O Anjo Cinzento
Irmão X
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Setembro 1955
Para que o Homem adquirisse
confiança em Sua Bondade Infinita, determinou o Senhor que vários Anjos o
amparassem na Terra, amorosamente.
Em razão disso, quando mal saía do
berço, aproximou-se dele um Anjo Lirial que, aproveitando os lábios daquela que
se lhe constituíra em mãezinha adorável, lhe ensinou a repetir: - Deus... Pai
do Céu... Papai do Céu...
Era o Anjo da Pureza.
Mais tarde, soletrando o alfabeto,
entre as paredes da escola, acercou-se dele um Anjo de Luz Verde que, por
intermédio da professora, o ajudou a pronunciar em voz firme:
- Deus, Nosso Pai Celestial, é o
Criador de todos os seres e de todas as coisas...
Era o Anjo da Esperança.
Alongaram-se lhe os dias, até que
penetrou uma casa de ensino superior, sob cujo teto venerável foi visitado por
um Anjo Vestido em Luz de Ouro que, através de educadores eméritos, lhe falou
acerca da glória e da magnificência do Eterno, utilizando a linguagem da
filosofia e da ciência.
Era o Anjo da Sabedoria.
O Homem compulsou livros e consultou
autoridades, desejando a comunhão mais direta com o Senhor e fazendo-se
caprichoso e exigente.
Olvidando o direito dos semelhantes,
propunha-se conquistar as atenções de Deus tão somente para si. A Majestade
Divina, a seu parecer, devia inclinar-se lhe aos petitórios, atendendo-lhe as desarrazoadas solicitações,
sem mais nem menos; e, porque o Criador não se revelasse disposto a
personalizar-se para satisfazê-lo, começou a cultivar o espinheiro da negação e
da dúvida.
Por mais insistisse o Anjo Dourado,
rogando-lhe reverenciar o Senhor, acatando lhe as leis e os desígnios, mais se
mergulhava na hesitação e na indiferença.
Atormentado, procurou um templo
religioso, onde um Anjo Azul o socorreu, valendo-se de um sacerdote para
recomendar-lhe a prática do trabalho e da humildade, com a retidão da
consciência e com a perseverança no bem.
Era o Anjo da Fé.
O Homem registrou lhe os avisos,
mas, sentindo enorme dificuldade para render-se aos exercícios da virtude,
clamava intimamente: - "Deus? mas existirá Deus, realmente? por que razão
não me oferece provas indiscutíveis do seu poder?”
Frequentando o templo para não ferir
as convenções sociais, foi auxiliado por um Anjo Róseo, que lhe conduziu a
inteligência à leitura de livros santos, comovendo-lhe o coração e
conduzindo-lhe o sentimento à prática do amor e da renúncia, da benevolência e
do sacrifício, de maneira a abreviar o caminho para o Divino Encontro.
Era o Anjo da Caridade.
O teimoso estudante aprendeu que não
lhe seria lícito aguardar as alegrias do Céu, sem havê-las merecido pela
própria sublimação na Terra.
Ainda assim, monologava
indisciplinado: "Se sou filho de Deus e se Deus existe, não justifico
tanta formalidade para encontrá-lo...”
E prosseguia surdo aos orientadores angélicos.
Casou-se, constituiu família,
amealhou dinheiro e garantiu-se contra as vicissitudes da sorte; entretanto,
por mais se esforçassem os Anjos da Caridade e da Sabedoria, da Esperança e da
Fé, no sentido de favorecer lhe a comunhão com o Céu, mais repudiava os
generosos conselheiros, exclamando de si para consigo: - “Deus”! mas existirá
efetivamente Deus?"
Enrugando-se lhe o rosto e
encanecendo-se lhe a cabeça orgulhosa, reuniram-se os gênios amigos, suplicando
a compaixão do Senhor, a benefício do rebelde tutelado.
Foi quando desceu da Glória Celeste
um Anjo Cinzento, de semblante triste e discreto.
Não tomou instrumentos para comunicar-se.
Ele próprio abeirou-se do revoltado
filho do Altíssimo, abraçou-o e assoprou-lhe ao coração a mensagem que
trazia...
Sentindo lhe a presença, o Homem
cambaleou, deitou-se e começou a reconhecer a precariedade dos bens do mundo...
Notou quão transitória era a posse dos patrimônios terrestres, dos quais não
passava de usufrutuário egoísta... Observou que a sua felicidade passageira era
simples sombra a esvair-se no tempo... E, assinalando sofrimento e
desequilíbrio no âmago de si mesmo, compreendeu que tudo que desfrutava na vida
era empréstimo divino da Eterna Bondade...
Meditou... meditou... reconsiderando
as atitudes que lhe eram peculiares e, em lágrimas de sincera e profunda
compunção, qual se fora tenro menino, dirigiu-se pela primeira vez, com toda a
alma, ao Todo Poderoso, suplicando.
“- Deus de Infinita Misericórdia, meu Criador
e meu Pai, compadece-te de mim!..”
O Anjo Cinzento era o Anjo da
Enfermidade.
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