes.
Como iríamos nomear os que se tem
desviado do caminho do bem, como aponta-los destas colunas? Como trazer a
público fatos dolorosos, indicando os seus heróis?
Perca este trabalho o seu valor
documental, mas salvem-se os preceitos doutrinários que mantemos com tanto
fervor.
Iremos, portanto, continuar no
nosso modesto estudo, citando fatos, sem a preocupação dos nomes.
E Deus há de permitir que a nossa
palavra não seja posta em dúvida.
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