quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O Boeing 707



 Boeing 707

                Reformador (FEB) página 194 - Julho 1973

                Não é a popularidade ou o prestígio das pessoas desencarnadas em meio a tragédias coletivas que deve dar a medida emocional da opinião pública. Entretanto, não se pode negar que esses dois fatores mundanos emprestam, realmente, maior impacto aos acontecimentos, tanto festivos quanto funestos. O desastre, em Paris, com o Boeing 707, embora não represente caso isolado na história da aviação comercial, atraiu maiores atenções, dada a presença de nomes conhecidos na política, na música popular e nos círculos  destacados da sociedade. É natural que assim seja, ainda que a desencarnação devesse provocar sempre as mesmas reações. Afinal, tanto significa, para a modesta e desconhecida família, a partida abrupta do seu chefe, eventual vendedor anônimo, quanto a de prestigioso político ou a de fascinante cancioneiro. Há de se compreender, porém, essa diferenciação do comportamento humano, a qual não será nem negativa nem condenável. Funções, presenças, popularidade, projetam mais determinadas figuras e sua partida provoca maior impacto. A preocupação do espírita, todavia, deve se situar sempre na faixa ideal do entendimento, amplo e sensato dos fatos, sem deixar necessariamente de senti-los, é claro, mas encarando-os com serenidade e confiança. Não há de anestesiar-se dentro de um conformismo frio e insano, posto quer os elementos imponderáveis e muito pessoas de amizade, admiração e saudade são a fantasia do super-homem, visando a exibi-la na medida em que se jacta tolamente do seu ‘espírito forte’, tudo arrostando com ensaiada fleuma e a ‘coragem’ que faltaria aos que ainda sabem chorar... A Doutrina Espírita não sobreviveria a essa colocação conformista e egoísta. Por isso, ela alia aos sentimentos nobres da dor e da amargura sensações balsamizantes do consolo e da fé. Explicando o porquê de todos os fatos e indicando com precisão o papel dos que ficam e o destino dos que partem, a tudo atribui um sentido lógico e racional, descortinando diante de quem sofre os caminhos da consolação e da esperança. É natural a intimidade do pranto. É até bom chorar, às vezes. Jesus também chorou. Sentimos a ausência provisória dos que amamos, como a sentimos quando deles nos afastamos ao ensejo de qualquer separação menos rotineira. Inobstante, é preciso compreender que Deus tudo comanda, que nada acontece por acaso, que cada um recebe de acordo com as suas obras, que a ‘morte’ trágica e violenta é sempre um meio de resgatar equívocos pretéritos e libertar o Espírito à amplidão dos espaços. A partida coletiva abala e comove; mas naquele avião estavam apenas -e exclusivamente- criaturas comprometidas num mesmo processo, atraídas de diversos pontos e aproximadas na precisão e justiça de leis que se sobrepõe às da aerodinâmica.
            Todos os passageiros do Boeing 707 deixaram este mundo de lágrimas. O prestígio e a popularidade de alguns acrescentou ao desastre carga maior de emotividade pública. Talvez tenha ela contribuído para que o processo de desligamento daqueles Espíritos haja sido facilitado, tal o feixe de vibrações amorosas lançadas pela perplexidade dos parentes, amigos e desconhecidos. Importa, contudo, salientar a confiança que em horas tais a ninguém deve faltar, configurada na certeza de que a ‘morte’ não é o fim e que todos os passageiros e alguns tripulantes do Boeing 707 estarão à espera dos que ficaram. Um dia -ainda sujeito ao critério da Lei-, estarão todos juntos novamente. Os que se abeberaram da Doutrina Espírita, tanto entre os que partiram quanto entre os que ficaram, sabem perfeitamente disso e disso vivem. Oremos pelos que não o sabem. Precisam de nossas preces. Bem mais do que nossa amargura ou nosso desespero.   

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Os Dois Filhos - Parábola


Os Dois Filhos - Parábola
           
21,28   “Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: “Meu filho, vai trabalhar na vinha!” 21,29 Respondeu ele: -Não quero, mas, em seguida, tocado de arrependimento, foi.
21,30 Dirigindo-se ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O filho respondeu: “Sim, Pai!”, mas não foi.
 21,31 Qual dos dois fez a vontade do Pai?” -O primeiro, responderam-lhe. E Jesus disse-lhes: “ -Em verdade vos digo, os publicanos e as meretrizes vos precedem no reino dos céus!”
21,32  João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os publicanos, porém, e as prostitutas creram nele, e, vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para crerdes nele.”   

Para Mt (21,28-32), -Os Dois Filhos do Vinhateiro - atentemos a Antônio Luiz Sayão em “Elucidações Evangélicas”:

            “Promessas realizáveis no futuro e estímulo para o presente é o que se nos depara nestas palavras suas: “Os publicanos e as meretrizes vos precederão no reino dos céus”. Foi como se dissera:

            “Esses são filhos rebeldes, que tardam em ir trabalhar na vinha do Pai e família, que só vão tardiamente, quando arrependidos, mas que vão; ao passo que vós, orgulhosos, que destes na Igreja os primeiros passos, que dissestes: “-Vou, Senhor”, mas ficastes parados, que haveis mesmo, muitas vezes, retrogrado, chegareis tarde, muito tarde ao reino dos céus, pois que será mister compreendais a vossa falta. Tereis que trabalhar com ardor, a fim de recuperardes o tempo perdido. Quando, porém, chegardes, os publicanos e os de má vida, que se arrependeram a tempo, que cumpriram a sua tarefa, lá estarão desde muito à vossa espera, para vos estenderem as mãos e vos ajudarem a transpor a entrada.”

