quarta-feira, 22 de março de 2017

Carta a um indiferente


Carta a um Indiferente 
Ojuara
Reformador (FEB) Agosto 1954

Meu irmão:
            Tu, que segues pela vida afora, tão indiferente, tão despreocupado dos assuntos de natureza espiritual, tu, que vives totalmente absorvido por múltiplos e complexos problemas, todos de ordem exclusivamente material, com a manutenção da família, que queres assegurar; com as riquezas, que queres conquistar, com honrarias e posições sociais, que queres escalar; com os prazeres mundanos, que queres desfrutar; com os apetites da carne, que queres contentar. Tu, que, ignorante ou esquecido das altas finalidades da existência, resumes apenas nisso todo o ideal da tua vida, em que consomes todo o teu tempo, essa bênção divina que para fins bem diversos te é concedida por Deus, sem poderes dispor de um momento sequer para dedicar ao estudo e à reflexão de assuntos mais importantes que te dizem respeito, ou seja os de natureza espiritual, pois que envolvem todo o teu futuro eterno, escuta e medita atentamente naquilo que te vou dizer:

            - Como não és ateu nem materialista, crês certamente que em ti existe um sopro divino, quer lhe chames alma ou espírito, que sobreviverá à tua morte e que, mesma que o quisesses, nunca se extinguirá. Esse sopro, alma ou espírito, é o que constitui tua personalidade espiritual, ou seja o teu próprio "eu", cuja vida será eterna.
            Quando chegar o fim da tua existência corporal, ou seja o dia da tua morte, o teu corpo baixará à sepultura por entre lágrimas e lamentações descabidas dos teus parentes e amigos, mas o teu espírito, plenamente consciente, com toda a tua inteligência, todos os teus conhecimentos, opiniões, virtudes, recordações,  vícios e defeitos, enfim, tu mesmo, apenas despojado do corpo pesado que vai apodrecer, continuarás a viver, empreendendo aquilo a que muitos impropriamente chamam a derradeira viagem.

            Sabes, assim, com toda a certeza, que essa viagem tem que ser realizada; seja dentro de dois, dez, vinte anos ou mais, tens que empreendê-la. Disto deves estar absolutamente certo, não obstante a incerteza da data da partida.

            Agora, pergunto-te: Já sabes para onde vais? Já conheces o porto do teu destino? .Já estás providenciando a aquisição do teu bilhete de passagem? Já estás procurando informar-te sobre as condições de vida nas regiões que vais habitar? sobre a índole, hábitos e costumes dos seus habitantes e com os quais vais conviver? Já estás procurando travar relações de amizade com algum deles, para que no dia da tua chegada te vá receber, ajudar, orientar, ou mesmo hospedar-te em sua casa?

            Bem sei que tais perguntas, não obstante a suma importância de que se revestem, terão todas uma resposta negativa, ou ficarão sem resposta. É que não tiveste ainda o tempo necessário para refletir sobre tais assuntos. Andas demasiadamente ocupado com os teus negócios. Se és moço, dirás, com certeza, que somente depois de velho pretendes cogitar desse assunto, Mas, pergunto-te ainda: Tens certeza de que chegarás à velhice? Quem te garante que amanhã, na próxima semana, no mês ou no ano vindouro, não terás que empreender tal viagem? E se assim é, meu irmão, porque não inicias a preparação enquanto é tempo? Porque não começas, desde logo, a arrumar a tua bagagem? Porque não te vais logo informando de todos os detalhes necessários? Porque essa demora em traçar o teu programa, estabelecer o itinerário e o destino da tua viagem?

            Que dirias de alguém, que, ao apanhar um navio ou avião para viajar, desconhecesse o porto do seu destino, nada soubesse da rota e duração do percurso, ignorasse tudo o que se relacionasse com a sua viagem, não soubesse enfim para onde se dirigia? Como classificarias a imprevidência de outro alguém que, rumando para uma região desconhecida, talvez para a Sibéria ou para os Polos, talvez para a zona tórrida da África, desdenhasse de obter informações seguras sobre o clima daquela região e outras particularidades, a fim de munir-se de agasalhos adequados para o primeiro caso, ou de roupas claras e leves, no segundo, evitando assim a terrível surpresa de deparar-se, desprevenido, justamente com o que não previu, seja o frio insuportável, ou o calor intenso e asfixiante?

