terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A tela do panteão de Paris


A tela do Panteão de Paris       
Kleber Halfeld
Reformador (FEB) Maio 1989

            Um conceito levantado em 1864 por Mesmer (Espírito) teria estreito relacionamento com a observação feita por André Luiz no século atual, diante de uma tela “idealizada e executada por nobre artista cristão, numa cidade espiritual muito ligada à França".

            Pode Mesmer (1) ser considerado como uma figura de destaque da Ciência no século XVIII. Disto é prova o mesmerismo, doutrina médico-filosófica por ele criada, de grande repercussão não apenas na Europa, quanto em outros continentes. (2)

            (1) Mesmer (Franz Anton) nasceu em Weil (Áustria) em 23-5-1733. Desencarnou em  Meesburg (Suíça) em 5-3-1815. Seu trabalho "De Planetarium Influxus" foi motivo de muita polêmica no meio científico da época.

            (2) Tão conhecido ficou o mesmerismo que com o tempo passou o termo a ser usado por vários escritores de projeção. Camilo Castelo Branco em sua obra "Onde está a felicidade?", Capítulo 14, página 12, tem uma expressão curiosa:
            - Tu estás sendo para mim um homem de cristal: vejo-te, sem a vista dupla do mesmerismo, as menores operações do espírito.

            Como todo inovador, enfrentou Mesmer um meio hostil, bastando lembrar que em sua época fenômenos hoje catalogados como psicológicos pela Medicina, mas que os classificaríamos - muitos deles - como mediúnicos, não eram ainda reconhecidos como suscetíveis de estudo científico.

            Em síntese, o mesmerismo estabelecia a existência de um fluido específico, o célebre magnetismo animal. Em decorrência desse fluido, influências recíprocas seriam exercidas entre os corpos celestes, a Terra e os corpos animados, inclusive o ser humano.

            Explicava Mesmer que esse fluido teria extraordinárias propriedades: seria comparável ao magnetismo dos ímãs e estaria universalmente difundido. Era contínuo, sutil e naturalmente suscetível de receber, propagar e comunicar todas as impressões do movimento e capaz ainda de vivificar os tecidos doentes, tendo, portanto, ação largamente curativa.

            De início, objetivando ajudar aqueles que o procuravam, usava Mesmer imãs e varas metálicas magnetizadas. Dez anos depois, tendo-se relacionado na Suíça com o padre J. J. Gassner, verificou que este conseguia curar os doentes apenas pelo contato das mãos. Esta observação levou Mesmer a abandonar seu método, imaginando que a força oculta que residia nele próprio permitir-lhe-ia curar também os enfermos. Ao final de certo tempo certificou-se de que as curas poderiam ser obtidas até mesmo pelo simples olhar!

            Decidiu-se, primeiramente, pela abertura de um consultório em Viena, Áustria, desejoso de melhor provar sua tese. Mas as sessões que realizava com os clientes não duraram muito tempo: descoberto seu trabalho, a polícia deu-lhe um prazo de 48 horas para deixar a Capital austríaca. Contrafeito, dirigiu-se para Spa e finalmente para Paris, onde em pouco tempo ficariam famosas suas curas.

            Durante toda sua existência foi Mesmer considerado um charlatão.

            Pela Justiça e pela Medicina vigentes.

            Tal acusação, entretanto, não impediu que dezenas de doentes o procurassem diariamente buscando alívio para seus males. Em vista desse inusitado interesse,
nomeou o governo francês uma comissão de médicos e membros da Academia de Ciências para investigar os fenômenos que se desenrolavam nas sessões realizadas por Mesmer. Dois membros dessa comissão, Franklin e Baillie, elaboraram um longo e minucioso relatório. Admitiam, em verdade, a existência de muitos fatos, mas contestavam a teoria do médico austríaco relativa à existência da força denominada magnetismo animal. Atribuíam os efeitos tão-somente às causas fisiológicas.
           
            Desencarnou Mesmer, assim, carregando o título de impostor, a ele atribuído impiedosamente pelos companheiros de profissão.

            Afirmam alguns biógrafos que a utilização do magnetismo animal no tratamento dos doentes foi o ponto de partida para um escândalo que sacudiria toda a Europa.