            Ouçam os sacerdotes, os escribas e os fariseus dos nossos dias, os que tiverem ouvido para ouvir.”

            Para Mt (21,28) -Vai Trabalhar hoje na Minha Vinha - leiamos Joanna de Ângelis por Divaldo P. Franco em “Lampadário Espírita”:

            “Enquanto são moças tuas carnes, goza. Frui as delícias da juventude e aproveita. Amanhã possivelmente será tarde demais.”

            “Tantas dádivas a vida moderna proporciona que é uma lástima desperdiça-las. Se Deus nos concede o ensejo do prazer, porque rejeitá-lo?”

            “Antes que chegue a amargura, reúne para o futuro evocações através do que possas desfrutar agora. Nem sempre será claro o teu sol...”

            “A velhice não é quadra de espera da morte: é também, oportunidade de experimentar divertimentos próprios: passeios, espairecimentos, reuniões sociais com jogos elegantes. Afinal, para que viver?”

            “Vivamos conforme a época. Isto sim! Viver por viver não é razão para viver. A inteligência deve funcionar a serviço da vida agradável” - asseveram com frequência os novos condutores do pensamento, padronizando emoções e ansiedades em limites imediatistas e escravizantes.

            A nova ética parece fundamentada nos jogos irrequietos da carne transitória e putrecível, como se a vida fosse apenas o reflexo de paixões primitivas a explodirem no complexo da personalidade humana.

            “-Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha?” - narrou Jesus.

            O apelo gentil do Cristo se reveste de significativa nobreza. Há os que trabalham para o hoje terreno e se afadigam, acumulando bens que ficam e se gastam; muitos laboram para si mesmos e estiolam as mais expressivas qualidades do sentimento; diversos produzem para a loucura da inteligência que se perverte; multidões se engalfinham na luta inglória da ação que conduz à morte...

            O chamamento do Senhor é apelo para a Vida...

            A vinha é o coração imenso da Humanidade.

            Sulcar com o arado do amor a vasta gleba das necessidade espirituais para depositar sementes de luz e esperança, cultivando as próprias aspirações de elevação redentora - eis o que representa o convite.

            Abandonar a horizontalidade das viciações em que se esboroam os objetivos da existência pela verticalidade ascensional da libertação de sombras e dores, mágoas e inquietações - eis a tarefa.

            A experiência no domicílio carnal é valioso estágio da vida imperecível. Ninguém aporta na Terra por impositivo caprichoso do acaso. Por isso mesmo a experiência física se reveste de máxima significação. Cada empecilho pela frente representa teste de valor para a tua resistência. Toda luta vale como forja para fixar valores morais nos painéis do espírito. Não desperdices tempo nem ocasião de produzir na vinha da existência planetária; cultiva simpatia e cordialidade a favor de ti mesmo. O trabalho com Jesus te renovará o ânimo e vitalizará as tuas forças, favorecendo-te com alegria de difícil tradução.

            Alegria! Contentamento feliz.

            Se já te encontras na vinha, após atender ao honroso chamamento com que foste enobrecido, não te detenhas mais ante as loucas facécias com que te acenam os incontáveis partidários da ociosidade na “boa vida”. Avança pela estrada orgânica respeitando o patrimônio carnal que a Divindade te outorgou para a redenção e acumula alegrias que não se convertam em angústias e gozos que não se transformem em fantasmas poderosos a dominarem todas as paisagens mentais...


            Vai trabalhar hoje na vinha do Senhor, alegremente, e constatarás que a verdadeira felicidade ainda é aquela que consiste em fazer felizes os que nos cercam, fixando-se em nós logo depois, como radiosas florações de todo o bem esparzido - resposta do amor d‘Aquele que até agora continua a esperar-nos confiante.” 

(Grifos do Blog) 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A Palavra de Bittencourt Sampaio - 5


Bittencourt Sampaio
por Chico Xavier
Reformador (FEB) pág. 131 ano 1934

            Não é debalde que se vos tem anunciado das Alturas serem chegados os tempos preditos pelo Cordeiro Divino para o estabelecimento da Verdade entre os homens. Os séculos passaram, no seu escoar incessante, sobre a personalidade de Jesus Cristo; todavia, não conseguiram empanar as suas promessas que se cumprirão integralmente, como outrora se cumpriram, com a sua vinda ao mundo, as profecias dos elevados Espíritos que escreveram com os seus sacrifícios a história de Israel.
            Tocais a época em que a luz espiritual se derramará sobre as trevas da carne e das impurezas; mas, luz que 'nascerá de choques tremendos, obedecendo a lei natural que presidiu aos cataclismos inconcebíveis, que varreram da face do planeta, em seus períodos primários, as causas de desorganização, para que se efetivasse a aglutinação de todos os elementos aptos a receber em seu seio os primeiros organismos humanos.

            Como vós outros, é nas sagradas promessas do passado que bebemos do futuro e, sem nos aventurarmos imprudentemente pelo terreno das afirmações categóricas, que implicariam desconhecermos o nosso dever de submissão aos sábios e irrevogáveis decretos do Altíssimo, podemos afiançar que a transformação moral da humanidade se processa de há muito e de há muito uma ativa colaboração dos espaços infinitos se vem fazendo sentir nos destinos da humanidade, com o elevado objetivo de norteá-la para o verdadeiro conhecimento da vida.

