sábado, 3 de janeiro de 2015

O Fim do Mundo


O Fim do Mundo
por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Março 1962

            Se há obra que realmente mereça estar ao lado daquelas que Allan Kardec codificou, justamente pelo caráter complementar que possui, é a de J. B. Roustaing, denominada "Os Quatro Evangelhos". Ninguém pode, sem exagero nem injustiça, depreciar lhe o valor científico-doutrinário.

            Nota-se, porém, que o estudo dessa obra monumental se restringe a um número relativamente pequeno de pessoas mais esclarecidas e mais desejosas de alargar conhecimentos. Quanta coisa bela e útil ela contém!

            Agora mesmo se fala no fim do mundo. De quando em quando aparecem pretensos profetas, anunciando a aniquilação da Terra. Ora, os Evangelistas dizem o seguinte, segundo Roustaing:

            "O fim do mundo, predito por Jesus e que, na parábola, corresponde ao tempo da ceifa, não é o que as interpretações humanas figuraram. Não se trata de um fenômeno repentino, como o imaginaram erroneamente quantos acreditaram que, de um instante para outro, o universo inteiro seria transformaria, renovado.
            O fim do mundo vem sendo preparado desde há muito e pouco a pouco se vai operando. Avançais para a época em que pela só influência da vossa presença os Espíritos inferiores que encarnam na Terra serão repelidos e fugirão para meios que melhor lhes quadrem. Os Espíritos inferiores, como sabeis, temem a presença dos Espíritos elevados. Não é natural que o homem devasso e vil se sinta embaraçado e pouco à vontade numa reunião de pessoas de escol, das mais instruídas e virtuosas? e não é natural também que volte, assim lhe seja permitido, para o meio de seus iguais? E o que se dará com os Espíritos inferiores, quando chegar o fim do mundo, isto é: quando, por se haverem as vossas naturezas elevado e mudado a ordem, subido na hierarquia espírita, tudo mudará em torno de vós. O joio terá sido, então, lançado ao fogo da purificação e o bom grão refulgirá aos olhos da pai de família."

            Esse trecho é de extraordinária clareza e mostra que o fim do mundo não se dará segundo a impressão popular ou o noticiário mais ou menos sensacionista dos jornais. Ele já começou e vai, progressivamente, se dirigindo para o ponto culminante da evolução moral da Humanidade.

            Basta remontar à História para se verificar o que aconteceu a outras "civilizações", como, entre muitas outras, a chinesa, a grega e a romana. Grande progresso, principalmente material, excesso de abusos, na vida social, na vida política, na vida de relação, desmandos, depravações, vícios, violências, etc., e, finalmente, o reinício da queda, quando se encerrou cada ciclo dessas "civilizações". É o que está sucedendo agora. Nunca se viu tanto desamor às virtudes, tantos crimes horrorosos, principalmente sexuais, tão grande número de demonstrações cínicas de despudor, inclusive na via pública e nas casas de espetáculos. Aqui e no estrangeiro, o homem vive em constante inquietação, ávido de prazeres impuros, sempre perseguido pelo pior dos fantasmas, que é o medo. A Humanidade tem medo e para afugentá-lo entrega-se a desregramentos de toda sorte. Até mesmo a música revela esse estado anormal do espírito humano. Vejam-se os "rock'n'roll", "twist” etc. Parece que a Humanidade enfrenta um período de loucura coletiva, de cujas consequências terá muito que deplorar.

            Achamo-nos talvez no fim do primeiro dos três períodos que constituem o fim do mundo mencionado na supradita obra de Roustaing.

            Afirmam os Evangelistas:

            "O fim do mundo, compreendido como sendo a época da colheita, se apresenta dividido em três períodos distintos: o primeiro é o em que aos Espíritos inferiores foi e será permitido encarnar na Terra para, por sucessivas expiações e reencarnações, se purificarem, passarem de "filhos da iniquidade", que eram, a "filhos do reino".
            O segundo é o em que o joio começará a ser separado do trigo, o em que os Espíritos que se mantiverem culpados, rebeldes, voluntariamente cegos, serão afastados do vossa planeta e deportados para planetas inferiores.
            O terceiro é o em que, concluída a separação do joio e do trigo, estará acabado o afastamento dos Espíritos inferiores; é, portanto, o em que a Terra se terá tornado morada de paz e de felicidade; de bons Espíritos já aptos a entrar na fase espírita, o que se efetuará conforme acabamos de explicar, e a arvilnçC1lr, sob a influência dos Espíritos do Senhor e de Espíritos encarnados em missão, na via do progresso, pela ciência, pela caridade e pelo amor."

            O capítulo é grande e interessantíssimo, mas os trechos que reproduzimos dão já uma ideia acerca de como se deve interpretar o fim do mundo, frequentemente anunciado. Desta vez o alarma veio da Índia, onde os "homens sagrados" predisseram a catástrofe para o período de 3 a 5 de Fevereiro, "quando oito planetas se conjugariam para destruir o nosso". Felizmente, os sacerdotes executaram os sacrifícios rituais denominados "yangas" para aplacar os planetas "inimigos", sacrifícios que "consistem em queimar grandes quantidades de arroz e manteiga"... Por isto, todos escapamos de levar a breca...

            Cuide cada qual de reformar sua maneira de pensar e proceder, se estiver trilhando, maus caminhos. Nada acontece por acaso e ninguém escapará às consequências das más semeaduras que fizer na vida. A oportunidade é magnífica e nunca é tarde para uma retificação de rumos, para uma regeneração sincera. O Espiritismo está aí, de portas abertas, pronto para ajudar àqueles que desejarem lutar contra os hábitos inferiores a que se achem escravizados.

            O mundo está acabando dia a dia para aqueles que, divorciados do bem, persistem no erro e insistem na prática de ações prejudiciais a seus semelhantes. Ninguém será realmente feliz dessa maneira. Os prazeres que o mal proporciona são ilusórios e traidores, porque ele sempre cobra juros elevados pelo que dá. Quanto ao bem, este proporciona a serenidade e a confiança, a paz de espírito e a solidariedade das forças do Alto.

            Ser bom é mais fácil do que ser mau, quando o Espírito ainda não se encontra irremediavelmente corrompido. As dores e as aflições que assediam os Espíritos inferiores mostram com espantosa eloquência o destino triste dos maus, sempre envoltos nas trevas e no desassossego.


Indalício Mendes


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