            Esta alegação tem um sentido relativo, porquanto o que havia mesmo era uma premeditada reação por parte de quantos se opunham sistematicamente a toda e
qualquer inovação no campo da terapêutica.

*

            O mérito de Mesmer repousa no fato de que não foi ele apenas o médico preocupado no alívio do próximo; era, também, o pesquisador que, tendo descoberto horizontes outros além daqueles que a matéria poderia descortinar-lhe, não se deteve diante do ortodoxismo levantado por seus adversários.

            Seu trabalho teve duplo direcionamento.

            Para a Medicina, serviram as pesquisas de base para estudos que seriam realizados pelo abade Faria, por d'Eslon, Bertrand, Husson, Azam e outros. A continuidade das pesquisas levaria a Humanidade até o neuro-hipnotismo terapêutico de Braid, o freno-magnetismo de Grimes, a força ódica de Reichenbach.

            Sem mencionar aqui o trabalho de Charcot, quando uma conotação científica seria atribuída ao hipnotismo.

            É que continha o mesmerismo os germens do moderno tratamento por meios ditos psicológicos: sugestão, hipnotismo.

            Para o próprio Mesmer, o esforço proporcionou-lhe melhor identidade com o mundo espiritual, identidade essa tanto mais solidificada quando penetrou ele no mundo que tanto pesquisara quando encarnado.

            Tamanho foi seu aprendizado no Além, tão dignas de reflexões as teses que elaborou, que não teve Kardec receio de publicá-las na Revista que dirigia.

            Uma dessas mensagens - "Sobre as Criações Fluídicas" - foi dada ao conhecimento dos leitores da "Revista Espírita", em seu número de maio de 1865.

            A matéria fora recebida mediunicamente pelo Sr. Delanne, na reunião realizada em 14 de outubro do ano anterior, na sede da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

            A certa altura explicava Mesmer:

            "(...) O mundo dos invisíveis é como o vosso. Em vez de ser material e grosseiro, é fluídico , etéreo, da natureza do perispírito, que é o verdadeiro corpo do Espírito, tirado desses meios moleculares, como o vosso se forma de coisas mais palpáveis, tangíveis, materiais.

            O mundo dos Espíritos não é um reflexo do vosso; o vosso é que é uma imagem grosseira e muito imperfeita do reino de além-túmulo. (3)

            (3) o grifo deste parágrafo aparece na "Revista Espírita". Não sei se usado pelo Espírito quando da transmissão da mensagem ou se colocado por Kardec...

            As relações desses dois mundos sempre existiram. Mas hoje é chegado o momento em que todas essas afinidades vos irão ser reveladas, demonstradas e tomadas palpáveis." (...)

            Não acrescentou Kardec qualquer comentário à página de Mesmer.

            A razão era assaz simples.

            Não poderiam ser as expressões usadas pelo Espírito comunicante mais simples e objetivas. Constituíam, da mesma forma, em alguns pontos, a repetição daquilo que ele, Kardec, já deixara bem explícito, não apenas na obra basilar "O Livro dos Espíritos", como através de numerosos artigos de sua autoria, publicados na "Revista Espírita".

*
            Em 1944, a Federação Espírita Brasileira lançava a obra "Os Mensageiros", a segunda da coleção de André Luiz.

            No Capítulo 16 - "No Posto de Socorro" - encontra o leitor uma das mais interessantes narrativas feitas por quem, na Terra, à semelhança de Mesmer, também fizera o juramento de Hipócrates.

            A cena do mencionado capítulo desenrola-se em grande castelo situado num dos Postos de Socorro de "Campo da Paz". Após terem sido saudados pelo casal Alfredo-Isnália, André Luiz e Aniceto são conduzidos pelo primeiro ao interior doméstico. É nessa oportunidade que o autor de "Nosso Lar" experimenta grande surpresa.

