A
faculdade
da
Clarividência
Marcel
Chaminade
Reformador (FEB) Junho 1955
Dois casos extraordinários prendem
atualmente a atenção, de maneira toda particular dos círculos científicos, e
provocam apaixonante curiosidade.
Um deles é o de um cidadão holandês,
Gerard Croiset, que há diversos anos
vem sendo objeto de exame constante e minucioso do professor W. H. C. Tenhaeff, de Utrecht, e do professor
Hans Bender, diretor do Instituto para o Estudo das Fronteiras da
Psicologia, na Suíça.
Gerard
Croiset não é um “médium” profissional. Nem sequer se preocupa com questões
psíquicas, habitualmente. Consente, tão apenas, em se submeter a certas
experiências. Damos a seguir uma dessas experiências frequentemente empreendidas.
Os professores Tenhaeff e Bender sorteiam,
secretamente, um número, que designará, digamos, a sexta poltrona, à esquerda,
na quinta fila das poltronas da orquestra, em determinado teatro de Bonn ou Colônia. E perguntam ao Sr. Croiset
se pode prognosticar, imediatamente, e descrever a pessoa que ocupará, em determinado
dia, a poltrona escolhida pela sorte. Na data fixada, os dois cientistas
constatam que o lugar é efetivamente ocupado por “um moço louro, alto, de mais
ou menos 22 anos”, o que corresponde
de maneira precisa ao retrato que dele fizera Croiset, o qual chegara mesmo a dizer que o rapaz tinha falta de um
dedo da mão direita, que fora cortado por uma serra mecânica, e morava, com os
pais, em uma casa que apresentava esta ou aquela particularidade, descrita pelo
adivinho.
Outra experiência. Consiste em fazer
colocar, por diversos membros da assistência, - em local contíguo à sala, os
mais variados objetos, que o Sr. Croiset
descreverá algumas horas antes ou mesmo alguns dias antes da demonstração,
juntamente com as características por proprietários desses objetos, que os
mesmos tiram e levam consigo depois da sessão. Em Pirmasens, por exemplo, em uma sessão em que tomavam parte cerca de
300 pessoas, Croiset declarou que
tal lugar, indicado por sorteio, seria ocupado por certa moça, a qual, ao sair,
apanharia um objeto que se achava habitualmente em uma casa da rua tal, que era
em ladeira, e onde a moça procurara tocar uma sonata de Beethoven,
mas tivera que desistir porque o piano estava muito desafinado. Na mesma casa
estava sendo submetida aos raios ultravioletas uma senhora que sofria de dores
nos quadris.
Na ala esquerda da casa morava uma
família muito devota. Tudo isso fora adivinhado pelo Sr. Croiset. E pode ser verificada a perfeita exatidão de todas as
indicações por ele feitas. A moça apanhou, ao sair, uma caixa de óculos que
pertencia a uma senhora doente dos quadris e que morava numa casa de rua em
ladeira e em cuja parte esquerda moravam pessoas muito religiosas. Constatou-se
a identidade da senhora submetida aos raios ultravioletas pelas dores apontadas.
Viu-se o piano desafinado...
A Polícia holandesa muitas vezes se
socorre das faculdades extraordinárias de Croiset.
Há alguns meses, perguntou-lhe se podia ajudá-la em pesquisas que estavam sendo
feitas à procura de um menino de 10 anos que havia desaparecido. Croiset respondeu que o corpo do
pequeno seria encontrado, com profundo ferimento na cabeça, em uma enseada que
o adivinho localizou perfeitamente, nas proximidades de um velho trapiche,
junto ao qual atracara uma barca. Com efeito, o cadáver do menino foi
encontrado com um grande ferimento na cabeça, na enseada indicada, junto ao
trapiche, revelando
o inquérito que o rapazinho batera com a barca num amontoado de madeiras
velhas, desmaiando e, em seguida, afogando-se.
O estranho poder do Sr. Croiset - a que os cientistas chamam
poder que lhe permite dar um salto no tempo -, seus dons de telepatia e de
vidência não permitem, no entanto - segundo o próprio interessado confessa -,
nenhuma aplicação prática nos diversos fatos da vida cotidiana. Croiset reconhece que suas misteriosas
faculdades não se manifestam senão em certas situações, que sofrem eclipses, e
que não tem capacidade para analisar, controlar ou mesmo fornecer qualquer
explicação crítica das mesmas.
*
O outro caso prodigioso de telepatia
e “vidência” que está fazendo grande sensação nos meios científicos, é o de um
tcheco, Frederic Joseph Marion, que
já fez, especialmente na Inglaterra, sensacionais demonstrações. Em uma sessão,
no Aeolian Hall, uma importante dama
da alta aristocracia britânica, Lady
Oxford and Asquith, que estava na assistência, perguntou a Marion (que nunca a vira e ignorava
quem ela era) se podia revelar um fato que ia assentar, por escrito, e que ela
era a única pessoa no mundo que conhecia.
