segunda-feira, 4 de maio de 2015

Ensinamentos sem palavras


Ensinamentos
sem palavras

Editorial

Reformador (FEB)  Março 1972

            A medida que vamos aguçando a visão no estudo do Evangelho, vamos vislumbrando que suas prodigiosas lições não se restringem às narrativas ali consignadas nem às pregações e parábolas ministradas pelo Divino Mestre. Uma visão panorâmica das circunstâncias sob as quais se desenrolou a missão messiânica e o enfoque da figura do Cristo nas suas atitudes, nas suas andanças, até nos seus silêncios, revelam ensinamentos igualmente preciosos.

            O povo judeu, que esperava ansiosamente o Messias prometido, teria, decerto, abafado todas as suas dúvidas sobre ser ou não Jesus o Cristo, se este tivesse assumido carismaticamente a direção temporal da nação e a tivesse conduzido para a libertação do domínio romano. Interpretando as Escrituras ao pé da letra, aquele povo sonhava com o reino da Terra, numa Canaã paradisíaca. O Mestre, mais do que ninguém, conhecia perfeitamente os anseios, as preocupações e o sofrimento daquela gente. Não obstante, em nenhum lugar, em nenhum momento esboçou o mais leve gesto, deixou escapar a menor palavra, tomou a mais imperceptível atitude que autorizassem entrever tivesse ele vindo, com todo o seu poder e glória, desatar o jugo estrangeiro que estrangulava aquela nação, de fato investida de uma incumbência excepcional. Malfadadamente, ela mesma não entendeu essa excepcionalidade.

            Hoje, diante da presença, na Terra, do Consolador anunciado, torna-se de grande relevo tomar uma perspectiva de sua posição e de seu papel no contexto do mundo hodierno. O pano de fundo é outro, as nações cresceram e se multiplicaram, os conhecimentos humanos avantajaram-se enormemente, o instrumental tecnológico de que dispõe o homem é verdadeiramente espantoso. Mas, as criaturas continuam subjugadas pelas mesmas angústias de libertação: as dores morais campeiam, os sofrimentos físicos são ainda irremovíveis, a humanidade, com acentuado pendor pelas soluções violentas, tem desencadeado guerras devastadoras e começa a temer os fantasmas ameaçadores forjados por uma tecnologia fria, pragmática e ateísta, E as expectativas também se centralizam na edificação de um mundo de onde, paradisiacamente, estejam banidos os desníveis sociais, as desigualdades de riqueza, e até as diferenças de aptidão intelectual...

            Nesse panorama conturbado, arregimentam-se aqueles que, tomando conhecimento da presença da Doutrina Espírita no cenário terrestre, esperam dela que assuma a função carismática de resolver, mediante expedientes mundanos, a sujeição das criaturas a condições tão deprimentes. Reclamam, ou supõem que o Espiritismo veio para libertá-las do jugo que reputam injusto e insuportável, condicionando a validade de sua mensagem à materialização desse feito. Mas, é o caso de se observar, atentamente, que também ele, em nenhum lugar, em momento nenhum esboçou o mais leve gesto, deixou escapar a menor palavra, ou tomou a mais imperceptível atitude que permitam entrever essa vocação. E sobretudo no Brasil, onde se renovam os indícios da investidura de uma incumbência excepcional, com o advento do Consolador, o Evangelho redivivo, é imperioso que o seu povo, desta vez, tenha o tino de compreender essa excepcionalidade ... 

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