            Preocupado em não tirar qualquer pormenor do relato, transcrevo aqui as expressões que, aliás, têm correlação com o título do presente trabalho:

            "( ... ) Admirado, fixei as paredes, de onde pendiam quadros maravilhosos. Um deles, contudo, impunha-me especial atenção. Era uma tela enorme, representando o martírio de São Dinis, o Apóstolo das Gálias rudemente supliciado nos primeiros tempos do Cristianismo, segundo meus humildes conhecimentos de História. Intrigado, recordei que vira, na Terra, um quadro absolutamente igual àquele. Não se tratava de um famoso trabalho de Bonnat, célebre pintor francês dos últimos tempos? A cópia do Posto de Socorro, todavia, era muito mais bela. A lenda popular estava lindamente expressa nos mínimos detalhes. O glorioso Apóstolo, seminu, com a cabeça decepada, tronco aureolado de intensa luz, fazia um esforço supremo por levantar o próprio crânio que lhe rolara aos pés, enquanto os assassinos o contemplavam, tomados de intenso horror; do alto, via-se descer um emissário divino, trazendo ao Servo do Senhor a coroa e a palma da vitória. Havia, porém, naquela cópia, profunda luminosidade , como se cada pincelada contivesse movimento e vida." (...)

            O manuseio de algumas obras especializadas possibilitará acrescentar certos detalhes, referência feita à descrição de André Luiz.

            Bonnat (Léon Joseph Florentin) (4), Diretor da Escola de Belas-Artes de Paris, em 1905, era grande amador da arte e autor de inúmeros retratos e composições acadêmicas, tendo legado sua coleção, ao desencarnar, ao Louvre e ao Museu de Bayonne, que lhe traz o nome.

            (4) Nasceu em Bayonne , I833. desencarnando em Monchy-Sa int-Eloi , Oise , em 1922 .

            Desse vigoroso artista destacam os críticos trabalhos como "Job'", "São Vicente de Paulo tomando o lugar de um galeriano", "Cardeal Lavigerie " e "O Martírio de São Dinis".

            Mas, é exatamente essa última tela - mencionada por André Luiz - aquela de expressão mais impressionante, destacada regularmente pelos estudiosos da arte
pictórica.

            Com referência a São Dinis, sugere a experiência um cuidado todo especial por parte do pesquisador. O motivo relaciona-se:

            - à variação de ordem gráfica do nome (Dinis, Diniz, Denis , Denys, Dyonisio, Dionísio, Dyonisius, Dionusos), da qual lançam mão os historiadores; e

            - à multiplicidade de figuras ligadas ao Catolicismo, portando esses diversos nomes.

            Agravando ainda mais a situação, é de se mencionar os vários desencontros de informações por parte dos biógrafos, dificultando o trabalho de pesquisa.

            A história do mártir citado em "Os Mensageiros" é comovente, quão impressionante.

            Obras como o "Grand Dictionnaire Encyclopédique Larousse", o "Dictionnaire d'Histoire et de Géographie Ecclesiastiques", ou o trabalho realizado pelo padre Campos Góes - "Os Santos do Ano" -, fornecem-nos alguns dados a respeito dessa figura venerada pelo Catolicismo, principalmente em terras da França.

            A primeira obra citada (ela usa a grafia Denis e Denys) assinala-o como o primeiro bispo de Paris e esclarece que Grégoire de Tours , no final do século VI, escreveu em sua "Historia Francorum " que à época do Imperador Décio sete bispos missionários foram enviados de Roma às Gálias. Dois desses sete bispos, Saturnin (de Tolouse) e o nosso Dinis (de Paris) morreram mártires.

            O padre Campos Góes, que o grafa com o nome de Dionísio, tem -no como ateniense, membro do Areópago, posteriormente convertido ao Cristianismo por Paulo de Tarso.

            A respeito da figura daquele que seria futuro mártir, deixa esse autor transparecer uma vibração muito carinhosa:

            "(...) Modelou a sua vida pela de quem era mestre consumado. E saiu-se um discípulo austero, mas sem arestas, simples, sem ser ingênuo , zeloso, mas indulgente, animado de ardor que não via sacrifícios. De inteligência excepcional e espírito versado nos variados conhecimentos da época, todo ele era uma chama ardente. De ora em diante, só pensando, e falando, e agindo, pela glória do Cristo, era um retrato de Paulo."

