domingo, 27 de novembro de 2016

A Ponte


A Ponte  
Joanna de Ângelis
por Divaldo Franco
 Brasil-Espírita / Reformador (FEB) Julho 1971

            Ei-los na retaguarda.
            Não puderam acompanhar o ritmo que a renovação impunha.
            Enquanto os Sábios Mensageiros, à maneira de narradores de histórias, falavam das construções celestes, eles se detinham extasiados. Compraziam-se na expectativa de fáceis triunfos, antevendo-se coroados de êxitos nas lutas do caminho comum, sem qualquer esforço nobre.
            Supunham que o Espiritismo fosse apenas uma Doutrina Consoladora, cujo mister se resumisse na coleta de náufragos morais e mendigos, para os alentar, enxugando-lhes as lágrimas sem qualquer compromisso de os estimular para o trabalho e o sacrifício.
            Esqueceram-se de que a morte física não é o fim.
            Olvidaram que além do sepulcro não há repouso nem paraíso, senão para quem converteu a própria paz em paz para os outros e dirigiu a felicidade pessoal para a felicidade de todos.
            A morte não apresenta soluções definitivas para problemas que a reencarnação não solveu. A Terra, por isso mesmo, é o grande campo de realizações, aguardando a dedicação dos lidadores da esperança, do bem e da verdade.
            Ninguém a deixará livremente, mantendo compromissos com a retaguarda.
            Os que ficaram atrás, preferiram o céu fantasioso da ilusão.
            Fizeram-se apologistas do heroísmo de mão beijada e pretendem a glória de um trabalho apanagiado por padrinhos terrenos, passageiros detentores de prestígio social e político.
            Deixaram à margem os problemas gigantes que defrontarão mais tarde, complicados e insolváveis.
            Tentaram o recuo à hora do avanço e se detiveram a distância...
            Não os incrimines nem os lamentes.
            São almas fracas, incapazes de uma resistência maior.
            A vida, a grande mestra, com mãos de mãe devotada e gentil, conduzi-los-á de retorno à realidade, da qual ninguém foge impunemente.
            Segue adiante, porém.
            Esquece a fantasia das narrativas atraentes e enfrenta o campo que se desdobra convidativo.
            Aqui, concede a bênção de uma fonte e o deserto se converterá em jardim.
            Ali, remove o charco, e o pântano se transformará em horta dadivosa.
            Acolá, afasta as pedras, e a estrada surgirá oferecendo fácil acesso.
            E faze o bem em toda a parte, com as mãos e o coração, orando e esclarecendo, a fim de que o trabalho da verdade fulgure em teus braços como estrelas luminescentes em forma de mãos.

            E, ligado aos Espíritos da Luz, construirás, com o suor e o esforço incessante, enquanto na carne, a ponte sobre o abismo, pela qual atravessarás, em breve, formoso e deslumbrado, em busca dos amores felizes que te aguardam, jubilosos, "do outro lado".


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