O Fim do Mundo
por Indalício Mendes
Reformador
(FEB) Março 1962
Se
há obra que realmente mereça estar ao lado daquelas que Allan Kardec codificou,
justamente pelo caráter complementar que possui, é a de J. B. Roustaing,
denominada "Os Quatro Evangelhos". Ninguém pode, sem exagero nem
injustiça, depreciar lhe o valor científico-doutrinário.
Nota-se,
porém, que o estudo dessa obra monumental se restringe a um número
relativamente pequeno de pessoas mais esclarecidas e mais desejosas de alargar
conhecimentos. Quanta coisa bela e útil ela contém!
Agora
mesmo se fala no fim do mundo. De quando em quando aparecem pretensos profetas,
anunciando a aniquilação da Terra. Ora, os Evangelistas dizem o seguinte, segundo
Roustaing:
"O fim do mundo, predito por Jesus e que, na parábola,
corresponde ao tempo da ceifa, não é o que as interpretações humanas figuraram. Não se trata
de um fenômeno repentino, como o imaginaram erroneamente quantos acreditaram que, de
um instante para outro, o universo inteiro seria transformaria, renovado.
O fim do mundo vem sendo preparado desde há
muito e pouco a pouco se vai operando. Avançais para a época em que pela só
influência da vossa presença os Espíritos inferiores que encarnam na Terra serão repelidos e fugirão para meios
que melhor lhes quadrem. Os Espíritos inferiores, como sabeis, temem a presença dos
Espíritos elevados. Não é natural que o homem devasso e vil se sinta embaraçado
e pouco à vontade numa reunião de pessoas de escol, das mais instruídas e
virtuosas? e não é natural também que volte, assim lhe seja permitido, para o
meio de seus iguais? E o que se dará com os Espíritos inferiores, quando chegar
o fim do mundo, isto é: quando, por se haverem as vossas naturezas elevado e
mudado a ordem, subido na hierarquia espírita, tudo mudará em torno de vós. O joio terá sido,
então, lançado ao fogo da purificação e o bom grão refulgirá aos olhos da pai
de família."
Esse
trecho é de extraordinária clareza e mostra que o fim do mundo não se dará
segundo a impressão popular ou o noticiário mais ou menos sensacionista dos
jornais. Ele já começou e vai, progressivamente, se dirigindo para o ponto
culminante da evolução moral da Humanidade.
Basta
remontar à História para se verificar o que aconteceu a outras
"civilizações", como, entre muitas outras, a chinesa, a grega e a
romana. Grande progresso, principalmente material, excesso de abusos, na vida
social, na vida política, na vida de relação, desmandos, depravações, vícios,
violências, etc., e, finalmente, o reinício da queda, quando se encerrou cada
ciclo dessas "civilizações". É o que está sucedendo agora. Nunca se
viu tanto desamor às virtudes, tantos crimes horrorosos, principalmente
sexuais, tão grande número de demonstrações cínicas de despudor, inclusive na
via pública e nas casas de espetáculos. Aqui e no estrangeiro, o homem
vive em constante inquietação, ávido de prazeres impuros, sempre perseguido
pelo pior dos fantasmas, que é o medo. A Humanidade tem medo e para afugentá-lo
entrega-se a desregramentos de toda sorte. Até mesmo a música revela esse
estado anormal do espírito humano. Vejam-se os "rock'n'roll",
"twist” etc. Parece que a Humanidade enfrenta um período de loucura
coletiva, de cujas consequências terá muito que deplorar.
Achamo-nos
talvez no fim do primeiro dos três períodos que constituem o fim do mundo
mencionado na supradita obra de Roustaing.
Afirmam
os Evangelistas:
"O fim do mundo, compreendido como sendo a
época da colheita, se apresenta dividido em três períodos distintos: o primeiro
é o em que aos Espíritos inferiores foi e será permitido encarnar na Terra para, por sucessivas expiações e
reencarnações, se purificarem, passarem de "filhos da iniquidade",
que eram, a "filhos do reino".
O segundo é o em que
o joio começará a ser separado do trigo, o em que os Espíritos que se
mantiverem culpados, rebeldes, voluntariamente cegos, serão afastados do vossa planeta e deportados para planetas inferiores.
O terceiro é o em que,
concluída a separação do joio e do trigo, estará acabado o afastamento dos Espíritos inferiores; é, portanto, o em que a Terra se
terá tornado morada de paz e de felicidade; de bons Espíritos já aptos a entrar na
fase espírita, o que se efetuará conforme acabamos de explicar, e a
arvilnçC1lr, sob a influência dos Espíritos do Senhor e de Espíritos encarnados
em missão, na via do progresso, pela ciência, pela caridade e pelo amor."
O
capítulo é grande e interessantíssimo, mas os trechos que reproduzimos dão já
uma ideia acerca de como se deve interpretar o fim do mundo, frequentemente
anunciado. Desta vez o alarma veio da Índia, onde os "homens
sagrados" predisseram a catástrofe para o período de 3 a 5 de Fevereiro,
"quando oito planetas se conjugariam para destruir o nosso".
Felizmente, os sacerdotes executaram os sacrifícios rituais denominados
"yangas" para aplacar os planetas "inimigos", sacrifícios
que "consistem em queimar grandes quantidades de arroz e manteiga"...
Por isto, todos escapamos de levar a breca...
Cuide
cada qual de reformar sua maneira de pensar e proceder, se estiver trilhando,
maus caminhos. Nada acontece por acaso e ninguém escapará às consequências das
más semeaduras que fizer na vida. A oportunidade é magnífica e nunca é tarde
para uma retificação de rumos, para uma regeneração sincera. O Espiritismo está
aí, de portas abertas, pronto para ajudar àqueles que desejarem lutar contra os
hábitos inferiores a que se achem escravizados.
O
mundo está acabando dia a dia para aqueles que, divorciados do bem, persistem
no erro e insistem na prática de ações prejudiciais a seus semelhantes. Ninguém
será realmente feliz dessa maneira. Os prazeres que o mal proporciona são
ilusórios e traidores, porque ele sempre cobra juros elevados pelo que dá. Quanto
ao bem, este proporciona a serenidade e a confiança, a paz de espírito e a
solidariedade das forças do Alto.
Ser
bom é mais fácil do que ser mau, quando o Espírito ainda não se encontra
irremediavelmente corrompido. As dores e as aflições que assediam os Espíritos
inferiores mostram com espantosa eloquência o destino triste dos maus, sempre
envoltos nas trevas e no desassossego.
Indalício Mendes
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