Maravilhas do Evangelho
Sylvio Brito Soares
Reformador (FEB) Fevereiro 1962
O Sermão do Monte é, na opinião
geral, e com justiça, uma das peças mais interessantes do Novo Testamento, é um
extraordinário e inigualável cântico de sabedoria, código sempre vigente em
assuntos sociológicos. E porque os homens não querem pô-lo em prática, embora
se digam cristãos, surgem, por isso mesmo, de quando em quando, crises sociais
que abalam o mundo e cujos efeitos são sempre funestos, dramáticos e dolorosos!
Não há quem não deseje ser partícipe
das bem-aventuranças, sem, que, no entanto, procure compreender que Jesus,
nesse Sermão, exalta os sacrifícios e sofrimentos à conta de bênçãos educativas
e redentoras.
Ademais, ele não o pronunciou
unicamente para seus discípulos, pois que suas palavras tinham um alcance
muitíssimo mais vasto, visavam ao presente e ao futuro de todas as gerações.
O Mestre sabia ser de curta duração
a sua passagem pela Terra, mas sabia igualmente que essas suas palavras
ficariam bailando nos ouvidos das criaturas de todos os tempos.
E, fato curiosíssimo, à medida que
as cenas da vida e paixão do Cristo se vão distanciando, na tela imensurável
dos anos, suas lições, todavia, adquirem, dia a dia, mais vigor, apresentam-se
com características perfeitamente atualizadas, empolgando nossas almas ávidas
de algo que fuja à craveira monótona da vida material.
Essas lições cantam dentro de nós
como hinos suavíssimos e enternecedores, e suas melodias, sempre que relemos
esses ensinamentos, se nos afiguram jamais as termos escutado! É o milagre da
vida eterna a cintilar nas palavras de Jesus!
*
Inúmeras gerações já desempenharam
seus papéis no proscênio da Terra após o Cristo haver dito que bem-aventurados
seríamos quando nos cobrissem de baldões, nos perseguissem e nos maltratassem
por sua causa.
A verdade é que, se examinarmos, já
não diremos o panorama universal, mas apenas o círculo restrito de nossa
Pátria, ou mesmo da cidade em que vivemos, somos fatalmente levados a concluir
ser diminuta a percentagem daqueles que, por seus atos, atitudes e
comportamento na vida pública ou familiar, se enquadram nas condições
estabelecidas para as bem-aventuranças, o que importa dizer, limitado é o
número das criaturas que colocam Jesus em primeiro lugar, seja qual for a
situação em que, porventura, elas se encontrem.
*
É precisamente quando está em jogo o
nosso suposto prestígio social, o nosso interesse pecuniário, a nossa vaidade e
orgulho, que se vai aquilatar do grau exato de nossa fé. Desgraçadamente,
porém, quanta gente, em tais ocasiões, se esquece do Cristo, negando-o, não
apenas três vezes, como Pedro, mas centenas de vezes, com a agravante de não
demonstrarem quaisquer resquícios de arrependimento a fustigar lhes a consciência!
Abroquelemo-nos em nossa fé, ela nos
tornará surdos aos sarcasmos, às vinditas e incompreensões, e encher-nos-á de
piedade por esses infelizes que assim se afastam, cada vez mais, do seio
amantíssimo de Jesus, pois amanhã, em suas inevitáveis peregrinações futuras
pela Terra, terão, para reencontrá-lo, de palmilhar, descalços e famintos e
rotos, as pedregosas estradas redentoras!
A hora exige, e a nossa fé reclama,
sejamos dignos e caridosos em nosso proceder, em nosso falar e em nossos
pensamentos!
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