            O Cristianismo, em suas origens simples e puras, iniciou um ciclo de progresso espiritual no planeta e o século XX, com as suas concepções de liberdade, dentro da razão e da ciência, assinala a transição entre a morte do mundo material e o nascimento de uma nova era.

            É claro que nem todos os homens se apercebem da verdade evangélica; porém, apáticos ou indiferentes, serão tocados pela vibração que fará estremecer todas as almas e estalar de ansiedade os corações. Chegaram os tempos em que a verdade será dita de cima dos telhados e, sem retórica, serão as dores as portadoras das suas velhas mensagens, porque o homem velho reagirá contra o homem novo.

            A guerra se desencadeará; porém, um tombará na noite caliginosa da ignorância, com as suas armas fratricidas, e o outro surgirá na alvorada do evangelho do Amor.

            Contudo, os tempos novos, cujos eflúvios de paz podeis prelibar, quantas flagelações e dores expiatórias não custarão!..

            Instituições veneradas, sistemas filosóficos, organizações políticas desaparecerão no abismo que tragará todos os fatores do estacionamento e da esterilidade, entre os homens, e os corações serão lavados com lágrimas, purificando-se nessas abluções divinas.

            A luta será gigantesca; vereis homem contra homem, nação contra nação. A guerra, esse pavoroso gênio do extermínio, alargará todas as suas possibilidades de destruição e suas vozes aterradoras anunciarão outros flagelos decorrentes da sua ação corrosiva, mas necessária.

            Então, a humanidade se lembrará daquela voz austera e doce que lhe exprobrava: "-O Jerusalém, Jerusalém, quanta vez eu te quis abrigar, como a galinha aos seus pintinhos!.."

            Tais acontecimentos serão atestado de um trabalho de seleção que se fará entre todos os elementos espirituais do orbe terráqueo e o homem, amedrontado, assistirá aos funerais de toda uma civilização que, tendo nas veias do seu vasto organismo o sangue metálico, o ouro corruptor dos seus anseios de espiritualidade, conservador dos instintos animalizados, sangue viciado pelo vírus de um egoísmo sem limites, morrerá intoxicada pelos excessos e pelos desvarios a que se entregou desenfreadamente. A confusão se consumará e o mundo verá a morte das facções teocráticas, porque todos os templos materiais serão destruídos, todos os sistemas de falsa democracia desaparecerão no vórtice de reações fantásticas, que abalarão as coletividades tomadas de pavor. Uma onda de destruição pairará sobre a Terra; mas, no período das grandes dores, uma voz ecoará branda e severa, compassiva e enérgica, para coordenar o princípio do novo ciclo de evolução planetária. A escória espiritual, constituída pelos cegos e surdos voluntários, será exilada, como raça de seres decaídos, porque não mais a sede maldita de ouro predominará entre os homens e um fraternismo cristão se implantará, sob uma só bandeira de paz.

            Os espíritos prepostos a essa grande obra de alevantamento moral do planeta já se acham a postos, entre as sombras da carne, para amparar os fracos e libertar os oprimidos, na realização das promessas evangélicas, e para sustentar as almas combalidas nos 'ais' do Apocalipse.

            Nos espaços, elaboram-se grandiosos projetos; todavia, na execução dos planos divinos estão eliminadas as noções de tempo e de espaço. Por este motivo, os que podem descortinar algo do futuro se acham isentos da idéia estreita de pátria e personalidade e de forma alguma circunscreverão suas palavras. Para os homens, falarão de modo que parecerá vago; mas, essa suposição nasce de uma interpretação falsa, porquanto aqueles se acham possuídos da real concepção do Universo e da fraternidade de todas as almas. O que vos afirmo é que, como no princípio o Verbo estava com Deus, a Terra se formou, tem vivido e viverá com o Verbo, que está com Deus até a consumação dos evos. O Verbo é a verdade e toda a Verdade que se tem manifestado no mundo e que aí se há de manifestar será a sua voz interpretada pelos corações que com Ele se identificam. Jesus presidiu e presidirá a todas as transformações do planeta e o que se faz mister é que vos identifiqueis com Ele. Para esse trabalho superior e dignificante, tendes o Evangelho, sinopse de todos os
compêndios do aperfeiçoamento espiritual.

            Orai e vigiai; mas, sobretudo, amai muito; aguardai sem desânimo e sem impaciência a hora que se aproxima.
           
            Sede os verdadeiros trabalhadores da Seara divina. Existe formada uma caravana de bons obreiros, desde os primórdios do trabalho de evangelização do mundo.

            Essa caravana jamais se dissolveu e tem aumentado com a incorporação de muitos espíritos de boa vontade.

            Integrai-lhe as fileiras.

            Reconhecereis os seus membros não através de suas palavras, mas através dos seus atos. Eles não trazem ouro nem prata, porém constituem focos de virtudes espirituais; não são filhos do século; mas, sim da luz e se lhes pode aplicar a palavra do Mestre aos apóstolos bem amados "Eu vos envio como ovelhas no meio dos lobos."

            Esperai, pois, com humildade e pureza e trazei o vosso coração como um tabernáculo sagrado, onde seja depositada a centelha que restabelecerá a Verdade. Nunca vos detenhais nas palavras; procura descobrir o espírito, a essência das coisas. Lembrai-vos de que a cada um será dado segundo as suas obras.

