Esforços dispersivos
Jesuíno Macedo
Reformador (FEB) Janeiro 1962
Os opositores do Espiritismo
costumam classificar os médiuns entre os histéricos e os psicastênicos,
atribuindo-lhes desordens nervosas e até mesmo considerando-os anormais. Ora,
bem se vê que em tudo isso há evidente exagero e indisfarçável propósito de
deprimir o Espiritismo. Os fatos demonstram à saciedade que o médium é, isto
sim, uma criatura de grande sensibilidade nervosa, sem que essa sensibilidade,
na maioria dos casos, possa conter algo de patológico.
Aqueles que combatem o Espiritismo
por convicção firmada aereamente, sem jamais haverem estudado honestamente o
assunto, ou por conveniências pessoais, caso que não é raro, preferem o caminho
mais curto e simples: negar, mesmo sem base alguma na verdade.
Depois de alguns anos, surgiram os
primeiros opositores conformados, mas intransigentes quanto à denominação dos
fenômenos psíquicos. Não falaram e não falam em fenômenos psíquicos ou
fenômenos espíritas, mas, sim, em "fenômenos paranormais"... "
Uma longa e estapafúrdia terminologia foi criada para definir fenômenos já classificados
pelo Espiritismo em linguagem sóbria e inteligível. Hoje em dia, qualquer obra
científica ou pseudocientífica ou, ainda, não-científica, que trate de tais
assuntos, derrama uma enxurrada de vocábulos e expressões difíceis, complicadas
e nem sempre expressivas, para dizer a mesmíssima coisa que os espíritas dizem
com simplicidade e sem circunlóquios.
Ninguém nega o relativo valor dos
trabalhos do Dr. J. B. Rhine. Ele, porém, já parou onde
costumam parar todos aqueles que querem avançar nesse terreno sem se iluminarem
com os ensinamentos espíritas. Então, para não confessarem o beco sem saída em
que se veem, recorrem a sofismas que o tempo se encarregará, uma vez mais, de
destruir. Até mesmo o Dr. Rhine, para não ser apodado ou apedrejado por organizações
científicas e religiosas, para não sofrer as limitações impostas pelo
puritanismo utilitarista, vicejante ainda nos Estados Unidos - aquele mesmo
puritanismo que sacrificou a vida normal do Prof. Scopes, porque este se
confessara adepto do evolucionismo darwiniano -, o Dr. Rhine preferiu o nome de
"parapsicologia" para os seus estudos e investigações, fugindo da terminologia
e das explicações espíritas.
No Brasil, temos visto espíritas
demonstrarem entusiasmo pela parapsicologia e até mesmo louvarem a adoção de
estudos... parapsicológicos em organizações espíritas. Que revela isto? Falta
de conhecimento real da questão e entusiasmo superficial, por ouvir dizer.
Qual o dever dos espíritas...
espíritas? Cerrar fileiras em torno do Espiritismo, ajudando-o a desenvolver-se
também no terreno científico, auxiliando-o de todas as formas úteis. Tem
havido, infelizmente, muita dispersão de esforços. Dada à liberalidade do
Espiritismo, que não procura limitar o exercício do livre arbítrio de ninguém,
muitos espíritas ainda pouco espíritas assumem posições diversas e
contraditórias. Suas opiniões pessoais prevalecem sobre pontos de vista que
deveriam ser reforçados. Cada qual toma um rumo ditado por sua cabeça, cada
qual acha que está mais certo do que o outro, e as coisas
vão acontecendo ao sabor da vontade livre e desembaraçada.
Não há dúvida de que o
livre-arbítrio faculta a cada um a possibilidade de pensar e agir como
entender, tornando-se responsável único pelos erros, deficiências ou desregramentos
que cometer, assim pelo mal que de sua atitude sobrevier àqueles que o
acompanharem.
Os que mais se beneficiam com tudo
isso são os inimigos do Espiritismo, que estimulam a diversidade, enquanto os
espíritas conscientes dos deveres doutrinários continuam trabalhando pela
unidade. Realmente, as discordâncias pessoais deveriam ser solucionadas à luz
da Doutrina Espírita, desde que a vaidade cedesse lugar à humildade, e o
bom-senso não fosse ultrapassado por atitudes que debilitam em vez de fortalecerem
aqueles que as assumem.
Há por aí um cartaz sobre
cooperação, digno de ser estudado. Na primeira parte, mostra dois burrinhos
ligados um ao outro por uma corda, tendo diante de si dois feixes de feno. Um
burrinho quer ir para um feixe, enquanto o outro deseja tomar rumo diverso. O
resultado é que nenhum deles consegue comer o feno. Entretanto, se
concordassem, ambos devorariam juntos o primeiro feixe e, em seguida, se
dirigiriam ao outro feixe, dando cabo dele. É uma questão de compreensão.
Semelhante exemplo esclarece
perfeitamente a necessidade da colaboração para se conseguir alcançar um
determinado objetivo sem demora e com êxito completo.
A dispersão de esforços é obra anti espírita,
enquanto a conjugação do trabalho constitui tarefa benemérita que ajuda o
progresso do Espiritismo. A questão está em unir, não em dividir. Enquanto a
divisão enfraquece, a união fortalece.
O meio mais simples e prático de
orientação está no estudo sério da Doutrina Espírita. Não é espírita quem
acredita nos fenômenos espíritas. É espírita, entretanto, aquele que conhece e
segue o mais possível os ensinamentos constantes da nossa Doutrina.
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