Caridade é amor ao semelhante.
Ofertando-nos aos que sofrem;
doando-nos aos que se torturam nas tramas de sua existência; renunciando para
que, sob o calor Divino, se redimam os companheiros amargurados de nossa
caminhada - estaremos acendendo em nós mesmos, no imo de nossa alma, os
primeiros clarões de nossa verdadeira natureza espiritual.
Piedade é caridade para com nós
mesmos.
Liberando de nossa alma a ternura;
exercitando a delicadeza de trato para com todas as
criaturas, das mais próximas às mais afastadas; emocionando-nos até às
lágrimas, com as
dores de nossos semelhantes - a piedade se instalará em nós, quais tímidas
violetas que recobrem
o solo áspero e que perfumam os pés que as esmagam.
Jesus é bússola de nossa vida.
Seguir-lhe o norte do Evangelho,
palmilhando na direção do mais Alto, levar-nos-á a vencer
conceitos usuais que recolhemos no mercado de ideias que frequentamos desde a
infância:
- Um homem não chora!
- Olvidemos a dor que não é a nossa,
a fim de não nos enredarmos nos torvelinhos alheios.
- Cada um por si...
Reconstruamos a existência sob o
pálio da piedade Espírita-cristã. Sem essa elevação da alma - essa prece viva
que é a piedade - seremos tão só um cérebro ilustrado com o conhecimento
superficial de Leis Naturais ou um coração que aspira, palpita, pulsa, mas não
vibra na frequência de uma visão alta e panorâmica da Vida.
Vivamos no mundo.
Não nos rendamos, porém, às
injunções das Sombras, amodorrando-nos a antigos e viciosos chavões de
superioridade em face de nosso semelhante, exprimindo-nos pelo dicionário do
egoísmo e do orgulho.
Não sintamos, jamais, vergonha do
ato bom.
Não refreemos a ternura.
Jamais nos distanciemos da
oportunidade de radiar de nós, com intensidade, o sublime sentimento de
piedade, porque o mundo precisa de corações degelados, a fim de que a sede dos
sentimentos revele transformações para melhor.
Que a dor do próximo nos comova, sem
que aguardemos as grandes calamidades públicas para expressar nossos
sentimentos. Há sempre alguém tão perto de nós, olvidado por todos, incompreendido
por ele próprio, com sede, muita sede de fraternidade cristã.
Esse alguém é o norte que Jesus
aponta.
Vergonha de ser
bom
Roque Jacintho
Reformador (FEB) Maio 1970
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