Caracteres
da propaganda do Espiritismo
A Redação
Reformador (FEB) Setembro 1925
Reformador (FEB) Setembro 1925
É o nosso maior desejo que o Espiritismo
se propague amplamente e à sua luz os
incrédulos se convertam, mas é mister nos entendamos sobre o que cumpre levar a
efeito em prol da sua ampla divulgação. Certo é que o papel a ser desempenhado pelos espíritas é de segunda grandeza neste particular, porque a regência superior
do Espiritismo, no mundo, cabe aos Espíritos reveladores. Eles sabem despertar
e atrair a atenção humana pode-se dizer que é principalmente sob a sua influência
que as inteligências se inclinam à aceitação
das verdades que eles revelam. Aos adeptos corre o dever de proclama-las com segurança
e critério, socorrendo-se da experiência e observação de seus maiores, para a
escolha dos métodos mais adequados à propaganda.
No entretanto, nem sempre a ação dos
adeptos tem sido esclarecida e como o homem age às cegas, quando é dominado
pelo ardor do proselitismo e não está em comunhão com os Espíritos superiores, nem
senhor dos conhecimentos doutrinários, sucede que as formas mais contraditórias
de propagação das ideias espíritas tem sido observadas, outrora mais do que
hoje, e dentre elas lembramos as sessões públicas de carater experimental.
Ora, tais sessões de vulgarização do
Espiritismo por vezes se tem convertido, no dizer do Mestre, em arena de propaganda.
No afã de derrotarem a descrença, ostentam as reluzentes armas dos fatos, na
suposição de que nada resistirá ao seu contato, sem embargo, a experiência há
mostrado que de lá o adversário se retira quase sempre mais forte
e zombador.
Compreende-se a utilidade e a razão
de ser das reuniões de caráter experimental, mas, para que produzam bons
frutos, instruam, despertem e completem a convicção, é necessário, em primeiro lugar,
que não sejam públicas e que, pelo menos, as pessoas que as frequentam simpatizem
com a ideia espírita e de antemão conheçam os princípios estabelecidos. Consideramos,
enfim as sessões práticas como um curso de “instrução espírita,
em que se estuda a teoria dos fenômenos, a indagação das causas e a consequente
verificação do que é possível e o que não é. (1)
“É matéria vencida, diz ainda o
mestre, que a melhores comunicações se obtêm nas reuniões pouco numerosas, naquelas
onde principalmente reinam a harmonia e união de sentimentos. Ora, quanto mais
numerosas, mais difícil de conseguir-se a homogeneidade. (2). E, se a homogeneidade,
a comunhão de pensamentos e de sentimentos são, para os grupos espíritas, e
toda a sorte de reuniões. A condição sine
qua non, de estabilidade e vitalidade, é para este fim que devem tender
todos os esforços e, quanto menos numerosas forem as reuniões, tanto mais fácil
alcança-lo. (3)
Com efeito, atraindo-se a multidão
de curiosos para assistir os trabalhos práticos, é sumamente difícil, senão
impossível, obter-se dela as referidas condições de homogeneidade para as
reuniões sérias e instrutivas, porque os sentimentos e ideias contrárias que a
agitam não poderão jamais formar ambiente favorável às boas produções
mediúnicas.
Outrora, a Federação realizava
sessões públicas e práticas, mas, de pronto, o Espírito do Dr. Bezerra de
Menezes, que as presidia, logo na sua segunda mensagem de desencarnado, mensagem
que publicaremos mais tarde, veio reparar o erro em que incorera de boa fé,
dando-nos a orientação a que temos sido fiéis até este momento.
(1) Revue Spirite 1859, pg. 171
(2)
Livro dos Médiuns pg. 328
(3)
Revue Spirite 1860, pg. 301
Ora, tal sistema de propaganda por
ser impróprio e inadequado aos fins que devemos ter em vista, acolhemos plenamente
as instruções do nosso patrono, ainda mais porque se casam com as que o nosso bem
amado mestre Sr. Kardec, houve por bem dar aos membros da Sociedade parisiense
de estudos espíritas na alocução pronunciada por ocasião da terminação do seu mandato
de presidente da referida Sociedade no ano de 1859, de alocução que extraímos
este fragmento:
“Sem
dúvida, diz ele, desejamos todas a vulgarização das ideias que professamos,
porque a: reputamos úteis e para isso cada um de nós contribui com a sua parte,
mas sabemos que a convicção não adquire senão a custa de observações contínuas
e não por fatos isolados, sem encadeamento e raciocínio, contra os quais a incredulidade
pode sempre apresentar objeções. Um fato, dirão, é sempre um fato, argumento sem
réplica. Sem dúvida, quando não é contestado, nem contestável. Um fato, que sai
fora do círculo de nossas ideias e
conhecimentos, parece impossível à primeira vista e, quanto mais extraordinário,
maiores objeções levanta, eis porque sofre contestação. Aquele que investiga as
causas delas toma conhecimento, que para elas encontra base e razão de ser, compreende
a possibilidade do fato e já não o rejeita. Um fato não é inteligente, muita vez,
senão pela sua ligação com outros fatos; considerado isoladamente, pode parecer
estranho, incrível, absurdo mesmo; mas, seja ele um dos anéis da cadeia, tenha
base racional e possa se explicado, toda anomalia desaparece. Ora, para
perceber-se esse encadeamento e apreender-se o conjunto e que se é conduzido,
de consequência em consequência, é mister em todas as coisas, e talvez com mais
forte razão em Espiritismo, um nexo de observações raciocinadas. O raciocínio
é, pois, elemento poderoso de convicção, hoje mais do que nunca, quando as
ideias positivas nos induzem a saber o como e o porquê de cada coisa.
É de admirar a persistência da
incredulidade em matéria de Espiritismo nas pessoas que viram, enquanto que
outros que nada viram, são crentes sinceros: será que estas últimas são
criaturas superficiais, que aceitam tudo que se lhes diz? Ao contrário, as primeiras viram, mas não
compreenderam; as segundas não viram, mas compreenderam e se compreenderam é
porque raciocinassem.”
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