            Referindo-se ao seu deslocamento para as Gálias, continua:

            "(...) Bispo de Atenas por algum tempo, passou a diocese a S. Públio, indo oferecer--se ao Papa S. Clemente para evangelizar os povos que ele designasse. O Papa enviou-o acompanhado do padre Rústico, do diácono Eleutério e de outros pregadores, para doutrinar as Gálias. (...) A sua palavra foi ouvida pelo povo, tendo convertido uma multidão imensa de pagãos que, sob a direção espiritual dos novos pastores, formaram uma comunidade cristã fervorosa. O Evangelho era difundido entre as populações que o recebiam com agrado, quando estalou uma terrível perseguição contra os cristãos. Com mais de cem anos, S. Dionísio foi uma maravilha de firmeza, coragem, desprendimento. Preso, submetido à tortura, ele encoraja a cristandade nascente. Amarrado a uma cruz, prega o mistério da redenção do mundo." (...)

            As informações sobre sua desencarnação , embora coerentes quanto ao modo pelo qual foi sacrificado, penetram, concomitantemente, no campo do fantástico, o que faz emergir, entre os estudiosos, querelas sem fim.

            São do autor de "Os Santos do Ano" estas palavras:

            "(...) Depois de confortado por uma aparição do Salvador, S. Dionísio, em companhia de uma multidão de cristãos, tem a cabeça cortada no lugar que hoje se chama Montmartre.

            Diz uma antiga tradição que, depois de executado, o corpo ergueu-se por si mesmo e, tomando a cabeça entre as próprias mãos, levou-a a duas léguas de Paris, ao lugar que, mais tarde, denominaram S. Dionísio, em memória deste fato." (...)

            Confrontando-se o relato de André Luiz com os esclarecimentos fornecidos pelos compêndios de nossas bibliotecas, chega-se à conclusão pacífica de que tudo se conjuga harmoniosamente: a tela que o autor espiritual encontrou no Posto de Socorro de "Campo da Paz" seria cópia de outra existente no plano terrestre, ou melhor, no Panteão de Paris. Entretanto, a leitura restante do Capítulo 16 de "Os Mensageiros" reserva-nos desfecho imprevisto.

            Conta-nos o autor:

            "Observando-me a admiração, Alfredo falou, sorrindo: - Quantos nos visitam, pela primeira vez, estimam a contemplação desta cópia soberba.

            - Ah! Sim - retruquei -, o original, segundo estou informado, pode ser visto no Panteão de Paris.

            - Engana-se -- elucidou o meu gentil interlocutor -, nem todos os quadros, como nem todas as grandes composições artísticas são originariamente da Terra. É certo que devemos muitas criações sublimes à cerebração humana; mas, neste caso, o assunto é mais transcendente. Temos aqui a história real dessa tela magnífica. Foi idealizada e executada por nobre artista cristão, numa cidade espiritual muito ligada à França. Em fins do século passado, embora estivesse retido no círculo carnal, o grande pintor de Bayonne visitou essa colônia em noite de excelsa inspiração, que ele, humanamente, poderia classificar de maravilhoso sonho. Desde o minuto em que viu a tela, Florentino Bonnat não descansou enquanto não a reproduziu, palidamente, em desenho que ficou célebre no mundo inteiro. As cópias terrestres, todavia, não têm essa pureza de linhas e luzes, e nem mesmo a reprodução, sob nossos olhos, tem a beleza imponente do original, que já tive a felicidade de contemplar de perto, quando organizávamos, aqui no Posto, homenagens singelas para a honrosa visita que nos fez o grande servo do Cristo. Para movimentar as providências necessárias, visitei pessoalmente a cidade espiritual a que me referi." (...) 

            Para melhor fixação de nossa parte, frisemos, então, dois pontos:

            1. A tela intitulada "O Martírio de São Dinis", pintada por Bonnat e existente no Panteão de Paris, é cópia daquela encontrada em uma cidade espiritual muito ligada à França. O original é trabalho de um artista cristão.

            2. O quadro que André Luiz viu, portanto, no Posto de Socorro de "Campo da paz", é igualmente uma cópia, uma reprodução.

            Quando Alfredo faz referência à beleza inconfundível da tela criada pelo artista cristão - posteriormente copiada por Bonnat -, indiretamente está alargando seu pensamento não apenas para outras produções pictóricas, como ainda vai mais longe,
relacionando toda expressão da arte em geral.

