Ensinamentos
sem
palavras
Editorial
Reformador (FEB) Março 1972
A medida que vamos aguçando a visão no
estudo do Evangelho, vamos vislumbrando que suas prodigiosas lições não se
restringem às narrativas ali consignadas nem às pregações e parábolas
ministradas pelo Divino Mestre. Uma visão panorâmica das circunstâncias sob as
quais se desenrolou a missão messiânica e o enfoque da figura do Cristo nas
suas atitudes, nas suas andanças, até nos seus silêncios, revelam ensinamentos
igualmente preciosos.
O povo judeu, que esperava
ansiosamente o Messias prometido, teria, decerto, abafado todas as suas dúvidas
sobre ser ou não Jesus o Cristo, se este tivesse assumido carismaticamente a
direção temporal da nação e a tivesse conduzido para a libertação do domínio
romano. Interpretando as Escrituras ao pé da letra, aquele povo sonhava com o
reino da Terra, numa Canaã paradisíaca. O Mestre, mais do que ninguém, conhecia
perfeitamente os anseios, as preocupações e o sofrimento daquela gente. Não
obstante, em nenhum lugar, em nenhum momento esboçou o mais leve gesto, deixou
escapar a menor palavra, tomou a mais imperceptível atitude que autorizassem
entrever tivesse ele
vindo, com todo o seu poder e glória, desatar o jugo estrangeiro que
estrangulava aquela nação, de fato investida de uma incumbência excepcional.
Malfadadamente, ela mesma não entendeu essa excepcionalidade.
Hoje, diante da presença, na Terra,
do Consolador anunciado, torna-se de grande relevo tomar uma perspectiva de sua
posição e de seu papel no contexto do mundo hodierno. O pano de fundo é outro,
as nações cresceram e se multiplicaram, os conhecimentos humanos avantajaram-se
enormemente, o instrumental tecnológico de que dispõe o homem é verdadeiramente
espantoso. Mas, as criaturas continuam subjugadas pelas mesmas angústias de
libertação: as dores morais campeiam, os sofrimentos físicos são ainda irremovíveis,
a humanidade, com acentuado pendor pelas soluções violentas, tem desencadeado
guerras devastadoras e começa a temer os fantasmas ameaçadores
forjados por uma tecnologia fria, pragmática e ateísta, E as expectativas
também se centralizam na edificação de um mundo de onde, paradisiacamente,
estejam banidos os desníveis sociais, as desigualdades de riqueza, e até as diferenças
de aptidão intelectual...
Nesse panorama conturbado, arregimentam-se
aqueles que, tomando conhecimento da presença da Doutrina Espírita no cenário
terrestre, esperam dela que assuma a função carismática de resolver, mediante
expedientes mundanos, a sujeição das criaturas a condições tão deprimentes.
Reclamam, ou supõem que o Espiritismo veio para libertá-las do jugo que reputam
injusto e insuportável, condicionando a validade de sua mensagem à materialização
desse feito. Mas, é o caso de se observar, atentamente, que também ele, em nenhum
lugar, em momento nenhum esboçou o mais leve gesto, deixou escapar a menor
palavra, ou tomou a mais imperceptível atitude que permitam entrever essa
vocação. E sobretudo no Brasil, onde se renovam os indícios da investidura de
uma incumbência excepcional, com o advento do Consolador, o Evangelho redivivo,
é imperioso que o seu povo, desta vez, tenha o tino de compreender essa
excepcionalidade ...
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