            E que o Espírito da Verdade se derrame sobre todos os corações, amenizando todos os sofrimentos e estabelecendo o reinado da verdadeira paz sobre a Terra.



A Palavra de Bittencourt Sampaio - 4


Ditado de  Bittencourt Sampaio
Reformador (FEB) de 15.11.1928

            Paz, meus caros companheiros, nos conceda o Senhor e com ela a iluminação precisa, para entenderdes
o espírito da vossa tarefa, nesta escola de aprimoramento de corações.

             Passos vacilantes são os do homem; a dúvida a todo instante lhe paralisa os surtos do pensamento para a espiritualidade. Ai dele, se a mão do Senhor o não encaminhasse para os oásis onde, por momentos, se abstraia do meio terreno, a fim de viver um pouco da vida que o espera no mundo de verdade. Este é o vosso oásis; preparai-o, a fim de que a linfa que nele brota se purifique cada vez mais e vos dê cada vez maior vigor para o cumprimento do vosso dever.

            Ninguém pode usar do nome de cristão em Cristo, senão aquele que por seus atos se mostre merecedor desse qualificativo. O cristão possui sentimentos dignos do seu Mestre e, se os não possui, procura adquiri-los. O cristão ama como o Cristo amou e, se não pode imitar o seu Mestre na demonstração desse sentimento, aplica-se ao exercício da fraternidade, que o levará à prática do amor.
           
            Preceitos são estes que, observados, purificam os cenáculos onde se congregam os que se propõe a seguir os passos do Pastor divino.

            Quando os primeiros cristãos e primeiros discípulos de N. S. Jesus Cristo penetraram as muralhas da Roma pagã e devassa, não levaram como instrumento de ação a palavra. O verbo de que se serviam, eram os exemplos que davam das virtudes cristãs; a força que os impulsionava era a observância fiel dos preceitos recebidos do Mestre que os havia deixado.

            Sobre a época em que tais coisas sucederam rolou a ampulheta do tempo. A humanidade se renovou em várias ações. Muitos espíritos contemporâneos de Jesus se alistaram nas suas fileiras, depois de as terem combatido, a fim de apagarem essa mácula terrível que os retinham nos estágios inferiores da evolução. Como semelhante passado não pode ser atapetado de rosas nem de murtas, o caminho que se lhes abre era a jornada da redenção.

            Que fazer, senão curvar a fronte diante da lei que pede reparação e levantar o olhar para a estrela-guia que brilha em toda parte onde haja um espírito necessitado e desejoso de amparo, para poder caminhar?

            Meditai, meus companheiros, demorando a vossa meditação nos pontos do Evangelho que digam com a vossa situação de dependentes de um passado tenebroso. Levantai-vos do desânimo e encarai resolutos a vossa posição, confiantes na misericórdia que vos busca e que, para derramar-se sobre vós, apenas reclama lhe façais a oblata dos vossos corações, escoimados do veneno das paixões inferiores.
            Deus vos abençoe e ilumine o estudo.         

Bittencourt

Recebido em sessão do 'Grupo Ismael', na FEB

A Palavra de Bittencourt Sampaio - 3


Do Blog: É muito grande ainda a necessidade de esclarecimentos sobre algumas passagens do Evangelho do Cristo. Desta feita, selecionamos a Bittencourt Sampaio (por Frederico Jr.) que em: 'Jesus perante a Cristandade" nos sacia o conhecimento através de sua cariciosa mensagem:

Senhor, por que me desamparaste?
(Mateus 27,46)
Bittencourt Sampaio (Espírito)


            ... Antes, porém, tendo o Divino Mestre prometido ao bom ladrão, assim chamado na frase do Evangelho, que consigo ele seria no paraíso, este, vendo baixar a fronte do Senhor, proferiu estas palavras que foram atribuídas a Jesus :- Ely, Ely, lamma sabachtani! - Senhor, Senhor, por que me abandonaste!?
           
            Tal era a confusão, tão medonha a tragédia, tão negro o quadro, que, conturbados os espíritos, julgaram partirem dos divinos lábios do Amantíssimo Cordeiro essas palavras de aflição e desalento!

            Mas, assim não foi, nem poderia ser: Jesus, o Justo pré-eleito, cujo Espírito se eleva constantemente aos pés do seu glorioso Pai; Jesus, que afrontara todas as iras, todas as maldades dos homens, não podia, nesse momento supremo, participar desses desfalecimentos que só provam as almas pecadoras.

            Não, cristãos em Cristo, eu vos afirmo, como Espírito que sou, e pela verdade que recebo dos meus maiores, os Espíritos elevados que me assistem neste trabalho: a palavras de Jesus, nos seus últimos momentos, foram estas e unicamente estas:

            Tudo está consumado!
            A Vós, Senhor, entrego o Meu Espírito!