            Pois bem: por maior que fosse o espanto que pudessem causar tais atitudes, reveladoras de completa loucura da parte de quem as adotasse, não é outra a situação em que te encontras, é exatamente isso o que ocorre contigo. Sabes, com toda a certeza, que tens de partir; mas não procuraste, até agora, informar-te para onde irás, nem com o que te vais defrontar. No teu espírito, tudo é ignorância, dúvida e incerteza, nesse particular.

            Os teus mentores espirituais, se és católico, admitem a hipótese de que irás para o Céu, se te confessares na hora da morte, mesmo que tenhas cometido todos os erros e crimes. Que talvez sejas enviado para o purgatório, de onde poderás sair, mediante o pagamento, feito pelos teus parentes que aqui ficaram, de missas que sejam celebradas pelo teu sufrágio. Ou, então, no último caso, mesmo que tenhas todas as virtudes e praticado todo o bem, se não pertences ao grêmio da "Igreja Infalível", serás irremediavelmente condenado ao Inferno, por toda a eternidade. Mas, ainda assim, eles, conforme confessam, não têm bem certeza disso, afirmando categoricamente que tudo o que se relaciona com a vida de além-túmulo é um impenetrável mistério que Deus não consente seja desvendado, e que de lá ninguém veio até agora para contar o que ocorre.

            Inteligente que és, a tua razão repudia tais definições, mas, ao invés buscares com todo o interesse encontrar a verdade, saber o que realmente te aguarda quando transpuseres o túmulo, o que é de capital importância, pois é todo o teu futuro que está em jogo, preferes, com preguiça de pensar, continuar nessa apatia, nesse criminoso alheamento pela tua sorte, ignorando os terríveis sofrimentos que te esperam se continuares esquecido de que és um espírito imortal, criado por Deus, para um destino cuja felicidade ou desgraça se encontra nas tuas próprias mãos.

            Despertado por esta advertência, que sabes ser sincera porque desprovida de outro interesse, senão o de fazer-te o bem e de ver-te feliz, decerto me perguntarás assustado: Que devo então fazer? É fácil; muito fácil mesmo, a resposta. Estuda!.. Somente por esse caminho poderás chegar ao conhecimento! Medita, raciocina, e não admitas crer, senão naquilo que a tua razão possa, sem constrangimento, aceitar como digno de crença! A fé cega e imposta já não é desse século! Já vai longe o crepitar das fogueiras da "Santa" Inquisição.

            Decerto já ouviste falar no Espiritismo. No seio da tua própria família, na de um parente ou amigo, já ocorreu um caso de manifestação, de obsessão, de cura ou outro qualquer, que te deu notícias da sua existência, como alguma coisa digna de estudo
e de análise, muito embora o vigário do teu bairro continue a combatê-lo, afirmando que se trata de obras do diabo, e que é proibido ao católico ler e se instruir sobre tais assuntos, bastando apenas acreditar no que ele, o vigário, diz.

            Todavia, não obstante o rude e desleal combate que lhe movem os inimigos da Verdade, o Espiritismo cada dia mais se propaga e expande, conquistando novos adeptos, nas camadas mais cultas da sociedade, afirmando-se incontestavelmente o verdadeiro Espírito da Verdade, o sublime Consolador prometido por Nosso Senhor Jesus Cristo, do qual nos fala São João nos capítulos 14, 15, 16 do seu Evangelho, encarregado de vir nos últimos tempos, que são os que estamos vivendo, restaurar, em toda a sua pureza, a doutrina do Divino Mestre, que seria, como realmente o foi, deturpada e esquecida pelos homens interesseiros, ignorantes e maus.