- Penso que sim, minha senhora - foi
a resposta.
Lady
Oxford and Asquith escreveu algumas linhas em um pedaço de papel, que, em
seguida, dobrou e colocou sobre uma mesa. O Sr. Marion concentrou seu pensamento e, após apenas dois minutos,
disse, pausadamente:
- Estou vendo um homem em uma sala,
coberta de tapeçarias e cheia de livros que enchem as paredes em estantes
compridas. O homem se acha diante de uma mesa coberta de papéis e prepara-se
para escrever. Mas está muito agitado, levanta-se, dá alguns passos, senta-se
de novo e... se põe, por fim, a chorar, quando termina a redação do trecho ...
Lady
Oxford and Asquíth, cheia de espanto, declarou que o que o Sr. Marion acabava de dizer era de rigorosa
exatidão. E acrescentou: - A sala era no número 10 da rua Downing Street, a
conhecida residência dos Primeiros-Mínlstros da Grã-Bretanha. A cena descrita se
passara no mês de Agosto de 1914. O homem era seu marido, o então primeiro-ministro
Asquith. Eu entrei na sala e fui a
única pessoa a saber que aquele homem, que eu nunca, em toda a minha vida, vira
chorar, chorara, então, ao assinar o documento oficial da declaração de guerra
à Alemanha...
São sem conta as declarações
espantosas e de predições extraordinárias feitas por Marion, todas elas
consignadas, registadas e certificadas por testemunhas acima de qualquer
suspeita.
Daremos ainda algumas entre as mais
singulares.
Em Junho de 1931, o Sr. Marion
encontrou-se em Haia com o grande empresário teatral Ernest Krauss, que acabara de arranjar uma “tournée” de
representações para a famosa dançarina Pavlova
e sua companhia. Krauss mostrou a Marion uma carta que acabara de receber
de Pavlova e na qual a estrela
coreográfica lhe anunciava sua próxima chegada. Marion examinou a carta
atentamente e disse:
- Sr. Krauss, sua “tournée” não se realizará. Não haverá sequer uma
representação. O
senhor deve anular imediatamente todos os seus compromissos e o contrato, do
contrário Pavlova nunca mais
dançará. Ela acaba de sofrer uma influência maléfica, da qual é preciso
desconfiar...
O empresário recebeu a profecia com
cepticismo e absolutamente não a levou em conta. Alguns dias depois, a “troupe”
se pôs a caminho... Mas o rápido em que Pavlova
e seu elenco viajavam sofreu um acidente. Ninguém saiu ferido, mas Pavlova apanhou um resfriado e teve que
se recolher ao leito. Declarou-se uma pleurisia, que degenerou em pneumonia
dupla, e a famosa dançarina morreu na sexta-feira, 23 de Junho, trinta minutos
depois do meio-dia.
Outra vez, Marion estava em Bucareste, na Rumânia,
no gabinete do diretor do Teatro Alhambra, no qual se exibia um notável
trapezista de nome Ivanoff, que
fazia exercícios extremamente perigosos. Ivanoff
verificava e experimentava minuciosamente seus aparelhos, antes do espetáculo,
o que fizera ainda naquele dia, como de hábito. Por acaso, Marion, batendo com o punho na mesa do diretor, fizera cair 'uma
fotografia de Ivanoff, que ali se
achava.
Abaixou-se para apanhá-la e,
subitamente, ficou lívido.
- Chame Ivanoff - gritou ele para o diretor. - O pobre homem está em perigo
de
morte
imediata.
Ivanoff
ia entrar em cena. O pano já estava levantado. Interrompeu-se a representação
e... verificou-se que uma das cordas do trapézio tinha sido cortada...
Foi também Marion quem prognosticou um destino trágico ao grande mago Eric Jan Hanussen, que era o astrólogo de Hitler e de outros líderes nazistas. Hanussen confiara a Marion
a intenção de deixar a Alemanha no prazo de um ano.
- Você precisa partir antes -
disse-lhe Marion. - Dentro de oito meses será tarde. Vejo
você estendido, inanimado, no chão, debaixo de umas árvores ...
Hanussen
não deu importância. Oito dias depois, a Gestapo,
a terrível polícia política do nazismo, prendia Hanussen, no seu camarim do Scala;
e no dia seguinte foi encontrado seu cadáver, crivado de balas, sob os
pinheiros de Grunewald.
(Ext. de ''O Globo" de 1-3-55)
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