            Por exemplo, na mesma obra atrás citada, no Capítulo 32 - "Melodia Sublime" -, fala-nos André Luiz de uma melodia que teve oportunidade de ouvir, executada ao órgão por Ismália. O relato, mesclado de emoção e simplicidade, faz-nos concluir pela existência, na Espiritualidade, de um mecanismo que nos é inteiramente difícil ao entendimento de encarnados, tamanha a sua beleza e complexidade. Disto é atestado o trecho a seguir:

            "(...) A melodia, tecida em misteriosa beleza, inundava-nos o espírito em torrentes de harmonia divina. Penetrava-me o coração um campo de vibrações suavíssimas, quando fui surpreendido por percepções absolutamente inesperadas. Com assombro indefinível, reparei que a esposa de Alfredo não cantava, mas no seio caricioso da música havia uma prece que atingia o sublime - oração que eu não escutava com os ouvidos mas recebia em cheio na alma, através de vibrações sutis, como se o melodioso som estivesse impregnado do verbo silencioso e criador (Destaquei; o grifo é de A.L.)

            É ainda o próprio André Luiz que depois pergunta a si mesmo:

            “Que melodia era aquela que se ouvia através de sons inarticulados?”

            Fosse talvez em decorrência dessas considerações, ou seja, da beleza da música nos Planos Superiores, que Rossini, o grande compositor italiano, tenha afirmado, da Espiritualidade , que no momento em que a harmonia chega a um estágio deveras sublimado

            "confunde -se com a prece, glorifica a Deus e leva ao deslumbramento aquele mesmo que a produz ou a concebe". (5) (Grifei.)

            (5) Mensagem através do médium Sr. Nivard, na data de 17-1-1869. (“Revista Espírita" de março de 1869.)

            O mesmo Espírito, em outra passagem, tem ensejo de dissertar sobre o "processo" das criações artísticas, dentro de seu entendimento:

            "(...) Rossini juntou notas, compôs melodias, provou a taça que contém todas as harmonias; roubou algumas centelhas ao fogo sagrado; mas esse fogo sagrado, nem ele criou, nem os outros! - Nada inventamos: copiamos do grande livro da Natureza e a multidão aplaude quando não deformamos muito a partitura." (6) (...)

            (6) Mensagem através do médium Sr. DesIiens, em seu Grupo, na data de 9-12-1868. ("Revista Espírita" de janeiro de I869.)

            Hoje, com esclarecimentos proporcionados por novos autores espirituais, podemos considerar que no momento em que o artista, liberto da matéria através do processo do sono, entra em contato com o Plano Maior, grava no íntimo as expressões elevadas de sua Arte. Mas, de regresso ao vaso físico, nem sempre logra expressar com a devida fidelidade quanto viu, ouviu ou sentiu.

            Daí confessar André Luiz (no citado Capítulo 16) que

            "via, agora, explicada a tortura santa dos grandes artistas, divinamente inspirados na criação de obras imortais; agora, reconhecia que toda arte elevada é sublime na Terra, porque traduz visões gloriosas do homem na luz dos planos superiores".

            Como arremate de semelhante pensamento, temos igualmente a palavra esclarecedora de Alfredo, expressa no mesmo capítulo:

            "(...) Ninguém cria sem ver, ouvir ou sentir, e os artistas de superior mentalidade costumam ver, ouvir e sentir as realizações mais altas do caminho para Deus." (...) (Grifei.)

*
            “O Martírio de São Dinis", tela de Bonnat, apreciada por milhares de pessoas que visitam a Capital francesa, constitui cópia daquela que um dia ele viu em uma colônia espiritual.

            Seria o caso de subtrair-lhe o mérito?

            Penso que não.

            Sem mencionar o valor do quadro, resultante da beleza de cor e vigorosidade de traço, há que considerar o "prêmio" que a Bonnat foi concedido: embora de forma fugaz, ver o célebre original!

            E aqui uma indagação:

            - Quantos encarnados terão tido essa feliz oportunidade?


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