Tudo depende do Espírito
Tasso Porciúncula / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Novembro 1962
Na dolorosa época em que vivemos, há
uma tendência, maior do que no passado, para desculpar certos desregramentos
dos sentidos, sob a alegação de que “a carne é fraca”. A explicação real é
muito diferente: qualquer vício somente domina as vontades fracas que não
conseguem suportar o assédio terrível exercido sobre elas. Todos ou quase todos
temos o nosso “calcanhar de Aquiles”. Seríamos rematados hipócritas se não o
reconhecêssemos.
Muita vez sofremos as consequências
de uma educação moral deficiente, realizada sem método nem objetivo firme. Até
hoje muitos pais ensinam às crianças que roubar e furtar são atos desonestos.
Esquecem-se, no entanto, de acrescentar que todo pensamento ou ato lesivo a
outrem, quer do ponto de vista moral, quer do material, é, em essência, um ato
desonesto.
Se deixamos de cumprir a nossa
palavra, se faltamos ao cumprimento do dever, sem causa justificada de boa
procedência, estamos sendo desonestos. Se evitamos praticar uma boa ação, se
levamos a efeito uma ação má, se deixamos, podendo impedi-lo, que alguém aja em
detrimento do direito moral ou material de outrem, estaremos sendo desonestos.
Se, por pusilanimidade ou indiferença, permitimos que uma injustiça se consuma,
estaremos sendo do mesmo modo desonestos.
Falhamos porque “a carne é fraca”?
Não, porque o Espírito é fraco. Isto nos ensina Allan Kardec em “O Céu e o
Inferno”. Será que você, leitor, já leu, estudando, essa obra magnífica de
Allan Kardec? Se já a leu, voltou a rele-la para melhor assimilar-lhe os
ensinamentos? Nossas interrogações não são sem base. Os livros de Kardec não
devem ser lidos apenas uma vez: precisam ser relidos e estudados muitas vezes,
sempre.
Não há negar que “há casos em que o físico influi sobre o
moral, tais como quando um estado, anormal é determinado por causa externa,
acidental, independente do Espírito, como sejam a temperatura, uma doença
passageira, etc. O moral do Espírito pode, nesses casos, ser afetado em suas
manifestações pelo estado patológico, sem que a sua natureza intrínseca seja
modificada. Escusar-se de seus erros por fraqueza da carne não passa de um
sofisma para escapar à responsabilidade. A
carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão,
deixando àquele a responsabilidade de todos os seus atos. A carne, destituída
de pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito, que é o
ser pensante e de vontade própria”. (Da “Revue Spirite”, citada em “O Céu e
o Inferno” - ed. 1949, pág. 85.)
Devemos ter sempre em mente estas
palavras de Pitágoras: “A tua justa medida será aquela
que impedir que te enfraqueças.” Todos os prazeres dignos da vida devem ser
fruídos com sobriedade. O mal não está no uso, mas no excesso do uso, isto é,
no abuso.
Nunca, porém, procuremos desculpar a
nossa insuficiência volitiva ou a nossa deficiência moral com a expressão de
que “a carne é fraca”. Ela não é fraca nem forte, porque quem a dirige é o
Espírito. Quando este é fraco, os vícios crescem e a tiranizam. Devemos
educar-nos para podermos dirigir e controlar os nossos instintos.
Este é o fim da educação, que é
disciplina. E disciplina necessária à felicidade humana, porque sem ela não há
ordem nem desenvolvimento moral.
Tudo depende do Espírito. Se ele é
débil, a carne, isto é, os vícios, o domina; se ele é enérgico,
domina todas as fraquezas da vontade, porque, nesse caso, a vontade não será
fraca, uma vez que a sua fortaleza ou debilidade está na razão direta da
fortaleza ou da debilidade do Espírito.
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