            Os tempos, assim, são chegados, e tudo aquilo que, por culpa exclusiva dos homens, tem permanecido durante tantos séculos envolto em denso mistério, está sendo desvendado pela Terceira Revelação, ou sejam os Espíritos do Senhor, que estão pondo nas mãos dos homens, não apenas na de um, que se proclama infalível, a chave de todos os segredos e mistérios, esclarecendo-os sobre o que os aguarda no outro lado da vida, instruindo-os sobre o que lhes importa fazer para serem felizes, advertindo-os do grave perigo em que incorrem, se desprezarem os seus ensinamentos.

            Chega a tal ponto o interesse manifestado pelos Espíritos Superiores pelo progresso e aperfeiçoamento moral dos homens e pela sua felicidade futura que muitos, dentre eles, utilizando-se das faculdades psicográficas de médiuns especializados, escreveram e continuam a escrever livros e mais livros, narrando, com abundância de detalhes, tudo o que ocorre nas esferas da espiritualidade, descrevendo pormenorizadamente as condições de vida nas regiões das sombras e da luz, ou sejam os mundos de dores e expiações, e os de paz e felicidade, para onde são os homens encaminhados após a morte, conforme tenham feito mau ou bom emprego, dos dons que Deus lhes concedeu, na sua permanência na Terra.

            Contêm tais livros verdadeiras, completas e interessantíssimas "reportagens". escritas em belo estilo e convincente linguagem e de cuja veracidade o mais céptico e descrente não ousa duvidar. Estão nesse caso todos os livros escritos pelo Espírito de
André Luís, pseudônimo de notável médico carioca já falecido, sobretudo os intitulados: Nosso Lar, No Mundo Maior, Missionários da Luz, Obreiros da Vida Eterna e muitos outros. assim como o livro intitulado ‘Voltei’, escrito sob o pseudônimo de "Irmão Jacob", que narra todas as suas impressões desde a hora da sua morte até quando reencetou, na companhia de outros Espíritos iluminados, os trabalhos de doutrinação de sofredores e ignorantes, iniciados por ele, quando em vida aqui na Terra.

            Seria enfadonha a enumeração dos livros que tratam de tão palpitante assunto e que fazem parte da imensa bibliografia espírita, publicada e para a qual contribuiu com apreciável contingente o grande médium psicógrafo. Francisco Cândido Xavier, de cujo lápis, manejado por Espíritos altamente iluminados, já saíram  mais de quarenta livros, fora grande cópia de versos e mensagens, muito embora não esteja ele catalogado no número dos escritores profanos, e exerça, apenas, modesta função pública na cidade de Pedro Leopoldo, no Estado de Minas.

            Por tudo o que ficou dito, está sobejamente demonstrado que o Espiritismo, antes de ser combatido, deve ser estudado e analisado, mesmo com rigor, pois somente ele pode esclarecer o homem sobre o seu destino futuro e imortal e, portanto, somente isso o que te ouso pedir, meu indiferente irmão: Que despertes dessa apatia, dessa inação em que tens vivido e que te poderão ser fatais, e procures estudar, com carinho, aquilo que poderá transformar a tua vida e fazer-te muito feliz Não creias que irás para o inferno, ou para o hospício, conforme assevera o teu vigário, se realizares esse estudo.

            Procura acercar-te de algum amigo que seja espírita, e ele te indicará os livros que deves ler, a fim de te iniciares no estudo dessa maravilhosa doutrina que é, ao mesmo tempo, ciência, religião e filosofia, das mais admiráveis. Frequenta, se te for possível, as reuniões doutrinárias de algum templo espírita, e fica certo de que o tempo que dedicares a esse mister será o mais utilmente empregado em toda a tua vida, pois te conduzirá ao conhecimento do que mais necessitas saber, a fim de seres verdadeiramente feliz.
(Extraído de "Seara do Cristo”)


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Um comentário:

  1. Buscar a verdadeira felicidade, mesmo ainda estando na Terra!!!
    Adorei, meu querido...

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