A Palavra de Bittencourt Sampaio -2


Conto convosco...
Bittencourt Sampaio
por Albino Teixeira
Reformador (FEB) 16.04.1919

 
            "Meus companheiros, paz em nome de Jesus.
            Como eu, fostes chamados pelo Senhor e colhidos nas vielas escuras, coxos e estropiados e, Evangelhos nas mãos, trazidos à mesa farta do seu banquete de amor e caridade.
            Cumpre, assim, terem guarida em vossos corações os sentimentos fraternos da concórdia, para, repercutidos no espaço, vibrarem sonoros e uníssonos com os mensageiros de Jesus, prepostos ao progresso da humanidade, à sua ascensão na escala infinita das esferas.
            Responsabilidade grande a vossa, pois uma vez chamados é porque o Divino Mestre em vós confia para colaborardes firmemente na sua obra, fazendo juz à Sua misericórdia.
            Eu espero, portanto, que, resolutos e firmes em vossa fé, crentes nas graças divinas, sejais um braço forte com que aqui possamos contar para romper as linhas tenebrosas que se antepõem ao andamento do progresso e da verdade.
            Conto convosco para abrir brecha através das trevas do erro e da ignorância, indo alcançar a luz bendita, que irradia do seio de Jesus, essa luz que é o único caminho, verdade e vida, e que nos conduzirá sem desvios ao foco supremo - o seio amoroso do Pai Celestial.
            Crentes da nova doutrina regeneradora da humanidade, impávidos conservai os vossos espíritos, mas serenos e calmos também, para que levemos a bom termo a tarefa que me impus.
            Estuda na santa paz do Senhor e que Jesus vos abençoe."



A Palavra de Bittencourt Sampaio - 1


Vozes do Infinito...
Bittencourt Sampaio (Esp.)
Página recebida no Grupo Ismael, da FEB, em 19--11-1914 
publicada em Reformador (FEB) em 16-12-1914

(Bittencourt Sampaio nasceu em 1º de fevereiro de 1834 
e desencarnou no Rio de Janeiro em 10 de outubro de 1895,
Homem público de grande projeção ao tempo do Segundo Reinado,
foi presidente da então província do Espírito Santo e diretor da Biblioteca Nacional.
Co-fundador do Grupo Espírita Fraternidade junto com Antônio Luís Sayão 
e o médium Frederico Júnior. Notável médium curador.
Publicou a obra "Jesus perante a Cristandade" e "De Jesus para a Criança", entre outras.
Destacou-se ainda como médium receitista, ou seja, receitava homeopatia sob inspiração mediúnica.)


Salve, caros amigos.
            Só a misericórdia de Deus é capaz de tranquilizar o mundo e dar calma aos espíritos violentamente sacudidos em todos os sentidos pelo formidável tufão das paixões humanas.
            Que atmosfera irrespirável, capaz até de asfixiar os próprios espíritos!
            Que caos horrendo, formado pelo choro, os gemidos e os gritos lancinantes daqueles que ruem nesta hecatombe formidável!
            Outrora, quando hecatombes semelhantes avassalavam as cidades e os países, diziam os antigos: "É a cólera de Deus!"
            Correm os séculos, caminha a civilização e progridem os espíritos, cientificamente falando; mas, pelo seu desejo de saber, pelo seu orgulho desmedido e pela sua vaidade
incontida, abafam os sentimentos mais nobres e mais dignos, a caridade e a fé, únicos capazes de fazer a felicidade de suas almas.
            Esquecem-se eles de que todos tem um destino, que é velado pelos Espíritos prepostos.
            Não se pode mais empregar a cólera de Deus segundo o sentido das gentes daqueles tempos. Dizemos hoje: a lei das provas; lei que atinge as individualidades, como as
coletividades e os mundos, como todo o Universo.
            E dentro de tudo isso, nesse turbilhão infernal destaca-se sempre o fator dessas calamidades, o espírito humano.
            Ouço a cada instante dizer-se: Para quem apelar?
            Como remediar este mal e restabelecer o equilíbrio na sociedade? Como conciliar os grandes interesses em jogo?
            A alguns tenho respondido por intuição: Implantando na terra o reinado da fraternidade. Vou mais além. Alguns me perguntam o que é a fraternidade. E eu respondo-lhes: fraternidade resume-se nos dois grandes mandamentos da Lei, que vos esquecestes de praticar: amar a Deus sobre todas as coisas; amar ao próximo como a si mesmo.
            Eis a tarefa máxima do espírita, do homem moderno e do representante desse edifício carcomido pela ação do tempo, que tudo destrói - menos as verdades divinas -, mas sim do portador da paz e da fraternidade no meio de seus irmãos, espalhando entre eles, a mancheias, a misericórdia que o Criador, em catadupas, diariamente lhes prodigaliza.
            O que vos digo aqui, amigos e velhos companheiros, neste recanto, nesta pequena oficina, dentro em breve será dito nas praças públicas.
            Se para o espírita convergem os ódios e as paixões dos infelizes que não querem enxergar a luz divina e que debalde procuram por todos os meios destruir o homem,
julgando que por essa forma destroem a idéia, é que esses infelizes são loucos!
            Por outro lado, o espírita deve sentir-se satisfeito quando tem cumprido o seu dever, porque sabe que não é mais do que mero representante ou intérprete da vontade de Deus, que procura fazer, dos coxos e estropiados, discípulos do seu amado filho, e, portanto, arautos da verdade.
            Em uma parte do planeta, na velha Europa, o sangue corre a jorros, os gemidos formam coro infernal, o ambiente não se pode respirar; as belezas daqueles céus desapareceram. Faz meses que o Sol não brilha naquelas paragens, como que dando uma demonstração de sua grande tristeza.
            Campos devastados, atividades perdidas; em suma: horrores sobre horrores!
            No outro lado, no outro canto do planeta, ouvem-se cantos sonoros e as harmonias deliciosas, como que desferidas por instrumentos mágicos, e os hinos de glórias, como demonstrando alegrias eternas. Os campos como que dormem esperando ocasião oportuna para que a atividade humana os vá acordar.
            Não se fala em guerra nem dela se cogita.
            Há uma ânsia natural de procurar o caminho da verdade. Embora sacudido se ache esse torrão pelas paixões políticas, que em parte avassalam esse mesmo povo, ainda assim é nesse torrão que está plantado o estandarte da Cruz. Ela chama-se Brasil.
            Para aqui concorrem os olhares e as atenções daqueles que procuram se evadir ou evitar os horrores da grande calamidade.
            Vede, pois, espíritas e caros amigos, quanta responsabilidade pesa sobre aqueles
que dirigem a propagação do Espiritismo na vossa terra.
            É preciso tomar a sério esse compromisso.
            Eu desejo vos ter a postos, custe o que custar. Desejo trocar idéia convosco todas as vezes que for possível e tudo farei quanto ao meu alcance estiver porque devemos contar
sempre com a misericórdia de Deus para atender a todas as nossas solicitações, procurando tanto quanto possível dissipar as dúvidas dos nossos espíritos.
            Penso, por esta forma, ter respondido às interrogações que constantemente vejo formadas em vossos espíritos, e vos peço, então, tenhais paciência. Esperai um pouco, estou esboçando a minha estátua. 1
            Apanhei um madeiro tosco e preciso fazer dele alguma coisa.
            Tenho fé em Deus e Jesus que havemos de conseguir o que desejamos.
            E para esse desideratum conto também convosco.
            Agora, prossigamos nos nossos trabalhos de hoje."

