terça-feira, 14 de julho de 2015

Vergonha de ser bom

            Caridade é amor ao semelhante.

            Ofertando-nos aos que sofrem; doando-nos aos que se torturam nas tramas de sua existência; renunciando para que, sob o calor Divino, se redimam os companheiros amargurados de nossa caminhada - estaremos acendendo em nós mesmos, no imo de nossa alma, os primeiros clarões de nossa verdadeira natureza espiritual.

            Piedade é caridade para com nós mesmos.

            Liberando de nossa alma a ternura; exercitando a delicadeza de trato para com todas as criaturas, das mais próximas às mais afastadas; emocionando-nos até às lágrimas, com as dores de nossos semelhantes - a piedade se instalará em nós, quais tímidas violetas que recobrem o solo áspero e que perfumam os pés que as esmagam.

            Jesus é bússola de nossa vida.

            Seguir-lhe o norte do Evangelho, palmilhando na direção do mais Alto, levar-nos-á a vencer conceitos usuais que recolhemos no mercado de ideias que frequentamos desde a infância:

            - Um homem não chora!

            - Olvidemos a dor que não é a nossa, a fim de não nos enredarmos nos torvelinhos alheios.

            - Cada um por si...

            Reconstruamos a existência sob o pálio da piedade Espírita-cristã. Sem essa elevação da alma - essa prece viva que é a piedade - seremos tão só um cérebro ilustrado com o conhecimento superficial de Leis Naturais ou um coração que aspira, palpita, pulsa, mas não vibra na frequência de uma visão alta e panorâmica da Vida.

            Vivamos no mundo.

            Não nos rendamos, porém, às injunções das Sombras, amodorrando-nos a antigos e viciosos chavões de superioridade em face de nosso semelhante, exprimindo-nos pelo dicionário do egoísmo e do orgulho.

            Não sintamos, jamais, vergonha do ato bom.

            Não refreemos a ternura.

            Jamais nos distanciemos da oportunidade de radiar de nós, com intensidade, o sublime sentimento de piedade, porque o mundo precisa de corações degelados, a fim de que a sede dos sentimentos revele transformações para melhor.

            Que a dor do próximo nos comova, sem que aguardemos as grandes calamidades públicas para expressar nossos sentimentos. Há sempre alguém tão perto de nós, olvidado por todos, incompreendido por ele próprio, com sede, muita sede de fraternidade cristã.

            Esse alguém é o norte que Jesus aponta.

Vergonha de ser bom
Roque Jacintho

Reformador (FEB) Maio 1970

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