Novas Revelações
Leopoldo Cirne
por W. Vieira
Reformador (FEB) Novembro 1962
Clamas por revelações transcendentes
através dos canais medianímicos.
Com razão almejas o bem de todos no
esclarecimento comum; entretanto, a revelação há de ser gradativa para ser
produtiva.
A Humanidade atravessa hoje a
puberdade espiritual, fase crítica de progresso, período de transição, caminho
de novo ajuste.
Efetivamente, existem no Plano
Superior inventos e descobertas que o homem está longe de conceber; no entanto,
como apressar-lhes o surgimento no plano físico sem a necessária certeza de que
se farão recursos do bem?
A locomotiva não corre sem trilhos.
O avião pede base. A própria profecia há de, acomodar-se nas hipóteses e nos
símbolos para não arruinar o presente no circulo vicioso de inúteis indagações.
Em toda a parte, exprime-se a luz
por graus, preservando a visão, tanto quanto o alimento requisita dosagem no
sustento à saúde.
Adotemos atitude construtiva e
serena no levantamento da evolução que, no fundo, é semelhante ao edifício que
se alteia, tijolo a tijolo.
Pressa é dissipação.
Habitualmente, quando encarnados,
abeiramo-nos dos missionários das grandes renovações para confundir-lhes a
obra, ao invés de ajudá-la.
Desprezando as forças da luz que nos
convidam paro a vanguarda, mancomunamo-nos espontaneamente com aqueles mesmos
irmãos do passado menos feliz, na retaguarda sombria a que ainda nos filiamos.
E aderimos, sem perceber, à
perturbação instintiva.
Se a luz nos visita, procuramos as
trevas.
No foguete pirotécnico da alegria,
buscamos inspirações para o balístico intercontinental da morte rápida...
Das máquinas de solidariedade entre
os povos, criamos bombardeiros destruidores...
Do conhecimento do átomo para a paz,
forjamos a bomba dos megatons que se pluralizam...
O próprio Espiritismo não escapou de
nossas intromissões indébitas.
Da tiptologia digna e séria, muito
gente passou aos espetáculos frívolos das mesas girantes...
Companheiros invigilantes transfiguraram
a clarividência em salão da buena-dicha...
Da psicofonia edificante, outros
muitos fizeram arena de ociosa conversação...
E apareceram oportunistas à margem
da sementeira.
Se um pai desencarna, surgem filhos
que lhe desejam a voz pelo filtro mediúnico, não para haurirem consolações, mas
para resolverem processos de herança nos tribunais.
Se um amigo parte para o Além, é
invocado por muitos à conta de oráculo em problema de que só a polícia pode ser
fiadora.
À vista disso, de que serviriam a
materialização incondicional das inteligências desenfaixadas da carne, o desdobramento
da personalidade a qualquer hora, a comunicação ostensiva e indiscriminada da
multidão com a Esfera Espiritual ou o intercâmbio imediato e positivo com os
habitantes desencarnados de outros planetas?
Não podemos entregar uma tocha acesa
à criança, sem a pena de vê-la calcinar a si própria.
Saibamos, assim, crescer para o
Infinito, a que somos destinados na Criação, através do trabalho que devemos ao
nosso aperfeiçoamento...
Não vale fazer lume, queimando o
embrião da vida.
Cinzas não formam luz.
Entesouremos responsabilidades e o
Senhor nos considerará responsáveis.
Não há verdadeira conquista sem
justo merecimento.
Em matéria de novas revelações, por
agora, é preciso aprender a amar para conhecer, assim como quem se dispõe a
sangrar os pés na escabrosa subida para alcançar os cimos e descortinar mais
amplos trechos da paisagem na grandeza da luz.
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