Bittencourt

(1) O Espírito em comunicação refere-se ao médium que por ele está sendo desenvolvido.



domingo, 27 de novembro de 2016

Entre Magos e Feiticeiros


Entre Magos e Feiticeiros 
Tobias Mirco / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Julho 1971

            A recente desencarnação do médium José Pedro de Freitas, o “Arigó”, deu margem a contraditórios depoimentos acerca da personalidade desse famoso homem de Congonhas do Campo. Ouviu-se a “voz do bonzo”, solene, a decretar a inexistência da mediunidade de “Arigó”, numa espécie de ridícula sentença “post mortem”. Não se poderia esperar da parte de um natural e sistemático adversário do Espiritismo qualquer palavra criteriosa a respeito de um médium que se fizera célebre, não por dispor de recursos milagreiros, como outrora sucedia na ambiência dos detentores do “poder sobrenatural”, dos detentores da verdade e representantes exclusivos e eternos, na Terra, do nosso bom Deus... Os que conseguiram ser curados de suas enfermidades pela mediunidade de “Arigó” abençoam-no, ainda hoje; os que, por qualquer circunstância, inclusive as de caráter cármico, ficaram desiludidos, surgem, agora, corajosamente, a acusá-lo de explorador da credulidade pública... Isso foi assim, antes e depois do Cristo, porque o homem é o homem, sujeito a influências do meio e das paixões que o dominam, quando não possui um caráter forte e suficientemente lúcido para permanecer incólume a tais sugestões.

            Alguns parapsicólogos vieram dizer tolices a respeito das curas alcançadas através da mediunidade de José “Arigó”. Pretendem descobrir a América, depois da façanha de Colombo... Para os bonzos, os médiuns não passam de magos ou feiticeiros... Já Horácio se ocupara dos malefícios de Medéia.

            O poeta Ovídio referiu-se às feiticeiras Canídia e Sagana, ocupando-se de suas práticas. Mas, se o papa João XXlI, em numerosas bulas, perseguiu os chamados feiticeiros, açulando contra eles os métodos da Inquisição, de quando em quando surgia, também, no seio da Igreja, algum feiticeiro de categoria, como Pierre de LatilIy, bispo de Châlons, acusado de haver causado a morte de Felipe, o Belo, e de Luís X.

            Na maioria dos casos, os feiticeiros nada mais eram do que pobres indivíduos dotados de mediunidade, que a ignorância da Igreja, evidentemente maior no passado do que nos dias em que vivemos, considerava coisas do diabo. Embora o diabo já esteja definitivamente aposentado por tempo de serviço, há ainda aqueles que, vez por outra, não deixam de perturbá-lo, invocando seus já desmoralizados préstimos para nele estribarem argumentos prefalidos. Não é que ignorem, os piedosos diabolistas, o que disse Giovanni Papini a respeito das excelentes relações entre pretensos representantes do Cristo e o diabo, a ponto de se haverem confundido e tornado participantes, durante séculos e séculos, duma sociedade que resistiu muito tempo à ação destruidora da verdade.

            Disse Papini: “Muitos amigos tem tido o diabo, em todos os tempos, entre os homens. E entre eles se incluem, se devemos dar crédito a antigos testemunhos, nada menos que dois pontífices da Igreja Católica. O primeiro é João XII, filho de Alberico II e neto da famigerada Marozia, o qual foi papa de 954 a 964. Subiu à sege de Pedro ainda muito jovem, e a sua vida pouco teve de exemplar. Na Intimatio que o Sínodo romano de 963, convocado pelo imperador Otão, enviou para que comparecesse a justificar-se, leem-se, entre outras, estas palavras: “Deveis saber, portanto, que não alguns poucos, mas todos, leigos e clérigos, vos acusaram de assassínio, de perjuro, de profanação de igrejas, de incesto com parentes vossos e com duas irmãs. Outras coisas eles declaram, que ao ouvido repugna escutar, isto é, que vós, bebendo, fizestes brindes ao Diabo (diaboli in amorem), e, jogando, invocastes Júpiter, Vênus e outros demônios (ceterorumque deamonorum).” As acusações são graves e provêm dos inimigos de João XII, mas há que reconhecer que nem tudo podia ser inventado, tratando-se de um documento redigido por um Sínodo do qual faziam parte cardeais e bispos e que é referido por Liutprando, homem douto e bispo de Cremona.” “De um outro papa, posterior e mais célebre, Silvestre lI, se disse ter comércio com Satã. Gerberto d'Aurillac vivera e estudara longos anos em Espanha, e em Toledo floresciam, na Idade Média, as ciências mágicas. Silvestre II, papa de 999 a 1003, foi certamente homem doutíssimo, e não só em teologia, sendo possível que a sua perícia em muitas ciências, algumas profanas, lhe tenha granjeado a fama de mago. Uma alusão à magia de Silvestre II encontra-se já num poema, escrito em 1006, de um seu contemporâneo, o famoso Adalberão, bispo de Laon. Mas, o primeiro que discorre amplamente acerca das relações de Gerberto (Silvestre II) com o diabo é Beno, ou Benone, que Estêvão IX fez cardeal em 1058”.

            Poderíamos mencionar outros papas que fizeram pacto com o diabo, Esse infeliz que teve a desgraça de se meter com teólogos e acabou, como seria de esperar, em desgraça ... A verdade é que o diabo ajudou muito, principalmente na Inquisição. Às vezes até levou culpa sem proveito, porque seus aliados se mostraram muito mais diabólicos do que ele... Exageramos? Não. Em “O Papa e o Concílio», edição brasileira de Ruy Barbosa, lê-se: “...Agora, porém, eram os papas que constrangiam os bispos a submeter à tortura os que professassem opinião dissidente; era o vigário de Cristo que forçava o clero a sentenciar a cárcere e a morte; era o bispo de Roma que, sob pena de excomunhão, coagia as autoridades civis a que lhe executassem condenações dessas.” E na mesma obra: “Talvez se represente paradoxo afirmar que toda a feitiçaria dos séculos XIII s XVII foi consequência, ora imediata, ora mediata, da crença na autoridade absoluta do papa; e, contudo, não é custoso demonstrar a exação deste asserto.”

            Conta a História que o papa João XXII foi um dos mais tenazes perseguidores dos que denominavam, naquela época, “feiticeiros” e “mágicos”. No século XII, João de Salisbury nomeia todas as crenças entre as fábulas, enganos e sortilégios. Dentro em pouco, se disseminou a ideia de que certas seitas heréticas faziam milagres por obra e graça do diabo. Iríamos longe se desfilássemos os pontífices que encheram o mundo de pungentes gemidos, lancinantes gritos de dor, quer nas torturas terríveis, quer nas chamas das fogueiras da Inquisição, como o papa Inocêncio VIII que, em 1484, confessara publicamente a crença na feitiçaria (pág. 534, ob. clt.).

            Descobrir feiticeiros tornou-se rendoso negócio. Na Alemanha, por exemplo, Spranger foi tido como o mais eficiente descobridor de feiticeiros e bruxas, destinados às fogueiras da Inquisição. Foi responsável por cerca de 500 vítimas anuais! «No espaço de três meses, 900 pereceram em Würzburg, 600 em Bamberg e 500 em Genebra. Um juiz da Lorena vangloriava-se de ter condenado 900, pessoalmente, e o arcebispo de Treves, culpando a feitiçaria nela primavera hibernal de 1586, queimou 118 mulheres de uma só vez. As alfinetadas eram o processo favorito empregado pelo descobridor de bruxas, a fim de apurar se a pessoa suspeita pertencia a Satã, e a absolvição de catorze acusadas pelo Parlamento de Paris parece ser o único exemplo notável de clemência em toda a crônica dos processos de feitiçaria. Nessa ocasião, quatro entendidos - Pedro Pigray, cirurgião do rei, e MM. Leroi, Renard e Falaiseau, físicos do rei - foram nomeados para examinarem as suspeitas, à procura da marca do diabo.

            Relata Pedro Pigray o exame que foi feito em presença de dois conselheiros da Corte. Todas as feiticeiras foram despidas e os médicos examinaram os seus corpos com o máximo cuidado, picando-as em todos os sinais que encontravam para ver se estes eram insensíveis à dor - prova cabal de culpa. As pobres mulheres, todavia, foram muito sensíveis às picadas, lançando gritos quando lhes enterravam os aIfinetes. “Muitas delas mostram desprezo pela vida, e uma ou duas desejaram a morte como alívio aos seus sofrimentos. Foram soltas, no entanto”. (*)

            (*) - Obras consultadas: "O Diabo", de Giovanni Papini; "O Papa e o Concilio", de Janus e Ruy Barbosa; "O Romance da Feitiçaria" de Sax Romer; "Episódios Dramáticos da Inquisição Portuguêsa", de Antônio Baião; "Le Dieu des Sorciêres", de Margaret Murray; "La Prohibition de l'Occulte", de Émile Caillet; "Histoire de Ia Sorcellerie", de Paul Morelle; "A Questão Social e o Catolicismo" de Joaquim Pimenta.

            Hoje, como ontem, a mentalidade dos bonzos é a mesma. Somente os tempos mudaram, tanto que não podem repetir o que faziam outrora. Alcunhar médiuns de feiticeiros é recurso fácil. Afirmar que os médiuns de cura são embusteiros, exploradores, mistificadores, etc., tudo é fácil, mesmo no século da eletrônica. E há sempre quem se preste ao papel de gato morto, nas mãos dos bonzos. O episódio da morte de “Arigó” comprova-o, de novo. A verdade, entretanto, é que mágicos e feiticeiros, quase tanto como o pobre diabo, hoje arrependido das farsas que representou na Terra, não metem mais medo a ninguém, porque a difusão da instrução e a alfabetização, cada vez em escala maior, vão dando a todos os homens, por, mais humildes que sejam, elementos para pensar e refletir, analisar e examinar, chegando a conclusões que não ofendam a lógica nem desmintam a razão.

            O Espiritismo tem crescido com o progresso do mundo, porque não é uma superstição, mas inconcussa verdade. Tem aumentado o número daqueles que, mesmo partilhando convencionalmente de cerimônias católicas, não deixam de ir aos médiuns espíritas solicitar passes e alívio para as suas tribulações, para os problemas que os afligem, na ânsia muito humana de alcançarem graças, cada vez mais raras na religião que parecem professar, já sem o diabo que tanto a ajudava, já sem os milagres que serviam para seduzir a imaginação dos simples.

            José “Arigó” pode ter cometido erros, mas foi instrumento para maravilhosos trabalhos de Espíritos devotados ao bem, entregues ao serviço abençoado do Cristo de Deus. Não é o Espiritismo religião criada pelos homens, não tem nada que o desprimore no passado e no presente. Não vive, por isso, com o remorso que tortura aqueles que, em todos os tempos, se serviram da religião para consumarem atos incompatíveis com a doutrina verdadeira de Jesus, hoje identificada no Espiritismo evangélico, do qual a caridade é a alma. 

Reflexões no Caminho - 3


Serve e serve... Quem trabalha
Não acha hora perdida,
Trabalho é a força que conta
Na conta de cada vida.

Reflexões no Caminho - 3
Plínio Motta por Chico Xavier

Reformador (FEB) Julho 1971

Reflexões no Caminho - 2


Há leis que se contradizem,
Mas que se cumprem fatais.
Observa: Deus perdoa,
A Consciência jamais.

  Reflexões no Caminho - 2
Plínio Motta por Chico Xavier
Reformador (FEB) Julho 1971

A Ponte


A Ponte  
Joanna de Ângelis
por Divaldo Franco
 Brasil-Espírita / Reformador (FEB) Julho 1971

            Ei-los na retaguarda.
            Não puderam acompanhar o ritmo que a renovação impunha.
            Enquanto os Sábios Mensageiros, à maneira de narradores de histórias, falavam das construções celestes, eles se detinham extasiados. Compraziam-se na expectativa de fáceis triunfos, antevendo-se coroados de êxitos nas lutas do caminho comum, sem qualquer esforço nobre.
            Supunham que o Espiritismo fosse apenas uma Doutrina Consoladora, cujo mister se resumisse na coleta de náufragos morais e mendigos, para os alentar, enxugando-lhes as lágrimas sem qualquer compromisso de os estimular para o trabalho e o sacrifício.
            Esqueceram-se de que a morte física não é o fim.
            Olvidaram que além do sepulcro não há repouso nem paraíso, senão para quem converteu a própria paz em paz para os outros e dirigiu a felicidade pessoal para a felicidade de todos.
            A morte não apresenta soluções definitivas para problemas que a reencarnação não solveu. A Terra, por isso mesmo, é o grande campo de realizações, aguardando a dedicação dos lidadores da esperança, do bem e da verdade.
            Ninguém a deixará livremente, mantendo compromissos com a retaguarda.
            Os que ficaram atrás, preferiram o céu fantasioso da ilusão.
            Fizeram-se apologistas do heroísmo de mão beijada e pretendem a glória de um trabalho apanagiado por padrinhos terrenos, passageiros detentores de prestígio social e político.
            Deixaram à margem os problemas gigantes que defrontarão mais tarde, complicados e insolváveis.
            Tentaram o recuo à hora do avanço e se detiveram a distância...
            Não os incrimines nem os lamentes.
            São almas fracas, incapazes de uma resistência maior.
            A vida, a grande mestra, com mãos de mãe devotada e gentil, conduzi-los-á de retorno à realidade, da qual ninguém foge impunemente.
            Segue adiante, porém.
            Esquece a fantasia das narrativas atraentes e enfrenta o campo que se desdobra convidativo.
            Aqui, concede a bênção de uma fonte e o deserto se converterá em jardim.
            Ali, remove o charco, e o pântano se transformará em horta dadivosa.
            Acolá, afasta as pedras, e a estrada surgirá oferecendo fácil acesso.
            E faze o bem em toda a parte, com as mãos e o coração, orando e esclarecendo, a fim de que o trabalho da verdade fulgure em teus braços como estrelas luminescentes em forma de mãos.

            E, ligado aos Espíritos da Luz, construirás, com o suor e o esforço incessante, enquanto na carne, a ponte sobre o abismo, pela qual atravessarás, em breve, formoso e deslumbrado, em busca dos amores felizes que te aguardam, jubilosos, "do outro lado".